Introdução:
Nos últimos
dias temos visto uma reação incomum da
igreja em relação a temas públicos como arte, política e questões do gênero.
Alguns irmãos estão se sentindo acuados e eventualmente apavorados diante do
poder das trevas, dando um poder excessivo a mídia e ao diabo vivendo com medo
e sem esperança.
Hoje queria pensar sobre a questão da
esperança diante de oposição.
A igreja de Cristo tem muita
experiência quanto a este assunto. Durante milênios ela tem sofrido todo tipo
de acusação, perseguição, oposição. Acho que já temos um certo background que
nos ajuda a enfrentar e a responder a oposição velada ou aberta em relação a Fe
que professamos.
Se Hananias, Mizael e Azarias ficassem
com medo, não teriam enfrentado a Babilönia com todo seu glamour e poderio. Se
os apóstolos tivessem levado em conta os riscos ao pregarem o evangelho mesmo
quando tinham sido explicitamente proibidos, teriam se fechado numa atitude de
vitimização e o cristianismo teria morrido ali (At 4.19). Se a igreja Primitiva
ficasse se justificando diante da ameaça de um dos mais longos e poderosos
impérios já existentes na terra (500 anos), não teriam avançado com tanta
eficiência sobre a decadente e degradada sociedade romana.
Recentemente a chanceler
alemã Ângela Merkel, que é filha de pastor
luterano e nunca escondeu sua fé (atualmente a
mulher mais poderosa do mundo) numa palestra na Universidade de
Berna, Suíça, foi questionada sobre o “perigo” que os imigrantes muçulmanos
representariam para a Europa e sua
resposta foi fantástica. A reação de Merkel causou grande desconforto
entre os ouvintes, pois foi um tanto inesperada. Afinal, pareceram ter saído de
uma líder religiosa, não uma liderança política. Até o momento nenhuma igreja
deu declarações tão incisivas sobre o assunto.
Ela disse acreditar que a melhor resposta é os europeus terem “a coragem
de ser cristãos, de fomentar o diálogo (com os muçulmanos), de voltar à Igreja,
de se aprofundar de novo na Bíblia”. Depois acrescentou, “se você perguntar às
crianças em idade escolar o que é o Pentecostes, as respostas provavelmente
serão muito decepcionantes”. Com isto ela quis mostrar que não haveria motivos
para se ter medo do Islã. Merkel disse que “Gostaria de ver mais pessoas tendo
a coragem de dizer: Eu sou cristão”. Lembrou que na Alemanha a frequência à
igreja caiu significativamente. Sua sugestão é que ao invés de ter medo das
pessoas de outra religião, as pessoas deveriam voltar para as raízes do
continente. Lembrou que “nossa tradição é assistir a um culto na igreja e
aprender os fundamentos bíblicos”.
E nesta direção que desejo colocar esta homilia de hoje.
Precisamos entender que o maior inimigo que enfrentamos não é a oposição
que vem de fora, nem as acusações da mídia, nem a pressão moral que conspira
contra valores ou a igreja. O maior problema encontra-se na qualidade de fé que
temos professado. Como diz o velho ditado: “Descobrimos o inimigo e ele é um de
nós.” Júlio A. Ferreira afirmou: “Nada, exceto a infidelidade, pode destruir a
igreja, nem mesmo diabo”.
Diante da discussão sobre ideologia do gênero, a depravação explícita da
arte, movimentos LGBTs, filosofias pagãs e seculares que nossos filhos ouvem
nas escolas, ficamos como animais assustados e acuados, quando na verdade o
nosso maior medo deve ser a qualidade de fé que professamos e como tem sido
nosso discipulado cristão. Todas estas formas liberais, contra culturais e
pecaminosas, agressivas aos valores cristãos e a fé já se manifestaram na
historia, não há nada novo nisto. “A velha moralidade nada mais e que a antiga
imoralidade” (Schaeffer).
A questão fundamental é: Como esta
a vida da igreja?
Nosso temor deve ser que qualidade de crentes estamos produzindo, o nível
de discipulado que as igrejas triunfalistas e consumistas estão gerando, qual
compromisso temos como o evangelho e o reino de Deus em nossos dias? Que
compromisso temos com a Palavra de Deus?
O temor não deve ser o que o sistema está produzindo, nem a forca do
pensamento secular e humanista, afinal “o mundo jaz no maligno” e nem mesmo a
força do diabo “nosso adversário”, que anda em derredor , procurando alguém
para devorar, pode nos destruir: “resisti ao diabo e ele fugirá de vós” (1 Pe
5.8).
