sábado, 10 de agosto de 2013

Gn 17 A Eterna Aliança




 Introdução:

A Bíblia não é um livro de regras morais, mas de relacionamentos, por isto um dos termos mais presentes na Bíblia é “aliança”. Diferente de um contrato, com cláusulas, adendos, restrições e punições, Deus se revela como um Deus que deseja intimidade com seu povo e estabelece uma caminhada com os homens através de pactos.
Existem dois grandes pactos na Bíblia: O Pacto da Lei, estabelecida em Adão (e no qual o homem falhou fragorosamente) e o Pacto da Graça (estabelecido com Jesus, no qual o próprio Deus é o fiador).
Deus está firmando aqui um pacto com Abraão, chamado de “Pai da fé”. Este é o mesmo pacto debaixo do qual ainda estamos, e sob o qual todas as pessoas do Antigo Testamento estiveram. As pessoas do AT eram salvas, não através das obras, mas através da graça, crendo nas promessas que Deus lhes havia feito e que se cumpririam em Jesus. Talvez isto surpreenda muitos estudantes da Bíblia, e especialmente os dispensacionalistas que tentam encontrar na Bíblia vários pactos, que foram meras alianças transitórias e temporárias de Deus com determinadas pessoas, para atender uma necessidade específica de um tempo específico.
Precisamos entender quais são os fundamentos desta aliança, para compreender como Deus se relaciona conosco, o seu povo firmado através deste pacto.

O Pacto das Obras era baseado na obediência. Deus deu a tarefa a Adão de obediência. Se Adão conseguisse obedecer, ele seria justificado pela sua resposta a Deus, com base nos seus merecimentos, mas todos sabemos o que aconteceu com Adão. Ele foi rebelde e quis viver de forma independente, e o resultado foi a queda. O pacto das obras se baseia no seguinte ponto: Faço, logo sou aceito. Neste caso, a base são as obras, a justiça pessoal e o desempenho espiritual do homem. Deus o justifica pela capacidade que ele tem de, por meus de seus esforços espirituais, agradar a Deus e satisfazer suas exigências legais e morais. Deus, neste caso, aceitaria a performance espiritual do homem. Todas as religiões do mundo, equivocadamente, colocam a salvação neste pilar. Salvação seria uma conquista espiritual baseada na bondade e no currículo espiritual que o homem constrói. O homem se salvaria por seu esforço pessoal. O lema é “Faço, logo sou aceito”. Só o cristianismo bíblico rejeita esta proposição.

O Pacto da Graça – O segundo pacto que a Bíblia ensina é o da graça. Um favor imerecido de Deus. Salvação não é algo meritória, mas obra exclusiva da graça e da misericórdia de Deus. O homem não é aceito diante de Deus com base nos seus merecimentos. “Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não fé de vós, é dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie” ((Ef 2.8-9). O homem não consegue atender as exigências de um Deus santo, e por isto suas boas obras são insuficientes para lhe dar a salvação.
Neste texto de Gênesis, lido no início, Deus faz um pacto com Abraão. Paulo explica que este pacto é o mesmo valido até hoje (Gl 3.15-29), e que nem mesmo a lei, que veio 430 anos depois, pode quebrar aquela aliança e anular a promessa (Gn 3.17). A lei foi apenas um parêntese, até a vinda de Jesus. Foi um meio de estabelecer regras para que o homem não ficasse sem nenhum controle, ainda que meramente externo, e era baseado em recompensas e punições, impedindo assim que o homem vivesse de forma desenfreada.

Sendo este pacto válido até hoje, precisamos saber de suas características:

  1. Deus é o iniciador do pacto – Eu sou o Deus Todo-Poderoso” (Gn 17.1). Deus se aproxima de Abraão e dá suas credenciais, e a partir de então, anuncia o que estava para fazer.
Na bíblia não vemos os homens indo ao encontro e na direção de Deus, mas vemos Deus vindo em direção ao homem. O Pacto da graça consiste no fato de que Deus faz uma aliança consigo mesmo e é fiel em cumpri-la. Ele é o iniciador do pacto. É Deus quem atrai e santifica um povo eleito para sua exclusiva autoridade e para seu louvor, propondo santificar este povo (Ft 7.6-8; Ez 37.28; Jo 15.16; Ef 1.3-4; 1 Pe 2.9).

