terça-feira, 29 de outubro de 2013

Gn 24 Casamento é coisa séria



Introdução:

Este texto nos fala do encontro de Isaque e Rebeca. Um evento relativamente comum, que acontece todas as semanas. Só no período de Nov 2012 a Nov de 2013 foram cinco cerimônias de casamento em nossa família. Dois deles, meus filhos. Portanto, uma cena ordinária e comum presente em todas as culturas do mundo, seja ela sofisticada ou primitiva, composta de cristãos, muçulmanos ou pagãos. Mudam os rituais, os votos, os preparativos, mas todas as sociedades celebram a união de um homem com uma mulher. Apesar de ser algo tão ordinário, precisamos nos lembrar que casamento é coisa séria. Não pode ser banalizado nem menosprezado, ocupa uma das áreas mais essenciais da vida que é a formação de uma família.
Esta afirmação torna-se ainda mais urgente porque temos vivido numa sociedade esvaziou o sentido e valor do casamento. Estamos vivendo na cultura do “amor líquido”, segundo a linguagem de Zigmunt Bauman, na qual, até mesmo o verbo “ficar”, traz a ideia de efêmero, transitório e fugaz. Mas mesmo nesta sociedade que tem insistido em esvaziar o matrimônio e até mesmo a encorajar o divórcio, mesmo quando a separação é amistosa e civilizada, seja do ponto de vista social, familiar, psicológico, sem considerar sua dimensão sacral, na sua maioria, é sempre um processo traumático e dolorido.

Casamento é coisa séria!

Por ser algo de tão grande responsabilidade, seus vínculos devem ser construídos com prudência e cuidado. Princípios devem ser observados, tanto da parte da família, quanto da parte dos noivos. Este texto nos fornece alguns destes princípios, que apesar de se manifestarem na vida de pessoas que viveram a quatro mil anos atrás, por sua natureza são eternos, e transcendem a barreira do tempo e da cultura.

O que a família deve considerar:

1.       Abraão demonstra cuidado em relação ã sua futura nora – Obviamente Abraão, dentro de sua cultura oriental e primitiva, tinha a prerrogativa da escolha da esposa para seu filho, mas considerada a diferença entre aqueles dias e hoje, o que vemos é um homem preocupado com o que vai acontecer com seu filho e gerações vindouras.

Abraão pede ao seu mordomo de confiança, Eliézer, para buscar uma moca que possa ser a futura esposa de seu filho, e faz algumas recomendações claras. Ele busca uma mulher de sua família, para se tornar a companheira de Isaque. A forma como Deus dirige este momento, como todos os demais eventos das Escrituras, são extremamente significativos.
Eu sei que a geração atual tem se tornado cada vez mais independente, mas ainda assim, duas perguntas devem ser feitas e que revelam preocupação com nossa descendência:

A.     A fé que abrigamos em nosso coração está chegando ao coração da próxima geração?

B.      Se positivo, que tipo de fé (qualidade) temos gerado? Uma fé sólida ou dúbia ou quem sabe meramente institucional?

