Introdução:
É no mínimo curiosa a declaração deste texto: “Não nos cansemos de fazer o bem”. É
possível se cansar de fazer o bem? Você já se sentiu cansado de fazer o bem
alguma vez? Está cansado e frustrado por achar que o bem parece sucumbir diante
das ameaças do mal e não ser vitorioso? Não lhe parece que pessoas bondosas são
sempre massacradas, enquanto as arrogantes e perversas se dão bem?
Se você já sentiu assim ou tem se sentido assim, acho que você
deveria considerar algumas verdades interessantes na Bíblia sobre o assunto.
A Necessidade de fazer o bem
Esta é uma das verdades mais constantes nas Escrituras. Talvez
porque o bem pareça tão frágil na sua essência e o mal é tão concreto.
Alguns princípios devem ser aqui estabelecidos:
1. Devemos fazer o
bem porque o bem é bom – parece óbvio assim, mas
muitas pessoas flertam com o mal por equivocadamente acreditarem que o mal não
é assim tão maligno. No meio deste emaranhado de conceitos religiosos que temos
hoje vemos até um tipo de declaração ingênuo que afirma que o mal nada mais é
que uma sombra do bem, e que um precisa do outro para sobreviver, então, o mal
não deve ser algo assim tão pernicioso. Os Mórmons, inclusive declaram que
Jesus é irmão de Lúcifer. De essências diferentes, mas da mesma fonte.
2. Devemos perceber
o bem como algo poderoso e não frágil – A Bíblia nos ensina: “Não te deixes vencer do mal, mas
vence o mal com o bem” (Rm 12.21). Quando leio este texto me
pergunto: Será que o bem tem poder para vencer o mal? Você nunca achou o bem
tão ingênuo, raquítico e frágil? No entanto, o nosso comandante, a quem devemos
prestar obediência irrestrita afirma que o mal deve vencido pelo bem.
Paulo afirma: “Porque, embora andando na carne, não militamos
segundo a carne. Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim
poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando sofismas”(2 Co
10.4-5). As armas do bem são incrivelmente fortes, elas destroem defesas e
fortalezas, tiram o efeito do mal ao anular sofismas, raciocínios e lógicas
interessantes mas falhas na sua essência.
3. O bem é ordenado
na Bíblia – Ele deve ser praticado por aqueles que são discípulos de
Cristo. Não somos das trevas, mas da luz.
Na Bíblia,
o bem segue até um direcionamento hierárquico:
ü Fazer o bem aos de sua casa – A recomendação de Paulo na carta a Timóteo é severa: “Se
alguém não tem cuidado dos seus, especialmente dos de sua própria casa, é pior
do que o descrente e te negado a fé” (1
Tm 5.8). Se não atentarmos para as necessidades de filhos, pais, cônjuges e
irmãos, negamos a fé, é apostasia! É impossível que um filho tenha posses e
deixe seus pais passarem necessidades. É uma aberração teológica um filho
crente maltratar seus pais e pais serem indiferentes e insensíveis aos seus
filhos.
ü Cuidar dos domésticos da fé – A exortação de Gl 6.10: “Fazei o bem a todos,
especialmente, aos domésticos da fé”. Nosso
cuidado e amor deve ser manifesto a todos, mas de uma forma particular e
direta, àqueles que amam o mesmo Deus, tem a mesma fé e comungam em nossa
comunidade.
ü Fazer o bem, sem discriminar – Na disciplina do bem, não devemos desconsiderar quem quer que
seja, inclusive inimigos, ou aqueles que consideramos desprezíveis pelo seu
estilo de vida ou opções religiosas e éticas. Não devemos deixar de fazer o bem
porque uma pessoa é espírita, candomblé, macumba ou porque é alcoólatra,
drogada, homossexual, prostituta, etc. O bem é bom e ordenado por Deus, devendo
ser praticado em todos os níveis. Nosso comandante afirma que devemos vencer o
mal com o bem – este é o nosso desafio.
O Perigo do Cansaço
O texto bíblico afirma na sua integra: E não nos cansemos de fazer o bem,
porque a seu tempo ceifaremos se não desfalecermos” (Gl 6.9). Não parece
interessante esta afirmação? Vamos colher se não desfalecermos. A prática do
bem pode extenuar e gerar cansaço.
