segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Gn 26.12-25 Tirando entulhos da alma





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Introdução:

O homem de Deus tem a lente de sua vida voltada para duas direções:
  • A primeira, para a Eternidade, para o Sagrado, para a relação sua com Deus, determinante, em última instância, de todas as demais;
  • A segunda, voltada para a melhoria social, tem a ver com o mandato cultura, o mesmo que foi dado a Adão ainda no Éden quando Deus lhe colocou no jardim para cuidar e guardar. Tem a ver com o bem comum. Com a humanidade em si. A teologia cristã afeta de forma direta a forma como interpretamos e agimos no mundo que nos rodeia.

Isaque era um homem assim, com os dois focos claramente presentes em sua vida. Era alguém de oração e profunda vida com Deus.
  • Em Gn 25.21-26 lemos que sua esposa tinha um grave problema que afetava toda a estrutura familiar, e Isaque orou por 20 anos para que Deus concedesse à sua esposa, o privilégio e a benção de ser mãe. “O Senhor lhe ouviu as orações, e Rebeca, sua mulher, concebeu” (Gn 25.21).
  • Em Gn 26.12-25, o vemos empenhado num bem comum e coletivo, que abençoaria todas as pessoas de seu tempo e futuras gerações. Percebendo que água era um bem valioso, ele decidiu e se empenhou em cavar poços e desentulhar aqueles que, por razões destrutivas e competidoras (se você acha o mercado de hoje competitivo, veja quão voraz foi a atitude destes homens nos dias de Isaque), resolviam jogar lixo impedindo que a água, um bem comum e humanitário, pudesse jorrar.

Este texto é uma boa metáfora da vida: Vemos aqui poços sendo abertos e poços sendo entulhados. O texto nos fala que Isaque abria os poços e os filisteus vinham para entulhá-los.

Algumas questões surgem em nossa mente:

Primeiro, Por que entulhavam os poços?

O texto diz claramente: “Possuía ovelhas e bois e grande número de servos, de maneira que os filisteus lhe tinham inveja”. (Gn 26.14). Por causa da inveja, ao ver a prosperidade e o sucesso de Isaque decidiram fazer isto. “E, por isso, lhe entulharam todos os pocos que os servos de seu pai haviam cavado, nos dias de Abrao, enchendo-os de terra” (Gn 26.15).  

Inveja era a causa: Ninguém lucrava com aquela situação.
Este é o poder destrutivo da inveja, que leva o homem a lutar contra uma causa benéfica, apenas para prejudicar outros. Normalmente inveja tem um pano de fundo na raiva, na ira e no ódio.

Em 1999, acompanhei o caso de um colega de ministério em Boston, de uma outra denominação, que teve que sair da igreja por causa de desentendimentos internos. Enquanto um grupo o apoiava, outro exigia sua renúncia imediata. Então, um grupo anônimo, começou a espalhar panfletos na cidade contra ele: gastaram dinheiro, imprimiram panfletos e os publicavam nas lojas brasileiras, nos para brisas dos carros, entregavam nas aglomerações públicas. Elaborar tal campanha difamatória, certamente dava trabalho, custava dinheiro, e prejudicava o evangelho, mas sem considerar as conseqüências disto para a família do pastor, e para o reino de Deus, aquelas pessoas iam semeando discórdia e maldade, trazendo dores e sofrimentos a muitos. A não ser o diabo, ninguém ganhava com aquelas atitudes.

Na vida vamos encontrar muitas pessoas com prazer em entulhar poços. Gente assim infringe muito sofrimento aos outros, destroem reputações, trazendo eventualmente danos para sempre, como depressão, angústia, tristeza. Existe uma sugestiva lenda grega que fala disto: Certa pessoa tem o seu olho furado por outra e pede para Zeus fazer a reparação. Zeus então lhe diz que havia duas opções: A primeira era curar  seus olhos e dar o assunto por encerrado; a segunda, aplicar a lei do Talião, furando um dos olhos da pessoa que havia causado o dano. Diante das opções, ela decidiu pela segunda, alegando que queria que ele soubesse quão dolorida era sua experiência.  

Segunda, o que fazer quando entulhar seu poço?
Isaque toma algumas decisões extremamente curiosas diante daquelas atitudes mesquinhas:

  1. Ele se afastou daquelas pessoas que agiam desta forma - O texto diz: “Então, Isaque saiu dali e se acampou no vale de Gerar, onde habitou” (Gn 26.17). Ele decidiu mudar de ambiente, arejar a mente, conhecer gente nova.

Existe muito lugar bom para se viver e muito ambiente arejado onde podemos estar.  Uma das motivações de meu pai ao se mudar de sua cidade natal no interior de Minas foi esta: “Quero que meus filhos cresçam num lugar onde a violência e a mesquinharia não seja tão visível”.

Esta é uma nobre atitude. Afastar-se, descobrir as novas oportunidades que a vida oferece. Mudanças nem sempre são fáceis, e exigem certa coragem, mas é melhor que ficarmos retroalimentando a miséria de pessoas invejosas. Isaque tinha boas razões econômicas e pessoais para não sair de onde estava. Seu negócio prosperava, estava ambientado à região, sua família ia bem, tinha poços para seus gados, mas ele sabiamente percebeu que não dava para continuar mais por ali.

