Introdução:
É importante entender que não existe interrupção entre o capítulo 19 e o 20. Esta divisão que a Bíblia nos dá foi feita por Stephen Langton, Arcebispo de Canterbury no início do século XIII numa tentativa de nos ajudar a entender a Bíblia. Apesar de ser uma ajuda interessante, muitas vezes estas divisões quebram a sequência de um texto. No texto original, que não possui estas divisões em capítulos e versículos, a ideia entre estes dois capítulos flui naturalmente, relatando o retorno do Senhor. Além do mais, é bom lembrar que estas divisões não são inspiradas pelo Espírito Santo.
O capítulo 20 segue a ideia
presente no capítulo 19. Logo após a visão do cavalo branco vindo nas nuvens em
poder e glória, cercado de seu exército celestial, João vê outra figura, desta
vez, o cenário se volta para o aprisionamento de Satanás.
Esta passagem é uma
das mais controvertidas e disputadas nas Escrituras. No texto anterior, nos é
revelado que a besta, e o falso profeta já foram aprisionados.
Agora o texto nos fala do destino final do mais poderoso membro da tríade
maligna: Satanás. Primeiramente João vê um anjo descendo dos céus para a terra,
onde Satanás atualmente reside. Este anjo desce na forma de um carcereiro e
traz as chaves do abismo, e uma
grande corrente para manietar o diabo e mantê-lo acorrentado na prisão.
Uma pergunta de
difícil resposta surge neste texto: O que significam estes mil anos? A
diferença de opiniões quanto a esta interpretação existe deste a patrística.
A Igreja Primitiva e o milênio:
Papias, (70-155 A .D), discípulo de João,
e respeitado apologeta cristão defendia o conceito do milênio, “Haverá um
milênio após a ressurreição dos mortos, quando o Reino pessoal de Cristo será
estabelecido nesta terra”, enquanto
Eusébio discordava de
sua visão afirmando que Papias acreditava nestes conceitos baseado numa “má
compreensão dos textos apostólicos, não percebendo que estas coisas eram ditas
por eles, de forma mística e em figuras, por isto ele (Papias) tinha uma
compreensão muito limitada deste assunto”.[1]
Justino, o Mártir,
(110-165 AD) afirma: “Eu, e outros, que somos cristãos em todos os pontos,
estamos certos de que haverá uma ressurreição dos mortos, e mil anos em
Jerusalém, quando ela será adornada e ampliada como os profetas Ezequiel e
Isaías declararam”. [2]
Orígenes repreendeu
aqueles que tinham uma concepção física destes mil anos.[3]
Agostinho rejeitou
veemente a ideia do milênio, porque na sua concepção induzia a prática da
indulgência e imoralidade. Para ele, os mil anos referiam-se ao intervalo entre
o primeiro advento e o último conflito. Esta é a posição atualmente defendida
pelos a-milenistas[4].
Barclay afirma a ideia
dos mil anos era muito comum entre os judeus quando se referiam a era
messiânica. “Este texto em Apocalipse é o único texto que inequivocamente
ensina o milênio, e seu background é, de fato, judeu e não cristão, e esta
interpretação literal tem sempre descambado em perigos e excessos”.[5]
Afirma ainda, que esta doutrina só é defendida nos últimos dias “por grupos
excêntricos da fé cristã”.[6]
Na verdade, a palavra
“Milênio” não é encontrada na Bíblia. Se por um lado, a ideia de mil anos não
apareça em nenhum outro texto da Bíblia, exceto em Apocalipse 20, por outro
lado, este conceito é repetido seis vezes neste capítulo.
Estes mil anos
referem-se a anos cronológicos? São figuras de um tempo final ou são anos
literais? Referem-se à queda do diabo acontecida na época da vinda do Messias
porque Jesus afirma aos discípulos que “Vi
Satanás caindo do céu como um relâmpago” (Lc.10:18) ou se refere a um tempo
futuro, relacionado imediatamente à vinda de Cristo?
Três correntes
teológicas de interpretação surgem aqui no texto relacionadas a ideia do
Milênio:
Pós-milenismo
A-milenismo
Pré-milenismo.
Estas três correntes
estão cercadas de interesses ideológicos e apologéticos e por esta razão o
conceito do milênio torna-se ainda mais confuso. Na tentativa de iluminar este
ponto, Wall[7]
sugere que se reconstrua o pensamento original que estava na mente de João e
seus leitores no tempo em que foi escrito este livro[8].
