Quando crianças éramos submetidos
anualmente a um ritual de tortura. Para combater enfermidades a mamãe nos dava
um poderoso vermífugo chamado tetraclorietileno, que causava reações de
tonturas, vômitos e mal estar. Numa destas vezes minha irmã teve que ser levada
ao hospital para se recuperar. Se você é médico mais antigo certamente deve se
lembrar deste remédio que era vendido normalmente nas farmácias populares.
Recentemente descobrimos que ele era feito à base de uma lavanda altamente
tóxica, que é usada para clarear roupas e é cancerígeno. Naturalmente o
ministério de saúde já proibiu sua venda e a mamãe só nos receitava porque ela
não tinha todas estas informações.
Ela não sabia dos riscos inerentes a este remédio quando nos dava. A
falta de informação tem efeitos danosos. O profeta Oséias disse que o povo de Deus
estava sendo destruído porque lhe faltava “conhecimento” (Os 4.6). A ignorância
quanto às coisas espirituais estava gerando morte na vida do povo de Israel.
Neste texto de João, vemos o apóstolo
se apropriando de um elemento importante para a vida cristã: o saber. Por cinco
vezes ele usa este verbo (1 Jo 5.13,15,18,19,20). O saber tem a ver com
conhecimento. Nestes 8 versículos que lemos (13-20), ele fala de seis coisas
que precisamos saber para nossa caminhada cristã.
O apóstolo João é profundamente
anti pós-moderno. A atual geração tem
uma tendência para dubiedade e ambigüidade. As coisas podem dizer e ao mesmo
tempo não dizer, é a famosa dialética hegeliana, cujo relativismo comporta até
mesmo os opostos. Por exemplo, “ficar”, verbo
que dá idéia de permanência, estabilidade – para a geração moderna significa “não ficar” e expressa transição – e
rápida! Para o apóstolo João, as coisas são o que são, e não podemos ter dúvidas,
mas convicções – precisamos saber. As
coisas são ou não são, não existe dubiedade. Luz é oposto de trevas; ignorância
é oposto de conhecimento; filhos de Deus são diferente dos filhos do diabo.
Neste texto, encerrando sua
primeira carta, ele faz questão de frisar alguns destes pontos:
1.
Precisamos
saber que temos a vida eterna – “Estas
coisas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que
credes no nome do Filho de Deus” (1
Jo 5.13). Esta carta foi escrita com este objetivo. Para nos assegurar e dar
convicções sobre nossa realidade eterna.
As promessas de salvação são
muito claras nas Escrituras. Jesus não fala dos céus e da salvação eterna em
termos de possibilidades, mas de realidades. Não se refere em termos de
probabilidade, mas de fato.
Em geral, as pessoas falam de
coisas eternas com muita ambigüidade e eventualmente com muito medo. Não
aprenderam as verdades sobre a salvação, e quando falam dela, falam em termos
difusos, ou com fundamentação errada.
Certo adolescente da igreja em
Minaçu-GO, foi o primeiro de sua família a se converter. Hoje é o pastor da
Igreja Presbiteriana de Rio Verde há mais de 25 anos. Numa aula de religião na
sua escola, a professora afirmou que ninguém podia ter certeza das coisas
espirituais, porque ninguém sabia ao certo o que iria acontecer, e ele
retrucou: “Se a senhora não sabe que isto é verdade, por que está ensinando
para nós?”
Jesus fala da vida eterna em
termos de convicções claras. “Não se
turbe o vosso coração, credes em Deus, credes também em mim, na casa de meu Pai
há muitas moradas, se assim não fora eu vo-lo teria dito, pois vou preparar-vos
lugar” (Jo 14.1-2). Os apóstolos também falam de salvação em termos de
convicções, não de hipóteses. “Estas
coisas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna”. Você tem
certeza da vida eterna em
Cristo Jesus ?
A base da vida eterna está
firmada. “Em Cristo Jesus ”. Se você pensa que ter certeza da vida
eterna é vaidade espiritual, estou convencido de que você está pensando em
salvação em termos de uma conquista pessoal e não através da obra meritória de
Cristo, de sua justiça que pagou o preço do nosso resgate na cruz. A certeza
nunca pode estar em nós, já que salvação não é meritória. Você não “ganha
salvação”, por causa dos esforços pessoais. Salvação é “dom de Deus, não é de
obras para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9), ela foi conquistada por Cristo.
