Introdução
No século XX, o mundo acompanhou atentamente alguns dos maiores tribunais já vistos da história, o conhecido Julgamento de Nuremberg, estabelecido pelo Tribunal Militar Internacional na cidade alemã com o mesmo nome para julgar, inicialmente, os 24 principais criminosos da Segunda Guerra Mundial. O julgamento começou no dia 20 de novembro de 1945 contando com importantes personagens da promoção do genocídio judeu, como o líder do Partido Nazista Hermann Göring. O tribunal ouviu mais de 240 depoimentos até o dia primeiro de outubro de 1946. O procedimento do julgamento foi todo previamente acordado entre as potências vencedoras da guerra, EUA, URRS, Grã Bretanha e França. O estatuto do tribunal foi assinado em Londres no mês de agosto de 1945, oferecendo oportunidade para a plena defesa dos acusados.
Foram decretadas 12 condenações à morte, três prisões perpétuas e 17 condenações até 20 anos de cadeia. Hermann Göring, foi condenado à morte por enforcamento, mas cometeu suicídio do mesmo modo que Hitler, ingerindo cianeto na véspera da execução. Já os três absolvidos foram Franz von Papen, Hans Fritzsche e Hjalmar Schacht. O primeiro foi um opositor dos nazistas antes que estes chegassem ao poder, mas um grande aliado após sua ascensão. O segundo era ajudante de Goebbels no Ministério da Propaganda. E o terceiro foi um banqueiro alemão responsável pela recuperação econômica da Alemanha na década de 1930. Participou da formulação de um atentado a Hitler junto com a resistência alemã e foi enviado também aos campos de concentração, de onde só saiu com o fim da guerra.
As sentenças do Julgamento de Nuremberg foram executadas no presídio da cidade, onde foi montado um cadafalso para execução das penas de morte. Dez das sentenças de morte foram executadas na manhã do dia 16 de outubro de 1946, já que os outros dois condenados cometeram suicídio. (Fonte Wikipedia).
Outro tribunal que chamou a atenção do mundo, sendo chamado o júri do século, foi o caso envolvendo o famoso jogador de futebol americano, O. J. Simpson, que está para os EUA, como o Zico para o Brasil no futebol. Ele foi o principal suspeito de ter matado sua ex-esposa e seu amante, e todas as provas pareciam apontar para sua execução, no entanto, o experiente advogado, Shapiro, conseguiu numa manobra jurídica, transformar o caso num conflito racial, e as acusações perderam o efeito, e Simpson absolvido.
No Brasil acompanhamos atentos aos julgamentos do Mensalão, no qual o governo comprava apoio político de deputados igualmente corruptos, para conseguir a aprovação de seus projetos. Entre os condenados, o Ex-ministro da casa civil do presidente Lula, seu principal assessor e interlocutor, José Dirceu. Em seguida, outro escândalo em 2015, manchou diretamente o governo, com o escandaloso suborno envolvendo a Petrobras, até então considerada a maior empresa da América Latina. As cifras envolvidas eram assustadoras e descaradas, e o Brasil acompanhou de perto o desenrolar destes processos.
Quando ocorrem tais julgamentos, sempre fica a indagação e os questionamentos: Que sentenças serão dadas? Elas serão consideradas culpadas ou inocentes? Qual será o veredito do júri? Qual a sentença do juiz? Estas coisas despertam as mais diversas reações.
Um olhar sobre o texto
Neste texto temos o veredito dado pelo próprio Deus a um famoso líder mundial, Belsazar, herdeiro do trono de mais poderosos homens que ja surgiram na face da terra.
O julgamento mais pesado, sem dúvida alguma é o que vem de Deus. O julgamento dos homens nunca é decisivo e final. Eventualmente servem a jogos políticos e interesses de poderosos, e ainda se pode recorrer às instâncias superiores; o julgamento de Deus, porém, é definitivo e final. Não podemos recorrer a mais ninguém.
Certa vez fui procurado por um irmão que estava sendo acusado de coisas que não havia praticado, sentindo-se injustiçado por interesses escusos e nuances jurídicas, e eu lhe disse que mesmo que os homens o considerassem culpado, se ele não o fosse, nada estava perdido. Lembrei-me de uma frase de John E. Haggai: “Você pode perder dinheiro, posições, status social, mas se não perder sua integridade, tudo poderá ser reconstruído”.
Quando, porém, o julgamento vem de Deus, recebemos o veredito de alguém em quem não há trevas, ele é justo para avaliar e coligar os dados. Diante dele não se esconde nada de bom ou de ruim. Ele é justo e onisciente. Este é o veredito que Belsazar recebe.
