segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ec 7.28 A Vida é essencialmente simples





“Eis o que tão somente achei; que Deus fez o homem reto, mas
ele se meteu em muitas astúcias”.



Introdução:

Como a vida é complicada:
ü       Neuroses: angústias, medos, inadequações, culpas, ansiedade.
ü       Psicoses: Fobias, síndrome do pânico, desequilíbrio mental.
ü       Paranóias: medo de envelhecer, de ficar pobre, da solidão, de adoecer, crises fóbicas.
ü       Enfermidades Físicas: câncer, AVCs, infartos.
ü       Doenças mentais: Esquizofrenia, bipolaridade, depressão.

Diante disto, ficamos com a seguinte pergunta: De onde surgem todos estes problemas? Como chegamos a este ponto de degradação moral, insensibilidade e indiferença com a dor do outro? Como a raça humana é contraditória e paradoxal?
Francis Schaeffer escreveu até mesmo um livro sobre o assunto: “O que aconteceu com a raça humana?” Vivemos num mundo caído. Sensação de que algo está errado com o nosso universo moral. De que a vida que vivemos não é aquilo que Deus queria para nós. Apenas no século XX, tivemos duas grandes guerras mundiais. Além do conhecido fato de que 5 a 6 milhões de judeus foram exterminados, precisamos lembrar também que cerca de 18 a 25 milhões de russos perderam sua vida. Isto é quase toda uma geração de pessoas de um país.
A história de nossas famílias demonstra bem a tragédia humana. São traições, desenganos, ódios, abusos, fatos inenarráveis. Felizmente não existe um big brother para tornar público a caminhada de mentiras, farsas e podridão. Seria muito vergonhoso. Toda história familiar é permeada de abusos, absurdos e contradições.
Outro aspecto a ser considerado é o nosso próprio coração: confusão, medo, depressão, infidelidade não admitida, fantasias não ditas, doenças das mais estranhas. Vivemos atormentados pelos fantasmas da alma. Quando olhamos para fora de nós, nos tornamos cínicos, e quando fazemos uma leitura introspectiva nos desesperamos com nossa confusão, ansiedade, manipulação, controle, luta pelo poder, falta de fé, desânimo.
A psicopatologia e a psiquiatria estão sendo constantemente desafiados. Um poeta afirmou: “Desisti de procurar o psiquiatra, depois que descobri que o meu psiquiatra também precisa de um psiquiatra”.
Ao lermos a Bíblia nos surpreendemos com este versículo: “Eis o que tão somente achei; que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”. O que este texto afirma é que não foi assim desde o princípio, o desenho original do homem, feito por Deus, não foi esboçado para ser assim tão fragmentado. Outra versão da Bíblia afirma: “Deus fez o homem direito, mas ele se envolveu em muitos esquemas” (NVI). Não se trata de um problema no design, nem de fabricação, mas o mau uso levou a raça humana a esta desestrutura. “A estultícia do homem perverte o seu coração” (Pv 19.3).

Como chegamos a este ponto?

  1. A humanidade decidiu viver de forma independente de Deus - A história bíblica nos mostra que Deus fez o homem reto e colocou nele o seu imprimatur. Em Gênesis 1.26 vemos a afirmação de que fomos criados à imagem e semelhança de Deus. (Imagem é uma tradução de eikon, e semelhança, omioma na septuaginta). Os seres humanos não só são uma criação especial de Deus (Gn 2.7), mas foram criados à sua imagem, ou seja, estão dotados de características tais que lhes permitem entrar em uma relação pessoal com Deus e exercer, como seus representantes, o governo do mundo (G 1.28; 5.1; 9.6).
Em Gênesis 2.7 nos é dito que "formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente". Estes atos distinguem o homem de outros seres criados. Há uma diferença entre animal e homem desde a criação. Existe aqui um processo de continuidade e descontinuidade. Animais possuem fôlego de vida (Gn 2.7; 7.22), mas não nos é dito que sejam imago Dei. Animais são criados como bestas, embrutecidos (Sl 32.9).

