quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Pv 11.29. Pv 13.22 Construindo memórias



Estes textos falam de comportamentos paternos e como isto afeta substancialmente filhos e netos. O primeiro diz: “O que perturba a sua casa herda o vento” (Pv 11.29) Fala de coisas negativas. “Vento” não é uma boa herança. Sabemos de grandes tragédias que o vento pode trazer sobre uma região. Pensem no furacão katrina com seu efeito devastador em New Orleans.
Um filho de nossa igreja, que tem uma fábrica de móveis em Canela, RS, a viu sendo destruída num vendaval que não demorou mais que 5 minutos, e cujo epicentro deste pequeno ciclone, com ventos de até 255 km por hora, foi exatamente sobre sua empresa arrasando-a completamente. Pedaços de madeira foram encontrados a 800 mts de distância, e a porta de ferro foi arremessada a quase 100 metros. Os eucaliptos ao redor foram arrancados como pequenas ervas daninhas. Colheita de vento é prenúncio de desastre. É isto que acontece ao homem que perturba a sua casa.
O segundo versículo nos fala de coisas positivas: “O homem de bem deixa herança aos filhos de seus filhos, mas a riqueza do pecador é depositada para o justo” (Pv 13.22).  O que ele faz, não tem efeito apenas na sua descendência imediata, mas abençoa futuras gerações, chegando aos netos. O Sl 78 faz referência até aos “filhos que ainda hão de nascer”, uma geração que nem mesmo nós conhecemos, mas que pode ser abençoada através de comportamentos abençoadores. Pais abençoados deixam um legado positivo para as futuras gerações.
Paul Meyers afirma que um bom legado: possui as seguintes características:
                (a) – deve ser baseado em princípios divinos;
                (b)- produzir resultados duradouros;
                (c)- ser aplicável a todos.
É exatamente desta bendita herança que o texto acima está falando.

Nas minhas observações e ouvindo pessoas, tenho visto dois aspectos que são extremamente relevantes para a formação das emoções humanas:

Primeiro, o Pai é um construtor de memórias. Ele está sempre imprimindo nos filhos, lembranças e percepções que se tornam a base da formação das emoções. Estas memórias podem ser negativas ou positivas;

Segundo, A figura paterna, é um dos elementos mais terapêuticos, gerando segurança e confiança nos filhos; ao mesmo tempo, o pai é um dos maiores fatores desagregadores e formadores do núcleo neurótico da personalidade humana.  Pais alcoólatras, distantes, passivos, indiferentes, drogados ou desligados causam danos quase irreparáveis nas emoções, enquanto pais que transmitem confiança, sensibilidade e cuidado real, são as maiores fontes de graça na alma de um filho. “Como são felizes os filhos de um pai honesto e direito” (Pv 20.7 NTLH).

Pensemos no primeiro:
Podemos criar lembranças duradouras e saudáveis, abençoando as próximas gerações com exemplos, atitudes e compromisso com a fé ou podemos perturbar nossa casa trazendo graves transtornos para filhos e netos.
Homens deveriam sempre pedir a Deus a graça de serem construtores de memórias saudáveis. Terapeutas analisam muito hoje as “veredas antigas”, a “cura das memórias”, porque boa parte de nosso desajuste atual tem a ver com abuso, negligência e lutos existenciais ou reais, que causam danos irreparáveis à nossa psiquê. Será que temos deixado memórias de alegria, lembranças saudáveis em nossos filhos?
Todas nossas experiências, boas ou más, são acumuladas nos arquivos da existência. Algumas experiências nunca são esquecidas, mas muitas outras são sublimadas e aparentemente esquecidas, embora, essencialmente, possam ser ainda mais danosas, porque não são sequer lembradas conscientemente, apesar de ainda continuam a afetar decisões, humor e atitudes. Não recordar o fato e episódios não significa cura. Muito mais saudável seria se conseguíssemos lembrar do evento que nos machucou, sem as emoções associadas a ele. Esta é uma boa definição de perdão. Memórias podem ser amargas e doloridas. Muitos hoje gastam fortunas em terapias, para se livrar dos fantasmas do passado e feridas abertas por descaso, indiferença, abandono psicológico, palavras descaridosas e abusos. Por esta razão, precisamos ser agentes de memórias geradores de saúde e graça.
Certo homem me procurou para relatar seu sofrimento. Aos quatro anos de idade, estava envolvido com outro garotinho nestas coisas de curiosidade sexual, quando foi surpreendido pelo pai que o repreendeu severamente. Todas as vezes que seu pai ia jogar futebol, levava-o junto, mas neste dia não o fez dizendo-lhe que ele era uma mocinha, e que por isto não ia com ele. Este homem hoje, além de uma baita crise de identidade sexual, lembra deste evento com muita dor.
Temos o desafio de não apenas sermos lembrados como mantenedores e provedores do lar ou como disciplinadores dos filhos, mas como gente que construiu memórias agradáveis. Esta é a desafiadora tarefa de levar nossos filhos a terem saudades de eventos engraçados e significativos na vivência familiar.
Certo pai resolveu fazer isto de forma criativa: Planejou uma viagem com seus filhos, fez todas as reservas de hotéis, organizou o trajeto que seguiriam de carro, as estradas que deveriam pegar, onde deveriam almoçar, mas disse aos seus filhos que infelizmente não poderia ir por causa do trabalho. Então, assim que sua esposa saiu com eles num carro cheio de bagagens, ele saiu com um amigo em outro carro e adiantou-se ficando esperando no primeiro restaurante onde deveriam almoçar. Quando sua família chegou ao local, ele já estava assentado à mesa, e assim que seus filhos chegaram, o menor, de 7 anos disse: “Aquele homem parece o PAPAI!!!”
Quando um amigo lhe perguntou por fizera isto ele respondeu que gostaria de ser lembrado não apenas pelas broncas que dava e pelas contas que pagava, mas também pelas surpresas que promovia.
Parte das boas lembranças que tive como garoto tem a ver com imagens do passado ao lado da família. Numa delas, uma viagem numa Brasília semi nova que meu pai havia adquirido, saímos de Gurupi-TO, num percurso de quase 2 mil km, até o leste de Minas, com 5 filhos dentro de um carro para visitar meus avós. Dentro do carro, comíamos farofa e ouvíamos musicas gravadas em um tape, cantando numa língua que não compreendíamos, as estrofes de Elvis Presley. Ao invés de dizermos “It´s now or never”, dizíamos, “It´s maionese”, e tudo estava certo! Lembro-me ainda dos rústicos acampamentos que fazíamos à beira do Rio Formoso, em Tocantins, onde passávamos dias com muita simplicidade e alegria.
Quero encorajar os pais a serem produtores de memórias agradáveis, que tragam saúde emocional e mental. Memórias tem o poder de adoecer, mas são capazes também de gerar cura, construir a auto-estima e valorizar a existência. Memórias positivas se constroem no ambiente familiar, onde os pais são promotores de inesquecíveis e terapêuticas lembranças. Como Pai, uma pergunta que fica sempre em minha mente é a seguinte: O que os nossos filhos e netos, isto é, as próximas gerações, dirão a meu respeito?

