Introdução:
Este
texto é inquietante! Não sei se você o leu atentamente, mas vale a pena dar uma
lida cuidadosa. Algumas questões intrigantes surgem neste texto.
No
trágico evento da destruição de Sodoma e Gomorra, vemos como Abraão gozava de
intimidade com Deus, a ponto dele vir conversar com ele e comunicar o que
estava para fazer. Provavelmente, logo
após aquela hecatombe, abalado viaja para o território de Negev e passa a morar
em Cades e Sur, junto com os amalequitas. Ray Stedman afirma que se trata dos
“palestinos atuais”, povo que teria saído do meio dos Egípcios, e que morava na
fronteira com Canaã.
Ali Abraão
apresenta Sara como sua irmã, e Abimeleque a toma como mulher (Gn20:1-2). Um
antigo ditado em inglês afirma o seguinte: “Old habits die hard!” (Antigos hábitos custam morrer). A Bíblia, porém,
afirma, que o maior problema nosso não são antigos hábitos (comportamentos,
atitudes), mas a velha natureza (essência, o ser). Ali estava o velho Abraão,
30 anos atrás, lidando com sua natureza distorcida de Deus, apesar de ter sido
um amigo tão próximo do Senhor.
O que aprendemos com este incidente?
1. Velhos
hábitos são duros de morrer. Pecados antigos e reincidentes são sempre uma
ameaça à nossa trajetória de fé.
Cada um possui o seu “calcanhar de Aquiles”. Um dos
pecados de Abraão foi a fraqueza de caráter diante das ameaças. A primeira coisa que ele fez entre os amalequitas foi mentir
sobre sua esposa. Ele diz que ela era sua irmã, exatamente como 30 anos atrás.
Sara provavelmente ainda era uma mulher charmosa. Ray Stedman afirma que a
palavra que sintetiza o capítulo 20 é "relapso." Isto lhe parece
familiar? A mesma antiga atitude volta a se manifestar.
Quais são seus
pecados de estimação?
Mentiras,
duplicidade?
Malandragem,
desonestidade?
Lascívia,
luxúria?
Agressividade,
ira, cólera?
Amargura,
ressentimento, mau humor?
Futilidade,
conforto, bem estar?
Auto-comiseracao,
vitimismo?
Vícios:
drogas, bebidas, pornografia?
Pecados
do espírito: Orgulho, vaidade, soberba, superioridade moral ou espiritual?
O de
Abraão é sua covardia. Usa sua mulher como escudo sempre que pode. Era ótimo
crente, mas péssimo marido.
Velhos
hábitos são difíceis de serem exterminados! A natureza velha nunca more! Por
isto Paulo nos exorta: “Fazei, pois,
morrer a vossa natureza carnal” (Ef 4),
e “a carne milita contra o espírito e o espírito contra a carne” (Gl 5).
Porque nossa natureza adâmica nunca morre, somos capazes de fazer coisas piores
do que já fizemos. Abraão sempre foi um covarde e isto já tinha se tornado
claro 30 anos antes, continua escondendo-se atrás de sua esposa, sujeitando-a à
vergonha e desonra para proteger sua pele. Ali estava sua velha natureza agindo
novamente.
Esta
velha natureza adâmica vem conosco desde o nascimento, ela perverte e torce as
coisas para que não sejam como Deus queria que fosse. Existe algo em nós sobre
a velha natureza, a carne, que é hábil para simular falsas atitudes de justiça
e piedade. A justiça própria sempre demanda louvor pessoal, um desejo de ser
admirado e atrair a atenção de outros. Seja qual for a direção, este é o
caminho da carne, esta coisa velha e feia dentro de nós, que jamais pode
agradar a Deus.
Por isto
a Palavra nos tenta mostrar que tudo que vem da velha natureza e não através de
Cristo é sem valor, não interessa como isto pareça aos olhos dos outros. Se o
fundamento é o meu ego, sempre buscará a auto promoção e não a glória Deus. O
meu Eu está no centro. “Fazei, pois,
morrer, a vossa natureza carnal”. Qualquer dependência do Eu, sempre
resulta no tipo de experiência de Abraão.
Depois de 30 anos caminhando com Deus, deixa de depender de Deus e faz as
coisas do seu jeito, demonstrando a mesma velha natureza de muitos anos atrás.
A velha natureza só perde sua força quando andamos no Espírito. “Andai no Espírito, e jamais satisfarei os
desejos da carne” (Gl 5.16)
2. Pecado nos
desautoriza e envergonha
Deus veio a Abimeleque em sonho e o repreendeu, "Você vai
morrer, porque a mulher que mandou buscar é casada" (Gn 20.3). Isto talvez
não assustaria ninguém hoje, mas causou uma profunda reação em Abimeque: “Senhor, eu estou inocente! Será que ainda
assim vais destruir a mim e ao meu povo?” (Gn 20.4). Abraão havia dito que ela era
sua irmã. Ele estava inocente quanto a isto. Então
Deus afirma que sabia disto, e por isto veio lhe advertir para não pecar contra
ele. Mas o advertiu que se não a devolvesse, morreria (Gn 20.3-7).