  1. Os propósitos da Aliança – Deus mostra a Abraão propósitos bem específicos e claros sobre seu plano, presentes nesta aliança.

i.                    Comunhão – “Anda na minha presença” (Gn 17.1). Ele convida Abraão para um relacionamento de amor. Em Mc 3.13-15, quando Jesus está escolhendo seus discípulos, o texto afirma que ele chamou os que ele mesmo quis, e os designou para estarem com ele. O chamado era para companheirismo e amizade. A missão que eles viriam a realizar seria decorrente desta relação com Jesus.

ii.                  Santidade – “Anda na minha presença e sê perfeito”  (Gn 17.1). O mandamento que Deus dá ao seu povo no AT é o mesmo que é dado por Jesus no NT. “Sede perfeitos como perfeito é vosso Pai celeste” (Mt 5.48). No AT vemos uma declaração também constante: “Eu sou o Deus que vos santifico”. Deus deseja imprimir seu caráter em nós, fomos chamados para sermos discípulos de Cristo e sermos seus imitadores. Portanto, a promiscuidade, mentira, perversão, vida de pecado é oposta ao estilo de vida do discípulo de Cristo.

iii.                Abençoar “Te multiplicarei extraordinariamente” (Gn 17.2). Sua benção é colocada no superlativo “extraordinariamente”, adjetivo este que aparece duas vezes nos vs 2,6. Deus quer abençoar seu povo. Neste caso, corremos dois riscos históricos de distorcer esta promessa:

ü       Buscar a Deus apenas por causa das bençãos e não por causa de Deus mesmo. Neste caso buscamos as bençãos de Deus mas não o Deus das bênçãos; Kleber Lucas apropriadamente diz: “Eu não correrei atrás de bençãos, sei que elas vão me alcançar”.

ü       Violar os princípios de Deus e ainda assim esperar as bençãos de Deus. Andy Stanley diz o seguinte: “Nunca viole os princípios de Deus se você deseja ganhar ou manter as bençãos de Deus”. Transgredimos, violamos e pervertemos os caminhos de Deus, e ainda assim achamos que podemos esperar as bênçãos de Deus. Deus não tem compromisso com a infidelidade. Ele eventualmente quer nos abençoar, mas se o fizer estará apenas reforçando nossos caminhos, e por isto não o fará.
       
  1. Este Pacto seria geracional – Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência no decurso de suas gerações, para ser o teu Deus e o da tua descendência” (Gn 17.7). A
A teologia moderna tem esquecido este importante tema das Escrituras. Deus afirma seu desejo de fazer uma aliança não apenas conosco, mas com nossos filhos e filhas.
Fico intrigado quando me recordo que na década de 1980/90, neste país havia milhares de pessoas atraídas pelo tema da maldição hereditária, e então se criou técnicas para expulsar o demônio da ancestralidade, mesmo de pessoas já convertidas a Jesus, mas poucos falaram da maravilhosa benção de que Deus não apenas quer nos abençoar, mas deseja alcançar também os nossos filhos.
Apenas no livro de Isaias, encontramos uma enorme quantidade de promessas extensivas aos filhos: Is 54.13; 65.23,24; 61.9; 66.22. Deus está chamando famílias, e não apenas indivíduos, para um relacionamento de amor.
Este pacto seria marcado por um ritual dado por Deus. Todo macho deveria ser circuncidado no oitavo dia (Gn 17.9-14). “Minha aliança estará na vossa carne” (Gn 17.13). Quando batizamos os filhos ainda hoje, o fazemos baseados no fato de que este pacto de Deus conosco, deseja inserir nossos filhos. Muitos alegam que as crianças não podem fazer votos por não terem consciência do que estão fazendo, mas será que as crianças do AT, circuncidadas ao oitavo dia, tinham consciência? Ou será que Deus ignorava esta particularidade de um infante? Quando trazemos nossos filhos a Deus e os consagramos, cremos que nossos filhos fazem parte deste pacto geracional, que Deus tem interesse não apenas nos crentes, mas também nos filhos dos crentes e faz promessas extensivas aos mesmos.

  1. O Pacto seria eterno – Aliança perpétua” (Vs 7,9,19). A teologia reformada afirma que tanto os homens do AT como do NT encontram-se debaixo do mesmo pacto da graça. Paulo afirma que nem mesmo a lei, que veio 430 anos depois, pode desfazer a promessa dada a Abraão (Gl 3.16-17).
A Bíblia ainda afirma que esta aliança foi feita com “O descendente”, Cristo (Gl 3.16). Antes que Cristo viesse ficamos subordinados a lei, mas a lei não é um pacto, mas um adendo que foi ministrado à humanidade para impedir o progresso do mal (Gl 3.19), mas vindo Cristo, não estamos mais subordinados à lei (regras, mandamentos, clausulas), mas debaixo do pacto feito a Abraão, e que se cumpriu completamente em Cristo (Gl 3.23-25).


Conclusão:

O Deus da Bíblia é um Deus de alianças e promessas. Deus fez um pacto de vida conosco, que consiste numa caminhada de intimidade com ele, uma vida de santidade e de benção. Nesta aliança, ele incluiu nossos filhos e todas estas promessas se cumpriram em Cristo. Apenas em Cristo se torna possível uma aliança com Deus, porque se dependesse de nossa performance seríamos excluídos. Por isto esta aliança foi feita com o sangue de Cristo. Ele entrou como oferenda em nosso lugar. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Somente neste pacto, podemos ter certeza de que poderemos satisfazer as exigências de um Deus santo.

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