No primeiro período da década de 60
A.D., os cristãos foram perseguidos duramente em Roma. O Imperador naqueles
dias era Nero. Pedro e Paulo perderam suas vidas durante o seu império. O
Apóstolo Pedro, percebendo que as coisas iam de mal a pior, escreveu esta carta
de instrução e encorajamento aos cristãos espalhados pelo Império Romano. Os
cristãos estavam sendo perseguidos. Muitas acusações surgiram contra eles:
· Os cristãos foram acusados de antropófagos, pois diziam
comer o sangue e a carne de um certo Jesus
· Foram acusados de praticar incesto, porque casavam-se com
suas irmãs.
· Foram taxados de revolucionários e rebeldes, pois não se curvavam
diante dos deuses pagãos, nem da estátua de César.
· Nero detestava os cristãos. Outros imperadores também os
perseguiram. Pedro escreve esta carta para fortalecer os irmãos.
Como eles
deveriam reagir, que resposta dar a todo este contexto de oposição?
1. Eles deveriam seguir o modelo de vida
de Jesus - “…armai-vos tambem vós do
mesmo pensamento…” (1
Pe. 4:1). Como Jesus lidou com a oposição, as acusações que sofreu, qual era sua
reação diante de pessoas que brutalmente feriam a glória de Deus? Se estilo de
vida deve nos inspirar.
Nada
é mais eficaz do que viver e
agir como Cristo fez. Jesus deixou o pecado. Ele tinha como sua única opção a
de fazer tudo para glorificar a Deus. Ele não podia agir de forma que ferisse o
coração do Pai celestial. Ele não deixou que o pecado o orientasse a sua vida.
Ao viver de forma santa, a igreja emudece os acusadores.
Quando os opositores de Daniel quiseram destitui-lo do alto posto que tinha
no palácio, eles disseram. “Nunca
acharemos ocasião alguma para acusar a este Daniel, se não a procurarmos contra
ele na lei do seu Deus.” (Dn 6.5). Eles chegaram à conclusão que a única
coisa que poderia acusá-lo seria a sua fé. Isto é o que acontece quando existe
integridade e caráter. Os inimigos só vão encontrar do que nos acusar na nossa fé,
na forma de culto que prestamos, na devoção que demonstramos a Deus. Poderão
nos chamar de carola, fanáticos, supersticiosos, místicos, mas vão ter que
parar aqui.
Jesus foi acusado e levado diante do tribunal de Roma. Pilatos, corrupto
e populista, o enviou para a morte, mas antes de sua execução precisou fazer um
veredito absurdo e contraditório. “Não vejo nele crime algum”. Qual tribunal do
mundo, por mais corrupto que seja, seria capaz de condenar um homem depois de
isentá-lo? Historicamente é mais fácil criar falsos pressupostos, trazer falsas
testemunhas, mas dar um veredito declarando uma pessoa inocente e ainda assim
condená-lo é lgo absurdamente inconsistente e incoerente.
Então, se quisermos enfrentar a oposição de forma efetiva, precisamos
seguir o modelo de Cristo.
2.
Eles precisariam deixar de viver segundo o estilo pagão - Pedro fala
das paixões carnais – “…já não vivais de
acordo com as paixões dos homens”. (1 Pe 4.2).
Pedro mostra aos
irmãos que eles não podiam mais viver desta forma, porque eles estavam vindo daquela
vida de depravação. “porque basta o tempo decorrido para terdes executado a
vontade dos gentios”. Ele diz: “vocês já agiram assim, este foi o
comportamento de vocês, em nada diferente ao que os opositores de sua vida nos
dias de hoje”.
O homem sem Deus
é orientado por paixões. Este é o modus
operandi da vida de um homem distanciado de Deus. Agir de acordo com as
paixões mundanas é o procedimento habitual. Eles não fazem isto porque querem
fazer o mal, eles fazem isto porque são incapazes de viver sem satisfazer suas
paixões, eles são dominados pelo pecado, mas se quisermos viver de
forma diferente hoje, temos que abandonar os impulsos do velho homem, que “se corrompe segundo as concupiscências do
engano” (Ef 4.22).
3.
Eles deveriam ignorar as pressões
sociais - “…difamando-vos,
estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão”.(1 Pe 4.4).
O que a palavra
de Deus nos ensina aqui é muito importante: O homem sem Deus não consegue
entender porque alguém não faria o que ele faz. Eles estranham... Qual é o
resultado? Oposição. Difamação.
Os cristãos
foram acusados de todas as formas no império romano. Eram acusados de praticar
incesto, de desrespeitarem a lei, de segregação social. Eles continuaram
vivendo vida santa e dando testemunho do Cristo ressurreto. Trezentos anos
depois, o império romano se rendia à conspiração silenciosa e santa da igreja.
Estas atitudes
estão presentes hoje.