2.
Precisamos
saber que Deus se pedirmos alguma coisa, ele nos ouve – 1 Jo 5.14. Alguns princípios
sobre oração são afirmados neste texto e que precisamos saber:
a. “Esta é a confiança que temos” (1 Jo
5.14) – Precisamos ter confiança no efeito das orações. Nem sempre estamos
convencidos de que oração realmente é importante. Temos muitas crises com a
oração e por isto quase não oramos. Eventualmente mantemos um discurso de
confiança mas nosso coração é desconfiado e carregado de suspeição.
b. “Se pedirmos alguma coisa”- (1 Jo 5.14).
Nem sempre pedimos. Quando pedimos, ainda pedimos mal. Eventualmente não
pedimos por causa de nossa independência, outras vezes não o fazemos por causa
de nossa incredulidade. Nem sempre temos pedido. O apóstolo Tiago afirma: “Nada
tendes, porque não pedis” (Tg 1.3).
c. “Segundo a sua vontade” – (1 Jo 5.14).
Deus não vai atender pedidos que estão fora do seu propósito. Não ore para Deus
lhe dar alguma coisa que é contrária à sua palavra, nem oposta aos seus
princípios e valores. O apóstolo Tiago afirma: “pedis e não recebeis porque pedis mal, para esbanjardes em vossos
prazeres” (Tg 1.4).
d. “Ele nos ouve”- (1 Jo 5.14). Esta é uma
verdade maravilhosa. Você sabe, realmente,
que Deus ouve suas orações? O clamor e pedidos de sua alma são conhecidos
de Deus? Seus medos, sonhos e projetos? Se pedirmos... ele nos ouve... se o fizermos
segundo a sua vontade.
3.
Precisamos
saber que todo aquele que é nascido de Deus, não vive pecando – (1 Jo
5.18). Este texto gera algumas reações, porque originalmente o que é dito é que
“todo aquele que é nascido de Deus, não peca”. Por causa disto, alguns grupos na
história da igreja defenderam o conceito de que seria possível viver num estilo
de vida tão santo que viveríamos sem pecado, e estes grupos não foram poucos
nem isolados. No Brasil tivemos pessoas respeitáveis defendendo esta possibilidade.
Acredito que o
texto esteja afirmando que, aqueles que nasceram de Deus, não vivem “pecando”,
no sentido de que “intencionalmente” não querem ferir o coração de Deus, e por desejarem
uma vida de santidade e desenvolveram o horror ao pecado, não vivem pecando.
O apóstolo Pedro
afirma que quando nascemos de novo, nos tornamos “co-participantes da natureza divina, livrando-nos da corrupção das
paixões que há no mundo” (2 Pe 1.4). Este semente divina implantada em nós
nos impulsiona à Deus, e por isto, aquele que é nascido de Deus, não vive
pecando. Não vive intencionalmente, quebrando
princípios de Deus.
Precisamos
saber desta verdade, para não viver vida de corrupção. Se você se julga nascido
de novo, mas continua numa deliberada vida de corrupção, deve questionar seriamente
a natureza do seu novo nascimento, já que, aquele
que é nascido de Deus, não vive na prática do pecado.
4.
Precisamos
saber que, o nascido de Deus, é protegido do maligno – “Aquele que nasceu de Deus, (Deus) o guarda, e o Maligno não lhe toca”
(1 Jo 5.18). Por vivermos numa cultura espiritualizada, não é incomum
encontrarmos cristãos com medo de obras malignas, de influências satânicas e do
poder do diabo sobre suas vidas.
Muitas vezes já
abri a Palavra de Deus para pessoas que se sentiam ameaçadas espiritualmente, mesmo
já tendo entregado suas vidas a Cristo. Elas precisavam “saber” que estavam
protegidas do maligno, por causa do sangue do Cordeiro. Não precisamos temer o
diabo, embora não devamos desafiá-lo. Quando Jesus chamou os seus discípulos,
ele os designou para pregar as boas novas e lhes deu autoridade para expelir
demônios (Mc 3.14-15).
Veja quantos
textos bíblicos nos falam sobre este assunto:
Nm 23.8,20: “Como posso amaldiçoar a quem Deus não
amaldiçoou?... eis que para abençoar recebi ordem; ele abençoou, não o posso
revogar” – estas frases foram ditas por
um poderoso macumbeiro que havia
sido contratado por um rei pagão para “fazer um trabalho” contra o povo de
Deus.
