quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Ex 33.12-16 Sem Deus não dá




Nos idos de 1970, o Sr. José Alves se converteu na cidade de Governador Valadares. Ele era maquinista responsável por grandes locomotivas que carregavam ferro nas ferrovias de Minas Gerais em direção ao porto de Vitória. Logo após sua conversão, muito entusiasmado com o Evangelho, pediu ao pastor da igreja se poderia pregar. Meio constrangido, o pastor permitiu que ele falasse numa das reuniões que aconteceria na casa de uma irmã. Ao começar a pregação, usou como exemplo a horta de sua casa, comparando-a à vida cristã que precisa ser regada e cultivada. Em seguida, começou a comparar a vida cristã a um vagão que precisa andar no trilho... assim meio assustado, não sabendo mais o que dizer, parou perplexo e disse para o pastor: “vazio eu não prego não!”.

Ele achava que bastava chegar na frente e começar a falar, e que tudo aconteceria, e agora percebia que era necessário se preparar para comunicar o Evangelho. Sua declaração, contudo, revela uma profunda verdade teológica. Deus precisa estar de fato presente.

Neste texto lemos o incrível drama da relação de Moisés com Deus.

Em Ex 32, Moisés sobe ao monte para se encontrar com Deus, e depois de 40 dias retorna com as tábuas da lei, mas para sua perplexidade, este tempo fora suficiente para que o povo se desviasse completamente do Senhor que os livrara do Egito e seguissem um bezerro de ouro, recém fabricado na Indústria Arão & Cia, S.A.

O texto revela a lógica da idolatria: fazer um deus à imagem e semelhança do homem. Assim a humanidade faz até hoje. Quer controlar o sagrado. Este é o fundamento da feitiçaria, ter acesso a fórmulas ocultas que permitam ao homem controlar divindades, o sobrenatural, poderes e entidades. Na idolatria, é a mesma coisa: Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e agora o homem deseja fazer deuses à sua imagem.

Assim ele supõe ter o controle. Ele manipula. Ele domina.
Falsa pressuposição!

O resultado disto é descrito no livro de Êxodo: O povo se perdeu. A ética do povo ficou desorientada. Afinal, os homens se parecem com seus deuses. Cosmovisão antecede ética. O que cremos determina e orienta o que fazemos. O homem é o que ele crê. Nossos deuses nos levam a comportamentos parecidos com eles. O povo de distanciou de Deus.

De repente, o impensável acontece: Deus desiste do povo e afirma a Moisés que não seguirá mais entre eles (Ex 32.34; 33.2-3). Deus se recusa a andar com seu povo.

Deus faz a seguinte proposta para Moisés: Eu vou te abençoar, mas não vou contigo. Vou enviar meu anjo e minhas hostes irão contigo, mas eu não irei (Ex 33.2), No entanto, Moises se recusa veementemente.

O que Moises poderia querer?
Deus estaria com o povo através de seus anjos, seus poderes, eles continuariam ainda vitoriosos. Deus promete isto. Mas Moises afirma: “Se sua presença não vai conosco, não nos faca sair deste lugar”.

Por que ele insiste na presença de Deus?

1.     Não bastam as bênçãos do Senhor, precisamos do Senhor das bênçãos. Este é um erro muito comum na teologia retributiva, tão amplamente apregoada em nossos dias. Queremos as bênçãos. Moises diz: Bênçãos não são bastante.

Podemos nos entreter com as coisas boas que Deus dá, esquecendo-nos de que precisamos dele, acima de tudo.

Quando Jesus convidou os 12 apóstolos, depois de passar uma noite em oração para fazer esta escolha, há uma expressão curiosa no texto: “E designou doze para estarem com ele e para os enviar a pregar” (Mc 3.14). A ideia, antes de tudo, não era um chamado para serem missionários, para fazerem a obra, mas para estarem com ele. Jesus queria os discípulos para andarem com ele, para relacionamentos significativos.

É muito fácil fazer a obra de Deus, e até mesmo sermos abençoados na obra de Deus, mas sem sua presença, nada faz sentido. Moises sabe disto e não negocia este grande princípio. Moises sabia quem onde está o Senhor, as bênçãos naturalmente estarão, mas mesmo que as bênçãos aparentemente não venham, estar com Deus é a maior de todas as bênçãos.

A grande experiência da vida não é fazermos para Deus, nem recebermos de Deus, mas sermos de Deus. “Alegrai-vos, não porque os demônios se vos submetem, mas porque os vossos nomes estão escritos no livro da vida”(Lc 10.12). O que conta não é o extenso currículo de coisas realizadas e performances magistrais, mas a vida com Deus.

Deus é fonte inesgotável de graça e benção, ele é a fonte dos recursos, é o Jeová-Jiré, mas ele busca pessoas que o “adorem em espirito em verdade”, isto é, que vivam relacionamentos com ele, sem cosméticos. Na Nova aliança, os cosméticos e véus não são mais efetivos.