Wall afirma que o conceito do reino messiânico fascinava os rabinos no estudo
da escatologia bíblica do VT. Para eles, o Messias viria de fora da história
para estabelecer um novo sistema e uma nova ordem que substituiria a antiga
transformando assim a história da humanidade.
Várias correntes de interpretação do milênio:
Três correntes são as
mais conhecidas, embora exista um sem número de variações debaixo destas
escolas.
Pós –
milenismo
Esta corrente é uma
das menos seguida atualmente. Foi defendida por um grupo de teólogos, alguns
até respeitáveis, no século XIX. Com o advento da revolução industrial, e com o
período de progresso da ciência e da pesquisa, muitas pessoas acreditavam que o
mundo daria uma volta moral, e alguns desenvolveram a ideia de que o Reino de
Deus iria se ampliar, com a pregação do Evangelho, de tal forma que chegaria
uma idade de ouro, no qual Cristo reinaria por meio de sua igreja. O mal seria
restringido, o cristianismo reavivado, o Espírito Santo influenciando vidas de
tal forma que os sinais do Evangelho estariam presentes em toda a sociedade.
Depois deste período de conquista do Evangelho, a apostasia iria retornar
novamente, haveria um surto de maldade e o anticristo seria solto por um breve
tempo. Diante desta situação caótica e conflitiva que surgiria, então se daria
a segunda volta de Cristo, a ressurreição geral e o julgamento final.
Com a vinda de duas
guerras mundiais, e a manifestação do ódio de forma cada vez mais violenta no
século XX, esta posição teológica caiu no descrédito. Poucos se recusam a
acreditar que a história humana possa melhorar sem que haja uma intervenção
sobrenatural, direta e profunda de Jesus.
A-milenismo:
Apesar da palavra amilenismo, não ser composta, prefiro
colocar uma divisão nela. Porque o prefixo “a”, significa “não” ou “nenhum”.. Os amilenistas não crêem na
existência de um milênio literal, nem no reinado de mil anos de Cristo no
futuro[9].
“Mil equivale a dez elevado à terceira potência – um número ideal. Não
precisamos tomar o número literalmente, mas todas as aparências indicam que ele
representa um período de tempo real, não importa se curto ou longo”. [10]
Ladd ainda afirma: “Esta forma de interpretação envolve o princípio da
recapitulação, isto é, a estrutura de Apocalipse não aponta para eventos
consecutivos mas frequentemente cobre o mesmo tema com diferentes
perspectivas”.[11]
O milênio se iniciou com a vinda de Jesus.
Para ilustrar isto
afirmam que Ap 12 fala aparentemente de algo escatológico (que ainda está para
acontecer), quando na verdade refere-se a uma realidade histórica, que se deu
quando Jesus nasceu. Para os amilenistas, o milênio descrito neste texto é uma
figura da presente época da igreja e que está sendo preenchido de uma forma
alegórica. Satanás foi acorrentado quando Jesus o derrotou na cruz. Satanás
está acorrentado durante toda a história da Igreja Cristã.
Vários textos revelam
que o estágio final de Satanás se inaugurou na vinda de Jesus:
Primeiro, e certamente o prioritário.
A vinda do Reino do Messias inaugurou uma nova fase na história da humanidade.
O nascimento e ministério de Jesus iniciam um momento em que Satanás é
confrontado e derrotado. “E, se eu
expulso demônios por Belzebu, por quem os expulsam vossos filhos? (…) Se,
porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino
de Deus sobre vós”. (Mt 12.27,28)
Segundo, Jesus declara que o
seu ministério era para destruir e destronar Satanás. “Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago. Eis aí vos dei
autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo poder do inimigo,
e nada absolutamente vos causará dano”. (Lc 10.18-19) Jesus
afirma neste texto, que Satanás foi primeiramente destronado e
subsequentemente, a autoridade foi dada ao seu povo, a igreja.
Terceiro, é verdade que em um
sentido profundo e inequívoco, Jesus destruiu o diabo e o acorrentou na cruz.
Em Col 2.15 lemos que Jesus “despojou os
principados e as potestades, e publicamente os expôs ao desprezo, triunfando
deles na cruz”. Noutra frase ainda mais contundente Jesus afirmou: “Chegou o momento de ser julgado este mundo,
e agora o seu príncipe será expulso”. (Jo.12:31) Muitas vezes no NT a ideia de amarrar o diabo está
associada a primeira vinda do Senhor.
