domingo, 3 de novembro de 2013

Gn 25.19-34 O fascínio do caminho mais curto


Introdução


A Bíblia é paradigmática, mesmo quando os personagens não são “heróicos”. Neste caso, aprendemos por contraste. Por exemplo, Jonas é um modelo de profeta e pregador às avessas. Na verdade ele representa toda a nação judaica que se recusa a ser missionária e insiste na desobediência. O mesmo se dá com Esaú. Através da sua vida aprendemos como não devemos ser. Pela sua vida vemos como o homem, mesmo criado num ambiente onde as promessas de Deus estão presentes, pode perder completamente seus valores e viver uma vida contrária ao propósito de Deus.
“Tudo que na Bíblia outrora foi escrito serve para nos ensinar”. A Bíblia é como espelho. Nela vemos nossa face, quem eu sou e não deveria ser. Ela denuncia e confronta meu pecado, e mostra o caminho por onde transita a graça e a benção de Deus.
O que vemos em Esaú é profundamente pós-moderno. Aliás, como os pecados costumam ser “pós-modernos...” Chego à conclusão de que o problema não é de geração, mas da natureza humana.

Narração:

Esaú é uma personalidade conturbada: profano, irreverente, inconseqüente, leviano, impuro, birrento, contudo, a sua pior atitude tem a ver com uma decisão que vai marcar o resto de sua vida, e queremos considerá-la hoje porque ela está fundamentada em dois fatos que marcam o caráter de Esaú e se constituem grande tentação para nós nos tempos modernos.