Vamos ao segundo ponto: O pai como fator desagregador e formador do núcleo neurótico da personalidade humana.
Carl Farley afirmou acertadamente que "um garoto é a única coisa que Deus pode usar para fazer um homem". Portanto, precisamos cuidar dos nossos filhos de forma muito especial. Eles sāo a matéria prima de Deus! Através deles Deus quer forjar a humanidade. Se alguma coisa pode trazer esperança de uma sociedade minimamente civilizada no futuro, será por meio de famílias com pais responsáveis.
Lamentavelmente os filhos encontram- se desorientados quanto à sua masculinidade e paternidade. Os modelos familiares encontram- se fragmentados na pós modernidade, e os pais incapazes de conciliar as demandas sociais e profissionais, com a convivência familiar. O resultado é que os filhos sofrem da ausência física e emocional. George Vailant entrevistou vários homens de negócios, cientistas e professores na meia idade, o resultado foi que noventa e cinco por cento deles afirmaram que seus pais ou foram exemplos negativos na infância ou mencionados como pessoas que nāo exerceram qualquer influência em suas vidas.
Jack Sternbach, fez uma pesquisa com homens na fase adulta que assim relataram seus relacionamentos com os pais: 23 por cento eram fisicamente ausentes para eles;  29 por cento sentiram ausência psicológica dos pais, que eram muito ocupados, desinteressados por suas vidas ou passivos em casa; 18 por cento sentiram a ausência psicológica dos pais que foram muito austeros ou moralistas e sem envolvimento emocional com suas vidas e 15 descreveram seus pais como pessoas ameaçadoras e descontroladas. Somente 15 consideraram seus pais envolvidos em suas vidas.
Se queremos criar famílias fortes e emocionalmente estáveis, precisamos cuidar da geraçāo presente. Será uma longa jornada para mudarmos os paradigmas equivocados que recebemos, e construirmos um novo modelo. A tarefa é árdua, porque temos que vencer nossos próprios limites; e longa, já que nāo se trata de um projeto rápido. Se começarmos agora, só veremos os efeitos desta mudança daqui 20 anos, mas é preciso salvar os filhos.
Hoje à noite, um número suficiente de adolescentes capazes de encher os estádios do Mineirão, Beira Rio, Maracanã e Morumbi se prostituirão para sustentar o vício das drogas; um milhão do adolescentes engravidarão até o final do ano, sendo que metade praticará aborto; 60 % dos estudantes até o último ano do ensino médio já terão provado ou serão dependentes de drogas. 95 por cento tomam regularmente bebidas alcoólicas e apenas nos EUA, a cada 78 segundos, um adolescente tenta suicídio.
Precisamos salvar nossos filhos para que as famílias e a nossa civilização seja salva.
A mudança pode começar com simples gestos. Quantos pais afirmam para seus filhos: “eu amo você?” Quantos pais já declararam alguma vez: "estou orgulhoso de você" ou "você fez muito bem"? Quantos pais estão jogando vídeo games com seus filhos ou estão interessados em participar de seus eventos atléticos? Quantos pais tem abraçado filhos e filhas, e estão contando histórias e levando-os para pescar ou para uma tarefa comum de lazer ou para a igreja aos domingos?
Se eu pudesse dar uma única receita para a sobrevivência de nosso país eu esta seria a restauração da família. Se me perguntarem como isto pode ser feito eu simplificaria: Salvem os garotos! Eles serão os futuros líderes das novas famílias que construirão o futuro.
John Eldredge, no seu marcante livro “Coração selvagem”, trata da aventura da masculinidade: “O maior anseio do garoto é ouvir do seu pai: Estou orgulhoso de você! Eu amo você!”. Para o autor, todo filho pergunta subliminarmente: “Tenho o que é necessário? Eu sou realmente um homem, papai? Terei tudo o que é necessário... no momento certo?”
Leanne Payne afirma: “Quando o relacionamento entre pai e filho está correto, a árvore tranqüila da força masculina que está dentro do pai protege e alimenta o frágil broto da masculinidade que está dentro do filho”.

Conclusão:
Em 1 Pe 1.18-19 lemos que Jesus veio nos resgatar do nosso fútil procedimento que nossos pais nos legaram. A futilidade tem duas fontes: (a)- Nossa própria futilidade, vazio e ilusão. Como nos equivocamos, gastamos nosso tempo e prioridade em coisas erradas. Como nos iludimos e somos fúteis em atitudes. Jesus veio para nos resgatar desta tendência endógena de nossa alma pecaminosa; (b)- Nossa futilidade também vem na formação familiar, já que Cristo veio nos libertar do fútil procedimento “que vossos pais vos legaram”. Não apenas a nossa futilidade, mas aquela que nos vem como herança e condicionamentos sanguíneos. Quanta doença e dor existe em nossos lares. Nelson Rodrigues, ácido e crítico dramaturgo brasileiro afirmou que “família, na pior das hipóteses, só serve para dar emprego a psiquiatras e enriquecer a indústria farmacêutica”.
Jesus veio nos livrar destes condicionamentos e ambientações patológicos. Ele deseja tocar na gênese, no DNA de nossa existência, e nos trazer vida plena.

Que o Senhor faça isto hoje em nossa história!

sábado, 10 de agosto de 2013

Gn 17 A Eterna Aliança




 Introdução:

A Bíblia não é um livro de regras morais, mas de relacionamentos, por isto um dos termos mais presentes na Bíblia é “aliança”. Diferente de um contrato, com cláusulas, adendos, restrições e punições, Deus se revela como um Deus que deseja intimidade com seu povo e estabelece uma caminhada com os homens através de pactos.
Existem dois grandes pactos na Bíblia: O Pacto da Lei, estabelecida em Adão (e no qual o homem falhou fragorosamente) e o Pacto da Graça (estabelecido com Jesus, no qual o próprio Deus é o fiador).
Deus está firmando aqui um pacto com Abraão, chamado de “Pai da fé”. Este é o mesmo pacto debaixo do qual ainda estamos, e sob o qual todas as pessoas do Antigo Testamento estiveram. As pessoas do AT eram salvas, não através das obras, mas através da graça, crendo nas promessas que Deus lhes havia feito e que se cumpririam em Jesus. Talvez isto surpreenda muitos estudantes da Bíblia, e especialmente os dispensacionalistas que tentam encontrar na Bíblia vários pactos, que foram meras alianças transitórias e temporárias de Deus com determinadas pessoas, para atender uma necessidade específica de um tempo específico.
Precisamos entender quais são os fundamentos desta aliança, para compreender como Deus se relaciona conosco, o seu povo firmado através deste pacto.

O Pacto das Obras era baseado na obediência. Deus deu a tarefa a Adão de obediência. Se Adão conseguisse obedecer, ele seria justificado pela sua resposta a Deus, com base nos seus merecimentos, mas todos sabemos o que aconteceu com Adão. Ele foi rebelde e quis viver de forma independente, e o resultado foi a queda. O pacto das obras se baseia no seguinte ponto: Faço, logo sou aceito. Neste caso, a base são as obras, a justiça pessoal e o desempenho espiritual do homem. Deus o justifica pela capacidade que ele tem de, por meus de seus esforços espirituais, agradar a Deus e satisfazer suas exigências legais e morais. Deus, neste caso, aceitaria a performance espiritual do homem. Todas as religiões do mundo, equivocadamente, colocam a salvação neste pilar. Salvação seria uma conquista espiritual baseada na bondade e no currículo espiritual que o homem constrói. O homem se salvaria por seu esforço pessoal. O lema é “Faço, logo sou aceito”. Só o cristianismo bíblico rejeita esta proposição.

O Pacto da Graça – O segundo pacto que a Bíblia ensina é o da graça. Um favor imerecido de Deus. Salvação não é algo meritória, mas obra exclusiva da graça e da misericórdia de Deus. O homem não é aceito diante de Deus com base nos seus merecimentos. “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não fé de vós, é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie” ((Ef 2.8-9). O homem não consegue atender as exigências de um Deus santo, e por isto suas boas obras são insuficientes para lhe dar a salvação.
Neste texto de Gênesis, lido no início, Deus faz um pacto com Abraão. Paulo explica que este pacto é o mesmo valido até hoje (Gl 3.15-29), e que nem mesmo a lei, que veio 430 anos depois, pode quebrar aquela aliança e anular a promessa (Gn 3.17). A lei foi apenas um parêntese, até a vinda de Jesus. Foi um meio de estabelecer regras para que o homem não ficasse sem nenhum controle, ainda que meramente externo, e era baseado em recompensas e punições, impedindo assim que o homem vivesse de forma desenfreada.

Sendo este pacto válido até hoje, precisamos saber de suas características:

  1. Deus é o iniciador do pacto – Eu sou o Deus Todo-Poderoso” (Gn 17.1). Deus se aproxima de Abraão e dá suas credenciais, e a partir de então, anuncia o que estava para fazer.
Na bíblia não vemos os homens indo ao encontro e na direção de Deus, mas vemos Deus vindo em direção ao homem. O Pacto da graça consiste no fato de que Deus faz uma aliança consigo mesmo e é fiel em cumpri-la. Ele é o iniciador do pacto. É Deus quem atrai e santifica um povo eleito para sua exclusiva autoridade e para seu louvor, propondo santificar este povo (Ft 7.6-8; Ez 37.28; Jo 15.16; Ef 1.3-4; 1 Pe 2.9).