Quarto, os demônios sabiam
disto. Quando Jesus se aproximou do endemoniado gadareno, ele gritou: “Que temos nós contigo, ó Filho de
Deus! Vieste aqui para atormentar-nos
antes do tempo?” (Mt.8:29). Os demônios sabiam que seu tempo estava
chegando, e a vinda do Messias era tempo de julgamento e confrontação para os
espíritos malignos. Os textos correlatos desta passagem sugerem outros fatos
curiosos. Enquanto em Mateus 8.29, a pergunta dos demônios se focaliza no tempo. “Viestes atormentar-nos antes do tempo?”, em Marcos 5.10 a preocupação dos
demônios refere-se ao lugar de seu
destino final. “Não nos mandes para fora
do país”. A preocupação dos demônios era de não serem enviados para o lugar
de onde vieram. Alguém, parafraseando este texto afirma que o inferno é um
lugar tão horrível, que nem os demônios queriam estar nele. Em Lucas 8.31, os
demônios “rogavam-lhe que não os mandasse
sair para o abismo”. O termo
“abismo”, é o mesmo encontrado em Ap 20.3
quando diz que “satanás foi colocado no abismo, fechado e posto selo sobre
ele”. O abismo é o mesmo de onde saíram os gafanhotos demoníacos que torturaram
os homens (9:1-6) Um anjo tinha a chave deste abismo e a usou para abri-lo e
soltar os gafanhotos, é também o lugar onde mora a besta. (Ap 11.7) Para os
amilenistas esta é uma linguagem simbólica que descreve a redução radical do
poder e da atividade de Satanás, “não significa imobilidade total”.[12]
Quinto, Paulo se refere em
Tessalonicenses a um poder que restringe a ação do diabo. “E, agora, sabeis o que o detém, para que ele seja revelado em ocasião
própria” (2 Ts 2.6). Paulo
menciona que existe uma força bloqueando a operação do erro, e que, apesar de
toda a maldade que podemos perceber na história humana, satanás está detido. O
que detém esta força maligna, que grande poder é este? Duas possíveis
explicações surgem aqui. Uma delas isto se refere ao poder do Espírito Santo. O
Espírito, que é santo, restringe e limita a ação do diabo. O diabo está
“detido” para ser revelado em ocasião oportuna. Seria esta uma referência ao
“pouco tempo” em que ele será solto, mencionado em Ap 20.3? Os amilenistas dizem que sim. Outra
possibilidade, derivada da primeira, é que seja uma referência á igreja. A
força que deteria a ação do diabo hoje seria a igreja de Cristo. A oração, os
louvores, a adoração são forças que limitam a obra do diabo.
Paulo ainda menciona
neste mesmo texto citado: “Com efeito, o
mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que
agora o detém, então, será, de fato revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus
matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda” (2 Ts 2.7-8). Ora, todos estes textos nos mostram satanás
amarrado, retido, detido. Seria isto uma referência paralela a Apocalipse 20?
Sexto, Nenhuma nação, além
do povo judeu, tinha a revelação e o conhecimento do Deus verdadeiro. Roma era
subordinada a terríveis e densas trevas espirituais, a corrupção moral e
espiritual alcançava níveis horríveis. As abominações, os vícios, o paganismo,
a idolatria estavam presentes em todos os lugares, por todo o mundo pessoas
estavam presas a rituais demoníacos. Antes da vida de Cristo, todas as nações
estão debaixo da dominação de Satanás. Contudo, as promessas messiânicas, falam
de um novo tempo. “O povo que andava em
trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte,
resplandeceu-lhes a luz”. A vinda do
Messias desfaz a obscuridade, o paganismo, muda os valores morais e espirituais
de muitas nações, costumes demoníacos são abolidos. Satanás encontra-se de
certa forma amarrado pelo poder de Deus que encontra-se de forma concreta na
sua igreja.
