quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Pv 11.29. Pv 13.22 Construindo memórias



Estes textos falam de comportamentos paternos e como isto afeta substancialmente filhos e netos. O primeiro diz: “O que perturba a sua casa herda o vento” (Pv 11.29) Fala de coisas negativas. “Vento” não é uma boa herança. Sabemos de grandes tragédias que o vento pode trazer sobre uma região. Pensem no furacão katrina com seu efeito devastador em New Orleans.
Um filho de nossa igreja, que tem uma fábrica de móveis em Canela, RS, a viu sendo destruída num vendaval que não demorou mais que 5 minutos, e cujo epicentro deste pequeno ciclone, com ventos de até 255 km por hora, foi exatamente sobre sua empresa arrasando-a completamente. Pedaços de madeira foram encontrados a 800 mts de distância, e a porta de ferro foi arremessada a quase 100 metros. Os eucaliptos ao redor foram arrancados como pequenas ervas daninhas. Colheita de vento é prenúncio de desastre. É isto que acontece ao homem que perturba a sua casa.
O segundo versículo nos fala de coisas positivas: “O homem de bem deixa herança aos filhos de seus filhos, mas a riqueza do pecador é depositada para o justo” (Pv 13.22).  O que ele faz, não tem efeito apenas na sua descendência imediata, mas abençoa futuras gerações, chegando aos netos. O Sl 78 faz referência até aos “filhos que ainda hão de nascer”, uma geração que nem mesmo nós conhecemos, mas que pode ser abençoada através de comportamentos abençoadores. Pais abençoados deixam um legado positivo para as futuras gerações.
Paul Meyers afirma que um bom legado: possui as seguintes características:
                (a) – deve ser baseado em princípios divinos;
                (b)- produzir resultados duradouros;
                (c)- ser aplicável a todos.
É exatamente desta bendita herança que o texto acima está falando.

Nas minhas observações e ouvindo pessoas, tenho visto dois aspectos que são extremamente relevantes para a formação das emoções humanas:

Primeiro, o Pai é um construtor de memórias. Ele está sempre imprimindo nos filhos, lembranças e percepções que se tornam a base da formação das emoções. Estas memórias podem ser negativas ou positivas;

Segundo, A figura paterna, é um dos elementos mais terapêuticos, gerando segurança e confiança nos filhos; ao mesmo tempo, o pai é um dos maiores fatores desagregadores e formadores do núcleo neurótico da personalidade humana.  Pais alcoólatras, distantes, passivos, indiferentes, drogados ou desligados causam danos quase irreparáveis nas emoções, enquanto pais que transmitem confiança, sensibilidade e cuidado real, são as maiores fontes de graça na alma de um filho. “Como são felizes os filhos de um pai honesto e direito” (Pv 20.7 NTLH).