  1. Os propósitos da Aliança – Deus mostra a Abraão propósitos bem específicos e claros sobre seu plano, presentes nesta aliança.

i.                    Comunhão – “Anda na minha presença” (Gn 17.1). Ele convida Abraão para um relacionamento de amor. Em Mc 3.13-15, quando Jesus está escolhendo seus discípulos, o texto afirma que ele chamou os que ele mesmo quis, e os designou para estarem com ele. O chamado era para companheirismo e amizade. A missão que eles viriam a realizar seria decorrente desta relação com Jesus.

ii.                  Santidade – “Anda na minha presença e sê perfeito”  (Gn 17.1). O mandamento que Deus dá ao seu povo no AT é o mesmo que é dado por Jesus no NT. “Sede perfeitos como perfeito é vosso Pai celeste” (Mt 5.48). No AT vemos uma declaração também constante: “Eu sou o Deus que vos santifico”. Deus deseja imprimir seu caráter em nós, fomos chamados para sermos discípulos de Cristo e sermos seus imitadores. Portanto, a promiscuidade, mentira, perversão, vida de pecado é oposta ao estilo de vida do discípulo de Cristo.

iii.                Abençoar “Te multiplicarei extraordinariamente” (Gn 17.2). Sua benção é colocada no superlativo “extraordinariamente”, adjetivo este que aparece duas vezes nos vs 2,6. Deus quer abençoar seu povo. Neste caso, corremos dois riscos históricos de distorcer esta promessa:

ü       Buscar a Deus apenas por causa das bençãos e não por causa de Deus mesmo. Neste caso buscamos as bençãos de Deus mas não o Deus das bênçãos; Kleber Lucas apropriadamente diz: “Eu não correrei atrás de bençãos, sei que elas vão me alcançar”.

ü       Violar os princípios de Deus e ainda assim esperar as bençãos de Deus. Andy Stanley diz o seguinte: “Nunca viole os princípios de Deus se você deseja ganhar ou manter as bençãos de Deus”. Transgredimos, violamos e pervertemos os caminhos de Deus, e ainda assim achamos que podemos esperar as bênçãos de Deus. Deus não tem compromisso com a infidelidade. Ele eventualmente quer nos abençoar, mas se o fizer estará apenas reforçando nossos caminhos, e por isto não o fará.
       
  1. Este Pacto seria geracional – Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso de suas gerações, para ser o teu Deus e o da tua descendência” (Gn 17.7). A
A teologia moderna tem esquecido este importante tema das Escrituras. Deus afirma seu desejo de fazer uma aliança não apenas conosco, mas com nossos filhos e filhas.
Fico intrigado quando me recordo que na década de 1980/90, neste país havia milhares de pessoas atraídas pelo tema da maldição hereditária, e então se criou técnicas para expulsar o demônio da ancestralidade, mesmo de pessoas já convertidas a Jesus, mas poucos falaram da maravilhosa benção de que Deus não apenas quer nos abençoar, mas deseja alcançar também os nossos filhos.
Apenas no livro de Isaias, encontramos uma enorme quantidade de promessas extensivas aos filhos: Is 54.13; 65.23,24; 61.9; 66.22. Deus está chamando famílias, e não apenas indivíduos, para um relacionamento de amor.
Este pacto seria marcado por um ritual dado por Deus. Todo macho deveria ser circuncidado no oitavo dia (Gn 17.9-14). “Minha aliança estará na vossa carne” (Gn 17.13). Quando batizamos os filhos ainda hoje, o fazemos baseados no fato de que este pacto de Deus conosco, deseja inserir nossos filhos. Muitos alegam que as crianças não podem fazer votos por não terem consciência do que estão fazendo, mas será que as crianças do AT, circuncidadas ao oitavo dia, tinham consciência? Ou será que Deus ignorava esta particularidade de um infante? Quando trazemos nossos filhos a Deus e os consagramos, cremos que nossos filhos fazem parte deste pacto geracional, que Deus tem interesse não apenas nos crentes, mas também nos filhos dos crentes e faz promessas extensivas aos mesmos.

  1. O Pacto seria eterno – Aliança perpétua” (Vs 7,9,19). A teologia reformada afirma que tanto os homens do AT como do NT encontram-se debaixo do mesmo pacto da graça. Paulo afirma que nem mesmo a lei, que veio 430 anos depois, pode desfazer a promessa dada a Abraão (Gl 3.16-17).
A Bíblia ainda afirma que esta aliança foi feita com “O descendente”, Cristo (Gl 3.16). Antes que Cristo viesse ficamos subordinados a lei, mas a lei não é um pacto, mas um adendo que foi ministrado à humanidade para impedir o progresso do mal (Gl 3.19), mas vindo Cristo, não estamos mais subordinados à lei (regras, mandamentos, clausulas), mas debaixo do pacto feito a Abraão, e que se cumpriu completamente em Cristo (Gl 3.23-25).


Conclusão:

O Deus da Bíblia é um Deus de alianças e promessas. Deus fez um pacto de vida conosco, que consiste numa caminhada de intimidade com ele, uma vida de santidade e de benção. Nesta aliança, ele incluiu nossos filhos e todas estas promessas se cumpriram em Cristo. Apenas em Cristo se torna possível uma aliança com Deus, porque se dependesse de nossa performance seríamos excluídos. Por isto esta aliança foi feita com o sangue de Cristo. Ele entrou como oferenda em nosso lugar. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Somente neste pacto, podemos ter certeza de que poderemos satisfazer as exigências de um Deus santo.

AP. 8-9 AS SETE TROMBETAS



Introdução:

Com a abertura do sétimo selo, espera-se o desfecho da história, porque o livro que guardava selado a trajetória da humanidade, agora já foi completamente aberto, contudo, o desfecho esperado não se cumpre. Pelo contrário, após um período de silêncio no céu, surge uma nova série de seqüência de setes, agora descritos como as sete trombetas. “A unidade do livro de João, então, não é cronológica nem aritmética, mas artística. Como um tema musical com variações, cada variação acrescentando algo novo para demonstrar a significação da composição como um todo. Esta é a única visão que faz adequada justiça para o duplo fato que cada nova série de visão recapitula e desenvolve temas já apresentados naquilo que já foi exposto”.[1]

Seguindo a simbólica linguagem dos sete, que na descrição de João significa “plenitude”, dos capítulos 8-14 encontramos sete novos acontecimentos:
1.   A série de catástrofes cósmicas (figuradas, simbólicas ou alegóricas);8:6-13
2.   A série de catástrofes que dizem respeito à humanidade, maciçamente submetida à morte (também deve ser interpretado simbolicamente) - cap. 9
3.   A revelação de um livro – cap. 10
4.   A vitória aparente dos homens sobre a testemunha de Deus - cap. 11
5.   A realização da profecia de Isaías pela vitória de uma criança sobre o dragão -cap. 12
6.   O surgimento das bestas - cp. 13
7.   A vitória do Cordeiro - 14:1-5  que, após o toque da última trombeta torna-se o julgamento final.

As trombetas revelam juízo de Deus. Sabemos pelo estudo do Novo Testamento que a “última trombeta” é usada convencionalmente como sinal para a parousia  de Cristo. Mt. 24:31; I Co.15:52; I Ts. 4:16. Neste texto, as primeiras quatro trombetas descrevem uma série de desastres naturais afetando terra, oceanos, águas correntes e céus. Estas pragas são julgamentos de Deus e tem como propósito conduzir os homens ao arrependimento.

Um fato que requer de nós uma atenção especial é que estes males saem de diante do trono do Deus. Temos aqui um desafio hermenêutico e teológico: Conciliar a questão do sofrimento sendo infringido pelo próprio Deus, e sua natureza amorosa e misericordiosa.