Ele foi sucessor de Nabucodonozor, que invadiu Jerusalém em 596 a.C., arrasando toda Judéia, e levando cativos prisioneiros para Babilônia, bem como todos os espólios e riquezas encontradas no templo de Salomão. Este texto registra uma festa que ele resolveu dar, a 1000 dos seus oficiais, trazendo os objetos sagrados do templo para nele beberem. Nesta hora, surgem nas paredes do Salão real, mãos que escreviam algumas palavras que nenhum dos sábios da Babilônia conseguia decifrar: Mene, Mene, Tequel e Parsim. Daniel é trazido para a presença do rei e dá o veredito publicado pelo próprio Deus. O Império Babilônico chegava ao seu fim naquela noite. A sentença fora dada, e era irrevogável, pois era proveniente do próprio Deus.
O veredito dado por Deus torna-se pesado, por três razões:
i. Não tem apelação. Não há como recorrer à segunda instância;
ii. Não tem equívoco. Quando a sentença é dada, não existem motivos escusos ou dados nebulosos. Ele sabe todas as coisas.
iii. Deus é justo. Por causa do seu caráter, todo julgamento é eterno. Ele pode julgar.
Quanto tempo durou o Império Babilônico?
O Império Babilônico compreende dois períodos distintos: De 1728 a.C., a 1513 a.C, e o segundo, registrado na Bíblia, de 614 a.C., a 539 a.C. Embora a civilização babilônica remonte a 3000 anos a.C, com a chegada dos povos semitas à Mesopotâmia, região entre os rios Tigre e Eufrates, no atual Iraque.
Nabucodonozor começou a reinar no ano 604 a.C., era um líder militar de grande energia e crueldade, ficando no poder por 42 anos. Herdou o trono de Nabopolozar, e durante o seu reinado esta nação se transformou na “Rainha da Ásia”. Seu filho Belsazar, assumiu a dinastia, e no seu governo, conforme o relato deste texto bíblico, o império é destruído.
Quais foram as bases destas tão duras sentenças contra o rei?
1. Belsazar desconsiderou a história – Daniel é chamado, e ao interpretar a escrita na parede e é introduzido apressadamente ao salão de festa. Pela forma como responde ao rei, temos a impressão nítida da sua irritabilidade com a maneira que as coisas eram conduzidas no império, porque quando o rei fala dos prêmios que ele iria receber ele os recusa veementemente.
Antes de dar o veredito, Daniel ainda faz uma avaliação da situação do rei. Relata o fracasso de seu pai depois de toda glória que teve, e seu estado mental por ter ignorado a Deus e por sua arrogância. Nabucodonozor teve um surto psicótico, e ficou assim por seis anos, “Até que conheceu que Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens, e a quem quer constitui sobre ele” (Dn 5.31).
Apesar de tudo o que viu acontecendo dentro de sua própria casa, com seu pai, Daniel observa: “Tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que sabias de tudo isto” (Dn 5.33). Daniel demonstra que ele tinha as informações, sabia dos fatos, no entanto, insistiu nos mesmos erros. Quantas vezes agimos assim.
Muitos vivem de forma arrogante, desprezando princípios de Deus, ignorando a grave advertência de Deus: “O homem que muitas vezes repreendido, endurece a sua cerviz, cairá de repente, sem que haja cura” (Pv 29.1). Belsazar sabia, mas desconsiderou. Ele não apenas era ignorante, era teimoso.
Desconsiderar a Deus traz graves consequências. Muitos na sua teimosia, sem prestar atenção às advertências ouvidas, aos conselhos recebidos ou à instrução da Palavra de Deus.
Belsazar desprezou as lições da história (Dn 5. 18,22). Sabia de tudo mas resolveu ignorar. Esta é a triste realidade de muitos “filhos de crentes” que sabem de tudo, mas ignoram as implicações dos seus atos históricos. Pessoas que rejeitam a Deus e fazem opção pelo pecado.
Nestes casos, somos tentados a pensar como Hegel: “Se a história nos ensina alguma coisa, nos ensina que não nos ensina nada”. São pessoas que caem, parecem ter ignorado os riscos de se viver no limite. Ignoram os alertas. Pensam que o mal não lhes sobreviverá. O apóstolo Pedro fala de pessoas que “deliberadamente esquecem” o que Deus falou (2 Pe 3.1-5). Desprezar a história, pode ser fatal, tanto para culturas, nações, igrejas, famílias e indivíduos. Isto aconteceu a Belsazar.