  1. Ele desentulhava os poços entupidos. Não os deixava cheios de lixo. “Isaque tornou a abrir os poços que se cavaram nos dias de Abraão, seu pai” (Gn 26.18).  Poços entulhados não favorecem ninguém. Não podemos simplesmente mudar de ambiente e ficar com o coração entulhado. Nem podemos ficar no lugar, sem água, sem vida, vivendo de forma árida e estéril. Precisamos ser benção por onde passarmos, deixar marcas, abrir poços, desentulhar pocós.

Quando pastoreei igrejas nos Estados Unidos, percebi que muitas pessoas mudavam para aquele país por causa de crises pessoais e familiares, mas ao chegarem ali, mesmo estando num ambiente diferente, não conseguiam desentulhar-se do lixo que havia dentro de suas almas. Estes lixos impedem que nascentes e águas cristalinas fluam dentro de nossa existência.

Ausência de perdão é uma destes lixos que mais roubam de nós a alegria interior. Da mesma forma ressentimentos, ira não tratada, vitimismo. O texto diz “Isaque tornou a abrir os poços” (Gn 26.18). A idéia é que Isaque, mesmo diante de tantas atitudes mesquinhas, continuou fazendo o que era certo fazer. Ouvi certa vez um ditado atribuído a Elie Wiesel, prisioneiro judeu nos campos de concentração nazistas. Ele disse que a gente não pode impedir que as pessoas nos façam o mal, mas podemos decidir o que faremos com o mal que nos fazem.

  1. Isaque não apenas desentulhava, mas abria novos poços – “Cavaram os servos de Isaque no vale e acharam um poço de água nascente” (Gn 26.19).

Abrir poço naquele ambiente era uma aventura difícil: Eles não tinham instrumentos científicos, tudo era feito com base nas probabilidades e experiência dos antepassados, mas ainda assim Isaque encoraja seus servos a esta tarefa gigantesca.

A verdade é que muitas oportunidades na vida são repletas de riscos. Isaque abriu novos poços porque sabia que coisas boas podiam surgir quando há trabalho e perseverança. O texto diz que não apenas desentulharam, mas descobriram águas que eram verdadeiras fontes.

  1. Isaque nunca desistia de abrir poços, mesmo quando os filisteus lhe tomavam aqueles que ele abrira - (Gn 26.20,21) Quando somos colocados diante de pessoas que vivem do nosso trabalho, ou usufruem de nossas idéias e criatividade, temos a tendência de nos sentirmos injustiçados, defensivos e eventualmente recuarmos. A verdade, porém, é que quem é competente, cedo ou tarde vê sua eficiência sendo reconhecida.

Na vida só existem duas qualidades de pessoas:
i.    As que vivem entulhando e roubando os poços dos outros - Os filisteus faziam parte do primeiro grupo (Gn 26.18).  Entulhar significa: “Não vou deixar a água sair”. Pessoas assim condenam-se a si mesmas e a outros a uma vida de esterilidade e secura. Os filisteus gostavam de entulhar. Como a vida é repleta de pessoas que com palavras, gestos e atitudes, represam toda água e vida que brotava do outro. Elas não apenas são incapazes de gerar vida, mas vivem tentando levar outros à inutilidade. Gente com síndrome dos filisteus, possui vocação para retirar do outro a sua beleza, espontaneidade e vida.

ii.  As que vivem desentulhando e descobrindo novos poços. Isaque faz parte deste grupo que abre poços. O seu papel era fazer surgir água, mesmo que estas águas acabassem não sendo dele. São pessoas que com palavras, gestos e atitudes, tem a capacidade de arrancar água do outro, ainda que o outro pareça uma terra seca.

Abra mais poços, porque água é boa para todos! Que diferença da inveja! Em Gn 26.25, depois de ter achado um poço em que não encontrou contendas, Isaque pode, afinal viver em paz e diante dos resultados positivos, resolveu abrir ainda mais dois poços (Gn 26.25,32)

  1. Isaque fazia o bem, por saber que quem tem atitude pacífica, será reconhecido no futuro – É muito interessante a narrativa que lemos a partir do vs 26.

Por aquele tempo, veio a ele Abimeleque, de Gerar, com Auzate, seu conselheiro pessoal, e Ficol, o comandante dos seus exércitos. Isaque lhes perguntou: "Por que me vieram ver, uma vez que foram hostis e me mandaram embora?" Eles responderam: "Vimos claramente que o Senhor está contigo; por isso dissemos: Façamos um juramento entre nós. Queremos firmar um acordo contigo: Tu não nos farás mal, assim como nada te fizemos, mas sempre te tratamos bem e te despedimos em paz. Agora sabemos que o SENHOR te tem abençoado. Então Isaque ofereceu-lhes um banquete, e eles comeram e beberam. Na manhã seguinte os dois fizeram juramento. Depois Isaque os despediu e partiram em paz” (Gn 26.26-31).