Pensemos no primeiro:
Podemos criar lembranças duradouras e saudáveis, abençoando as próximas gerações com exemplos, atitudes e compromisso com a fé ou podemos perturbar nossa casa trazendo graves transtornos para filhos e netos.
Homens deveriam sempre pedir a Deus a graça de serem construtores de memórias saudáveis. Terapeutas analisam muito hoje as “veredas antigas”, a “cura das memórias”, porque boa parte de nosso desajuste atual tem a ver com abuso, negligência e lutos existenciais ou reais, que causam danos irreparáveis à nossa psiquê. Será que temos deixado memórias de alegria, lembranças saudáveis em nossos filhos?
Todas nossas experiências, boas ou más, são acumuladas nos arquivos da existência. Algumas experiências nunca são esquecidas, mas muitas outras são sublimadas e aparentemente esquecidas, embora, essencialmente, possam ser ainda mais danosas, porque não são sequer lembradas conscientemente, apesar de ainda continuam a afetar decisões, humor e atitudes. Não recordar o fato e episódios não significa cura. Muito mais saudável seria se conseguíssemos lembrar do evento que nos machucou, sem as emoções associadas a ele. Esta é uma boa definição de perdão. Memórias podem ser amargas e doloridas. Muitos hoje gastam fortunas em terapias, para se livrar dos fantasmas do passado e feridas abertas por descaso, indiferença, abandono psicológico, palavras descaridosas e abusos. Por esta razão, precisamos ser agentes de memórias geradores de saúde e graça.
Certo homem me procurou para relatar seu sofrimento. Aos quatro anos de idade, estava envolvido com outro garotinho nestas coisas de curiosidade sexual, quando foi surpreendido pelo pai que o repreendeu severamente. Todas as vezes que seu pai ia jogar futebol, levava-o junto, mas neste dia não o fez dizendo-lhe que ele era uma mocinha, e que por isto não ia com ele. Este homem hoje, além de uma baita crise de identidade sexual, lembra deste evento com muita dor.
Temos o desafio de não apenas sermos lembrados como mantenedores e provedores do lar ou como disciplinadores dos filhos, mas como gente que construiu memórias agradáveis. Esta é a desafiadora tarefa de levar nossos filhos a terem saudades de eventos engraçados e significativos na vivência familiar.
Certo pai resolveu fazer isto de forma criativa: Planejou uma viagem com seus filhos, fez todas as reservas de hotéis, organizou o trajeto que seguiriam de carro, as estradas que deveriam pegar, onde deveriam almoçar, mas disse aos seus filhos que infelizmente não poderia ir por causa do trabalho. Então, assim que sua esposa saiu com eles num carro cheio de bagagens, ele saiu com um amigo em outro carro e adiantou-se ficando esperando no primeiro restaurante onde deveriam almoçar. Quando sua família chegou ao local, ele já estava assentado à mesa, e assim que seus filhos chegaram, o menor, de 7 anos disse: “Aquele homem parece o PAPAI!!!”
Quando um amigo lhe perguntou por fizera isto ele respondeu que gostaria de ser lembrado não apenas pelas broncas que dava e pelas contas que pagava, mas também pelas surpresas que promovia.
Parte das boas lembranças que tive como garoto tem a ver com imagens do passado ao lado da família. Numa delas, uma viagem numa Brasília semi nova que meu pai havia adquirido, saímos de Gurupi-TO, num percurso de quase 2 mil km, até o leste de Minas, com 5 filhos dentro de um carro para visitar meus avós. Dentro do carro, comíamos farofa e ouvíamos musicas gravadas em um tape, cantando numa língua que não compreendíamos, as estrofes de Elvis Presley. Ao invés de dizermos “It´s now or never”, dizíamos, “It´s maionese”, e tudo estava certo! Lembro-me ainda dos rústicos acampamentos que fazíamos à beira do Rio Formoso, em Tocantins, onde passávamos dias com muita simplicidade e alegria.
Quero encorajar os pais a serem produtores de memórias agradáveis, que tragam saúde emocional e mental. Memórias tem o poder de adoecer, mas são capazes também de gerar cura, construir a auto-estima e valorizar a existência. Memórias positivas se constroem no ambiente familiar, onde os pais são promotores de inesquecíveis e terapêuticas lembranças. Como Pai, uma pergunta que fica sempre em minha mente é a seguinte: O que os nossos filhos e netos, isto é, as próximas gerações, dirão a meu respeito?