Uma das pessoas mais envolvidas no ministério de cuidado com
pessoas necessitadas em nossa cidade possui um projeto que beneficia
diretamente 350 crianças. Nossa igreja está sempre apoiando, preparando kits de
natal, fazendo mutirão de saúde, fazendo kit escola para as crianças daquele
projeto, e os desafios são enormes. Os recursos são sempre menores que as
necessidades. Sempre se percebe que a necessidade é imensa e que o que se faz é
ínfimo em comparação ao que é necessário fazer. Isto é frustrante. Muitas
vezes, depois de anos de investimento em uma criança, percebe-se que na
adolescência que ela envereda pela prostituição e garotos tornam-se joguetes
nas mãos de traficantes. A oposição maligna, a resistência, a pobreza, a
miséria, a promiscuidade facilmente exaurem a força de pessoas envolvidas em
projetos assim. Recentemente um dos nossos presbíteros foi participar de um
destes mutirões e voltou dizendo: “Precisamos apoiar muito esta irmã, porque eu
sinto que ela está exausta”.
Vinicius de Morais afirmava que “O perdão também cansa de
perdoar”. O bem cansa. O mal é tenaz. Satanás não é criativo, mas é
persistente, sagaz e mordaz.
Quando nos cansamos, deixamos de colher. O cansaço acontece por
três razões principais:
A. Achamos que o
bem é impotente. Será que haverá vitória do bem?
O cântico “O Dia da Vitória”, dos vencedores
por Cristo, mostra este desejo de ver o bem triunfando:
Assim como a noite aguarda o sol,
Como a brisa sonha um dia soprar
Como a terra seca espera a chuva
Como o rio anseia pelo mar
Eu desejo tanto ver o dia chegar!
O Dia da Vitória em que virá meu Salvador
Sim, Jesus Cristo, o Senhor
Virá nas nuvens para me levar
Se tornará verdade tudo o que sempre sonhei
Tristezas eu não mais terei
E toda a lágrima do meu olhar
Ele enxugará!
Braços levantados, livres do mal
Igualdade e justiça haverá
Já não mais terá morte ou guerra
Novo céu e uma nova terra
Eu desejo tanto ver o dia chegar!
B. Achamos o bem
frustrante
Parece que o mal domina. Basta um pouco de fermento para
levedar toda massa, no entanto, por mais que lutemos contra o mal, parece que
ele está ali, forte, indestrutível, implacável. Investimos em vidas e o
resultado parece pífio, gastamos tempo falando da verdade do Evangelho, e basta
uma pitada de heresia para a pessoa se afastar dos caminhos do Senhor e se
desgarrar do rebanho. Isto gera um enorme cansaço. Pastores, obreiros,
missionários, projetos sociais, de repente nos vemos indagando se vale a pena
lutar tanto.
Por isto o texto exorta: “Não nos cansemos de fazer o bem”. Devemos perseverar, continuar
firmes, não esmorecer. “Certa é a colheita, a colheita tem de vir”.
C. Somos atingidos
pelos fatores de Stress
Vemos isto claramente na vida do Rei Davi. Publiquei uma
mensagem no meu blog sobre o assunto: Líderes fatigados, baseado em 2 Sm
21.15-22. Se quiser ler o texto na integra, encontra-se no seguinte endereço:
Davi foi um homem proativo, lutou muitas guerras e venceu muitas
batalhas, mas com o passar do tempo, suas atividades se tornavam cada vez mais
pesados, alguns sintomas de stress e esgotamento nervoso começaram a ser
percebidos, e o esgotamento físico e mental aconteceu numa nova batalha com os
filisteus, porque nesta batalha, “Davi ficou muito fatigado” (2 Sm 21.15). O que provocou este
esgotamento em Davi, um líder quase imbatível e aparentemente incansável?
1 Fator Idade – Davi
ainda não era muito idoso, mas já tinha vivido bem para seus dias, estava com cerca
de 55 anos. Ele ainda tinha vigor para ir para a guerra, mas sua mobilidade,
resistência e disposição não eram a mesma. Sua idade conspirava.
Líderes se cansam. A idade é um fator que não deve ser
menosprezado. Quando somos jovens a energia parece inesgotável, mas com o tempo
esbarramos na saúde e na própria capacidade do organismo de reagir, e com ele
pode surgir abatimento e esgotamento.