Outro
texto messiânico afirma:“Pede-me, e eu te
darei as nações por herança, e as extremidades da terra por tua possessão”(Sl 2.8). A obra missionária da
Igreja tem refreado a atividade do diabo com seu testemunho, pregação do
evangelho, sua presença salvífica e com seus atos de misericórdia. A verdade do
evangelho tem desmascarado a obra satânica de tal forma que satanás não tem
tido condições de enganar as nações de forma efetiva. Os eleitos de Deus tem
trazido a luz do evangelho a todas as partes do mundo e tem desfeito as trevas
da mentira e do engano. A antiga dispensação é marcada por uma igreja tribal,
local e de um pequeno povo. A Nova dispensação é caracterizada pelo seu alcance
universal. A Bíblia já foi traduzida em mais de 1000 línguas e é hoje o livro
mais vendido no mundo, o maior bestseller de todos os tempos. Em muitas nações
o Evangelho afetou profunda e radicalmente a vida política, econômica, social e
intelectual. Apesar de tudo isto, os amilenistas não acreditam num pleno
domínio antes da segunda vinda do Senhor. O diabo ainda age, mas o Evangelho
tem efetivamente trazido libertação para milhões de pessoas. Neste sentido o diabo
está acorrentado. A influência do diabo na terra tem sido paralisada com a
vinda do Senhor e a manifestação da sua igreja. Milhares de pessoas tem sido
libertas da escravidão e miséria através de ministério de libertação e do
testemunho da igreja.
Aqueles que defendem a
posição amilenista como Ellul, afirmam: “É evidente que não saímos aqui do
simbólico, para entrar bruscamente no descritivo temporal e histórico. Mas é
claro, devemos lembrar, como sempre, que o Apocalipse não é ‘a-histórico’ não é
‘sincrônico’ apenas (da mesma forma que não é apolítico). Para ele, a história
é constantemente a matéria prima, a ocasião, o exemplo, o motivo do símbolo”[13]
Os amilenistas crêem
que o milênio já está agora sendo cumprido e que apocalipse 20 nos dá um relato
simbólico da obra de Cristo na cruz. A descrição desta cena onde o diabo é
acorrentado e colocado no abismo por mil anos é na verdade, um “flashback” da
crucificação. Satanás permanece atado durante mil anos, isto é, durante toda a
era evangélica. E durante este tempo ele encontra-se agindo, mas com poder
limitado por meio de seus demônios. Esta é a era da igreja, em que as nações
ouvem a palavra do Senhor. No final, porém, ele vai se revelar de forma
intensa.
Paulo afirma que a
vinda de nosso Senhor Jesus Cristo “não
acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da
iniquidade, o filho da perdição”. (2
Ts 2.3). Os amilenistas indubitavelmente acreditam que este texto seja
uma referência a obra do diabo, quando no final dos tempos, Deus o libertará
“por pouco tempo”. (Ap 20.3) Neste
tempo, “Satanás será solto de sua prisão,
e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue,
a fim de reuni-las para a peleja”. (Ap. 20.7,8) e, depois de sua derradeira atitude, será “lançado para dentro do lago de fogo e
enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e
serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos” (Ap 20.10).
Outro ponto a favor
dos amilenistas é que a ideia de “mil anos”,
referindo-se ao reino de Cristo só aparece neste texto, que é fortemente
carregado de simbolismo. Esta doutrina não aparece em nenhum outro lugar no NT.
Pré-milênio
Os pré-milenistas acreditam que um
milênio literal ainda vai acontecer na história da humanidade, e este evento
ainda é uma realidade futura, totalmente escatológico.
Muitos argumentos são usados pelos
pré-milenistas para justificarem seu ponto de vista:
Primeiro, Várias passagens na Escritura revelam
que Satanás está amarrado e restrito apenas em relação àqueles que entregaram
suas vidas a Jesus. Argumentam que se Satanás está amarrado hoje, esta corrente
deve ser muito grande já que “O deus
deste século tem cegado o entendimento dos incrédulos, para que não vejam a luz
do Evangelho da glória de Cristo”. (2
Co 4.4) Satanás tem tido o poder de cegar os incrédulos, embora ele não tenha o
poder de subjugar aqueles que colocaram suas vidas nas mãos de Jesus. Os
pré-milenistas concordam que, de fato, os cristãos podem e devem exercer sua
vida e se opor as obras satânicas. Admitem que a Igreja tem o poder de expulsar
demônios e de quebrar cadeias que amarram a vida de pessoas, e opressões que se
manifestam na vida de muitos, por meio do Evangelho e da obra do Espírito
Santo. Por isto Pedro afirma: “Resisti-lhe
firmes na fé”. (1 Pe 5.8),
E que o diabo está amarrado e proibido de atacar aqueles que foram lavados pelo
sangue do Cordeiro, mas isto é algo diferente do que está sendo dito em Ap 20.