Abraão olhava o comportamento daquelas jovens da região, o tipo de atitudes que possuíam e o Deus a quem seguiam e se angustiava pensando que uma delas poderia se tornar esposa do seu filho.
Por esta razão, diz ao seu servo: “Irás a minha parentela e daí tomarás esposa para Isaque, meu filho”(Gn 24.4). Muitos pais cristãos, influenciados pelo pensamento moderno, não tem se preocupado com os valores e convicções que estão penetrando no coração de seus filhos, se se casarão com pessoas tementes a Deus ou adoradoras de ídolos ou mesmo médiuns. Alguns até mesmo dizem: “Mas é uma moça tão boa...” ou, “é rapaz de uma família boa, tem um bom emprego”.
Será que a preocupação que estava no coração de Abraão ocupa as famílias de hoje? Estamos preocupados e orando pelos futuros esposos (as) de nossos filhos (as)? Abraão sequer considera a possibilidade de que seu filho se case com as cananitas, adoradoras de Astarote e Baal, deuses pagãos da região. Ele sabe que seus netos deveriam estar debaixo do mesmo pacto feito com Yahweh, que incluía suas gerações (Gn 17.7-9) e ele teme que o coração daquelas mulheres pagãs distancie Isaque do chamado e da vocação que Deus lhe havia dado.
Muitos jovens tem se casado com pessoas de outros valores morais e espirituais, que adoram outros deuses ou não tem nenhum compromisso com o reino de deus. O que vai acontecer com os filhos e netos do futuro? Você tem se preocupado com isto?
Em nossa casa, sempre oramos para que nossos filhos se casassem com pessoas que amassem a Jesus e tivessem compromisso com as verdades do Evangelho. Sabemos que chega um determinado momento da vida deles na qual terão que tomar decisões pessoais em relação à fé cristã, mas nossos filhos sabiam sempre os valores relacionados ao casamento com pessoas que tivessem de fato entregado suas vidas a Cristo, conforme nos ensina a palavra de Deus em 2 Co 6.14-15. “Não se ponham em jugo desigual com descrentes. Pois o que têm em comum a justiça e a maldade? Ou que comunhão pode ter a luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e Belial? Que há de comum entre o crente e o descrente?”

2.      Abraão não negocia os fundamentos de sua fé, chamado e vocação – Eliézer sabia que sua tarefa não seria fácil. Sua viagem demoraria cerca de 60 dias para os 1.500 kms de Canaã até a Mesopotâmia (atual Iraque). Ele teria que encontrar uma determinada família, além disto, se a conseguisse encontrá-la, não havia garantia de que alguma daquelas moças tivesse disposição para se casar com alguém que morava tão longe de sua casa natal.

Sua argumentação parece lógica e coerente: “Talvez não queira a mulher seguir-me para esta terra, nesse caso, levarei teu filho à terra donde saíste?” (Gn 24.5). A resposta de Abraão foi veemente. Deus o havia chamado para aquela terra e lhe dera uma promessa clara sobre isto, portanto, esta possibilidade não estava em negociação. Os fundamentos não poderiam ser colocados em xeque ou em discussão.
O casamento de seu filho estava relacionado ao chamado de Deus para sua família. Portanto, as condições não poderiam ser negociadas.

3.       Abraão elabora uma compreensão da graça e da soberania de deus no processo de encontrar a esposa do seu filho – "Cuidado!", disse Abraão, "Não deixe o meu filho voltar para lá. O Senhor, o Deus dos céus, que me tirou da casa de meu pai e de minha terra natal e que me prometeu sob juramento que à minha descendência daria esta terra, enviará o seu anjo adiante de você para que de lá traga uma mulher para meu filho”. (Gn 24.7)

Ter a compreensão de que Deus está neste processo, providenciando a esposa prudente para o filho, ou alguém que ama a Cristo para ser o marido de nossa filha é extremamente importante, porque na maioria das vezes nos esquecemos de quanto o próprio Deus está comprometido com o vinculo do matrimônio. A Bíblia afirma que “os bens e a herança vem dos pais, mas do Senhor vem a esposa prudente” (Pv 19.14).
Este clima espiritual deve ser criado nos lares cristãos, levando os filhos a orarem e esperarem pelos seus cônjuges, e a verem o casamento como uma experiência de sacralidade numa família cristã. Quando os pais dizem que estão orando por alguém, ou afirma que a pessoa escolhida já foi preparada dentro dos planos divinos, tal atitude mantém um estado de alerta espiritual nos filhos. Abraão contagia seu servo com a compreensão de que Deus estaria adiante dele, que enviaria o seu anjo, que mobilizaria os exércitos dos céus para encontrar uma esposa para seu filho.
Eliézer, designado para esta missão, também estava encharcado desta esfera sagrada. Ele ora pedindo orientação e discernimento (Gn 24.12-14); glorifica a Deus quando vê a manifestação de sua benevolência (Gn 24.27). Ao encontrar-se com a família de Rebeca, faz questão de afirmar que aquilo era obra de Deus (Gn 24.48).