Muito se fala
hoje de discriminação sexual, mas quanto ouvimos falar de discriminação
religiosa? Recentemente (outubro 2017) o articulista J. R. Guzzo da Revista
Veja publicou o artigo "Gente incômoda" afirmando que os evangélicos
são o grupo religioso que mais cresce no Brasil e os caracteriza como
"incômodos" para grande parte da população brasileira. O apóstolo
Pedro afirma: “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem aventurados
sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus. Não sofra, porém,
nenhum de vós, como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se
intromete em negócios de outrem; mas se sofrer como cristão, não se envergonhe
disso; antes, glorifique a Deus com esse nome” (1 Pe 4.14,15).
Portanto, este
tipo de comentário feito pelo Sr. Guzzo, pouca diferença faz para a vida da
igreja. O povo de Cristo muitas vezes foi execrado em praça pública por sua fé,
mas o que não podemos permitir é que a igreja dê motivos éticos para que as
acusações tenham fundamento.
Para vencer esta ferrenha oposição,
temos algumas armas altamente eficientes:
A. Nossa
união com Cristo: “Ora, tendo Cristo
sofrido na carne, armai-vos vós do mesmo pensamento…” (1 Pe.4.1). “O sofrimento e morte de Jesus
conquistaram o pecado fazendo-nos penetrar na sua vida ressurreta”[1] Jesus carregou sobre si nossos pecados
em seu corpo, para que, tendo morrido para o pecado, vivamos para a justiça (Rm
6.8-12). Nunca confie na sua carne (Fp 3.2-11), mas mantenha sua comunhão com Cristo
para estar firme no dia mau, na hora da oposição e enfrentamento.
B. Uma nova atitude mental – “Armai-vos também vós do mesmo
pensamento”. (1 Pe 4.1) Desta forma, entendendo o propósito de Jesus e
sua vitória sobre o pecado, somos motivados a viver em santidade.
O que fez Jesus?
“pois ele, quando ultrajado, não revidava com
ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga
retamente” (1 Pe 2.23). Este era o processo mental de Jesus, este era seu
pensamento. Glorificar o pai com seu estilo de vida.
C. Uma compreensão clara do processo de
deterioração resultante do pecado – (1 Pe 4.3,4; Rm 6.21) “Por isso, difamando-vos,
estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão” (1
Pe 4.4).
Pecado gera decadência:
dissolução; concupiscência (desejo estragado); borracheiras (degradação moral,
corrupção); orgias (imoralidade e perversão sexual), bebedices; detestáveis
idolatrias. Tudo isto é um processo de destruição da alma e da dignidade
humana.
Já vimos isto na
história. Tais atitudes degradantes cansam as pessoas, mesmo uma sociedade
pagã, não suporta este nível baixo de moral. O império romano caiu, apesar de
sua riqueza e pujança, não sobreviveu. Seus excessos morais foram tão
aviltantes que o castelo ruiu. Assim acontecerá ao homem que segue este
processo de auto destruição psicológica e moral.
D. Entendendo que devassidão moral traz juízo de
Deus – “Os quais hão de prestar contas àquele
que é competente para julgar vivos e mortos” (1 Pe 4.5).
A sociedade pagã, não tem conceito de pecado, e
muito menos de juízo. Contudo, uma das coisas que trazem profunda mudança em
nossa atitude é a compreensão de que estamos diante de um Deus santo.
Conclusão:
Não precisamos ficar assustados com as acusações, e
com estes levantes que temos presenciado nos últimos dias. Nada disto deve
causar estranheza. Historicamente os cristãos foram acusados de todas as formas
no império romano. Permaneceram firmes na graça e prevaleceram. Assim também se
dará nesta geração. A igreja é vitoriosa, porque Jesus tem um compromisso por
este povo por quem ele morreu na cruz.
Isto me traz algumas aplicações:
Primeira, não preciso viver sem esperança e com medo de que o cristianismo, nossos valores e convicções serão destruídos. A Igreja é de Cristo. “Todo aquele que contra ela se levantar será reduzido a pó”. Isto me dá esperança e ousadia.
Segunda, isto me desafia. Ao invés de ficar julgando e olhando para fora, preciso olhar para dentro. “Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?” (1 Pe 4.17). Isto deve gerar em mim temor e santidade.
Isto me traz algumas aplicações:
Primeira, não preciso viver sem esperança e com medo de que o cristianismo, nossos valores e convicções serão destruídos. A Igreja é de Cristo. “Todo aquele que contra ela se levantar será reduzido a pó”. Isto me dá esperança e ousadia.
Segunda, isto me desafia. Ao invés de ficar julgando e olhando para fora, preciso olhar para dentro. “Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?” (1 Pe 4.17). Isto deve gerar em mim temor e santidade.
[1] . Stott, John R. W.
– The Message of first peter – Bible Speaks Today – Downers Grove, Il. Ingter
Varsity Press, 1988.pg.
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