Depois de todas querelas e confusões que fizeram, Abimeleque, resolve ir a Isaque para fazer pacto com ele. Por que? Porque percebeu que Deus estava com Isaque, e resolveu ter paz com ele. Isaque ainda diz: “Depois de tudo que fizeram…” Com atitude pacífica no coração resolve fazer pactos e dar festa. Faz um banquete na presença dos seus adversários. Já leram alguma coisa sobre isto na Bíblia?

  1. Isaque teve todas estas atitudes por causa do seu temor a Deus – O temor do Senhor o capacita a entender que existe um Deus que julga por ele, que defende a sua causa. Quem teme a Deus o considera realmente em seus atos. Você é uma pessoa temente a Deus?

Este temor de Deus é percebido de forma clara no coração de seu filho Jacó. Anos depois, sentindo-se também injustiçado, ele cita que seu pai se orientava pelo temor a Deus: “Se o Deus de meu pai, o Deus de Abraão, o Temor de Isaque, não estivesse comigo, certamente você me despediria de mãos vazias. Mas Deus viu o meu sofrimento e o trabalho das minhas mãos e, na noite passada, ele manifestou a sua decisão" (Gn 31.42).

Apesar de Jacó ter sido frágil de caráter, ele sabia que Deus julgava atitudes, e quando se vê oprimido por seu sogro, Labao, é exatamente esta compreensão que o faz ficar firme: “Se não fora o Deus de meu Pai, o Temor de Isaque”. Isaque sabia que suas ações deveriam ser motivadas pelo temor a Deus, e seu filho, Jacó, anos depois, age também de forma conciliadora por saber que Deus era o seu juiz.

Conclusão:

A Bíblia descreve a raça humana como essencialmente destrutiva, marcado pela competitividade e inveja, pela facilidade em trazer desavença e inimizade. O homem causou desarmonia com a natureza quando pecou contra Deus. Sua relação com a natureza tem sido de devastação e destruição, em busca de maiores lucros e dividendos. O homem se desarmonizou consigo mesmo, temos sido os nossos piores inimigos, a mente corrompida afeta as emoções e somos vitimizados por neuroses e doenças mentais, angustiados pela solidão cósmica, pelo vazio de nossa existência, marcados por depressão, ansiedade, medo, síndrome de pânico. Mas nossos pecados também trouxeram graves crises nos relacionamentos. Somos narcisistas, marcados pelos desejos, machucamos, ofendemos, nos tornamos insensíveis, distantes, egoístas, e não sem razão os homens tem encontrado tanta dificuldade em viver em comunidade, em igreja, em família. Queremos proteção dos outros, somos marcados pelo individualismo e fragmentação nos relacionamentos.

As enfermidades e patologias familiares, eclesiásticas e sociais demonstram como temos propensão a entulhar poços, ao invés de cavar poços e limpar poços. Nossa amargura, ressentimento, desejo de vingança, nos leva à mesquinhez, e se preciso for, por inveja ou raiva, estaremos prontos para entulhar a vida das outras pessoas de marcas e destruição. A vida de Isaque mostra que um homem de Deus deve ser um facilitador, agente de graça por onde passar, mesmo nos desertos na vida, mesmo quando os outros insistem em desfazer o que você fez, nós precisamos, com a graça de Deus, continuar abrindo poços e limpando poços.

Mas a pior quebra que o homem gerou foi em relação ao seu Criador. Ele se afastou de Deus, e sua fragmentação psicológica e social está relacionada a este distanciamento de Deus. Nós tornamos hostis a Deus e aos outros, somos vorazes. Por esta razão a obra de Cristo precisa nos ajudar a entender novamente o propósito para o qual fomos criados.

Jesus veio para reconciliar e pacificar a raça humana: restaurar as pontes quebradas, os poços entupidos. Mas acima de tudo, ele veio nos reconciliar com Deus.

A Bíblia afirma que havia um enorme abismo entre nós e Deus, causado pelo pecado. Erramos o propósito de Deus para nossas vidas. Veja que promessa maravilhosa nas Escrituras Sagradas: “Mas, agora, em Cristo Jesus, vós que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo, porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo derribado a parede da separação que estava no meio, a inimizade... nos reconciliou ambos em um só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade” (Ef 2.14,16).

A obra de Jesus limpou o canal entre nós e Deus. Ele retirou os entulhos que tão facilmente amontoamos na nossa vida e na vida de outras pessoas. Ele removeu os entulhos que nos distanciaram tanto de Deus, e nos aproximar do Pai.

ó Você tem sido “facilitador”, um pacificador?


ó Quais os obstáculos que você enfrenta quando é desafiado a ser um agente de cura para os outros?

ó Você tem considerado no poder do sangue de Cristo para sua vida. Como ele pode nos libertar das amarras do pensamento, da culpa, da condenação e nos traz para um lugar de vitória e redenção?

ó Quais entulhos você tem tido na alma? O que você tem colocado no seu coração? Seu coração está entulhado ou limpo?






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