Estes “flagelos” que caem sobre os homens em Apocalipse servem para estabelecer juízo e para que exista uma profunda restauração que de outra forma não seria possível. As primeiras quatro trombetas provocam danos materiais à natureza, e as três últimas anunciam perdas materiais, causando angústia espiritual aos ímpios.
Estas duas séries distintas das 7 trombetas possuem propósitos distintos, mas complementares, com o objetivo de instalar uma nova ordem espiritual. Mais do que causar sofrimento e dor, o objetivo é estabelecer o desmoronamento da presente criação e preparar o terreno para a chegada de uma nova ordem. O apóstolo Pedro afirma que na vinda do “dia de Deus” os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão”. Se este texto fala da destruição da criação presente, Apocalipse refere-se a uma nova ordem: “Vi novo céus e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe”. Ap. 21:1
Os tormentos visam a criação de uma nova ordem espiritual. A presente ordem não é suficiente. Existe alguma coisa que precisa ser “desfeita”, que sofreu a marca do pecado e se descaracterizou do seu propósito original. “A natureza está sujeita a vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou”. Rm. 8:20
Na linguagem Paulina, há uma força que leva a toda a natureza a um grande sofrimento: “Toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora”. Rm. 8:22 Este sofrimento não é algo apenas escatológico, mas que já é sentido pela natureza desde os tempos apostólicos. Existe um gemido da criação se volta para a percepção de que existe alguma coisa superior que precisa ser estabelecida. “Na esperança que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção”. Rm. 8: 21
Esta presença desfiguradora, esta potência do mal que se encontra veiculado à natureza criada por Deus, precisa ser destruída. “De alguma forma, trata-se de destruir toda a humanidade para refazer espiritualmente um outro mundo”.[2] “Uma espécie de des-criação” questionamento, em sentido inverso, das obras do 3o.dia (O verde e as águas), do 4o. dia (os luminares), do 5o. dia (os peixes); é uma verdadeira contra-criação que se opera (até o momento em que se iniciará o processo da nova criação em Jesus)” [3]
Nas Escrituras, o juízo de Deus tem sempre duplo sentido: Destruir o presente caos, o pecado que assedia uma determinada cultura ou momento da história, e o estabelecimento de uma nova realidade espiritual. O mesmo se dá na simbologia da literatura apocalíptica.
Assim podemos retornar a discussão inicial de como conciliar o caráter de um Deus bom e misericordioso, à idéia de julgamento e juízo. Nas Escrituras, sofrimento e dor não estão separados do caráter amorável de Deus, a presença de Deus não elimina a dor, mas a ilumina. Muitas vezes nas escrituras, Deus mesmo nos conduz através de amargas experiências para revelar sua presença, cuidado e amor no meio de nossas tempestades. Jesus foi levado ao deserto pelo Espírito (Lc. 4:1), o deserto de Jesus, tinha um propósito didático e providencial. Da mesma forma, os discípulos foram “compelidos” a entrar no mar onde passaram por intensa aflição e angústia, mas onde experimentaram a presença majestosa de Jesus andando sobre as águas no meio de sua aflição e reconheceram sua soberania sobre todas as coisas. Mt. 14:22ss Ninguém faz opção para entrar numa experiência de mar encapelado, Jesus, contudo os compele a embarcar, porque, de outra forma, não poderiam ter esta rica experiência com Jesus. A dor é o meio pelo qual Deus nos faz perceber coisas, que doutra sorte não conseguiríamos. Existem realidades espirituais que só podem ser vistas com os olhos cheios de lágrimas.
Nem sempre o sofrimento é realmente ruim. A dor pode ser muitas vezes o meio de nossa cura, semelhante a um cirurgião que extirpa um tumor cancerígeno, que é potencialmente o prenúncio da morte. Ao fazer a cirurgia ele o amputa de alguma coisa que seria prejudicial ao corpo, mas o processo é dolorido, a cicatriz leva algum tempo, mas aquele ato de dor, livra o paciente da morte. O paciente pode interpretar isto como uma tortura.
As sete trombetas possuem um objetivo claro na história da humanidade. Seu propósito é conduzir os homens ao arrependimento, mostrar-lhes a necessidade de reconsiderarem sua caminhada sem temor a Deus e trazê-los para perto do Senhor. Quando a sétima trombeta proclamar que Deus assumiu o governo da história pelo seu soberano poder, apenas então, as oportunidades para o arrependimento serão fechadas, quando Jesus destruirá “os que destroem a terra”. Ap.11:18

O que significam as Trombetas?
Trombetas são usadas por Deus para anunciar, para fazer barulho, para alertar os desatentos. Nas antigas batalhas, o homem responsável por tocar as trombetas tinha um papel de essencial de vigilante. Sua função era proteger das ciladas aqueles que dormiam, alertá-los do perigo iminente. Ninguém conseguia continuar dormindo quando a trombeta era tocada, seu barulho despertava, incomodava. É este também o sentido destas trombetas aqui.

Vejamos as 4 primeiras trombetas, elas anunciam as calamidades sobre a natureza: terra, mar, rios e os céus.
A primeira trombeta: 8:7 “O primeiro anjo tocou a trombeta, houve saraiva e fogo de mistura com sangue, e foram atirados a terra. Foi então queimada a terça parte da terra, e das árvores, e também toda erva verde”. Tempestade de saraiva (granizo) e fogo (misturado com sangue). Isto revela o poder de sua destruição. A terceira parte das árvores e toda erva são queimadas. A expressão “foi atirada a terra”, revela a origem desta destruição. Elas procedem do trono de Deus.

A segunda trombeta:
João vê uma como grande montanha ardendo em fogos, sendo atirado a terra. Ele não diz que é montanha, mas algo que se parece com montanha. O juízo é severo. Uma terça parte do mar se converte em sangue, e a calamidade atinge de forma muito dura a natureza, matando os peixes, e atingindo também as embarcações, implicando também uma destruição sobre os homens que se encontram nela.

A Terceira trombeta:
João vê agora uma tragédia se abatendo sobre os rios e as fontes de águas. Uma grande estrela, ardendo como tocha, talvez uma referencia a um meteorito. O nome da estrela é “absinto”, símbolo de aflição e amargura. A conseqüência é dramática porque as fontes sendo afetadas alteram também o ciclo da vida e da natureza, pelo fato de em muitos lugares a água se tornarem em absinto, as pessoas morrem ao ingeri-la, bem como os animais.

A quarta trombeta
A quarta trombeta atinge os astros. O sol é ferido bem como a lua. Falta luminosidade. Falta claridade. Não há luz suficiente durante o dia nem durante a noite. É a quebra da luz, criação de Deus diante do caos conforme nos relata Gênesis. No meio do caos, a primeira coisa a ser criada é a luz. Gn. 1:3 Agora, esta primeira obra de Deus é ferida pelo seu juízo.

Interrupção:
Entre a quarta e a quinta trombeta, mais uma vez somos levados a uma interrupção. Já estamos nos acostumados a perceber que em Apocalipse sempre surgem pausas. Diante do frenesi dos movimentos históricos surgem reticências, hora de se fazer uma pausa, que serve para reflexão e avaliação. Surge uma águia no cenário. Esta águia anuncia as trombetas restantes. Se os sofrimentos que surgiram com o toque das quatro primeiras trombetas estão para além do imaginável, a águia adverte que o que virá é ainda mais dramático e dolorido. “Ai dos que moram sobre a terra por causa das restantes vozes das trombetas dos três anjos que ainda tem de tocar”. 8:13 O que virá é ainda pior.