2. Belsazar desvalorizou as coisas sagradas. “E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos utensílios da casa dele perante ti, e tu e teus grandes, e as tuas mulheres, das tuas concubinas bebestes vinho neles” (Dn 5.27).
Quando seu pai, Nabucodonozor, invadiu Jerusalém, saqueou o templo e trouxe as obras de arte, objetos de culto de grande valor artístico, como espólio de guerra. No dia da grande festa que Belsazar resolveu fazer, ele trouxe tais objetos sagrados para neles beber e festejar. Daniel afirma que ele “se levantara contra o Senhor do céu”. O que ele fez foi uma afronta, trazendo a indignação e a ira de Deus.
Naturalmente precisamos fazer uma transição hermenêutica sobre este assunto, porque ainda hoje, muitos sacralizam objetos, locais, templos, etc., e embora o Antigo Testamento fale de objetos sagrados, no Novo Testamento, esta ideia deixa de existir. O Sagrado no NT não são coisas, objetos e locais, mas pessoas. Deus não habita em construções e catedrais, templo feitos por mãos humanas, mas no coração daqueles que recebem a Jesus pela fé. “Não sabeis que sois o templo do Espirito Santo, e que o Espirito de Deus habita em vós?”.
No entanto, o mesmo princípio ainda prevalece. Assim como Belsazar, temos desconsiderado coisas sagradas, menosprezado as coisas de Deus. Lamentavelmente sacralizamos o profano e dessacralizamos o sagrado. Valores e princípios que deveriam ser considerados santos tem sido desprezados. Dessacralizamos o corpo, local sagrado, onde o Espirito Santo decidiu morar; profanamos a sacralidade da aliança do casamento, considerando apenas um contrato social e humano; temos vulgarizado a sexualidade, sem temer ou considerar a Deus, e desta forma zombamos das coisas sagradas.
Belsazar recebeu o terrível veredito de Deus porque entre outras coisas, desvalorizou coisas santas. “Não vos deixeis enganar, de Deus não se zomba, porque aquilo que o homem semear, isto também ceifará”. Não podemos brincar com a santidade do sexo, do casamento, da família e dos valores espirituais.
Belsazar profanou o sagrado (Dn 5.2-4). Ele manda buscar os utensílios do templo de Jerusalém, numa atitude frontal de sacrilégio e agressão a Deus. Como homens e mulheres que desprezam coisas santas, e brincam com as coisas de Deus.
Assim viveu Esaú. Desvalorizou seu direito de primogenitura (Gn 25). Este também foi o procedimento de Nadabe e Abiú, que ofereceram fogo estranho no altar (Lv 10.1), e ainda os filhos de Eli, que profanaram o altar do Senhor (1 Sm 2.22-25).
Um dos personagens folclóricos do futebol brasileiro foi Vampeta, jogador do Corinthians. Certa vez, estando brigado com os dirigentes do clube que ele defendia, e jogando muito mal, justificou-se dizendo: “Eles fazem de conta que nos pagam, e nós fazemos de conta que jogamos”. Tenho as vezes a impressão de que estamos fazendo de conta que cultuamos a Deus. Simulamos louvor e adoração. Você pode estar na igreja fazendo de conta que adora, mas estar numa atitude sacrílega.
3. Belsazar criou pressupostos religiosos, e ignorou a Deus- Daniel demonstra que o veredito vem sobre ele, porque ele fez aquilo que a raça humana sempre é tentada a fazer. Como afirma Manning: “Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, mas os homens desprezaram a Deus e resolveram construir seus próprios Deuses, à sua imagem e semelhança”.
Veja o que diz Paulo: “Portanto, tendo conhecimento de Deus, não o trataram como Deus, nem lhe deram graças, adorando a criatura em lugar do criador, se tornando nulos em seu próprio coração”.
Curiosamente, Belsazar não era incrédulo – ele era idólatra.
Seu problema não era a falta de aceitação da existência de realidades espirituais e de seres espirituais, mas um desvio na espiritualidade que o levou a considerar outros Deuses, em lugar do Deus verdadeiro. O problema não estava na sua falta de fé, mas em depositar fé na direção errada.
“Além disto, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não veem, não ouvem, nem sabem, mas a Deus, cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a ele não glorificaste” (Dn 5.23).
A maior ameaça humana não é a falta de fé, mas a fé depositada em coisas e pessoas erradas. A isto a Bíblia chama de idolatria.