Segundo, Afirmam ainda que, apesar de toda
certeza que temos do poder da cruz sobre os eleitos de Deus, todos os cristãos
concordam que Satanás tem o controle da raça humana. Paulo chama Satanás de “O deus deste século” (II Co. 4:4) Paulo também intitula os
demônios de “forças espirituais do mal principados,
potestades e dominadores deste mundo tenebroso” . (Ef 612)
Terceiro, afirma que existe uma grande
diferença da forma como o diabo é acorrentado na cruz e da forma como ele é
acorrentado em Ap 20. O texto, seguindo o fluxo do capítulo 19, fala da volta
de Cristo em poder e glória, portanto não está se referindo à sua morte na
cruz, mas à sua segunda vinda.
Quarto, a prisão aqui é feita por um grande anjo, provavelmente o arcanjo
Miguel. O anjo traz uma grande corrente, simbolizando que ele possui uma
autoridade para acorrentá-lo. Obviamente não podemos entender esta corrente de
forma literal, porque satanás é um ser espiritual. Mas revela que algo vai
acontecer a Satanás, e que vai fazer cessar toda sua atividade. Os
premilenistas rejeitam a ideia de que Satanás já está preso como afirmam os
amilenistas. Para eles, a prisão de Satanás implicará um domínio absoluto da
Igreja. Todas as instituições, governos e indivíduos estarão debaixo do domínio
e governo de Cristo, e isto se dará logo após a vinda de Jesus. Durante este
tempo, os ímpios ainda não serão julgados, mas viverão ao lado da igreja
vitoriosa de Cristo, sem poderem praticar o mal.
Quinto, O uso da frase, “Então eu vi”. (Kai eidon)
20.1 Para os premilenistas indica
progressão cronológica. MacArthur Jr., afirma: “A localização desta passagem no
fluir cronológico do livro de Apocalipse é consistente com a uma visão
premilenista do Reino. Após a tribulação (caps 6-19), Cristo vai retornar (19.11-21)
e estabelecer seu reino (20.1-10), que vai ser seguido pelo novos céus e nova
terra (21.1)”[14]
Conclusão
Como dissemos
anteriormente, esta controvérsia nos antecede de forma histórica e antiga,
desde a patrística. Embora provavelmente nunca saibamos o exato sentido destas
palavras, seja em que sentido for, a Bíblia nos ensina que o diabo deve ser
preso por um período de mil anos, ou num longo período no abismo, no final
deste período ele será liberto por um pequeno tempo.
Qual é a verdade permanente detrás
deste simbolismo? O que este texto nos ensina?
1. A
libertação temporária do diabo significa um tempo de teste para os cristãos e
para a raça humana. É
interessante observar, que mesmo após o reinado de mil anos de Cristo, as
pessoas ainda tem a tendência inerente nelas de seguirem o mal. Mesmo diante
das evidências mais claras ainda existe dentro do ser humano, um forte
potencial para ser enganado e seduzido. Tão logo o diabo é solto, ele sai a
seduzir os quatro cantos da terra. Isto me fez lembrar de pessoas em processo
de discipulado, que ouvem a palavra de Deus, estão aprendendo as Escrituras e
que, de repente, ouvem uma heresia e esta heresia faz mais sentido do que tudo
quanto lhes foi ensinado. Esta inerente propensão para aceitar aquilo que não é
correto está presente na raça humana. À semelhança dos dias de Noé, “A maldade do homem se tem multiplicado na
terra e é continuamente mau todo desígnio do seu coração”. (Gn. 6:5).
2. Precisamos
negar e afirmar o milênio - É
impossível negar a existência do milênio, embora não necessariamente como afirmam
os pré-milenistas: Um período literal de mil anos. (II Pd. 3:8)
Ninguém discorda do milênio, as controvérsias se referem à forma de
interpretá-lo. Mesmo os amilenistas, que por definição são a-milênio, admitem um
milênio não literal. Honestamente não me importo com sua cronologia. Pode ser
que já estejamos nele, pode ser que ele se dará como um evento escatológico, e
pode ser que ele seja, até mesmo, diferente de tudo quanto até hoje temos
conseguido interpretar. Se desde a patrística já existe esta controvérsia sobre
o assunto certamente nossas respostas nunca serão conclusivas. Seria muita
pretensão tentar ser conclusivo, quando o texto em si mesmo não o é. Resta-nos
esperar com fé e santa expectativa...
