sábado, 7 de janeiro de 2017

2 Rs 8.7 Veio Eliseu a Damasco




Introdução:

Uma frase aparentemente solta neste texto nos chama a atenção: “Veio Eliseu a Damasco”.
Eliseu morava em Israel, outro país, mas se encontra na Síria. Se estivéssemos nas ruas de Damasco e o encontrássemos poderíamos perguntar surpreso: “Que fazes aqui Eliseu?”

Pelo menos duas razões para nos causar estranheza:

a)- Síria era geograficamente complicada para ir a pé – De onde Eliseu exercia seu ministério (Norte de Israel), até Damasco, era um trajeto em torno de 350 Km. Eliseu não possuía aparatos, seu trajeto era feito a pé, considerando 30 km por dia ele levaria em torno de duas semanas para ir até lá e duas semanas para voltar. Viagem longa. Logística complicada: Num país de estranha língua, o que comer? Não era possível encontrar um MacDonald’s ou uma  loja de conveniência para comprar comida. A barreira da língua e a hostilidade complicava ainda mais a sobrevivência.

b)- Síria era politicamente perigosa para um judeu – Era um povo hostil a Israel e que naqueles dias estava constantemente em pé de guerra com seu país vizinho, era complicado para um judeu fazer esta viagem. Veja quantos incidentes de guerra são registrados apenas nos primeiros capítulos deste 2 Livro de Reis. “Israel estava em guerra contra a Síria” (2 Rs 6.8). A vinda de Naamã, comandante do exército da Síria, em busca de um milagre em Israel, pareceu ao rei Jorão um pretexto para iniciar mais uma guerra (2 Rs 5.7).

Eliseu era respeitado e conhecido até na Síria. Tão logo o Rei Ben-Hadade, que estava enfermo, soube que ele se encontrava em Damasco, enviou-lhe mensageiro a perguntar pelo seu estado de saúde (2 Rs 8.7). como ele se tornou conhecido?
Dois incidentes são relatados na Bíblia: um encontra-se narrado em 2 Rs 5.1-18, quando Naamã obteve a cura de sua lepra. Outro encontra-se em 2 Rs 6.8-23, quando o rei mandou prender a Eliseu, e viu seu exército, completamente desatinado, totalmente dominado por uma estranha força, sendo levado por Eliseu até o centro de Samaria, capital de Israel, sem que nenhum deles morresse. Estes incidentes tornam o profeta uma pessoa conhecida, temida e respeitada na Síria, embora ele fosse apenas um homem.

Apesar de todos os relatos, o texto lido afirma que “Veio Eliseu a Damasco”. Persiste, portanto, a pergunta: O que Eliseu veio fazer ali?
A resposta parece clara. Ele foi entregar uma profecia sobre a morte de Ben-Hadade e sobre Hazael, comandante do exército com quem se encontrou pessoalmente e profetizou que ele seria o futuro rei da Síria, apesar de Hazael ter sido terrível para Israel, conforme o próprio profeta disse que ele seria (2 Rs 8.12).

Quais as lições que podemos aprender para nossos dias sobre ao lermos tais incidentes?

1.     Deus controla a história, não apenas de seu povo, mas de todas as nações. A Síria podia guerrear contra o povo de Deus e até mesmo ter vitória sobre ela, se Deus permitisse, mas não podia sair do controle do Deus Eterno.

Esta verdade é muito clara em toda a Bíblia.
Os Salmos fazem questão de declarar que Deus é o Senhor de toda a terra. Batei palmas, todos os povos; aclamai a Deus com voz de triunfo. Porque o Senhor Altíssimo é tremendo, e Rei grande sobre toda a terra (Sl 147.1,2). Por ele ser o rei de toda terra, ele é digno de todo louvor. O Sl 99.1 afirma: “Reina o Senhor; tremam os povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abale-se a terra” (Sl 99.1).

