Introdução:
Uma frase aparentemente
solta neste texto nos chama a atenção: “Veio
Eliseu a Damasco”.
Eliseu morava em
Israel, outro país, mas se encontra na Síria. Se estivéssemos nas ruas de
Damasco e o encontrássemos poderíamos perguntar surpreso: “Que fazes aqui
Eliseu?”
Pelo
menos duas razões para nos causar estranheza:
a)- Síria era
geograficamente complicada para ir a pé – De onde Eliseu exercia seu ministério
(Norte de Israel), até Damasco, era um trajeto em torno de 350 Km. Eliseu não
possuía aparatos, seu trajeto era feito a pé, considerando 30 km por dia ele
levaria em torno de duas semanas para ir até lá e duas semanas para voltar.
Viagem longa. Logística complicada: Num país de estranha língua, o que comer?
Não era possível encontrar um MacDonald’s ou uma loja de conveniência para comprar comida. A
barreira da língua e a hostilidade complicava ainda mais a sobrevivência.
b)- Síria era
politicamente perigosa para um judeu – Era um povo hostil a Israel e que naqueles
dias estava constantemente em pé de guerra com seu país vizinho, era complicado
para um judeu fazer esta viagem. Veja quantos incidentes de guerra são
registrados apenas nos primeiros capítulos deste 2 Livro de Reis. “Israel
estava em guerra contra a Síria” (2 Rs 6.8). A vinda de Naamã, comandante do
exército da Síria, em busca de um milagre em Israel, pareceu ao rei Jorão um
pretexto para iniciar mais uma guerra (2 Rs 5.7).
Eliseu era respeitado
e conhecido até na Síria. Tão logo o Rei Ben-Hadade, que estava enfermo, soube
que ele se encontrava em Damasco, enviou-lhe mensageiro a perguntar pelo seu
estado de saúde (2 Rs 8.7). como ele se tornou conhecido?
Dois incidentes são
relatados na Bíblia: um encontra-se narrado em 2 Rs 5.1-18, quando Naamã obteve
a cura de sua lepra. Outro encontra-se em 2 Rs 6.8-23, quando o rei mandou
prender a Eliseu, e viu seu exército, completamente desatinado, totalmente
dominado por uma estranha força, sendo levado por Eliseu até o centro de
Samaria, capital de Israel, sem que nenhum deles morresse. Estes incidentes
tornam o profeta uma pessoa conhecida, temida e respeitada na Síria, embora ele
fosse apenas um homem.
Apesar de todos os
relatos, o texto lido afirma que “Veio
Eliseu a Damasco”. Persiste, portanto, a pergunta: O que Eliseu veio fazer
ali?
A resposta parece
clara. Ele foi entregar uma profecia sobre a morte de Ben-Hadade e sobre
Hazael, comandante do exército com quem se encontrou pessoalmente e profetizou
que ele seria o futuro rei da Síria, apesar de Hazael ter sido terrível para
Israel, conforme o próprio profeta disse que ele seria (2 Rs 8.12).
Quais as lições que
podemos aprender para nossos dias sobre ao lermos tais incidentes?
1.
Deus controla a
história, não apenas de seu povo, mas de todas as nações. A Síria podia
guerrear contra o povo de Deus e até mesmo ter vitória sobre ela, se Deus
permitisse, mas não podia sair do controle do Deus Eterno.
Esta verdade é muito
clara em toda a Bíblia.
Os Salmos fazem
questão de declarar que Deus é o Senhor de toda a terra. “Batei
palmas, todos os povos; aclamai a Deus com voz de triunfo. Porque o Senhor
Altíssimo é tremendo, e Rei grande sobre toda a terra”
(Sl 147.1,2). Por ele ser o rei de toda terra, ele é digno de todo louvor. O Sl
99.1 afirma: “Reina o Senhor; tremam os
povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abale-se a terra” (Sl
99.1).