Idolatria não precisa ter uma representação material, de imagem, diante da qual as pessoas se curvam e dirigem suas preces. Esta é a idolatria grosseira, que se constitui na quebra do segundo mandamento. “Não farás para ti imagem de escultura...” (Ex 20.4-5).
Existe ainda uma idolatria sutil, que em Ezequiel 14 é tratada como “ídolos do coração”. O primeiro mandamento parece sugerir este tipo de idolatria quando diz: “Não terás outros deuses diante de mim”, expressão esta que que pareça estranha. É possível trazer outros deuses para se interpor entre nós e o Deus verdadeiro? Sim. E parece que esta é a razão de ser o primeiro dos mandamentos, e como Lutero afirmou, de onde deriva a quebra de todos os demais mandamentos.
Não é exatamente isto que fazemos? Colocamos outros deuses diante de Deus, oramos a Deus que não nos deixe perder tai ídolos, e eventualmente até pedimos que este ídolo do coração nos seja dado, porque o desejamos profundamente, mas Deus está dizendo: “Não coloquem diante de mim o seu Deus falso”.
Estes ídolos nos controlam e geram falsas esperanças, acreditamos que eles podem nos dar segurança, mas eles são falsos, meras representações do Deus verdadeiro.
Existe uma pergunta clássica para diagnosticar os ídolos do coração: em que confio,
O que desejo,
Temo,
Confio e
Amo mais que a Deus?
Este é o critério!
Belsazar não era incrédulo. Era idólatra.
Seu problema não era falta de fé, mas fé deslocada.
Esta é a essência da idolatria.
Conclusão:
Ser julgado por Deus e encontrado em falta é terrível para nossa existência. Nada pode ser tão negativo para a vida do que ter uma avaliação negativa do próprio Deus. “De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
Belsazar foi pesado na balança e achado em falta. Faltou consistência. Por isto o veredito foi dado: “Dividido foi o teu reino e dado aos medos e persas”.
Naquela noite o império babilônico deixou de existir. Foi-se toda glória e glamour, dos lugares luxuosos, dos jardins suspensos, da opulência e poder. Apesar da grande beleza natural que o Iraque possui até hoje e sua grande riqueza em petróleo, este país ainda hoje é insignificante no cenário mundial. Terra de abandono, desértica e permeado de conflitos.
O veredito foi pronunciado.
Podemos concluir com uma avaliação negativa e outra positiva.
1. Deus vai julgar – Ele não julga o exterior, aquilo que é visível e externo. Deus julga intenções e motivações, Deus exige arrependimento e mudança: “Põe em ordem a tua casa, porque morrerás”. Acerte os detalhes, arrume sua vida, volte-se para o Senhor. Sua volta será como nos dias de Noé: casavam-se, davam-se em casamento, até que entraram na arca. Deus. Deus já estabeleceu um dia em que haverá de julgar vivos e mortos. Seu juízo virá! O problema: Ninguém é encontrado digno. “Deus não encontrou nenhum justo, nem um sequer. Não há quem entenda, não há quem busque a Deus, todos se extraviaram e a uma se fizeram inúteis” (Rm 3.9-10).
Várias perguntas na Bíblia são feitas em relação a esta questão:
A. “Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo nome?” (Sl 15.1), e a lista que ele dá para que isto aconteça é simplesmente impossível de ser atingida por qualquer um de nós.
B. Paulo: “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2 Co 2.17).
C. João: “Chegou o grande dia da ira, e quem é que pode suster-se?”. Ap 6.17
2. Deus já providenciou um recurso para nós: Paulo responde a mesma pergunta que fez dizendo: “Não que por nós mesmos sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de nós, pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5). João afirma que ele chorava, porque ninguém era digno de abrir o livro da vida, nem mesmo de olhar para ele, quando um dos anciãos veio até ele e disse: “Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos” (Ap 5.4-5). Ninguém é competente para se manter firme diante do juízo de Deus, mas Jesus já providenciou todos os recursos para que, na hora da avaliação, estes recursos sejam colocados a nosso dispor.
Paulo, servo de Cristo, antecipa o seu julgamento com outros olhos: “Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé; já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2 Tm 4.7-8).
Paulo antecipava outra sentença.
Não a de um condenado, não a de alguém achado em falta, mas de alguém que havia sido declarado justo, pelo sangue de Cristo, e aprovado pelo Pai, mediante a obra de Cristo Jesus.
Qual veredito você está esperando?
Muito bom pastor. Edificante. Abraço!!
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