O Livro de Daniel contém 12 capítulos. Seis deles relatam a vida de Daniel e seus amigos, Hananias, Mizael e Azarias, sendo levados para o cativeiro Babilônico, trabalhando num sistema corrupto e perverso. Os outros seis são repletos de profecias, tão precisos e detalhados que críticos da Bíblia afirmam se tratarem de profecias tardias, isto é, os autores da Bíblia teriam fraudado as profecias, manipulando-as, escrevendo-as apenas depois dos fatos acontecidos. Na verdade, suas afirmações são realmente maravilhosas, falando com precisão da ascensão e queda de impérios, algumas destas profecias dadas 600 anos antes dos fatos, quanto ao tempo, anunciando que a vinda do Messias, o redentor de Israel, seria apenas de setenta semanas de anos (Dn 9.24), e quanto à forma, falando de reinos ainda distantes tanto do império persa, medos e romanos.
Quando Deus julga o rei Nabucodonozor, que teve um surto esquizofrênico, animalizando-se e comendo grama, completamente perdido na sua doença mental, Daniel afirma que isto aconteceu para que ele soubesse que “o ceu domina”(Dn 4.26). 
As Escrituras Sagradas sempre ensinam este domínio universal de Deus: “Falou Daniel, dizendo: Seja bendito o nome de Deus de eternidade a eternidade; porque dele é a sabedoria e o poder. É ele quem muda os tempos e as estações; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes. Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com ele mora a luz”(Dn 2.21,22).
Deus envia Eliseu a Damasco para declarar que os acontecimentos daquela nação pagã também estavam sob seu controle e domínio. Ele não seria surpreendido por um fato novo e pelos eventos políticos que se dariam num futuro próximo naquela nação.

2.     Deus pode usar nossas vidas, em qualquer momento e em qualquer circunstância, desde que estejamos debaixo da orientação de seu Espírito –
Esta é a segunda lição que aprendemos neste texto.
Em 2 Rs 8, encontramos dois personagens bíblicos que estão completamente deslocados quanto aos ambientes que estão frequentando.

O primeiro é Geazi.
Ele era um seminarista, pobre e consagrado, que estudava por sua opção vocacional, na escola de profetas dirigida por Elizeu. Aquele grupo era uma espécie de seminário que, andando com seu mestre, aprendia o segredo da vida de santidade e temor a Deus. De fato, segundo os relatos bíblicos, eles dependiam diretamente de Deus, porque não tinham fontes de renda e viviam literalmente pela fé. Algumas vezes tiveram situações limites por causa de comida e completa ausência de bens financeiros. Pelo relato bíblico, Geazi se destacou no meio deste grupo de estudantes, tanto que Eliseu o elegeu seu discípulo mais próximo, que era chamado de “o moço do homem de Deus” (2 Rs 5.20). Ele servia ao profeta Elizeu, preparava sua comida, buscava água. Provavelmente ele teria sido escolhido por causa de sua vontade de servir, ajudar, e pelo seu interesse pessoal e carisma.
Geazi, porém, certa vez movido por ganancia se perdeu na sua história. Envolveu-se num caso de corrupção, mentiu, se deixou subornar e acabou sendo expulso do grupo e posteriormente foi atraído para o centro politico de amizade de Jorão, um rei que declarou publicamente que “Deus era seu inimigo”. Ele deixou o seminário e foi para o palácio, perdeu sua atração pelas coisas espirituais e foi atraído pelo poder e glamour do palácio, e ali conseguiu ser uma daquelas pessoas que andavam próximas ao rei. Ele queria o poder e obteve, embora tivesse adquirido uma grave doença no corpo e agora no coração. Geazi perdeu as referências do sagrado.
Quando vemos Geazi ao lado daquele rei ímpio, depois de tantas experiências maravilhosas com Deus, ficamos com vontade perguntar: “O que você faz aí Geazi?”

O segundo é Eliseu.
O texto o descreve como alguém num ambiente completamente diferente do seu. A frase: “Veio Eliseu a Damasco” (2 Rs 8.7), parece enfatizar este aspecto incomum do seu ministério. Ele profetizava nos desertos de Israel, agora encontra-se na Síria, 300 kms de distância, num outro país, de língua diferente e deuses diferentes. Nada a ver. Temos igualmente a vontade de perguntar: “O que você faz ai na Síria, Eliseu?”