Seja como for, estes mil anos serão
apenas o ponta pé inicial, o capítulo número um do eterno retorno de Cristo.
Tenho dificuldades de crer em duas vindas de Cristo, como advogam os
pré-milenistas. Quando enfatizamos excessivamente os mil anos, criamos a Ideia
de que Cristo vai reinar apenas por mil anos, mas na verdade, com a batalha do
armagedom, ele vai reinar pelos séculos dos séculos, para sempre na eternidade.
O que o texto nos descreve é que haverá um tempo de mil anos e no final haverá
um teste final de obediência da humanidade ao Messias. Será um período em que Satanás usará
todas suas armas para convencer-nos de segui-lo. A rebelião final está descrita
em Apoc.20:7-9, chamada de guerra de Gogue e Magogue. Nestes “mil anos” a
igreja deverá reinar com Jesus. 20:4 Jesus afirmou que quando ele retornar na
sua glória, seus 12 discípulos assentar-se-iam nos 12 tronos e julgariam as
tribos de Israel. (Mt 19.28). Paulo afirma que o destino dos santos é julgar o
mundo. (1 Co 6.2) Em Ap 2.26-27 Jesus
fala à Igreja de Tiatira: “Ao vencedor,
que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as
nações, e com cetro de ferro as regerás e as reduzirá a pedaços como se fossem
objetos de barro”.
Estamos nos “mil anos”, ou devemos “esperar os mil anos? A Igreja é chamada para confrontar as
sutilezas do diabo, expulsar demônios, amarrar o valente pelo poder da cruz.
Neste sentido, o tempo de Jesus já está aqui, a autoridade da Igreja já está
aqui, e o diabo já está amarrado. Mas a igreja é chamada, também, a esperar com
fé num novo tempo. Tempo em
que Satanás será “lançado no abismo, para que não mais engane
as nações”. (20.3) Esta tensão dialética do “já” e do “ainda não”, está sempre presente na escatologia bíblica.
Algo grandioso já aconteceu, mas algo grandioso está para acontecer. É melhor
não perdermos o próximo flash desta arquitetura em movimento. Certamente
ficaremos surpresos com as coisas que ainda vão acontecer. “Agora ainda
vemos como em espelho, obscuramente;
então, veremos face a face”. (1 Co 13.12)
Um dos fortes argumentos dos
pré-milenistas é que a experiência atual da igreja não traduz o reinado da
Igreja. Na verdade temos sido a “escória do mundo”, desprezados, humilhados,
tidos por loucos, zombados, mas no meio da sua dura luta, a igreja segue
vitoriosa e firme, realizando os propósitos do Senhor na história e dando
sinais do seu reino. Por outro lado, a ideia de amarrar o diabo é uma forma
simbólica de descrever a perda de seu poder e atividade, não necessariamente
completa imobilidade. Os pré-milenistas afirmam que “amarrar o diabo”, é
tirá-lo da circulação, sua completa imobilidade. “Satanás e seus anjos são
removidos da atividade na terra. Isto é um completo exílio de onde eles não
podem escapar por mil anos. Demônios serão banidos da terra por mil anos
completos”.[15]
Stedman continua: “Hoje, as mentiras do diabo prendem as nações. O mundo está
cativo pelas drogas, pelo mau uso do sexo, pela luxúria do poder, pela luxúria
do status e da fama. Estas mentiras tem sido derramadas nos ouvidos humanos
vindo de forças invisíveis…O recorde da história humana é um recorde do engano
realizado por satanás”. [16]
Ambas as interpretações deixam lacunas:
Os pré-milenistas insistem em dizer que haverá um reinado de Cristo literal, de
mil anos, e os pré-milenistas dispensacionalistas (uma variável do
pré-milenismo) afirmam não haverá apenas mil anos literais, mas também uma
restauração literal e física de Israel. Jerusalém vai se tornar a capital do
mundo, e todas as profecias como a do monte das Oliveiras sendo partido ao meio
serão cumpridas literalmente. (Zc 4.4) A restauração política da nação judaica
em 1948 tem reforçado grandemente este argumento dos dispensacionalistas. Por
causa desta convicção, existe uma espécie de Sionismo Evangélico muito comum
nas nossas comunidades, algumas igrejas tem enviado grandes somas de dinheiro
para ajudar a reconstruir Jerusalém. Será que para que o Reino de Deus seja
estabelecido precisamos realmente enviar dinheiro para Israel, não seria isto
uma leitura ideológica presente em nossas comunidades?