Deus dá ao homem cinco privilégios que os animais não possuem:
  1. Entendimento – racionalidade e auto consciência. Podemos ser auto-críticos. Inquirir sobre mistérios, criar abstração, formular idéias. Pensamento.
  2. Escolhas Morais – O homem possui senso ético, é capaz de estabelecer diferença entre certo e errado. Nosso vocabulário usa termos como obrigação, escolha, valores, culpa e vergonha e de tomar decisões.
  3. Criatividade – Ele é colocado por Deus para dar nome aos animais. Não são computadores, antes possuem capacidade de argumentar, ter novos pensamentos. Seres humanos são pensadores originais, podem mudar a história, olhar para fora de si mesmo e especular, ou para dentro e indagar sobre o sentido e significado de sua própria existência.
  4. Afetividade – O ser humano possui a capacidade para estabelecer relacionamentos de amor. O que une os seres humanos é mais que instinto gregário ou proteção da espécie.
  5. Eternidade – O homem possui senso de mistério, desejo de Deus, fome de sua intimidade e relação. Mesmo quando correndo de Deus tem esta compreensão de sobrenaturalidade, que é um arquétipo da raça humana. Sem Deus o homem se sente perdido, confuso e desorientado. Deus deu ao homem a capacidade para adoração.

Infelizmente, o homem decide viver à margem de Deus. Sua liberdade tornou-se a rota da escravidão. A coroa de sua obra prima decidiu viver sua vida longe de Deus. É o que os teólogos chamam de “teomania”. Mania de querer ser Deus e viver separado dele.

  1. O homem perdeu a referência de si mesmo -  Ao fugir do centro de sua vida, que é Deus, ele se perdeu num emaranhado de difíceis escolhas e se “meteu em muitas astúcias”. A Bíblia afirma que “o caminho dos perversos é como a escuridão; nem sabem eles em que tropeçam” (Pv 4.19).
A queda da raça humana, que consistiu na rejeição do homem em aceitar a direção de Deus para sua vida nos revela graves conseqüências: A harmonia, a razão de ser da raça humana se perde. “O mundo que conhecemos não é o mundo bom, saído das mãos de Deus, mas um mundo de pecado e de morte, um mundo separado de Deus”.[1] O homem duvida da bondade de Deus, quer assumir seu lugar, compete com Deus e o resultado é caótico. Desde então, o homem se perdeu na tentativa de viver fora do plano de Deus e de excluí-lo de suas relações. A queda revela a rebeldia, a oposição e o fracasso do gênero humano.

Eis algumas de suas conseqüências:
A.      Desequilíbrio com a natureza – trazendo ruptura da relação pacifica entre homem e natureza e maldição sobre a terra. “Maldita é a terra por tua causa” (Gn 3.17); O trabalho deixa de ser uma experiência de alegria, e torna-se uma experiência de luta e sofrimento.  “Em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida” (Gn 3.17) e a natureza reage contra a agressão sofrida – “Ela produzirá cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo” (Gn 3.18).

B.      Desequilíbrio consigo mesmo –O homem agora experimenta sentimentos que lhe eram, até então, desconhecidos. O seu mundo interior torna-se confuso, se desintegrando em neuroses, acusações e defesas. Trazendo um senso de culpa moral mal resolvido. O homem se percebe nu, vindo sobre ele a dolorosa experiência do medo. “Esconderam-se da presença de Deus” (Gn 3.8). Desesperado tenta fugir existencialmente de Deus: “Onde estás?”

C.      Desequilíbrio com o próximo, surge a transferência de culpa e a acusação (3.12). A relação harmoniosa dá espaços para a disputa e suspeitas.

D.     Desequilíbrio com Deus – O homem desenvolve uma relação de suspeita, questionando as motivações e intenções de Deus. Decide viver de forma autônoma. A queda trouxe para o coração humano a ambição de não mais quere estar subordinado a ele, mas desobedecê-lo e de rebelar-se.

O homem perde o eixo central de sua psique, e todos os demais eixos se fragmentam.