Aqui
encontramos um homem cometendo um grave pecado, e Deus o parando. Esta é a
revelação de como Deus vê o pecado de tomar a mulher de outro homem. Ele
adverte um homem pagão, que reconhece que sua atitude é errada. Quando a gente
entende que mesmo uma pessoa pagã reconhece que sua atitude é errada,
entendemos quão longe temos ido das verdades de Deus em nossos dias.
Mas o
centro do pensamento aqui se volta agora para Abraão. Em seguida o vemos sendo
confrontado por Abimeleque. “O que você
tem feito para nós?”(Gn 20.8-13). Como cristão você já passou por esta
constrangedora repreensão de um pagão? Certa mulher cristã, teve uma gravidez
indesejada, e diante de muitos problemas com seu marido e seu casamento indo de
mal a pior, foi uma mulher não evangélica que a repreendeu: “Você não pode
fazer isto. Você é uma mulher de Deus”. Já vi isto acontecer com um líder
cristão sendo censurado no mundo secular por atitudes errôneas e espúrias
quanto aos seus negócios. Será que vamos precisar aprender lições de gente sem
Deus sobre nossos comportamentos questionáveis? Abraão passa uma enorme
vergonha aqui neste texto. Ele era um homem idoso, não precisava passar uma
vergonha desta. Abimeleque, com razão, foi duríssimo com Abraão.
3. Precisamos ser abençoados para abençoar –
“E orando Abraão, sarou Deus Abimeleque...”
(20.17). Esta é a benção da graça. Mesmo quebrado e envergonhado, Deus o chama
para orar. Deus repreende Abraão e cura Abimeleque. Abimeleque fora mais nobre
que Abraão. Talvez você já tenha visto não-cristãos que são cultos, bem-educados,
moral elevada até mesmo para alguns cristãos. Talvez o cristão seja fofoqueiro,
irritante, auto centrado e de péssimo temperamento. Mas Deus, depois de
repreendê-lo, chama Abraão para orar pelo rei.
Isto me
leva a pensar que Deus não está
preocupado com minha reputação, mas com minha restauração. Reputação é
externa, feita para louvor do ego, para as pessoas apreciarem e admirarem,
mesmo quando estamos quebrados e desautorizados. Deus deseja restaurar Abraão,
e usa um homem pagão para confrontá-lo pela sua atitude pusilânime. Abraão
tinha sua vida em Deus, um coração regenerado, uma nova natureza. Quando ele se
arrepende, é perdoado e se torna um instrumento de Deus para abençoar outros e
restaurar Abimeleque. Somente quando Abraão orou ele foi curado.
Deve ter
sido assustador para Abimeleque a visão que teve. Deus afirmou: “Ele é profeta, e orará para que não morra!”
(Gn 20.7). Ele deve então ter pensado: “Se o profeta age assim... imagina o
resto do povo...” Isto parece descrever o que normalmente fazemos na força da
carne. Deus coloca novamente Abraão para ser um instrumento de sua benção. Ele
corrige seus erros e o leva para uma vida de plenitude e benção, não apenas
para si mesmo, mas para os outros.
Conclusão:
Certa vez
estava com minha alma muito atribulada. Não me recordo o que aconteceu, mas me
recordo que estava me sentindo péssimo. Estava triste, sem vontade e ânimo para
orar, ansioso com as coisas que tinha que lidar, quando fui procurado por um
rapaz da igreja, igualmente quebrado e triste, e que veio para receber a oração
do seu pastor. Naquela orou pensei comigo: “Hoje não Senhor!”. Então ousei
dizer que estava também péssimo, e que faríamos o seguinte: Ele quebrado,
oraria por mim, para que eu, quebrado, orasse por ele. E foi o que fizemos.
Ambos desanimados, mas orando e pedindo a Deus sua misericórdia e benção.
Foi isto
que Deus fez com Abraão. O repreendeu através de um homem ímpio, o colocou
diante de seu pecado, não protegeu sua reputação, mas o curou e disse: “Agora
ore pelos amalequitas e por Abimeleque!”. Deus nos chamou para sermos bençãos
para a sociedade e as pessoas que se encontram próximas a nós. Precisamos
entender como Deus leva a sério o seu chamado e vocação para nossas vidas. Ele
quer abençoar o mundo através de nós. Quando Abraão terminou de orar, Deus
curou a família de Abimeleque.
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