1. A tentação do imediato: Ter satisfação imediata dos desejos

Esaú está com fome, possui necessidades não satisfeitas, tem necessidades físicas. Jacó está com o prato pronto, um cozinhado de lentilha. Isto é sopa no mel. Jacó consegue fazê-lo jurar: Uma decisão que vai durar a vida inteira e Esaú, levianamente, não titubeia, esquece-se que opções erradas trazem implicações para toda vida.
Somos uma geração ansiosa por resultados imediatos. No ápice da geração “fast-food”, geração micro-wave. Não sabe esperar e nem tem paciência com processos. Quando desafiado a situações perniciosas encontra enorme dificuldade para resistir, porque foi ensinada a atender os desejos imediatos.
Somos a geração dos desejos imediatos, até nas igrejas se vê a pressa: Queremos a benção sem pagar o preço. Vive-se a atração irresistível em busca de homens e mulheres ungidos, que possam de uma forma imediata resolver problemas que foram construídos ao longo dos anos de resistência e rebeldia, querendo unção por osmose sem passar pela cruz. Considere as lutas de pessoas realmente santas: Horas de devoção, clamor, jejuns, noites passadas em claro em busca de graça, verdadeiras batalhas de intercessão. Somos uma geração de pessoas buscando experiências novas e imediatas: Reuniões e pregadores que prometem alívio imediato, respostas pré-preparadas e pré-fabricadas exercem enorme fascínio sobre nossas vidas. Muitos participam destas reuniões, “caem no espírito” e acham que agora estão ungidas, voltam para casa descobrindo que as coisas não são fáceis e as lutas continuam. Unção tem a ver com tempo para o Senhor, busca secreta de Deus, experiência do privado com o Pai.
Satanás sempre usou a estratégia do imediatismo e da satisfação imediata dos desejos. Ele usa conosco a mesma abordagem que usou com Jesus: “Se tem fome, coma! Manda que estas pedras se transformem em pães, absolutize seus desejos!
Foi exatamente nesta armadilha que caiu Esaú. Ele tem fome. Eu quero comer, e agora! Se ele fosse em direção à tenda de sua mãe, encontraria comida, mas não é esta a sua atitude. Ele diz: “Eu quero, e quero agora…” Pouco me importa o depois. É inconseqüente e leviano. “Tô com fome, me dá!”. Faz compromissos com implicações eternas, e votos espirituais são sacrificados pelos simples desejo de satisfação imediata.
Na Palavra de Deus encontramos homens com atitudes inteiramente diferentes:
José é enviado para o Egito numa condição sub-humana, e ali experimenta as agruras da escravidão, sem nome, direitos, família e identidade. Nesta situação de carência e agrura, a mulher de seu patrão se engraça com ele. Aparentemente esta poderia ser uma saída fácil da sua condição de penúria, mas José não se encanta com as fáceis propostas do diabo. Imigrante, não falava bem a língua daquele povo, encontra uma mulher rica que lhe podia dar muita comodidade. Aceitar a oferta era uma questão de opção. Negar princípios sociais, Ignorar Deus, desprezar valores, afinal, poderia pensar, que Deus é esse que me deixa passar pelas experiências dos últimos tempos, a ponto de ser vendido como escravo pelos próprios irmãos?…
Encontramos exemplo positivo também na vida de Davi com Saul. Ele era um rei paranóico e doente, que vivia atormentado por sentimentos persecutórios e por opressão maligna, obcecado pela idéia de que Davi era contra ele. Por duas vezes Davi teve oportunidades de tirar a vida de seu perseguidor: Em En-Gedi e Haquilá.  No entanto, apesar das provocantes tentações do diabo, resolve esperar os processos de Deus, não tem desejos de atropelar as oportunidades tomando atalhos que contrariavam sua consciência cristã. Aguardou a hora, sabia que era melhor ser justo, correr riscos com Deus que pegar atalhos.
Saul, por sua vez, assume atitudes completamente opostas, e justifica seu fracasso dizendo que fora "forçado pelas circunstâncias" (1 Sm 13.12). Por causa de sua atitude imediatista, pela pressão do urgente, perdeu o seu trono para sempre e se afasta de Deus.
No caso de Esaú, o prato de Jacó devia ser cheiroso, atraente, ter forma bonita. Ou quem sabe não tinha nada disto, já que para quem tem fome, qualquer prato de comida é saboroso. Existe até uma interessante ilustração que fala de um príncipe que foi perseguido com seu pai durante um golpe de Estado, e se refugia na cabana de um camponês, num lugar deserto e a única coisa que o camponês podia oferecer-lhes era uma omelete. E o príncipe afirmou que aquela fora a mais saborosa comida de sua vida. Anos depois, com as coisas normalizadas no palácio, torna-se o rei e sente saudade daquela omelete. Pede ao cozinheiro que lhe prepare algo tão saboroso quanto aquela comida. E o cozinheiro sabiamente respondeu: “É impossível preparar uma comida assim tão boa, porque não tenho alguns ingredientes que só aqueles momentos poderia propiciar: a fome e a circunstância”. Em outras palavras, uma comida simples, quando surge na hora de nossa fome, tem enormes resultados para nossa vida.
Muitos decidem sem avaliar as implicações. Faz pela “urgência”, ou porque era a opção mais fácil e adiante paga um preço muito caro. São pessoas que não conseguem resistir às compras, entulhar sua casa de um novo sapato ou roupa no guarda roupa lotado, apesar do cartão de crédito estar estourado… Gente que não consegue resistir ao charme da mulher bonita, ainda que tenha que sacrificar sua fé, suas convicções morais e sua família. Gente que se entrega ao imediatismo de suas paixões carnais sem avaliar as conseqüências que tais atitudes podem gerar na sua vida familiar, moral e espiritual. Gente que vende sua consciência por propostas de suborno e ganhos ilícitos...
São pessoas que não conseguem esperar o tempo de Deus e assumem posições comprometedoras no plano de Deus para sua vida. Vão para a cama com seus namorados sem considerar a Palavra de Deus, ferem o coração do Pai celeste, ficam espiritualmente desautorizados e depois percebem que não é o tempo certo para se casar, ou que aquela pessoa era a pessoa certa, ou precisam assumir uma gravidez não esperada, isto quando não consideram a possibilidade de um aborto. Esta é uma mentalidade epicurista: "comamos e bebamos que amanhã morreremos".
É o imediatismo destruidor, que espera resultados rápidos. Que se esquece que a vida tem processos e é bom aguardá-los com santidade e fidelidade. Esquecem-se que a nós cumpre dar profundidade, e a Deus, largueza.
Esaú abriu mão de sua primogenitura por um mero prato de sopas de lentilhas. Se ao menos pensasse um pouco, se suportasse um pouco. As grandes colheitas são feitas com preparos e labutas. Moisés no palácio preferiu servir ao Senhor que ser chamado filho da filha de Faraó. A Bíblia afirma peremptoriamente: "Peca quem é precipitado”, e ainda: “fazer sem refletir é loucura”.

2. A tentação do menosprezo pelas coisas de Deus (Gn 25.34)

Jacó agiu com malícia, desprezou, depreciou. Esaú agiu com leviandade e simplismo: Aceitou a indecorosa proposta. Para que a transação fosse concluída, Esaú banaliza, minimiza e vulgariza o sagrado. O direito de primogenitura tinha referência a certos privilégios atribuídos ao filho mais velho:

1.     Porção dobrada dos haveres paternos, depois da morte dele. Isto implicava em uma herança maior.

2.     Direito de exercer o sacerdócio sobre a família. O filho mais velho representava a família na ausência do pai.

3.     Em relação à família de Abraão, a primogenitura incluía um direito ainda mais significativo: fazer parte da linha genealógica direta do Messias que seria enviado.

