Introdução:
Este texto descreve os
céus em festa. De
uma forma triunfante e enfática nos é dito que “Houve batalha no céu. Miguel
e seus anjos pelejaram contra o dragão e seus anjos e…não se achou no céu o
lugar deles. E foi expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama
diabo e Satanás, o sedutor de todo mundo, e, com ele, os seus anjos”. (12:7-9)
Temos aqui uma situação
ímpar. Tem festa no céu, mas as coisas se complicam na terra. O acusador é
expulso dos céus, mas o seu destino, o seu exílio, o seu novo endereço, passa a
ser a terra. E não vem só, antes encontra-se acompanhado de uma miríade de seus
anjos, cheios de grande cólera.
O texto focaliza o
júbilo na esfera celestial, mas revela que a terra encontra-se profundamente
ameaçada. “Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de
grande cólera, sabendo que pouco templo lhe resta”. (12:12)
A atuação de Satanás
Antes de entrarmos na
análise e implicações que este texto deseja nos demonstrar, é interessante
verificarmos que este texto nos fala mais sobre a atuação de Satanás que
qualquer outro texto das Escrituras. E é descrito aqui da seguintes formas:
1. Satanás é descrito como um ser Poderoso - O
dragão, é símbolo, protótipo da destruição e do caos. Ele surge com a aparência
de um destruidor, que “arrasta a terça parte das estrelas do céu, as quais
lançou para a terra” vs. 4 A
dimensão da catástrofe revela seu poder. Ele arrasta um terço das estrelas do
céu, apenas com sua cauda, isto revela sua força sobrenatural.
2. Satanás é descrito como alguém cujo objetivo é dividir - O termo “diabo” 12:9 revela o seu caráter e sua missão. diabolos, a palavra no grego que
traduzimos por diabo, significa literalmente aquele que separa, causa ruptura,
um ser que por definição divide. Ele é sempre alguém que causa divisão entre o
homem e Deus, entre o homem e si mesmo, entre o homem e seu próximo, entre o
homem e a natureza, as guerras, os ódios, as comunidades. Seu objetivo é
separar e desunir os homens. Em toda divisão e quebra de unidade, ainda que não
possamos demonizar nossos processos históricos, nem responsabilizar o diabo por
tudo, podemos estar certos de que existe uma atitude diabólica.
3. Satanás é apresentado como um enganador - Ele
é descrito aqui também como “o sedutor de
todo o mundo” vs. 9 Sedução é obra de Satanás! Sedução tem a ver com o
engodo, com a isca, com a operação do erro. Satanás enreda, atrai, seduz,
fascina, nos leva a crer que verdades são mentiras e mentiras são verdades.
Torna o amargo doce e o doce amargo. Inverte os valores e nos traz a morte. Por
se tratar de sedução, significa que somos levados por ele a algo que nos atrai,
nos cativa.
Veja esta descrição de
Max Lucado:
“Então, ele aponta seus dardos para seu ponto mais fraco
e…
na mosca! você perde a calma, cobiça. Cai e se arrasta.
Toma uma bebida, beija uma mulher. Segue a multidão. Racionaliza. Diz “sim”.
Assina o seu nome. Esquece-se de quem você é. Entra no quarto dela, olha para a
janela, quebra sua promessa. Compra a revista, mente, deseja. Bate o pé e segue
seu próprio caminho.
A luta no Paraíso foi
toda construida sobre a sedução. Toda sedução inclui senso de "belo"
e do "prazer". Você não é seduzido pelo feio, pela dor. Por isto a
Bíblia demonstra que satanás se
transforma em anjo de luz. Não queremos com isto dizer que "o belo",
e o "prazer", sejam demoníacos em si mesmos. Aliás, tudo que Deus fez
é belo, e sua vontade repleta de prazer, pois é "boa, agradável e
perfeita". Em Rm. 12:9 o diabo é descrito como sedutor (atrai, deslumbra,
fascina). A sedução possui um elemento quase irresistível de atração. Esta é
sua grande arma, usando elementos como o poder, a fama e o dinheiro para atrair
e engodar os seres humanos.
4. Satanás é demonstrado como o acusador - “Foi expulso o acusador de nossos irmãos”. Vs.
10 - Os céus se sentem aliviado quando ele é atirado para a terra, e a razão declarada de tanta alegria na terra, é
porque foi expulso do meio deles o acusador dos irmãos. A Igreja, triunfante e
militante, nos é apresentada aqui como co-participante deste grande projeto de
Deus de consumar a obra de destruir o inimigo de nossas almas, a saber,
Satanás. Os irmãos nossos, que já desfrutam do gozo celestial, celebram esta
vitória da Igreja.