A quinta trombeta:
·      O sentido do abismo (9:1ss) é forte. Abismo era o que existia em Gênesis, antes da criação “havia trevas sob a face do abismo”. Gn. 1:2 Antes da criação da presente ordem tal qual a conhecemos só existia o abismo. Abismo representa o caos, o nada. O abismo desaparece diante da ordem criadora de Deus e do seu senso artístico. Este abismo, porém, tem o seu retorno agora, de acordo com este texto. É o triunfo do diabo, da falta de sentido. O anjo do abismo, que governa sobre estes gafanhotos, é chamado de dois nomes: Abadom (hebraico) e apoliom (grego). Vemos aqui a destruição, a des-criação, como aponta Ellul, antes que o Espírito de Deus instaurasse uma nova ordem nesta desordem era o abismo que existia, apenas ele. Neste texto, o caos prevalece. O abismo retorna querendo governar.
Abadom é um termo que ocorre seis vezes no Velho Testamento, como sinônimo de Sheol ou Hades, o cemitério do universo, a terra dos mortos, das trevas, do silêncio e onde toda esperança se esvai. Apoliom não surge em nenhum outro lugar como nome próprio. Uma possível explicação é que João queria, paralelo a esta descrição do juízo, atacar o Deus Apolo e indiretamente o Imperador Domiciano, que gostava de ser visto como Apolo encarnado.
Hendriksen chama a atenção para o fato de que o abismo também indica o inferno antes do juízo final. [4] (Lc. 8:31; Ap. 20:1,3). Quando lemos que o anjo abre a porta do abismo, quer dizer que Deus dá liberdade para que o inferno atue de forma mais poderosa e violenta sobre a terra, a maldade é incitada com a liberação destas forças demoníacas. Por isto surgem fumaças negras que saem do abismo, e estas fumaças são tão espessas que encobrem o sol e a lua. “É o fumo sujo, negro e horrível… Da decepção, do erro e do pecado e da tristeza, da obscuridade e da degradação moral que está subindo do inferno”[5].
Deus dá ao anjo a autoridade para abrir a tampa do poço do abismo, que era mantida em controle pelo criador. Desde a criação até aqui, o caos, o abismo não tinha liberdade de ação, porém, agora, Deus novamente dá permissão para que se instale o caos, triunfe o delírio. Para que a anarquia e a desordem retornem ao ponto original existente antes de sua intervenção criadora.

Alguns consequências surgem deste caos:
(a)     - É o fim da luz, já que a fumaça que sai deste abismo é capaz de escurecer o sol e a lua (9:2);

(b)    - o caos traz também dor; confusão - dele saem gafanhotos (9:3) Cujo propósito é claro, não causar a morte, mas gerar tormento. 9:5 Deus usa o diabo para castigar os ímpios. Aqueles a quem eles servem, assume a posição daquilo que ele é. Atormentador! Surge o terror e destruição, porque esta é a obra de satanás.

(c)     - Os gafanhotos possuem uma identidade confusa - Nele se misturam várias identidades, e nenhuma é característica do gafanhoto, exceto a cauda que tem ferrões que agem por detrás. Comentaristas vêem nisto o poder da mentira Esta mistura revela a confusão criada, o engodo, aparências. As coisas não são diferenciadas: pode ter rosto de homem, mas utilizar dentes de leões. Agem pelo poder da confusão que sua identidade confusa e estranha é capaz de gerar. Para os judeus do Antigo Testamento, esta mistura é o sinal da contracriação, já que a criação é caracterizada pela separação (Deus separou o mar da terra, a luz das trevas, o seco e o úmido), e aqui existe uma con-fusão de imagens e indiferenciação.

(d)    - Possuem poder limitado - cinco meses. Existem coisas que não devem ser destruídas, cinco meses é a marca do limite. O aniquilamento não pode ser total, por isto o tempo de ação e poder é relativizado. Mesmo quando o mal é liberado, mesmo quando as trevas aparentemente triunfam, o poder é limitado. Ninguém suportaria o mal em sua plenitude.

Os homens querem morrer, mas não podem. “Naqueles dias, os homens buscarão a morte e não a acharão; também terão ardente desejo de morrer, mas a morte fugirá deles”. 9:6 A dor é tão intensa que os homens procuram a morte, mas este tempo não é tempo para negação, morte ou fuga, mas tempo para confrontação, para acerto de contas.

A sexta trombeta:
Esta trombeta fala de 4 anjos da morte, anjos demoníacos com poder de destruição que são liberados. (obviamente são diferentes dos quatro anjos mencionados em 7:1). Estes anjos de 9:14 estão acorrentados, dando uma idéia de que são seguros por Deus pelo seu poder destrutivo. Estes anjos, apesar de liberados, também não agem com liberdade absoluta. Não podem fazer nada sem que Deus permita. Hendriksen vê nisto uma referência aos poderes políticos e militares, porque em tempos de guerra, os ímpios se parecem com demônios encarnados[6]
·      O número dos soldados é inumerável: 200 milhões de soldados. Número simbólico que expressa a idéia de magnitude. Seu propósito é destruir. O texto relata que, não somente os cavaleiros eram perigosos, mas também os cavalos. Os cavalos são descritos como agentes com forte poder de destruição, provavelmente uma referência aos poderes bélicos que constroem armas cada vez mais sofisticadas e poderosas, todos instrumentos de morte e destruição, capazes de causar grandes danos e mortes.
O texto conclui dizendo que apesar de todas estas manifestações terríveis e pavorosas, ainda assim, existe uma rejeição a obra de Deus. O homem é colocado aqui diante de uma decisão, mas ainda assim não se arrependem das suas obras, não renegam seus ídolos, não deixam de adorar os demônios, não se arrependem de sua maldade e nem abandonam suas feitiçarias. “Nem ainda se arrependeram dos seus assassínios, nem das suas feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos”. 9:21 Em outras palavras, mesmo diante do evidente juízo de Deus estes homens se arrependem de seus maus caminhos ou mostram algum desejo interno dh mudança.

Conclusão:
Quais as lições que podemos extrair deste texto das Sagradas Escrituras? O que isto tem a ver com a sua vida e com a nossa história?

1.    Este texto nos declara de forma inequívoca Deus tem controle absoluto da história-  Os eventos, os acontecimentos não se dão à margem de sua ordem. É do Trono de Deus que surgem os anjos para determinar os últimos acontecimentos, para tocar as trombetas. O processo de destruição e des-criação que ocorre nestas trombetas são eventos determinados por Deus. Na quinta trombeta, vemos o absoluto controle de Deus sobre o “abismo”. Este abismo (inferno), está fechado, e só é aberto, na hora determinada por Deus, que é anunciada pela trombeta de um dos anjos que estão diante do trono de Deus. O anjo apenas cumpre a ordem de Deus. Na sexta trombeta ainda se torna mais evidente quando os anjos da destruição são liberados, são desamarrados, são liberados por Deus para que, por pouco tempo possam realizar a destruição e a matança que são próprias destes anjos malignos. Mas estes anjos são liberados para que realizam sua função apenas “no dia, mês e ano” para o qual estavam “preparados”. Ap. 9:15  A força da destruição e da dor também não é uma força descontrolada, elas estão debaixo do controle de Deus e são liberadas para executar os propósitos de Deus e para cumprir a vontade soberana de Deus. 
Os eventos não se dão por acaso, não são frutos de atos isolados, antes refletem um plano mestre de Deus. Mesmo a des-criação ocorrida aqui no texto, possui uma finalidade clara, que retirar o provisório, para estabelecer o definitivo.
Muitas vezes nossa história pessoal parece sofrer um processo de des-criação. Somos confrontados com situações que alteram completamente nossa história. Mesmo neste contexto temos que entender que nossa história não segue uma direçÃo cega. Temos um pai bondoso, amorável, que usa momentos como este para nos ensinar, para nos repreender, para trazer-nos de volta a consciência e para termos novas e profundas experiências com ele. Na Bíblia, sofrimento não é algo desproposital, mas sempre tem sentido. Sofrimento não é mero sofrimento, Deus tem um propósito amorável diante da nossa confusão e caos.