Esta vertente dispensacionalista espera
uma restauração das promessas teocráticas de Deus a Israel. O templo seria
novamente reconstruído, o culto restaurado e as nações se submeteriam ao
governo de Israel. Esta ideia faz parte da expectativa judaica e estava
presente na escatologia dos discípulos, apesar de Jesus não subscrevê-la. (At 1.6).
Ensinam ainda sobre a restauração do culto e da legislação mosaica, mas a
Bíblia afirma que esta velha aliança já passou. (Hb 8.13). Obviamente, se o
Reino de Deus for instaurado aqui na terra, não temos dificuldade alguma para
crer que o seu centro seja Jerusalém, mas devemos lembrar que a Nova Jerusalém
será em nada semelhante ao que conhecemos, pois antes que venha o novo “Os céus passarão com estrepitoso estrondo, e
os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem
serão atingidas, …essas coisas serão assim desfeitas”. (2 Pe 3.10-11).
3. Retornamos mais uma vez à grande verdade bíblica de que “Tudo está sob controle”. Seja qual for a interpretação que você
adotar sobre este texto, o poder do diabo é limitado, delimitado, demarcado.
Quem tem o controle da história não é Satanás, nem seus aliados. Ele não tem o
poder absoluto de satisfazer sua sede insaciável de matar, roubar e destruir. A
história não caminha para um vácuo, para um nada, mas tem a direção amorável de
Deus sobre ela. A vitória é do Cordeiro. Deus certamente aprisiona ou
aprisionará Satanás, porque assim são seus decretos eternos, e Deus o libera
para executar também seus propósitos eternos. Não existe maniqueísmo nem
relativo nem absoluto nas Escrituras. A história humana não está nas mãos de
duas forças poderosas e antagônicas: bem e mal. A história humana está nas mãos
de Deus, incluindo aí, todos os principados e potestades, a besta, o falso
profeta e a antiga serpente, Satanás. O vs. 7ss descreve sua derrota final. Gogue e Magogue são nomes bíblicos para
as nações hostis que se rebelam contra Deus. Ez 38 e 39 fala sobre esta
batalha.
O diabo tem seus dias contados. Sua
derrota já está decretada. Ele deve retornar para o lugar que ele mesmo odeia,
para sua casa. Os demônios do Gadareno imploravam a Jesus para que não os
mandasse para o abismo. (Lc 8.31), embora soubessem que seus
dias estavam contados. “Vieste aqui
atormentar-nos antes do tempo?” (Mt. 8:29) Mas agora o seu tempo de juízo
chegou, a sentença é dada. “o diabo, o
sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se
encontram não só a besta, como também o falso profeta, e serão atormentados de
dia e de noite, pelos séculos dos séculos”. (Ap 20.10)
4. Somos
introduzidos a um novo tema aqui neste texto: A participação da Igreja no
julgamento do mundo –
Deus coloca o seu povo numa função tríplice. (a) - No papel de juiz:
“Vi também tronos, e nestes sentaram-se
aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar”. (20.4), (b)- Na função
de governo - Dá poder de também reinar com Cristo: “e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos…e reinarão com ele os
mil anos”. (20.4,6) Daniel
profetiza esta mesma verdade afirmando que “os
santos do Altíssimo receberão o reino e possuirão o reino para todo o sempre”. Dn
7.13,18,22. Às vezes nos perguntamos, como será este reinado do povo de Deus?
Certamente esta é uma pergunta que só terá resposta quando as coisas se derem.
(c), E no papel de sacerdotes : “serão
sacerdotes de Deus e de Cristo” (20.6)
São chamados de sacerdotes por que tem acesso direto à presença de Deus, sua
função será eternamente aquele de levar a Deus as aflições do povo, de serem
intercessores diante do Pai.
5. A
hora do julgamento – Este
texto nos fala do juízo, não apenas do diabo, mas também de indivíduos. É hora
de acerto de contas. “Então se abriram os
livros”. 20.12 O julgamento é individual: “um por um” (20.13), E é baseado naquilo que o livro da vida de
cada um relata, nas obras e na forma de crer de cada um, conforme o que está
escrito no livro.