5. Satanás é descrito como adversário - Na
verdade, “Satanás” é a transliteração da Palavra que em hebraico
significa, “adversário”. Todo este texto
o retrata como um ser que se coloca contra o Filho, que persegue a igreja, que
quer destruir as obras de Deus e que vai “pelejar com os restantes da sua
descendência” (referindo-se à igreja). 12:17 Satanás é e sempre será
adversário. A Bíblia diz que o diabo é o “inimigo de nossas almas”.
Ele é forte opositor do
plano de Deus e de sua vontade. O texto nos mostra sempre um campo de batalha:
Miguel luta contra o dragão. Satanás é descrito sempre lutando contra a Igreja.
A concepção neo-testamentária é sempre permeada com a idéia de seres
angelicais, demônios e espíritos que atuam nas regiões celestiais. “Nossa
luta não é contra carne e sangue, e sim contra os principados e potestades,
contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do
mal, nas regiões celestes”. Ef.6:12 Satanás é o adversário, opositor, que se
levanta contra Deus e seu povo. Esta compreensão teológica corre o risco de
gerar um dualismo filosófico do mal Bem-mal, imaginando o mundo onde existem
duas forças iguais e contrárias, com
igual chance de vencer. Aliás, nos desenhos animados, há sempre esta sugestão
maniqueísta, embora o mar seja quase sempre derrotado, ele o é apenas
temporariamente. Na Bíblia, a derrota do mal é definitiva, o mal é
aparentemente vitorioso, mas sua derrota é definitiva e selada.
6. Satanás é ainda descrito como alguém que fará todos os esforços para
impedir que Jesus possa executar seus propósitos - Ele
é por sua natureza, oposto a tudo quanto Deus intenta fazer, Seu propósito é
destruir, confundir, enfraquecer e retirar a efetividade da obra de Deus. Apenas neste texto, o diabo,
acintosamente se põe na espreita para destruir Jesus e a mulher por duas vezes:
Na primeira, quando se deteve “em frente à mulher que estava para dar à luz, a
fim de lhe devorar o filho quando nascesse”. (Vs. 4) Na outra quando persegue furiosamente a
mulher arrojando de sua boca, água como rio para que ela fosse arrebatada pelas
águas e a terra, criação de Deus, miraculosamente reage, abrindo sua boca e
engolindo o rio. Vs. 13-16
7. Por ser adversário, Satanás é também descrito, apesar de todo seu poder e
força, como alguém derrotado – O texto afirma que Satanás
sabe, antecipadamente, que “pouco tempo lhe resta” (12:12), e por esta
razão, ele desce até a terra, “cheio de grande cólera”. O destino de
Satanás tem sido traçado desde os tempos eternos. Existem dois textos que nos
falam da queda de Lúcifer, não sabemos ao certo se este texto de Apocalipse
relaciona-se com os mesmos ou não, mas há fortes indícios que assim seja. Ez.28
e Is.14
Como se dá a derrota de Satanás? Este
texto descreve que várias frentes são usadas por Deus para destruir definitivamente
o diabo:
i.
O exército dos céus há de
derrotar os demônios subordinados ao diabo -
12:7-9 Este texto demonstra a participação de Miguel e os seus anjos na luta
contra Satanás. Esta profecia se relaciona a um outro texto escatológico
descrito em Daniel 12:1 que diz: “Nesse
tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos de teu
povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até
àquele tempo; mas, naqueles tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for
achado inscrito no livro”.
A Bíblia descreve uma
multidão de anjos celestiais nos céus: serafins, querubins, arcanjos, criaturas
celestiais e outra centena de anjos ao redor do trono, mensageiros celestiais e
guerreiros e descreve nos céus, a presença também de anjos caídos. Apenas
poucos anjos são conhecidos pelo nome, de acordo com a Bíblia. O arcanjo Miguel
e Lúcifer são dois dos mais poderosos seres angelicais criados por Deus.
Os anjos também estão
formados em torno de estruturas hierárquicas, o universo espiritual está
formado em tornos de poderes, entidades, principados, potestades, domínios,
espíritos em prisão, espíritos imundos, etc.
Este texto relata uma
grande batalha angelical. Mas o texto revela também que eles não prevaleceram e
que eles foram expulso dos céus e atirados para a terra. 12:9 e por isto os
céus celebram com “grande voz, proclamando…” 12:10
ii.