2.    O juízo de Deus vem - As trombetas são instrumentos de alerta, servem para nos tirar do sono e trazer novamente a lucidez.. Servem para alertar. Trombeta é símbolo de vigilância. Não dá para sermos negligentes e desatentos. Este descaso e indiferença podem nos trazer a morte. O texto relata que o juízo de Deus está chegando, e que temos que acertas nossas contas. A verdade vai se tornar clara, nossos motivos serão revelados. O que ainda está encoberto será trazido à tona. É tempo de acertos. “Portanto, assim te farei, ó Israel! E, porque isso te farei, prepara-te, ó Israel, para te encontrares com o teu Deus”. Amós 4:12

3.    Deus demonstra que sofrimentos e tragédias são transitórios, e mesmo as calamidades mais hediondas cumprem propósitos eternos - A dor e o sofrimento não são realidades despropositais. O que Deus está fazendo aqui é anunciando um novo tempo, trazendo novas realidades. Mas para que isto aconteça, é necessário desfazer o velho, desconstruir realidades estabelecidas, desmascarar subterfúgios, para que o novo se estabeleça, para que o eterno se torne conhecido e seja firmado. Para isto acontecer, é necessário que seja destruído o que precisa ser destruído. O texto nos demonstra também que o sofrimento e a dor são limitados também pelo Senhor, e que mesmo as forças mais antagônicas não possuem toda liberdade de ação. O abismo pode agir com seu poder destruidor, mas seu poder não se estende aos eleitos de Deus (9:4), atingindo apenas “aos que não tem o selo de Deus sobre a fronte”. E que mesmo sobre aqueles que ainda não tem a marca do Cordeiro, o inferno tem poder apenas temporal, de cinco meses.(9:5) e não podem ir adiante no seu propósito de destruição. Podem atormentar, mas não podem matar.(9:5) Mesmo sobre sofrimentos que vem sobre justos e injustos, existe atuação limitada. Os anjos só são libertos em determinados contextos (dia, mês e ano definidos), e com ordem explícita de Deus. “solta”… (9:14).

4.    As trombetas anunciam que em tempos de mudança e juízo, é inadmissível que continuemos sem tomarmos uma decisão - O texto nos mostra que facilmente tendemos a nos evadir de confrontos, como se fosse possível continuar a fugir eternamente. Vemos aqui homens buscando a morte. (Apoc. 9:6) Eles não querem ser confrontados, recusam o encontro com aquele que vê todas as coisas. É hora de acerto de contas, e os homens se sentem ameaçados. O que os homens temem não é a morte, o que eles temem é o encontro, o olhar de Deus, o juízo.
Contudo, o texto demonstra também que os homens preferem continuar no seu ciclo de rejeição e de infidelidade a assumirem um compromisso sério com Deus. Preferem continuar vinculados aos anjos da morte que ao Deus eterno e sua mensagem. O texto de apocalipse (9:20-21) é um apelo ao arrependimento e a conversão que implica na rejeição das religiões falsas, a conceitos e práticas pagãs. É tempo de decisão! É hora da tomada de posição. O texto descreve, não sem uma certa tristeza da parte do apóstolo de João, que mesmo diante de todas estas coisas, “ainda não se arrependeram…” (9:21) A verdade é declarada, mas ainda assim não ocorre nenhuma transformação.

Sobre a sétima trombeta falaremos adiante…




[1] Caird, G. B., 1966, pg. 106
[2] Ellul, 1979, pg. 80
[3] Idem, pg. 79
[4] . Hendriksen, pg. 144
[5]  Idem, 144
[6] id. Pg. 146

AP. 8 O SÉTIMO SELO




Introdução:

Para não perdermos o ponto central da análise e interpretação deste livro, precisamos manter em mente que em Apocalipse, se existe alguma referência a um acontecimento atual, ele é apenas pretexto para uma revelação permanente e fundamental. Portanto, por razões didáticas é importante mais uma vez fazermos uma pausa para lembrar que a mensagem de Apocalipse é que Deus governa a história, e trará a sua consumação em Cristo. O Coração da mensagem é expressa nos caps. 4 e 5, no qual João tem a visão do Trono no qual Deus está assentado. Estamos diante do Rei do universo. Pela sua vontade e pela sua expressa ordem o universo foi criado (4:11). Dentro do seu soberano projeto vemos todo o universo se reunido em louvor e adoração ao Cordeiro. (5:11-14) Do seu trono saem as ordens e as forças que governam a história, representadas pelos cavalos de diferentes cores, que revelam diferentes forças da história, as orações e clamores dos mártires que são ouvidos por Deus e trazem juízo sobre a terra.
O silêncio é agora novamente quebrado. Existe uma forte expectativa na abertura do sétimo selo. A revelação que Deus deseja dar aos habitantes da terra ainda não se completou. Depois do parêntese e do incômodo silêncio anunciado e requerido (7:1) e da visão dos glorificados, (7:9s) o sétimo selo será finalmente aberto.

Entramos assim, no sétimo selo, que vai desencadear outra série de 7 trombetas.

A abertura do sétimo selo conclui a seção iniciada em 4:1 e prepara a terceira seção. Esta introduz uma nova série de sete ações, precedidas por um período de preparação, demonstrada aqui pelo silêncio de meia hora.
O sétimo selo é o último da série que fecha o livro da História, aberto pelo Cordeiro no capítulo 5. É aquele que consuma a história, o que marca o seu fim. Somente com o sétimo selo pode-se encontrar toda a interpretação e o sentido pleno da história. O sétimo selo desencadeia as sete trombetas. E este sétimo selo começa de forma profunda, reverente, solene e pesada: Com meia hora de silêncio.
Silêncio é algo complicado para o nosso mundo moderno. Somos uma geração de pessoas acostumadas com o barulho. Alguns anos atrás moramos numa casa nos EUA que estava num lugar muito silencioso, um determinado dia eu reclamei que sentia uma espécie de zunido quando ia dormir. Tanto Sara Maria, minha esposa, e minha filha Priscila disseram que também ouviam o mesmo som. Não havia nenhum barulho, silêncio absoluto. Concluímos, de forma jocosa, que o que ouvíamos era o “barulho do silêncio”. O silêncio profundo era provocativo aos nossos ouvidos acostumados ao barulho.
Somos uma geração de imagens e sons. Temos sons por todos os lados: Som de TV, som de rádio, som de vizinho, som de buzinas, som de carros… sons, vozes estranhas, barulhos da alma. Silêncio é algo fora da nossa realidade cotidiana. O silêncio é algo profundo, tem o poder de comunicar sentimentos inexprimíveis e provocar reflexões às vezes indesejadas por nós. Muitos tentam refugiar sua vida no meio do barulho e da algazarra, porque temem o encontro com o silêncio e a dor de sua própria alma.
Você já ficou em silêncio absoluto por algum tempo? Já experimentou a profundidade de um minuto de silêncio num estádio, em homenagem a alguma pessoa ilustre, em protesto por razão política ou por solidariedade a alguma coisa? É algo impressionante! Já estive em algumas reuniões de oração onde as pessoas ficavam em silêncio contemplativo, falando com Deus. Embora a presença de Deus estivesse de forma concreta ali, aquele silêncio era provocativo. Se tivermos silêncio na reunião de oração, procuramos logo quebrá-lo, para que não sejamos incomodados com o poder que o silêncio evoca em nossa alma. Contudo, o texto não fala de um minuto, mas de meia hora de silêncio.
Normalmente as pessoas levantam questões sobre quem não poderia ir para o céu por causa da necessidade de ficar em silêncio. Alguns afirmam que os italianos jamais poderiam ir para o céu: Eles são culturalmente barulhentos e não suportaria ficar meia hora em silêncio. Se eu perguntasse a minha esposa quem não poderia estar no céu por causa do silêncio, ela responderia sem pestanejar que é um de seus alunos na escola, que tem dificuldade de manter a boca fechada. O maior castigo que ela pode aplicar-lhe é colocá-lo num canto da sala, em silêncio! Para ele, este é o maior suplício que um ser humano pode sofrer!
Muitos pais diriam que são os seus filhos na fase de 4 a 5 anos, que perguntam de forma quase ininterrupta: “Por que pai?”  E se você disser, “filho, você pergunta muito” ele vai retrucar novamente e perguntar sem perceber: “Por que papai?”
Já vi piadas de mau gosto sobre este texto: Alguns dizem que para algumas igrejas pentecostais, seria quase impossível porque os irmãos não teriam como dizer de forma ruidosa e alta: Aleluia! Ainda mais diante de um quadro tão tremendo como este, de estar diante do Senhor em toda sua glória. Para que os irmãos pentecostais não se sintam ofendidos, quero lembrar aos silenciosos calvinistas que o som tem louvor, e louvor barulhento. Como som de muitas águas, coral de milhares de vozes. Certamente o céu está cheio de pentecostais, porque o louvor que lá existe é simplesmente arrebatador. Outros já falaram que este texto demonstra de forma clara que as mulheres não poderão estar no céu, por razões óbvias… Sobre isto não quero tecer nenhum comentário, porque posso ser acusado de qualquer discriminação…
Entre o sexto e o sétimo selo, o número seis e o sete, existe aqui uma interrupção, um corte, uma quebra, que representa uma crise. Segundo Ellul, na literatura apocalíptica “o silêncio é o sinal do fim dos tempos ou da sua realização. Mas na literatura bíblica é sinal da presença do Senhor Todo Poderoso. Hab. 1:20; Zc. 2:13[1]
Agora são introduzidas as sete trombetas. Curiosamente é com o toque das trombetas diante da indestrutível e inconquistável Jericó que o povo de Deus tem entrada assegurada na terra de Canaã, a terra prometida por Deus ao seu povo eleito. É também pelo toque das trombetas que o julgamento de Deus vai se estabelecer. Em geral, as trombetas são de difícil interpretação, a forma mais simples de vê-las é como os juízos de Deus. Por vezes reduziu-se estes textos à descrição do julgamento de Deus na história: Depois da descrição da história, haveria a intervenção dos julgamentos de Deus nesta história.