O que os jovens devem considerar:
As observações anteriores devem ser consideradas pela família, agora precisamos considerar os princípios sobre os quais os jovens devem atentar.

  1. Vá, acompanhado da benção dos pais – (Gn 24.59-60) Este casamento tem a benção de Abraão, que quer uma esposa que seja do seu povo para seu filho. Rebeca era filha de Betuel, sobrinha da terceira geração de Abraão. (Gn 24.15).

Certa feita ouvi a seguinte declaração de um pastor: “Nunca vi nenhum casamento bem sucedido que não tivesse a benção dos pais e de seus pastores”. Deus quer abençoar você com a benção dos pais. O Quinto Mandamento que diz “honra a teu pai e mãe” envolve o elemento de submissão e obediência. Eu sei que existem pais tresloucados, gente ruim da cabeça, neurótica, mas sei também que Deus é o Senhor sobre todas as coisas, e ele tem a autoridade sobre aqueles que tem autoridade sobre sua vida. “como ribeiros de água, assim é o coração dos reis nas mãos do Senhor, este, segundo o seu querer o inclina” (Pv. 21.1). Seus pais estão nas mãos de Deus. Ele pode mudar seus corações.
Deus quer nos abençoar por meio da benção de nossos pais. Por isto se afirma popularmente que “praga de mãe pega”. Obviamente esta é uma leitura negativa de algo que deveria ser positiva, mas temos que considerar que Deus resolveu nos colocar nesta família onde estamos para nos abençoar, dar orientação e ministrar o cuidado que nos é necessário. Pais são agentes de Deus para nossas vidas.
Quando Rebeca se vê diante de um homem desconhecido, trazendo a mensagem de um parente longínquo que ele deseja se casar com ela, ela é perguntada pelo pai, se gostaria de ir com aquele homem, para se unir ao seu pretendente. A pergunta que seu pai lhe faz, abre um grande leque de discussões acerca da escolha daquele que será o futuro companheiro (a) de alguém que deseja se unir no matrimônio. A questão básica é “queres ir com este homem?”. Para dar resposta a esta questão tão essencial da vida é necessário considerar quais são os elementos que podem nos dar uma resposta positiva a esta questão:

  1. Vá, com convicções claras no coração – Quando seu pai lhe pergunta: “Queres ir com este homem?” Ela não tem dúvidas nem hesita. “Irei!” isto é, já existe em sua alma convicções bastantes para um compromisso. Suspeitas e desconfianças matam a criatividade e a graça no lar.

Muitos assumem um compromisso de vida, com perguntas não respondidas, vão para o casamento com o coração carregado de suspeita, sem segurança no que Deus está fazendo, trazem incertezas e crises, sem entender a seriedade do matrimônio, e que casamento, aos olhos de Deus, é um projeto sem retorno. “O que Deus juntou, não o separe o homem”. Não é uma aventura, nem pode ser uma "experiência".
Existe uma estrada no Canadá, famosa por ser uma Highway como poucas saídas. Numa determinada altura existe a seguinte placa: “Cuidado com a estrada que você vai tomar, você vai estar nela por mais de 60 Km”. O casamento é uma destas vias. Por isto não pode ser um projeto superficial: “Deus odeia o divórcio” (Ml 2.15)
Rebeca tem convicções dadas por Deus, está segura disto. Certamente abriga incertezas em sua alma, mas os sinais de Deus, precedidos de orações, trazem profundas convicções interiores.

  1. Vá, mas esteja atento aos sinais de Deus. Queres ir com este homem?” Se existe oração, podemos aguardar a confirmação do Senhor. Muitas vezes oramos, mas os sinais de Deus não se revelam a nós. Eliézer ora e quer a confirmação de Deus na sua oração objetiva. Estes sinais podem ser verificados na forma como esta pessoa encara sua fé e suas convicções, na forma como encara a igreja de Cristo, na atitude dela em relação a valores e a vida, em relação a família e à Palavra de Deus.