  1. O homem se meteu em muitas astúcias – A perda de referencia do Sagrado o fez perder toda a noção de eticidade (ethos).
Quando Jonas não consegue entender a forma como Deus age, passa a se irritar com ele e o desobedece frontalmente. Deus pacientemente demonstra a razão de sua compaixão. “Não terei eu misericórdia de 120 mil almas que não sabe discernir entre a mão direita e a mão esquerda, e de seus muitos animais?” (Jn 4.11)
Deus procura demonstrar que as pessoas, ao se afastarem dele, precisam receber misericórdia, porque perdem o senso do certo e do errado e dos valores morais, não sabem discernir entre o direito e o esquerdo chamando o mal de bem, o bem de mal; a luz de escuridade e a escuridade, luz, põem o amargo por doce e o doce por amargo (Is 5.20).
A Bíblia afirma que Deus se compadecia das pessoas, porque pareciam como ovelhas sem pastor. Já pararam para pensar quão frágil e desorientado ficam as ovelhas quando o seu pastor é ferido? Elas facilmente se dispersam e são presas fáceis dos lobos. O homem se perdeu em muitas astucias: ambição, cobiça, concupiscência, malicia – e tudo isto vai se tornando uma armadilha. Suas decisões sem a compreensão do próprio Deus, se tornam laços e armadilhas para sua vida. Nem sabem eles em que tropeçam.

Conclusão:
Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias.
É assim que tenho encontrado tantas pessoas: desorientadas, confusas, presas de suas próprias decisões e paixões. O papel da igreja é proclamar a graça redentora e re-orientadora de Cristo para a vida de tantas pessoas que perderam “o eixo de sua própria história”. Em Cristo há sempre oportunidade de recomeço.
O carpinteiro de Nazaré pode reconstruir as madeiras tortas.
Estamos no meio de muita confusão, medo, dor e tristeza resultantes do nosso distanciamento.
O profeta Jeremias afirma que o povo longe de Deus comete dois graves males (Jr 1.13):
                A. Deixam o Senhor
                B. Buscam novas soluções – cisternas rotas
A pergunta que Deus faz por meio do profeta, revela bem os resultados:
Acaso tudo isto não te sucedeu por haveres deixado o Senhor?” (Jr. 1.17)
Em 2009, um homem começou a freqüentar nossa igreja. Sua vida estava uma desordem:
ü       Devia ao banco e não podia ter um talão de cheques. Seu nome estava completamente comprometido com dívidas não pagas;
ü       Não conversava com seu pai, sua ex-esposa e seu filho adolescente havia entrado com uma ação na justiça contra ele.
ü       Seus pensamentos estavam em verdadeira desordem, sua vida emocional uma bagunça.
ü       Sua vida longe de Deus.
Naquela ocasião, ele foi desafiado a construir uma nova história, agora ao lado de Deus.
ü       Seu pai o perdoou e transferiu parte de sua empresa para ele;
ü       Resolveu a pendência com seu filho e voltaram a conversar – hoje estão andando juntos e viajando.
ü       Sua pendência financeira – que parecia impossível de ser resolvida – foi solucionada com um acordo surpreendente
ü       Casou-se novamente – Ele e ela foram batizados na igreja.

Deus restaurou sua história.
Não é exatamente isto que este texto de Eclesiastes nos ensina: “Eis o que tão somente achei: Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”.
Em 2 Co 5.17 lemos: “Aquele que está em Cristo é nova criatura. As coisas antigas passaram, eis que tudo se fez novo. Esta é a história da redenção. A obra de Cristo na cruz tem o propósito de restaurar o homem ao design original criado por Deus. Deus fez o homem reto. A atitude de ser envolvido em muitos esquemas foi uma opção rebelde do homem. Em Cristo, nossos relacionamentos e ética são restaurados. Em Cristo, nossa história pode ser reescrita, um novo e maravilhoso capítulo pode ser narrado.
Deus pode restaurar nossa história. Fazer um novo homem, criado em Cristo Jesus em justiça e retidão procedentes da verdade.
Venha a Jesus!





[1] Dietrich, S. De – O desígnio de Deus – São Paulo, ed. Loyola, 1977, pg 12

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