Porém, antes do toque da trombeta estas realidades profundas e misteriosas que nos são aqui apresentadas:

1.     O silêncio - profundo, reverente… Este silêncio enigmático e desafiador, incômodo, com o qual temos que lidar. É o silêncio de preparação para as sentenças do grande juiz ao qual não se pode enganar, não dá para achar testemunhas falsas e subornar. O silêncio de Deus. O silêncio da natureza, da expectativa do que virá.

2.     As orações dos santos – Ao silêncio seguem-se a impressionante cena das orações chegando ao trono de Deus. Um anjo fica em pé junto ao altar, com um incensário de ouro e lhe é dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos para oferecê-lo no altar que se acha diante do trono. O que o anjo tem para oferecer? O que existe de tão precioso assim para ser levado diante do altar de Deus de forma tão solene? As orações!  As orações são as oferendas, Deus se agrada deste sacrifício do seu povo.
Este texto nos revela que antes da abertura do sétimo selo, que serão as sete trombetas, temos um intervalo aqui para considerarmos a importância da oração. Eis aqui uma realidade que não pode ser esquecida, e que tem profundo impacto sobre a história da humanidade, como vimos na abertura do quinto selo no clamor dos mártires.
Se a oração é algo assim tão importante, por que não oramos? Somos uma geração que desaprendeu a orar. Temos muita oração em público, pouca oração a sós Mesmo os pentecostais, que falam tanto do poder da oração, oram muito pouco. Shedd pergunta: “Por que é que oramos tão pouco? Por que é que os santos do passado gastavam horas, que sentiam passar como minutos, enquanto nós passamos minutos que parecem horas”.[2]
Se nos céus, as orações ocupam um lugar tão central e importante, porque as orações ocupam hoje um espaço tão pequeno em nossa agenda de prioridades?  Se a coisa mais importante a ser oferecida a Deus são as orações dos santos, por que oramos tão pouco?
Esta nossa atitude revela a pouca dependência de Deus e nossa confiança em nossos recursos, nossas estratégias. Não é apenas a igreja que ora pouco, a liderança também ora pouco ou quase nada. Somos um povo cada vez mais dependente de nossa técnica e dependemos pouco das nossas orações. Acreditamos que uma igreja é forte quando seu púlpito é cheio de erudição e eloqüência e quando nos bancos estão assentadas pessoas brilhantes, ricas e influentes. Isto é um falso senso de poder. A igreja é forte quando ela aprende a orar.

Este texto é um dos textos mais importantes se quisermos entender a natureza e o poder da oração. Eis aqui algumas destas verdades expressas:

1. O destino das orações é o trono de Deus: É para o trono de Deus que elas se dirigem. Temos muito pouca consciência disto. Ao orarmos, estamos falando com o único que realmente tem o poder. Em Hb. 10:19-22 há uma descrição tremenda do significado da oração. Oração é comparada ali com uma atitude de quem tem ousadia. “Tendo, pois intrepidez para entrar no Santo dos Santos”. Os judeus acreditavam que apenas uma pessoa muito especial poderia se apresentar, uma vez por ano, diante do lugar mais sagrado, onde Deus estava: O Santo dos Santos. Aquela experiência era tremenda para o sumo sacerdote, ele entrava ali temendo por sua vida, em profunda reverência e contrição, perguntando a si mesmo o que poderia acontecer quando ele estivesse diante de Deus. O autor da carta aos hebreus afirma que orar é ter a intrepidez de penetrar os mistérios de Deus, chegar diante dele, com toda sua glória, é se atrever a aproximar de Deus, pelo sangue de Cristo. Oração é algo ousado! Vamos estar diante do Trono de Deus! Oração é algo que toca os céus!
Particularmente tenho a impressão não sabemos ou cremos na eficácia da oração. Peter Wagner disse certa vez que algumas pessoas quando oram crêem que Deus possa ouvi-los, mas outras realmente crêem que Deus as ouve. Isto faz toda diferença…
Em Dan. 10:10-13, vemos outro relato fortíssimo sobre o significado da oração e como as orações impactam os céus. Vemos aqui uma cena fortíssima de Daniel aplicando o seu coração para entender os mistérios de Deus e para buscar a direção de Deus. O texto nos afirma que Deus envia o seu anjo como resposta dizendo-lhe. “Desde o primeiro dia que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras e, por causa de tuas palavras, é que vim”. Dn. 10:12 O texto nos relata que a resposta à sua oração demora 21 dias, porque uma força espiritual, obstruiu o caminho do mensageiro de Deus, para que a resposta não chegasse a Daniel.
Este texto de Daniel nos dá uma pista para compreender porque razão, normalmente, somos tão resistentes a oração e somos tão desestimulados a orar. Oração enfrenta oposição de satanás. Satanás sabe que quando oramos, nossas orações tem um destino certo e perigoso para os planos e estratégias que ele tem criado. As orações chegam ao trono de Deus… Chegam diante do Deus Todo Poderoso Por esta razão o diabo vai criar um meio para nos desencorajar e vamos enfrentar resistência quando orarmos.
Nossas orações chegam ao trono de Deus! Pode ser que você esteja, sem direção, desencorajado, não encontrando sentido em viver, sem vontade orar, sem fé no coração. Neste caso, sua oração sai como um gemido da alma em direção a Deus tem um efeito restaurador na sua vida. Oração possui um componente altamente terapêutico e restaurador e é algo revolucionário para nossa existência, se existe algo que pode mudar nossa alma, nossos sentimentos e nossa história são orações de súplica, confissão, arrependimento, profundas e sinceras, mesmo que você esteja longe de Deus, mas esteja desejando sinceramente retomar ao caminho que ele criou para você. Se você deseja mudança, é necessário orar.