Eliézer pede uma prova dura a Deus: Queria uma mulher que fosse bondosa, abnegada, gentil, que desse água não apenas a um viajante velho e desconhecido, mas que ainda oferecesse água aos seus camelos (Gn 24.44). Esta água ficava num poço, e para retirá-la era um processo complexo e tarefa pesada. Abraão confia plenamente que Deus vai estar se revelando, indo adiante deles, “enviando seu anjo” (Gn 24.7).

  1. Vá com alguém que compartilhe os mesmos valores e princípios espirituais – Esta é a regra mais clara e direta da Bíblia sobre a escolha do cônjuge. A prática de casar com alguém da mesma tribo ou grupo étnico era costume comum nas antigas sociedades, mas a Bíblia vai além disto e apresenta princípios espirituais sobre o assunto. Entre os israelitas, esta prática era reforçada pelo desejo de se preservar o grupo da contaminação religiosa (Ex 34.15-16; Dt 7.3-4; Ed 9.2).

Abraão faz uma exigência básica a Eliézer: tem que ser do meu povo! Não pode ser diferente, tem que ser alguém que compartilhe os mesmos princípios, tenha os mesmos hábitos, e tenha o mesmo estilo de vida.  
O Antigo Testamento é radicalmente oposto ao casamento misto. A pergunta de Amós ecoa solenemente: “andarão dois juntos se não houver entre eles acordo?” (Am 3.3). No livro de Esdras a prática do casamento misto é tão esconjurada, que Esdras obriga as pessoas com tais casamentos a se separarem (Ed 9).
No Novo Testamento vemos os mesmos princípios. “Que comunhão entre a luz e as trevas, entre o crente e o incrédulo?” (1 Co 7.14-15) Tem que ser alguém que seja parte do meu povo, e que tenha raízes no mesmo Deus que eu tenho. Alguém com quem eu possa ajoelhar e orar.

Implicações práticas:

Considere isto: Imagine seu esposo, espírita convicto, levando seu filho para receber um passe com o guia espiritual? Ou um crente casando-se com um budista que insiste em construir um altar dentro de sua casa? Ou com um praticante de candomblé levando seu filho a tomar um banho de pipoca? Ou um católico insistindo em que seu filho reze um terço ou se curve diante de uma imagem e lhe dirija orações? Ou mesmo com alguém que não professe religião alguma e que no dia do carnaval resolva levar o filho para o baile, enquanto você gostaria de levá-lo ao acampamento? Ou querendo ir ao baile enquanto você gostaria de ir para a igreja?
Estas pessoas eventualmente podem ter uma educação mais refinada que a sua, serem pessoas de um alto nível educacional e gente sincera, mas são pessoas que não se submete ao mesmo Deus que você segue e não comunga da mesma graça da vida.
Abraão é claro a Eliézer: tem que ser do meu povo. Caso contrário você está desobrigado!

  1. Vá com alguém que também está buscando a direção de Deus e orando pelo assunto – É assim que este texto descreve Isaque (Is 24.63). Quando Rebeca o encontra pela primeira vez, ele voltava do campo, estava meditando. Esta vida de oração comum em Isaque, o leva posteriormente a ser um homem que construía altares e abria poços por onde passavam, atitudes estas que se tornem os meios para Deus derramar profundas bênçãos sobre a sua vida. A Bíblia nos mostra que este homem vai orar por um problema de Rebeca por 20 anos ininterruptos. Um casamento assim encontra graça e favor diante de Deus (Gn 25.19-26).

Se você está concordando comigo, gostaria propositalmente de estabelecer uma diferença aqui entre ser uma pessoa frequentadora de igreja e um verdadeiro discípulo de Cristo. Muitas pessoas acreditam que por encontrarem alguém na igreja, isto significa que tal pessoa professa as mesmas convicções cristãs. Nada poderia ser mais enganoso. É bom lembrar que Satanás também eventualmente anda ao redor da igreja. A busca deve ser por alguém que tenha o coração de servo e queira de fato edificar uma família cristã. A perspectiva deve ser de identificar alguém com quem gastará o resto de sua vida. Esta pessoa tem experiência com Deus? Considera isto importante?


Casamento é coisa séria!

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