A vitória está centrada na
autoridade de Cristo e de seu sangue derramado - “Eles, pois, o venceram por causa do sangue
do Cordeiro”. 12:11 Temos que pensar em algumas revelações surpreendentes
que este texto nos traz. A primeira delas é que os anjos venceram satanás por
causa do sangue do Cordeiro. 12:11 Isto significa, que sem derramamento de
sangue não há vitória, nem se esta batalha for comandada pelos anjos. Os anjos
agem e lutam com base no sangue do Cordeiro. É o sangue do Cordeiro a melhor
arma, para os anjos e para nós. A cruz é
essencial na batalha contra o diabo. Foi na cruz que ele obteve a vitória para
nós, tirando de nós toda a culpa e
condenação que havia sobre nós e nos libertou. Provavelmente esta seja uma
referência aos redimidos, que agora participam da glória celestial, e que
dependeram do sangue do Cordeiro para chegarem ao trono da graça de Deus. A
vitória deles, como a nossa, repousa na expiação que Jesus realizou na cruz,
pois “sem derramamento de sangue, não há expiação de pecados”. Hb. 9:22
A cruz
é o lugar de decisão. A cruz é ponto zênite da raça humana. Foi na cruz que ele
retirou o escrito da dívida que era contra nós. Tira de nós o jugo, o peso de
nossos pecados. Foi na cruz que ele nos trouxe a liberdade que nos condenava a
morte, ao peso de nossos pecados e ao inferno. Mas foi também na cruz que
triunfou sobre as potestades e sobre os principados, expondo-os ao desprezo.
Ridicularizando de sua suposta força. Esta cruz é o lugar da graça de Deus para
nós, humanos. Portanto, olhem para a cruz de Cristo. Ela é o ápice do projeto
de Deus.
iii. Venceram por causa da palavra do testemunho - A
vitória de Cristo realizada na cruz, continua na obediência que o crente presta
a Deus. Esta obediência é expressa no fato que sustentam a palavra do
testemunho e no fato de que, mesmo em face da morte, não amaram a sua própria
vida. (Vs. 11) O que significa a “palavra do testemunho?” É o testemunho acerca
da salvação, do poder de Cristo para salvar. É o testemunho daqueles que
conheceram o amor de Deus na sua própria experiência. Este testemunho é tão
veemente que as pessoas não se preocupam se serão mártires ou não. Estão
prontos para selar o seu testemunho com o sangue. O dragão sai para guerrear
contra os descendentes da mulher, mas os remidos pelo sangue do Cordeiro não o
temem, estão armados com o sangue e com o testemunho e prontos para participar
deste conflito.
Como povo de Deus, muitas vezes não
sustentamos o testemunho da Palavra, nos tornamos um povo que facilmente se
distraí em relação à palavra de Deus. Não guardamos o testemunho. A obra ainda
está sendo feita, apesar de já ter sido consumada na cruz. Agora, pela
fidelidade do povo que segue a Deus.
"Festejai, oh
céus!!!" (12:12)
Excetuando o livro de
Salmos, qual outro livro fala tanto de louvor e júbilo? Apesar do drama cósmico
que é descrito neste livro, ele é antes de tudo, um hino de louvor. Aliás,
existem várias cânticos baseados no livro de Apocalipse, gostaria de sugerir
que um música fizesse alguma cantata baseada no livro de Apocalipse, usando
estes velhos cânticos de compositores latinos.
A motivação para o
louvor no livros de Salmos tem razões distintas. O livro de Salmos era o
cancioneiro judaico, todas as músicas eram fruto das vitórias pessoais obtidas
diante dos inimigos, ou revelavam a dor e o espanto diante do inesperado e da
angústia, acompanhados de clamor por livramento. Muitos cânticos falam de
vitória individuais sobre a dúvida, o medo, a ansiedade e a angústia. Os
cânticos de Apocalipse, porém, possuem uma dimensão mais abrangente,
macrocósmica: A vitória do Cordeiro, o perdão dos pecados e a derrota de satanás.
Em apoc. 4, a glória é dada porque o trono de Deus e sua
majestade são declaradas.
No cap. 5, porque o Cordeiro abriu o livro selado
que ninguém podia abrir.
No capítulo 12, existe cântico porque Miguel e
seus anjos prevalecem e o diabo e seus anjos são expulsos e não se achou mais
lugar para eles no céu.
Louvor e Júbilo
Louvor é uma proclamação
de um grande feito, uma música de vitória. É um cântico de alegria. "Aleluia!
