Introdução:
No seu excelente livro “O Filho Pródigo”,
Henry Nouwen discorre sobre a conhecida parábola de Cristo. No entanto, nos
surpreende ao afirmar que a idéia central de Jesus não era falar sobre o filho,
ou filhos, mas sobre o Pai, já que começa com a afirmação. “Certo homem”. A ênfase, portanto,
estaria no Pai, o objetivo de Jesus não era falar nem do filho que se foi, nem
do filho que ficou, mas do pai. O centro da parábola não eram os filhos, mas o
pai, que enxerga a vida com olhos diferente. Este homem vai lidar com a questão
da paternidade, com esta confusão toda que a gente experimenta em família.
Nouwen afirma que o ápice da parábola é nos
levar a uma identificação com o pai, já que, por natureza, temos a tendência de
sermos eternos filhos, culpando os pais pelas derrotas e fracassos, e criando
uma relação de dependência imatura e infantil. O texto nos convida a olharmos e
imitarmos o pai, e deixarmos de viver como filhos, que cobram e exigem,
amadurecendo e assumindo a necessária paternidade..
Os filhos possuem dois perfis:
- O
relativista moral – tipo da sociedade autônoma e independente, que não
quer dar satisfação a ninguém por aquilo que faz. Este filho não teme a
Deus, não ama o pai, e se julga no direito de reivindicar o que não lhe
pertence, já que a herança culturalmente só era dada depois da morte do
progenitor. Pedir herança antecipada era desejar a morte do pai, e dizer
que o que interessava não era quem ele era, mas o que ele possuia. Este
filho rompe de forma descaridosa e cruel.
- O
moralista religioso. O filho que fica, demonstra ser rigoroso na sua
ética, trabalha arduamente, se empenha a fazer as coisas da forma certa,
mas o seu coração é frio e distante. Não sabe nada do coração do pai e
quando o vê agindo, passa a censurá-lo. Este é o típico modelo do “justo
amargurado”, que não consegue se aproximar afetivamente nem do pai, nem do
irmão, quando este decide voltar para casa.
Como afirma Tim Keller, são dois modelos
diferentes de ver a vida, mas ambos estão igualmente perdidos. O perdido que
sai e o perdido que fica. Ambos precisam da intervenção paterna.
Como age o pai em relação aos filhos? Este é o
modelo que inspira a parábola, e que nos desafia a querermos imitar o Pai.
- O Pai é Conciliador – Ele tem a
incrível capacidade de lidar com tensões em casa, com duas relações conflitivas:
Com o filho que sai e com o filho que fica, que não saiu, mas nunca esteve
por inteiro.
Em Lc 15.28 vemos que o filho mais velho ao
ouvir e música e os sons que chegam da festa em sua casa, se recusar entrar. Então
o pai “saindo o procurava”. Para fazer o que? Conciliá-lo. O pai deixa a festa
para socorrer o filho. Busca o filho, procura estar ao seu lado, ajudá-lo e se
esmera em conciliá-lo.
Muitas vezes fazemos exatamente o contrário: Não
agimos como solucionadores nem facilitadores, mas nos tornamos parte do
problema e complicamos ainda mais os conflitos. Há um jargão em psiquiatria que
diz que “não existem filhos problemas,
existem pais problemas”. Quando crianças adolescentes apresentam transtornos
psiquiátricos, coloca-se na sua ficha a idéia: PACIENTE IDENTIFICADO. Ou seja,
descreve quem aparentemente é identificado como problema, mas que pode ser
apenas o fio terra de todas as tensões familiares. Quando o filho se envolve com
drogas, muitas vezes este quadro só revela a doença familiar.
Em muitos conflitos familiares, os pais tomam
partido, falam demais e não facilitam a reconciliação.
O Pai é demonstrado na parábola como aquele
que promove o ambiente de paz. Assume seu papel sacerdotal evitando conflitos,
conciliando, aproximando os diferentes, desfazendo barreiras. Quem não concilia
filhos gera distensão dentro de sua casa de proporções imensas. Este pai
procura ensinar aos seus filhos, a virtude do perdão e da graça. “Este teu
irmão estava perdido e foi achado, estava morto e reviveu”. Perdoá-lo é uma
grande benção, é restaurá-lo à vida.
- O Pai é
misericordioso
– É interessante notar que este pai aprendeu a benção de deixar o filho
sair e de deixar a porta aberta para o filho voltar. Isto parece tão óbvio,
mas o que temos percebido é que a maioria não sabe a hora de deixar sair e
nem deixar que voltem.
Há pais que não deixam sair os filhos nem
mesmo quando se casam. Alguns chegam a dizer: “Eu vou sustentar vocês, mas
quero que vocês morem conosco”. Eventualmente surgem necessidades que nos levam
a isto, mas assumir esta posição sem qualquer motivo impede os filhos de amadurecer.
O pai demonstra misericórdia. Na sua casa há
lugar para arrependimento, confissão, para consertar a vida, mesmo quando o
filho quebrou todas as regras da família. Este homem cria um espaço para perdão
em seu lar.
Ele sabe também lidar com o filho que fica com
suas enfermidades, que é complicado, deprimido, amargurado e frio no seu coração.
Ele se julgava muito justo e honesto, mas era duro e inflexível.
Trabalhava arduamente, e não achava que podia desfrutar de seu trabalho e da
vida, se tornando ensimesmado, interiorizado, auto-centralizado, egocêntrico. Este
jovem não sabe lidar com o lúdico, com o lado alegre da vida, com as expressões
de graça e celebração, e o pai tem que lhe ensinar isto.
- O Pai é generoso – Ele é liberal
com seus recursos. Quando o filho reclama de nunca ter cabritos para comer
com seus amigos, ele demonstra que o problema não estava na disposição dele
em doar, mas do filho em desfrutar. “Tudo que é meu é teu”. O filho que
saiu e se perdeu viu esta forma desprendida do pai. “Quantos trabalhadores
de meu pai tem pai com fartura, e eu aqui morro de fome”. Mesmo os funcionários
eram abençoados com esta dimensão dadivosa de seu caráter.
Tenho visto como a generosidade facilita a
vida de filhos e netos. Pais generosos abençoam, e com isto toda família ganha.
A Bíblia afirma que o homem de bens deixa herança para os filhos dos filhos (Pv
13.22). No entanto, não é raro vermos disputas financeiras acirradas em famílias
em lutas e disputas intermináveis, porque não sabem ser generosos com os seus bens.
Nossa herança ibérica brasileira é um fator complicador
para o exercício deste dom. Não sabemos dar. Ao contrário de outras culturas onde
as pessoas aprendem a repartir e serem generosas. Aprender a abrir mão de nossos
bens para abençoar outras pessoas pode trazer grandes dividendos e muita alegria,
afinal, ser generoso é uma benção para quem dá e para quem recebe.
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