O Livro de Daniel
contém 12 capítulos. Seis deles relatam a vida de Daniel e seus amigos,
Hananias, Mizael e Azarias, sendo levados para o cativeiro Babilônico, trabalhando
num sistema corrupto e perverso. Os outros seis são repletos de profecias, tão
precisos e detalhados que críticos da Bíblia afirmam se tratarem de profecias
tardias, isto é, os autores da Bíblia teriam fraudado as profecias,
manipulando-as, escrevendo-as apenas depois dos fatos acontecidos. Na verdade,
suas afirmações são realmente maravilhosas, falando com precisão da ascensão e
queda de impérios, algumas destas profecias dadas 600 anos antes dos fatos,
quanto ao tempo, anunciando que a vinda do Messias, o redentor de Israel, seria
apenas de setenta semanas de anos (Dn 9.24), e quanto à forma, falando de
reinos ainda distantes tanto do império persa, medos e romanos.
Quando Deus julga o
rei Nabucodonozor, que teve um surto esquizofrênico, animalizando-se e comendo
grama, completamente perdido na sua doença mental, Daniel afirma que isto
aconteceu para que ele soubesse que “o
ceu domina”(Dn 4.26).
As Escrituras Sagradas
sempre ensinam este domínio universal de Deus: “Falou Daniel, dizendo: Seja bendito o nome
de Deus de eternidade a eternidade; porque
dele é a sabedoria e o poder. É ele quem muda os tempos e as estações; ele
remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento
aos inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em
trevas, e com ele mora a luz”(Dn 2.21,22).
Deus envia Eliseu a
Damasco para declarar que os acontecimentos daquela nação pagã também estavam
sob seu controle e domínio. Ele não seria surpreendido por um fato novo e pelos
eventos políticos que se dariam num futuro próximo naquela nação.
2.
Deus pode usar nossas
vidas, em qualquer momento e em qualquer circunstância, desde que estejamos
debaixo da orientação de seu Espírito –
Esta
é a segunda lição que aprendemos neste texto.
Em
2 Rs 8, encontramos dois personagens bíblicos que estão completamente
deslocados quanto aos ambientes que estão frequentando.
O
primeiro é Geazi.
Ele
era um seminarista, pobre e consagrado, que estudava por sua opção vocacional,
na escola de profetas dirigida por Elizeu. Aquele grupo era uma espécie de
seminário que, andando com seu mestre, aprendia o segredo da vida de santidade
e temor a Deus. De fato, segundo os relatos bíblicos, eles dependiam
diretamente de Deus, porque não tinham fontes de renda e viviam literalmente
pela fé. Algumas vezes tiveram situações limites por causa de comida e completa
ausência de bens financeiros. Pelo relato bíblico, Geazi se destacou no meio
deste grupo de estudantes, tanto que Eliseu o elegeu seu discípulo mais próximo,
que era chamado de “o moço do homem de Deus” (2 Rs 5.20). Ele servia ao profeta
Elizeu, preparava sua comida, buscava água. Provavelmente ele teria sido
escolhido por causa de sua vontade de servir, ajudar, e pelo seu interesse
pessoal e carisma.
Geazi,
porém, certa vez movido por ganancia se perdeu na sua história. Envolveu-se num
caso de corrupção, mentiu, se deixou subornar e acabou sendo expulso do grupo e
posteriormente foi atraído para o centro politico de amizade de Jorão, um rei
que declarou publicamente que “Deus era seu inimigo”. Ele deixou o seminário e
foi para o palácio, perdeu sua atração pelas coisas espirituais e foi atraído
pelo poder e glamour do palácio, e ali conseguiu ser uma daquelas pessoas que
andavam próximas ao rei. Ele queria o poder e obteve, embora tivesse adquirido
uma grave doença no corpo e agora no coração. Geazi perdeu as referências do
sagrado.
Quando
vemos Geazi ao lado daquele rei ímpio, depois de tantas experiências
maravilhosas com Deus, ficamos com vontade perguntar: “O que você faz aí
Geazi?”
O
segundo é Eliseu.
O
texto o descreve como alguém num ambiente completamente diferente do seu. A
frase: “Veio Eliseu a Damasco” (2 Rs
8.7), parece enfatizar este aspecto incomum do seu ministério. Ele profetizava
nos desertos de Israel, agora encontra-se na Síria, 300 kms de distância, num
outro país, de língua diferente e deuses diferentes. Nada a ver. Temos
igualmente a vontade de perguntar: “O que você faz ai na Síria, Eliseu?”
Geazi
e Eliseu, entretanto, possuem motivos e razões diferentes para estarem onde
estão.