Por que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança? Para relacionamento. Por que Deus exige culto? Ritual? Programa? agenda de domingo, ou do sábado? não! Nada do que lhe podemos ofertar, nossos louvores, recursos, ofertas, cânticos, podem acrescentar santidade e glória àquilo que Ele é. Existe algo que eu possa lhe oferecer? Nada, a não ser, relacionamento significativo de amor.

Minha oferta é resposta de gratidão e louvor. Por isto, quando as pessoas no Antigo Testamento tentavam subornar Deus trazendo suas ofertas sem seus corações, ou trazendo ofertas pífias e sem alegria, deixando de adorá-lo com seus bens ele lhes pergunta: “Com tais ofertas, aceitaria eu a vossa pessoa?” (Mal 1.6). Será que Deus estava preocupado com o valor? Não! O que ele queria é que o coração das pessoas viesse junto na adoração, e o culto que prestavam, no entanto, era superficial.

2.     A única forma de saber que recebi graça de Deus é sua companhia, não as suas bênçãos. “Agora, pois, se achei graça aos teus olhos, rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça e ache graça aos teus olhos; e considera que esta nação é teu povo” (Ex 33.13)

O que Moisés percebe é que bênçãos de Deus podem ser resultado da sua bondade e da graça comum, afinal, a Bíblia afirma que “Deus faz chover sobre justos e injustos”. Graça especial, entretanto, é fruto daqueles que receberam a salvação e são chamados a caminhar num relacionamento de amor com Deus.

Moisés dá uma explicação maravilhosa para que Deus ande com eles: “rogo-te que me faças saber neste momento o teu caminho, para que eu te conheça”. Ele queria conhecer a Deus, buscava intimidade. Não se aproximava de Deus pensando no que ele poderia lhe dar, mas imaginando quão maravilhoso seria caminhar com ele e conhecer sua santidade, poder e graça.

Jó viu isto de perto.
Ele era um homem abençoado por Deus. Família bonita, cercado de bens e honra, mas quando tudo ruiu, ele conheceu uma dimensão sobrenatural de Deus, por isto declara: “ Eu conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem”. Ele estava conhecendo o lado oculto da divindade, o mistério que interpenetra na noite escura do seu coração entristecido.

Gente obcecada por benção perde a benção da presença de Deus e se contenta com os benefícios recebidos dele. Nos dias de Jesus, multidões passaram a segui-lo, não por causa da palavra de salvação, nem pelos mistérios que ora lhes eram anunciados, mas por causa do pão. Queriam fazê-lo rei por causa da comida.

Moises entende que a coisa mais importante era o próprio Deus. O argumento de Moises: “Pois como se há de saber que achamos graça aos teus olhos, eu e teu povo? Não é porventura, em andares conosco, de maneira que somos, eu e teu povo, separados de todos os povos da terra?” (Ex 33.16). A benção de ser povo de Deus não é receber benção de Deus, é ser especial para Deus. Muitos servos de Deus na história não tinham nada, foram espoliados de seus bens, perderam sua vida por crerem em Cristo, foram serrados ao meio, perderam status e posição, mas tinham algo maravilhoso: o próprio Deu que andava com eles!

3.     A presença de Deus traz descanso – “Respondeu-lhe: A minha presença irá contigo, e eu te darei descanso” (Ex 32.14).

Alguns anos atrás o livro “O Segredo”, de Bob Procton, se tornou um fenômeno editorial, tanto no Brasil como em outros países. Para Procton, o segredo era “A Lei da Atração”, uma espécie de confissão positiva secular, que dizia o óbvio: “Pensamentos ruins atraem coisas ruins, pensamentos positivos atraem alegria e vida”. Para Moisés, o segredo não era outro senão a presença de Deus. Por isto insistiu com Deus: “Então lhe disse Moisés: Se a tua presença não vai comigo, não nos faca subir deste lugar” (Ex 33.15). Em outras palavras, Sem Deus não dá!

O que precisamos mais se Deus está conosco? “Mesmo que eu ande pelo vale do sombra da morte, a tua vara e teu cajado me consolam” (Sl 23.4). “Deus é meu refúgio e fortaleza, portanto não temeremos ainda que as águas tumultuem e espumejem, e na sua fúria, os montes se estremeçam” (Sl 46.1,2). Não é isto que afirma o salmista?

Conclusão: Sem Deus é que não dá!

A.     Auto ajuda não ajuda muito quando não temos ajuda do Alto

B.     Bênçãos materiais são acessíveis àqueles que não possuem bênçãos espirituais. Então, não é nada incomum ser abençoado e prospero, mesmo não sendo de Deus. O maravilhoso, porém, é ter o Deus das bênçãos.

C.     Nada pode ser substituto da presença de Deus: Nem anjos, nem bênçãos, nem vitórias sobre os inimigos. O que não dá mesmo é viver sem Deus, afinal, sem Deus não dá!



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