2 Fator Mesmice – O Segundo
motivo para gerar stress em Davi é o que chamo de “fator mesmice: Os mesmos
problemas, as mesmas pessoas, as mesmas lutas, e quando você pensa que as
coisas já avançaram um pouco, parecem estar no mesmo lugar, dando a impressão que
o software errado não muda, o sistema é o
mesmo, usando um interminável replay.
Pessoas que aprendem sempre
sem jamais chegar ao conhecimento da verdade – e como isto é cansativo.
3 . Fator Oposição
- De acordo com o relato bíblico, um gigante filisteu quase matou
Davi, deixando-o extenuado. Ataques
dirigidos a líderes são comuns: Depressões, desânimo, apatia, desencorajamento,
acusações do demônio e das pessoas, cobranças externas e internas, setas
inflamadas do inimigo. O diabo é implacável e não tem misericórdia, suas armas
são pesadas como a lança de Isbi-Benobe, o inimigo de Davi.
A Colheita do Bem
O texto que lido no início afirma que não devemos deixar de
fazer o bem, porque colheremos se não desfalecermos. Quem planta precisa ter
expectativa de colheita. Ninguém pega a semente, vai para o campo e semeia,
pensando que não haverá colheita. Ao plantarmos está explícita a esperança da
colheita.
A Bíblia nos fala de algumas leis da semeadura:
A. Colhemos o que
plantamos – “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o
homem semear, isto também ceifará. Porque o que semeia para a a sua própria
carne colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito, do Espírito colherá
vida eterna” (Gl 6.7-8). Muitos querem colheita, mas não fazem
semeadura.
No mundo psicológico fala-se muito hoje em depósitos emocionais.
Autores como Wayne Cordeiro afirmam que se queremos saques, precisamos fazer
depósitos. Não dá para sacar em uma conta sem crédito. Para Deus é assim também.
Esta é a lei natural. Aquele que semeia para a carne, da carne colherá
corrupção. O que semeia para o Espírito, colherá vida eterna. Ninguém semeia
abacaxi esperando colher laranja. Precisamos lançar sementes de vida, de saúde,
de paz, para que estas coisas retornem para nossas vidas. Numa pesquisa feita
na cidade de Anápolis-GO, publicada no Jornal Contexto, (Setembro/2014), o
delegado da cidade estimava que 95% dos assassinatos estavam relacionados à
pessoas envolvidas em drogas, disputas de droga e familiares. Jesus afirmou quem
lança mão da espada, da espada perecerá.
B. Precisamos
perseverar – Não há colheita se esmorecermos. “A seu tempo ceifaremos,
se não desfalecermos”. Só
colhe quem continua firme no projeto de semear a paz, o bem, o amor. Muitas
vezes nos sentiremos desencorajados, frustrados e cansados, mas devemos
continuar firmes.
"O segredo do sucesso é a constância do propósito."
(Benjamim Disraeli). Em 1621, o navio espanhol “The Atocia”, afundou na região
de Key West, Florida. Por 350 anos, repousou carregado de ouro, barras de
prata, e artefatos no fundo do mar. Embora muitos o tivessem procurado, nada
foi encontrado. Nos anos 80, porém, um aventureiro chamado Mel Fisher decidiu
achá-la. Por 15 anos investiu nesta jornada cara e frustrante que parecia
impossível, mas Fisher recusava a desistir. Seu lema era: “Hoje é o dia!”.
Finalmente Fisher a encontrou com quase U$ 400 milhões em carregamentos e
tesouros.
Conclusão:
Jesus é o nosso paradigma.
Em At 10.38 lemos que “Jesus andou entre nós, fazendo o bem”. Independentemente das
circunstâncias e das pessoas ao seu redor, ele fazia o bem. Não era algo
acidental e esporádico na sua vida, mas fazia parte daquilo que ele era.
O Profeta Isaías, ao falar do servo sofredor afirma: “Ele verá o fruto do seu penoso
trabalho e ficará satisfeito” (Is
53.11). Seu trabalho seria penoso, mas sua obra seria consumada, trazendo
grande alegria ao seu coração ao ver seu povo redimido. Fazer o bem, semear,
pode ser uma árdua tarefa, mas quem sai andando e chorando enquanto semeia,
voltará com júbilo trazendo seus feixes (Sl 126.6).
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