Sl 91.1-3,10: “Aquele que habita no esconderijo do
Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente diz ao Senhor: Meu refúgio e meu
baluarte, Deus meu em quem confio. Pois ele te livrará do laço do passarinheiro
e da peste perniciosa... nenhum mal te sucederá, praga nenhuma cegará à tua
tenda”.
Lc 10.17: “Então, regressaram os senta, possuídos de alegria,
dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome!”
2 Ts 3.3: “Todavia, o Senhor é fiel; ele vos
confirmará e guardará do Maligno”.
1 Jo 4.4: “Filhinhos, vós sois de Deus e tendes
vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele
que está no mundo” (1 Jo 4.4).
5.
Precisamos
saber que somos de Deus – (1 Jo 5.19). Esta é outra verdade que precisamos assimilar
pela sua importância e porque tem a ver com a nossa identidade. “Somos de
Deus”.
Muitos sabem teoricamente desta verdade, mas possuem
uma mentalidade de órfão. Não percebem que realmente pertencem a Deus. Viver
como órfãos nos transforma facilmente em vítimas ou tiranos. A orfandade gera sentimento
de abandono, de rejeição, que precisa ser restaurado. Curiosamente a bíblia nos
fala que “em Cristo, fomos adotados”. Isto seria suficiente para retirar do coração
a sensação de abandono. Somos convidados pelo Pai para entrarmos na família
celestial, e ele nos trata como filhos, dando-nos todos os direitos
conquistados por Cristo na cruz. Paulo afirma que em Cristo, fomos feitos
filhos de Deus e co-herdeiros com Cristo.
No entanto, a
maioria vive não como filho amado, mas como órfão, com um grande senso de
orfandade na alma. Quando não temos relação de filho, cobramos de Deus e nos
sentimos sempre inseguros. João faz questão de frisar: “Sabemos que somos de Deus”. O mundo, a pessoa não-regenerada, não é
de Deus, pelo contrário, jaz no Maligno, está debaixo da orientação das trevas,
mas nós somos filhos, amados, eleitos, acolhidos. Temos colo e direção.
6.
Precisamos saber o que Cristo veio fazer – “Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e
nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro, e estamos no
verdadeiro, em seu Filho ,
Jesus Cristo” (1 Jo 5.20). O que
Cristo veio fazer? Ele nos deu entendimento para reconhecermos o verdadeiro.
Há muito
engano e sedução neste mundo, e podemos facilmente ser enganados, quando não iluminados
pelo Espírito de Deus. Ao nos convertemos, a luz do evangelho da glória de
Cristo, nos ilumina e nos dá a graça de distinguir o falso do verdadeiro (2 Co
4.4).
Um expert do
tesouro americano foi convidado num “talk show” para falar de sua experiência
em distinguir dólares americanos falsos e verdadeiros. No mundo inteiro existe
milhares de notas falsas, algumas com imitações grosseiras, mas outras incrivelmente
bem feitas, que a pessoa comum não distingue facilmente. Então, o entrevistador
lhe perguntou como ele fazia para reconhecer tantas notas falsas, e ele disse:
“Eu não conheço as notas falsas... eu conheço a verdadeira”. Quando ele entrava
em contacto com as simulações, facilmente as distinguia por ter capacidade de
perceber o falso e o verdadeiro.
O apóstolo
João afirma que o Filho de Deus nos tem dado entendimento “para reconhecermos o verdadeiro”. A obra de Jesus nos livra de
engano, da mentira, da operação do erro e do espírito enganador.
Conclusão:
Estas coisas foram
escritas para nos tirar da ignorância espiritual. A ignorância quanto a elas traz
graves prejuízos e eventualmente tais prejuízos são fatais, porque tem
implicações eternas
Guarde estas
verdades de forma clara na mente. Satanás vai usar cada uma delas de forma
invertida e perturbada para abater a fé, gerar dúvidas e enganar. Ele vai
lançar dados inflamados sobre a mente nas horas em que você estará mais
despreocupado e desprotegido, mas se sua mente estiver clarificada, você
certamente se manterá firme nos dias maus.
Que Deus nos
abençoe!
parabéns
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