Geazi e Eliseu, entretanto, possuem motivos e razões diferentes para estarem onde estão.
Enquanto um busca glória, poder e reconhecimento, o outro é movido por obediência a Deus. Da mesma forma como aconteceu com Jonas, o profeta desobediente que resistiu a ordem de Deus para ir até Nínive, aqui vemos a história de Eliseu que não se recusa a ser profeta, nem mesmo na Síria, um país que naqueles momentos da história era o maior inimigo do povo de Deus. Eliseu busca a obediência e submissão a Deus. Por estar sob o controle do Espirito Santo, ele será usado onde estiver. E foi o que aconteceu. Ali, com lágrimas, anunciou os eventos que ocupariam as manchetes daquele país nos próximos dias: A ascensão de Hazael, rei sobre aquele país.
Com isto aprendemos, que não importa o ambiente em que estejamos, Deus pode usar nossas vidas, desde que estejamos dominados pelo seu Espírito. Ele vai nos usar para sua honra e glória, não importa onde.
Lembro-me de ter sido convidado para a festa de aniversário num campo missionário que pastoreei, por uma família que estava se aproximando de Deus. Eu não sabia que tipo de música e ambiente encontraria lá, mas me recordo que a música era de baixíssima qualidade, assim como o que bebiam era de altíssima quantidade. Todos bebiam, e muito.
Deslocado naquele ambiente, procurei parecer simpático e me assentei a uma mesa mais de periferia, quando um casal se aproximou de mim perguntando se eu era o pastor. Assentaram-se ao meu lado e começaram a desabafar. O ambiente era profundamente inadequado, mas a dor deles era grande demais e precisavam conversar, e ali, naquele lugar, me vi compartilhando o amor e o perdão de Deus para suas vidas, eles chorando e a graça de Deus operando. A partir daquele dia, passaram a frequentar a igreja de onde nunca mais saíram. Só a deixaram quando mudaram da cidade.
Quando a graça de Deus está presente, Deus fará dos lugares improváveis, um lugar para derramar seu amor, e nos ambientes mais imprevisíveis, quando a presença do Senhor se manifesta, Deus poderá nos usar e abençoar.
Eliseu estava numa terra estranha, no meio de um povo hostil, e Deus o usou para anunciar sua palavra.
Jonas estava numa cidade ímpia e perversa, e apesar de sua resistência, quando proferiu o que Deus lhe mandou proferir, trouxe livramento e salvação para milhares de vida.

Conclusão:
O improvável lugar da graça.

Do ponto de vista humano e lógico, nenhum lugar é mais improvável para a graça de Deus se manifestar, do que no evento central de toda a Bíblia: A cruz de Cristo.
O centro do Evangelho, a mensagem central é a morte de Cristo.

O cenário é improvável.
Tão inóspito que até o Filho de Deus que nela está crucificado, grita ao Pai: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Não é estranho este grito de dor de nosso Senhor?
Se estivéssemos ali presentes, também poderíamos perguntar: “O que o Senhor está fazendo nesta cruz?”. O Senhor é o Deus encarnado, o Senhor não pecou, o seu julgamento é uma farsa, não há crime nenhum em você. O que você está fazendo ai?

Que lugar improvável para Deus estar...
Que lugar improvável para a manifestação do amor de Deus.

Na carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo afirma que a cruz é lugar daqueles que são desprezados por Deus. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” (Gl 3.13). Então, o que Jesus está fazendo ali?
Naquele lugar improvável, ele estava pagando o preço dos nossos pecados. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e através deste sacrifício, ele mesmo se deixa imolar, para que a nossa culpa e pecado, não mais nos pertencessem, mas fossem por ele redimidas. Ele assumiu nosso lugar.
Mas agora, em Cristo Jesus, vós, os que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo”(Ef 3.13).
Aquele lugar não era de Cristo, era meu.
Ele estava desambientado.
Seu lugar era a glória, não o martírio.

Se porém, lhe perguntamos: “O que fazes ai, Jesus?”, ele responderá: “Eu estou pagando o preço de sua culpa e de seu pecado. Nada do que você fizer o tornará puro aos olhos de Deus, mas o meu sangue é o preço que estou pagando para sua salvação.

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