Alegremo-nos, exultemos". (19:3,7)
Há festa, há entusiasmo, há vitória!
Que diferença entre os cânticos de apoc. e nosso cânticos
congregacionais que na maioria das vezes está mais para réquiem que para
alegratto. Nossos cânticos precisam de exultação. João descreve o
cântico no Apocalipse como "grande voz do céu, proclamando" (12:10).
O ambiente é de muita festa!
A razão deste grande
louvor é revelada nos vs. 10 a
13. Louvam a Deus por não serem mais subordinados às intermináveis acusações
do diabo – “Foi expulso o acusador de nossos irmãos”. (12:10) Esta
deve ser uma das grandes razões do nosso louvor: Deus nos absolveu do pecado e
da culpa, retirou de nós o peso da acusação e nos tornou livres do tom
inquisitorial e opressor do diabo.
Satanás exerce um papel
fundamental sobre nossas culpas e amarras da consciência. “O problema básico da
espécie humana consiste em pecado e culpa – culpa moral mesmo, não apenas
sentimentos culposos; e pecado moral mesmo, porque pecamos contra o Deus que
existe de fato, o Deus que é santo”[2]. Satanás usa estes pecados reais para tirar de nós a alegria interior, a
paz espiritual e a benção da redenção. Ele nos rouba a alegria da salvação, nos
acusa duramente contra nossa natureza caída. Se do ponto de vista psicológico
ele bombardeia a nossa consciência, fazendo-nos sentir extremamente pesados e
impotentes, na esfera celestial ele nos acusa diante do Pai, dia e noite.
Os céus agora estão em
júbilo, porque não há mais acusação, foi retirado o dedo acusador, que acusava
os irmãos de dia e de noite . A obra de promotoria do diabo não afetava
apenas seres humanos, carregados de culpa, mas era algo que fazia os seres
angelicais se sentirem tristes por isto. O pecado nos atinge individualmente
mas possui uma dimensão cósmica.
Toda acusação foi desfeita
na cruz. Jesus rasgou o escrito da dívida que era contra nós. Tudo repousa na
obra que Ele realizou na cruz. Nada repousa em nós. Toda vitória real
em minha vida, não pode ser minha vitória, mas é sempre vitória de
Cristo. Nunca se deve às minhas obras ou a minha santidade, mas à obra e à
santidade de Jesus. Não há nenhuma santificação verdadeira em mim mesmo.
Somos uma geração da culpa,
vivemos acuados diante de nossas culpas reais e imaginárias. Por mais que a
sociedade tente relativizar nossos pecados, ou afirme que nossos pecados não
são reais, somos seres morais e sabemos de nossa culpa e vergonha. O nosso coração
nos acusa, a Palavra de Deus nos confirma nossa pecaminosidade. Por mais que
saibamos do alcance da redenção que foi realizada na cruz, ainda temos sido
vitimados por uma péssima compreensão da doutrina da justificação pela graça. Vivemos
num inferno de acusações e culpas. Sem dúvida, este é o método mais mais eficaz
de Satanás para nos desestabilizar emocional e espiritualmente. Somos acusados
de maus crentes, de pecados já perdoados, de culpas imaginárias. Ele cria em
nós um sentimento de infelicidade constante por erros cometidos no passado. Muitos
vivem num inferno constante de acusações, dando ouvidos ao diabo. Sendo ele o
acusador, sua arma mais forte é a culpa. Ele quer impedir que tomemos posse das promessas de perdão que
Deus faz, ele nos faz ignorar a graça que concedida na cruz. Ele nos torne
ainda culpado de pecados já perdoados. Ele acusa não apenas uns aos
outros, mas também nossa alma diante de Deus, dia e noite, na expectativa de
que vivemos sob o espectro da culpa.
Por isto este texto possui
esta forte nota de triunfo. Festejai o céus ! Deus, em Cristo,
quebrou todo círculo da vergonha e culpa, e nos absolveu. O diabo foi expulso
do céu, e em seu lugar foi posto “Um advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o
Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não apenas pelos nossos
próprios, mas pelos do mundo inteiro”. (I Jó.2:1,2). Quem participa desta
revelação, tem motivos de sobra para a alegria. Aproximemo-nos das bodas,
compreendendo que fomos absolvidos, não por obras de Justiça que tenhamos
feito, mas pelo precioso sangue do Cordeiro. Somos convidados a participar
desta grande festa celebrativa. Ainda há muito lugar. O rei deseja que todos
participem. Vinde, festejamos a vitória do Cordeiro !
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