Um
conselho final: Nesta
hora você vai precisar de um bom advogado. Porque Deus não vai julgar apenas o
que você fez, mas as motivações, intenções e motivos secretos. O critério é
justo e absolutamente incorruptível. Você não vai poder ter caixa dois sem que
isto seja conhecido, seus subterfúgios e argumentos que você usa para enrolar
os outros não valerão, sua atitude de levar as coisas na base da brincadeira
não servirão, sua retórica falaciosa e sua estratégia de acobertamento e
mentira não servirão. É hora da verdade. “O LIVRO DA VIDA, FOI ABERTO”. (20.12)
A Bíblia diz: “Filhinhos, estas coisas vos escrevi para que não pequeis, mas se
alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. (1 Jo 2.1) Deus, sabedor de minha limitação, conhecedor
de minhas pretensa justiça própria, consciente de meu fracasso como gente,
ciente de minha natureza pecadora, já providenciou para mim um advogado: Jesus.
“Ele é quem tomou a ira de Deus contra
nossos pecados e colocou sobre si mesmo e trouxe-nos para a comunhão com Deus.
Ele é quem perdoou os nossos pecados, e não somente os nossos próprios, mas
ainda os do mundo inteiro”.(BV I
Jo 2.2).
O apóstolo Paul revela que existe
apenas uma esperança para o homem escapar do julgamento do grande trono branco
e de ser eternamente condenado ao inferno. “O
dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus ”. (Rm 3.23) A única
justiça que Deus irá aceitar está em Jesus. Nós simplesmente não conseguimos atingir o
patamar de perfeição que Deus exige de nós. Somente em Jesus podemos ter o dom
da vida eterna.
Por isto, você precisa de um advogado!
Este advogado, porém, cobra caro. O
preço para isto é a entrega de sua vida. Ele não aceita cauções, nem ações da
bolsa, nem seu carro, nem seus imóveis, nem sua família, ele exige sua rendição
plena e absoluta àquilo que ele é. Este advogado pede de você sua fidelidade,
uma entrega total, sua vida, tudo o que você é.
Em contrapartida, ele inscreve seu nome
no livro da vida. Ele assume toda sua culpa, toda sua vergonha, tudo o que foi
inscrito contra você. O preço para isto foi seu sangue derramado no calvário.
Cristianismo não é uma religião baseada nas conquistas que o homem consegue
pela sua habilidade de ser bom, mas nos revela como Deus atinge o homem pelo
seu amor. Jesus representa você junto ao Pai, ele intercede por você, e paga o
preço do resgate por você. A Bíblia afirma que “Nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus ”. (Rm 8.1) Aqueles que se assentarão
diante de Deus para o grande julgamento serão os pecadores que não se
arrependeram e rejeitaram a salvação providenciada por Deus. Por isto seu nome
não está inscrito no livro da vida.
Você está preparado para isto?
Medford, 16.02.01 – 38o. graus F
[1] . Eusebius, The
Ecclesiastical History 3.38
[2] (Dialogue with
Trypho, 80).
[3] (De principiis,
2.II.2,3).
[4] Agostinho, A
cidade de Deus, 20.7
[5] . Barclay, William
– The revelation of John, Vol. II,
Edinburgh, St. Andrew Press, 2a. Impressão, 1961, pg. 244
[6] . Idem, pg. 245
[7] . Wall., Robert W.,
- Revelation, Peabody , MA
– Hendrickson Publishers, Inc., 1991.
[9] . McDowell afirma: ´Quanto à duração dos mil anos, não
há razão alguma para interpretar esta figura ao pé da letra. Os demais números
no Apocalipse que indicam períodos de tempo são símbolos. Em 11:2 “os 42 meses
simbolizam um período limitado de guerra e perseguição; “uma hora”em 17:2
simboliza o período mui breve em os dez reis reinam com a besta”. McDowell,
E. A – A soberania de Deus na História, Rio de Janeiro, Juerp, 2a.
edição, 1976, pg. 158
[10] . Ladd, 1980, pg.
195
[12] . Ladd, George – 1980, pg. 194
[13] . Ellul, Jacques –
1980, pg. 227,228
[14] . MacArthur Jr.,,
John – Revelation 12-22 Chicago, Moody Press, 2000 – Pgs. 233,234
[15] . Stedman, Ray C. – God’s final word – Grand Rapids , MI
– Discovery House, 1991 – pg.322
[16]
.Idem, pg. 322
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