Vamos ao segundo ponto: O pai como fator desagregador e formador do núcleo neurótico da personalidade humana.
Carl Farley afirmou acertadamente que "um garoto é a única coisa que Deus pode usar para fazer um homem". Portanto, precisamos cuidar dos nossos filhos de forma muito especial. Eles sāo a matéria prima de Deus! Através deles Deus quer forjar a humanidade. Se alguma coisa pode trazer esperança de uma sociedade minimamente civilizada no futuro, será por meio de famílias com pais responsáveis.
Lamentavelmente os filhos encontram- se desorientados quanto à sua masculinidade e paternidade. Os modelos familiares encontram- se fragmentados na pós modernidade, e os pais incapazes de conciliar as demandas sociais e profissionais, com a convivência familiar. O resultado é que os filhos sofrem da ausência física e emocional. George Vailant entrevistou vários homens de negócios, cientistas e professores na meia idade, o resultado foi que noventa e cinco por cento deles afirmaram que seus pais ou foram exemplos negativos na infância ou mencionados como pessoas que nāo exerceram qualquer influência em suas vidas.
Jack Sternbach, fez uma pesquisa com homens na fase adulta que assim relataram seus relacionamentos com os pais: 23 por cento eram fisicamente ausentes para eles;  29 por cento sentiram ausência psicológica dos pais, que eram muito ocupados, desinteressados por suas vidas ou passivos em casa; 18 por cento sentiram a ausência psicológica dos pais que foram muito austeros ou moralistas e sem envolvimento emocional com suas vidas e 15 descreveram seus pais como pessoas ameaçadoras e descontroladas. Somente 15 consideraram seus pais envolvidos em suas vidas.
Se queremos criar famílias fortes e emocionalmente estáveis, precisamos cuidar da geraçāo presente. Será uma longa jornada para mudarmos os paradigmas equivocados que recebemos, e construirmos um novo modelo. A tarefa é árdua, porque temos que vencer nossos próprios limites; e longa, já que nāo se trata de um projeto rápido. Se começarmos agora, só veremos os efeitos desta mudança daqui 20 anos, mas é preciso salvar os filhos.
Hoje à noite, um número suficiente de adolescentes capazes de encher os estádios do Mineirão, Beira Rio, Maracanã e Morumbi se prostituirão para sustentar o vício das drogas; um milhão do adolescentes engravidarão até o final do ano, sendo que metade praticará aborto; 60 % dos estudantes até o último ano do ensino médio já terão provado ou serão dependentes de drogas. 95 por cento tomam regularmente bebidas alcoólicas e apenas nos EUA, a cada 78 segundos, um adolescente tenta suicídio.
Precisamos salvar nossos filhos para que as famílias e a nossa civilização seja salva.
A mudança pode começar com simples gestos. Quantos pais afirmam para seus filhos: “eu amo você?” Quantos pais já declararam alguma vez: "estou orgulhoso de você" ou "você fez muito bem"? Quantos pais estão jogando vídeo games com seus filhos ou estão interessados em participar de seus eventos atléticos? Quantos pais tem abraçado filhos e filhas, e estão contando histórias e levando-os para pescar ou para uma tarefa comum de lazer ou para a igreja aos domingos?
Se eu pudesse dar uma única receita para a sobrevivência de nosso país eu esta seria a restauração da família. Se me perguntarem como isto pode ser feito eu simplificaria: Salvem os garotos! Eles serão os futuros líderes das novas famílias que construirão o futuro.
John Eldredge, no seu marcante livro “Coração selvagem”, trata da aventura da masculinidade: “O maior anseio do garoto é ouvir do seu pai: Estou orgulhoso de você! Eu amo você!”. Para o autor, todo filho pergunta subliminarmente: “Tenho o que é necessário? Eu sou realmente um homem, papai? Terei tudo o que é necessário... no momento certo?”
Leanne Payne afirma: “Quando o relacionamento entre pai e filho está correto, a árvore tranqüila da força masculina que está dentro do pai protege e alimenta o frágil broto da masculinidade que está dentro do filho”.

Conclusão:
Em 1 Pe 1.18-19 lemos que Jesus veio nos resgatar do nosso fútil procedimento que nossos pais nos legaram. A futilidade tem duas fontes: (a)- Nossa própria futilidade, vazio e ilusão. Como nos equivocamos, gastamos nosso tempo e prioridade em coisas erradas. Como nos iludimos e somos fúteis em atitudes. Jesus veio para nos resgatar desta tendência endógena de nossa alma pecaminosa; (b)- Nossa futilidade também vem na formação familiar, já que Cristo veio nos libertar do fútil procedimento “que vossos pais vos legaram”. Não apenas a nossa futilidade, mas aquela que nos vem como herança e condicionamentos sanguíneos. Quanta doença e dor existe em nossos lares. Nelson Rodrigues, ácido e crítico dramaturgo brasileiro afirmou que “família, na pior das hipóteses, só serve para dar emprego a psiquiatras e enriquecer a indústria farmacêutica”.
Jesus veio nos livrar destes condicionamentos e ambientações patológicos. Ele deseja tocar na gênese, no DNA de nossa existência, e nos trazer vida plena.

Que o Senhor faça isto hoje em nossa história!

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