Infelizmente estas coisas pareciam não fazer muito sentido para a alma leviana de Esaú. Muitos jovens, criados na igreja, também parecem desconsiderar estas verdades: Fé cristã? Compromisso com Cristo? Vida com Deus? Facilmente desvalorizam seus valores trocando-os por bagatelas e quinquilharias.
O famoso violinista Petropovich, numa entrevista dada à Veja afirmou que "o hábito pode tirar a inspiração". Muitas vezes, pelo fato de estarmos tão acostumados as coisas divinas, e em ouvir a Palavra de Deus, não somos impactados pelas verdades do evangelho. Precisamos aprender a valorizar as coisas eternas, porque elas têm implicações eternas. As realidades do evangelho têm implicações muito sérias e por esta razão devem ser tratadas com santa reverência. Nossa geração está perdendo a sensibilidade com as coisas de caráter e com absolutos.
Jesus fala de pessoas inconstantes que afirmavam que queriam segui-lo, e curiosamente, Jesus rejeitou a oferta de tais seguidores.  Esta história está narrada no Evangelho de Lc 14.15-22. O ponto central da parábola proferida por Jesus era: O que é melhor: Seguir o reino ou, experimentar as novas juntas de bois, ou apreciar um campo recém adquirido? E Jesus conclui que, se o seu reino não for prioridade em nossas vidas, jamais conseguiremos nos tornar seus discípulos.
Esaú faz uma leitura completamente diferente. Na sua mente encontram-se sérias tentações que o distanciam de Deus. “De que me vale o sagrado, se eu estou com fome?” A palavra de Deus diz que ele “desprezou” sua primogenitura (Gn 25.34). Eventualmente somos colocados em situações nas quais princípios e valores serão questionados, noutras em que, abrir mão de valores pode nos dar privilégios imediatos. Que proposta vamos aceitar?
Não venda seus direitos espirituais. O desprezo das coisas sagradas traz danos espirituais (perda das bençãos e privilégios); e emocionais (recalque, depressão, amargura Gn 27.41). Esaú, depois desta experiência enche seu coração de raiva, decide matar seu irmão. Por desprezar as coisas de Deus, torna-se revoltoso e birrento. Soube que seus pais tinham problemas com a família de Ismael, então decidiu se casar com uma de suas filhas (Gn 28.8).

Conclusão

Para encerrar nossa reflexão, gostaria de fazer algumas aplicações:

1.     Leviandade e precipitação tem a ver com caráter- (Aquilo que tem a ver com nossa interioridade e profundidade de alma). Esaú faz tudo isto e sua atitude não o perturba, sua reação é de completa displicência: “comeu, bebeu, levantou-se e saiu…” (Gn 25.34). Não refletiu sobre sua precipitada atitude, não demonstra que aquilo o incomodou. Não lamentou o seu passo errado.

2.     Não negocie seus direitos espirituais – sempre que o fazemos sofremos graves conseqüências:

  1. Perda da autoridade – acusação e condenação, culpa e sofrimento. A vida de Davi é um bom exemplo disto;

  1. Perda da Alegria – Davi declara que seu pecado lhe roubara a alegria (Sl 32 e 51)

  1. Acusação do diabo – Nossas decisões erradas enfraquecem nossa vida espiritual e nos tornamos presas das acusações do inimigo.

3.     Apelos imediatos para satisfação de nossa carne são sempre colocados em momentos de profundas necessidades pessoais - Saul está chegando do campo, com fome e as coisas se encaixam. Jacó está fazendo uma comida, testando suas habilidades culinárias. As grandes tentações para desvio moral se dão exatamente na hora em que alguns anseios não estão plenamente atendidos: adultérios acontecem em tempos de fragilidade pessoal e nas relações estremecidas dentro de casa. Pessoas se envolvem em negócios escusos em momentos cuja oportunidade parece “surgir de Deus”, afinal: “Um negócio deste atende minhas necessidades perfeitamente, portanto, Deus deve ser uma direção de Deus”. Este texto nos adverte que nossa carne é matreira, tem necessidades imediatas, desejos à flor da pele, e que quando associada a uma estratégia de satanás, parece se tornar imbatível. Temos a necessidade de submeter a carne ao espírito, as coisas temporais, às eternas. Saídas fáceis nunca foram “respostas de Deus”.

4.     Podemos fazer nossas escolhas, mas não podemos nos livrar das conseqüências que tais escolhas nos trazem  - Em Hebreus 12.16,17 a Palavra de Deus nos revela o  resultado da atitude Esaú. Sua atitude pecaminosa lhe tira a benção. Existem muitos que vivem fora da benção de Deus, por leviandade, impureza e profanação. Sua atitude tem conseqüências eternas. Saul, posteriormente busca com lágrimas a benção que já não pode ser alcançada por ele; posteriormente tenta refazer suas atitudes, mas não existiam mais conexões entre elas. Existe um ditado grego que diz que: “Oportunidade é uma pessoa cabeluda na frente e careca atrás…” Quando passa por você e você não a segura, não conseguirá segurar posteriormente. Aquilo que você planta hoje vai determinar o que você vai colher amanhã. Esaú: "Chorou amargamente" e  “busca com lágrimas” o tempo de arrependimento (Hb 12.17), mas não consegue mais. Passou o tempo…


5.     Não existem atalhos para vida – Existem apenas os caminhos de Deus. A Bíblia afirma que “há caminhos que aos homens parece ser bom, mas seu fim não é o melhor”. A vida cristã é marcada por experiências diárias, e nossa benção é determinada pela aprovação de Deus sobre nossas vidas. Portanto, “nunca  viole os princípios de Deus para obter ou manter as bençãos de Deus” (Andy Stanley). 

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