Enquanto
um busca glória, poder e reconhecimento, o outro é movido por obediência a
Deus. Da mesma forma como aconteceu com Jonas, o profeta desobediente que
resistiu a ordem de Deus para ir até Nínive, aqui vemos a história de Eliseu
que não se recusa a ser profeta, nem mesmo na Síria, um país que naqueles
momentos da história era o maior inimigo do povo de Deus. Eliseu busca a
obediência e submissão a Deus. Por estar sob o controle do Espirito Santo, ele
será usado onde estiver. E foi o que aconteceu. Ali, com lágrimas, anunciou os
eventos que ocupariam as manchetes daquele país nos próximos dias: A ascensão
de Hazael, rei sobre aquele país.
Com
isto aprendemos, que não importa o ambiente em que estejamos, Deus pode usar nossas
vidas, desde que estejamos dominados pelo seu Espírito. Ele vai nos usar para
sua honra e glória, não importa onde.
Lembro-me de ter sido
convidado para a festa de aniversário num campo missionário que pastoreei, por
uma família que estava se aproximando de Deus. Eu não sabia que tipo de música
e ambiente encontraria lá, mas me recordo que a música era de baixíssima
qualidade, assim como o que bebiam era de altíssima quantidade. Todos bebiam, e
muito.
Deslocado naquele
ambiente, procurei parecer simpático e me assentei a uma mesa mais de
periferia, quando um casal se aproximou de mim perguntando se eu era o pastor.
Assentaram-se ao meu lado e começaram a desabafar. O ambiente era profundamente
inadequado, mas a dor deles era grande demais e precisavam conversar, e ali,
naquele lugar, me vi compartilhando o amor e o perdão de Deus para suas vidas,
eles chorando e a graça de Deus operando. A partir daquele dia, passaram a
frequentar a igreja de onde nunca mais saíram. Só a deixaram quando mudaram da
cidade.
Quando a graça de Deus
está presente, Deus fará dos lugares improváveis, um lugar para derramar seu
amor, e nos ambientes mais imprevisíveis, quando a presença do Senhor se
manifesta, Deus poderá nos usar e abençoar.
Eliseu estava numa
terra estranha, no meio de um povo hostil, e Deus o usou para anunciar sua
palavra.
Jonas estava numa
cidade ímpia e perversa, e apesar de sua resistência, quando proferiu o que
Deus lhe mandou proferir, trouxe livramento e salvação para milhares de vida.
Conclusão:
O improvável lugar da graça.
Do ponto de vista
humano e lógico, nenhum lugar é mais improvável para a graça de Deus se
manifestar, do que no evento central de toda a Bíblia: A cruz de Cristo.
O centro do Evangelho,
a mensagem central é a morte de Cristo.
O cenário é
improvável.
Tão inóspito que até o
Filho de Deus que nela está crucificado, grita ao Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Não é estranho este
grito de dor de nosso Senhor?
Se estivéssemos ali
presentes, também poderíamos perguntar: “O que o Senhor está fazendo nesta
cruz?”. O Senhor é o Deus encarnado, o Senhor não pecou, o seu julgamento é uma
farsa, não há crime nenhum em você. O que você está fazendo ai?
Que lugar improvável
para Deus estar...
Que lugar improvável
para a manifestação do amor de Deus.
Na carta aos Gálatas,
o apóstolo Paulo afirma que a cruz é lugar daqueles que são desprezados por
Deus. “Cristo nos resgatou da maldição da
lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito:
Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gl 3.13). Então, o que
Jesus está fazendo ali?
Naquele lugar
improvável, ele estava pagando o preço dos nossos pecados. Ele é o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo, e através deste sacrifício, ele mesmo se deixa
imolar, para que a nossa culpa e pecado, não mais nos pertencessem, mas fossem
por ele redimidas. Ele assumiu nosso lugar.
“Mas agora, em Cristo Jesus, vós, os que antes estáveis longe, fostes
aproximados pelo sangue de Cristo”(Ef 3.13).
Aquele lugar não era
de Cristo, era meu.
Ele estava
desambientado.
Seu lugar era a
glória, não o martírio.
Se porém, lhe
perguntamos: “O que fazes ai, Jesus?”, ele responderá: “Eu estou pagando o
preço de sua culpa e de seu pecado. Nada do que você fizer o tornará puro aos
olhos de Deus, mas o meu sangue é o preço que estou pagando para sua salvação.
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