2.   Oração tem conotação Universal - O texto nos afirma que foi trazido diante de Deus “As orações de todos os santos”. Orações de todos os santos, de todos os lugares, de todos os tempos. Orações de toda uma geração se juntam com o clamor piedoso de outras gerações e chegam ao altar de Deus. Orações de famílias chegam ao altar do Senhor, se amontoam na presença do Senhor. Orações de povos diferentes, de pessoas que não se conhecem, mas que possuem o mesmo objetivo, oram pelo mesmo assunto, vão convergir para o altar de Deus. Quando um povo, uma geração, o povo de Deus se reúne diante do Senhor, pedindo algo que glorifique o seu nome, certamente Deus vai atender. Quando o povo ora para que o curso da história, num determinado momento seja mudado, Deus vai conceder.
Uma das coisas mais preciosas que tenho encontrado no meu ministério são pessoas que trazem uma santa idéia conspiratória no coração, tem no coração a visão da oração como uma conspira-ação: “Pastor, vamos orar, que Deus vai fazer”, e começam a orar especificamente por um determinado assunto. Às vezes as coisas estão complicadas, as situações são tensas, desanimadoras. Pessoas cheias de fé, respondem a estas ocasiões com temor, e Deus as atende! Na verdade este conceito da santa conspiração através da oração deveria estar de forma clara no coração de toda igreja, no cerne de todos os que temem a Deus. Precisamos aprender a crer no poder da oração, e liberar este poder, levando nosso clamor diante de Deus. Vários temas deveriam estar em nossa agenda de oração: Desagregação familiar; Salvação dos perdidos, conversão de uma nação, santificação da Igreja, liderança ungida, clamor por um povo, situação política e moral, a opressão dos ricos sobre os pobres. Orações objetivas, com alvos definidos.
Uma das orações mais impressionantes da história é a de John Knox, conhecido reformador protestante escocês, que foi encontrado de joelhos pela sua mulher, numa madrugada fria e clamando profundamente. “Senhor, dá-me a Escócia senão eu morro”. Maria, Rainha da Escócia, que se opunha à sua forma de ver o cristianismo, reconhecia nele a autoridade espiritual que possuía e disse certa feita: “Temo mais as orações de Knox que os exércitos do mundo inteiro”.
A história do Brasil, com suas trágicas experiências de desvalorização do ser humano num todo, e da criança, do velho, e da mulher, e do pobre, em particular deveriam ocupar nossas agendas de orações. Um avivamento legítimo, profundo e sério, deveria ocupar nosso coração. Temos que clamar a Deus por nós mesmos: Senhor, dá-nos a graça de crer na importância de nossas orações ainda que sejam fracas, pobres e esparsas não desistamos de interceder e crer que o Senhor vai usar estas frágeis preces para transformar a história de nosso povo e nossa história pessoal. Precisamos orar para que nunca duvidemos de sua eficácia e que aprendamos a orar profunda e sinceramente para que “venha o teu reino e seja feita a tua vontade, aqui na terra como nos céus…”

3.   O que levamos a Deus é o que volta a terra – Outra revelação maravilhosa que este texto faz sobre a oração é o fato de que as orações do povo de Deus retornam como poderosos agentes divinos para mudar a história. O que sobe a Deus é o que desce como resposta. Aquelas orações que são levadas e postas diante do altar, retornam a terra em forma de juízo. É no incensário que se colocam as orações, e é do incensário que saem os juízos.
Nossa atenção agora deve se voltar para os temas de nossas orações. O que tem ocupado nossas preces? Qual é o motivo de nossas orações? Normalmente oramos apenas por assuntos particulares, porque. Ore por temas particulares, mas ore também por questões maiores, concernentes ao Reino. Ore por sua igreja particular, mas ore pela Igreja Universal. Precisamos ter orações mais abrangentes, orações que possam ir além de nós mesmos e nossas necessidades pessoais que, via de regra, consideramos as mais urgentes e necessidades prioridades da raça humana. Desta forma, transformamos Deus em alguém que está disponível para atender às urgentes necessidades pessoais.
Uma das formas mais interessantes para aprendermos a orar é observar as orações que Jesus fez, as orações que a igreja primitiva fez, e as orações dos apóstolos. Dê uma olhada no modelo de oração que encontramos na oração dominical ensinada por Jesus. Mt. 6:9-15, ou analise a perspectiva da oração sacerdotal em Jo. 17, ou as orações que os apóstolos fizeram no meio de uma grande tribulação, At.4:23-31. As orações destas pessoas são completamente despreocupadas com motivos pessoais. Tinham em mente a perspectiva do reino, o avanço do evangelho e a glória do Senhor. Quão diferente é o conteúdo destas orações com o que costumeiramente encontramos em nossas igrejas, tão voltadas para seus desejos egocêntricos.
Uma das orações mais incríveis que veja na Bíblia é a que Paulo faz em Ef. 1:17-19. Ali o apóstolo ora, não apenas para que Deus resolva problemas particulares na vida pessoal dos irmãos, mas ora por temas mais profundos, por realidades que afetam o ser mais profundo da humanidade, porque ele sabia que, normalmente nossos fracassos estão relacionados a dimensões mais profundas do nosso caráter. Veja os temas desta oração do apóstolo:
i.     Que Deus vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele;
ii.   Que Deus ilumine os olhos do vosso coração (sabia que coração tem olhos?) para saberdes qual é a esperança do seu chamamento;
iii. Que Deus os capacite a saber qual é a riqueza da glória de sua herança nos santos;
O que pedimos a Deus, o clamor que o povo leva ao trono de graça, isto é o que Deus concede… Precisamos aprender a orar, a clamar… Senhor nos ensine a viver desta forma!

4. Oração é a forma mais efetiva para se modificar a face da terra. Dois fatos precisam ser observados no vs. 5.
4.1. Tão logo as orações chegam ao trono de Deus, o anjo retira as orações do incensário e as joga sobre a terra, já não mais como meras súplicas, mas como poderosos agentes capazes de transformar a face de uma região. (Vs. 5) O que faz destas simples orações de povos anônimos e simples da história se tornarem tão eficientes? Estas orações descem com o fogo do altar! Orações sem o fogo do altar não fazem diferença, mas quando estas súplicas chegam à presença de Deus, elas são unidas ao fogo e fazem profunda diferença. O anjo mistura aqui a oração dos santos que está dentro do incensário, com o fogo do altar. Ele enche aquele incensário de ouro, onde estão as orações, com o fogo do altar e aqui reside a eficácia da oração. Oração sem o fogo que vem de Deus, de sua presença, é inoperante, mas louvado seja Deus, estas orações chegam diante dele e voltam com fogo.

4.2. Todos estes elementos descritos aqui nos vs. 5 referem-se a juízos sobre a humanidade: Terremoto, fogo, trovões, vozes. As orações sobem como clamor, como súplicas, como frágeis preces, mas voltam como juízos, simbolizados aqui por estas mais temíveis calamidades que abatem de tempo em tempo sobre os homens: Terremoto, fogo, trovões e vozes (literalmente: estrondos!) Quando o povo de Deus se une em torno de um determinado tema e ora fervorosamente para que Deus atenda suas súplicas, Deus o faz. Deus tem o seu ouvido atento às orações e clamor de seu povo, especialmente em tempos de martírio e tribulação. Quando o povo de Deus se une em torno de um determinado tema e ora fervorosamente por isto, pedindo para que Deus intervenha, ele fará.

Alguém certa vez afirmou que quando o povo de Deus ora, “os céus se agitam, o inferno estremece, e coisas tremendas acontecem na terra”. Quando a Igreja ora os céus se movem”. Muitas vezes ficamos espantados com a escalada da violência, assustados com a dor e o sofrimento humano, mas não oramos por isto. A oração nos livra da insensibilidade, apatia, e indiferença. Quem ora se compromete! Muitas de nossas orações e clamores são respondidos a nós por Deus da seguinte forma. “Filho, eu quero fazer através de você!” Outras realidades vão muito além do alcance nosso, e somente com a poderosa intervenção de Deus vai mudar. Ore por isto, confie…

Conclusão:
E. M. Bounds é respeitado nos círculos cristãos pela piedade dos livros que escreveu, a maioria deles falando de oração. Vale a pena ouvirmos o que ele diz sobre a importância de orar:
“Algumas passagens nas Escrituras nos dão uma visão das imensas áreas sobre as quais a oração exerce sua influência. O efeito das orações chega a regiões ainda não alcançadas pela linguagem ou influência cristã e traz bençãos sobre elas. Paulo esgotava seus recursos da linguagem e pensamento quando orava. Ele estava consciente que existiam áreas ainda não desvendadas e da necessidade de batalhar contra os inimigos ainda não conquistados”.[3]
Quando as orações chegam diante do Trono de Deus retornam como juízos sobre a terra. Após este tempo de reflexão e reverência revelada aqui no silêncio de meia hora, cria-se o ambiente para que seja aberto este último selo, que se compõe de sete trombetas.

Isto trataremos no próximo capítulo…



[1] Ellul, 1979, pg. 75
[2] Shed, Russel, Tão grande salvação,  São Paulo, ABU Editora, 1a. edição, 1978, pg. 20
[3] . Bounds, E. M . Winning the invisible warSpringdale, PA., Whitaker House – 1984, pg. 152