sábado, 21 de outubro de 2017

1 Pe 4.1-7 “Esta gente incômoda”… Como responder a oposição?

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Introdução:

Nos últimos dias temos visto uma reação incomum da igreja em relação a temas públicos como arte, política e questões do gênero. Alguns irmãos estão se sentindo acuados e eventualmente apavorados diante do poder das trevas, dando um poder excessivo a mídia e ao diabo vivendo com medo e sem esperança.
Hoje queria pensar sobre a questão da esperança diante de oposição.
A igreja de Cristo tem muita experiência quanto a este assunto. Durante milênios ela tem sofrido todo tipo de acusação, perseguição, oposição. Acho que já temos um certo background que nos ajuda a enfrentar e a responder a oposição velada ou aberta em relação a Fe que professamos.
Se Hananias, Mizael e Azarias ficassem com medo, não teriam enfrentado a Babilönia com todo seu glamour e poderio. Se os apóstolos tivessem levado em conta os riscos ao pregarem o evangelho mesmo quando tinham sido explicitamente proibidos, teriam se fechado numa atitude de vitimização e o cristianismo teria morrido ali (At 4.19). Se a igreja Primitiva ficasse se justificando diante da ameaça de um dos mais longos e poderosos impérios já existentes na terra (500 anos), não teriam avançado com tanta eficiência sobre a decadente e degradada sociedade romana.
Recentemente a chanceler alemã Ângela Merkel, que é filha de pastor luterano e nunca escondeu sua fé (atualmente a mulher mais poderosa do mundo) numa palestra na Universidade de Berna, Suíça, foi questionada sobre o “perigo” que os imigrantes muçulmanos representariam para a Europa e sua resposta foi fantástica. A reação de Merkel causou grande desconforto entre os ouvintes, pois foi um tanto inesperada. Afinal, pareceram ter saído de uma líder religiosa, não uma liderança política. Até o momento nenhuma igreja deu declarações tão incisivas sobre o assunto.
Ela disse acreditar que a melhor resposta é os europeus terem “a coragem de ser cristãos, de fomentar o diálogo (com os muçulmanos), de voltar à Igreja, de se aprofundar de novo na Bíblia”. Depois acrescentou, “se você perguntar às crianças em idade escolar o que é o Pentecostes, as respostas provavelmente serão muito decepcionantes”. Com isto ela quis mostrar que não haveria motivos para se ter medo do Islã. Merkel disse que “Gostaria de ver mais pessoas tendo a coragem de dizer: Eu sou cristão”. Lembrou que na Alemanha a frequência à igreja caiu significativamente. Sua sugestão é que ao invés de ter medo das pessoas de outra religião, as pessoas deveriam voltar para as raízes do continente. Lembrou que “nossa tradição é assistir a um culto na igreja e aprender os fundamentos bíblicos”.

E nesta direção que desejo colocar esta homilia de hoje.
Precisamos entender que o maior inimigo que enfrentamos não é a oposição que vem de fora, nem as acusações da mídia, nem a pressão moral que conspira contra valores ou a igreja. O maior problema encontra-se na qualidade de fé que temos professado. Como diz o velho ditado: “Descobrimos o inimigo e ele é um de nós.” Júlio A. Ferreira afirmou: “Nada, exceto a infidelidade, pode destruir a igreja, nem mesmo diabo”.
Diante da discussão sobre ideologia do gênero, a depravação explícita da arte, movimentos LGBTs, filosofias pagãs e seculares que nossos filhos ouvem nas escolas, ficamos como animais assustados e acuados, quando na verdade o nosso maior medo deve ser a qualidade de fé que professamos e como tem sido nosso discipulado cristão. Todas estas formas liberais, contra culturais e pecaminosas, agressivas aos valores cristãos e a fé já se manifestaram na historia, não há nada novo nisto. “A velha moralidade nada mais e que a antiga imoralidade” (Schaeffer).
A questão fundamental é:  Como esta a vida da igreja?
Nosso temor deve ser que qualidade de crentes estamos produzindo, o nível de discipulado que as igrejas triunfalistas e consumistas estão gerando, qual compromisso temos como o evangelho e o reino de Deus em nossos dias? Que compromisso temos com a Palavra de Deus?
O temor não deve ser o que o sistema está produzindo, nem a forca do pensamento secular e humanista, afinal “o mundo jaz no maligno” e nem mesmo a força do diabo “nosso adversário”, que anda em derredor , procurando alguém para devorar, pode nos destruir: “resisti ao diabo e ele fugirá de vós” (1 Pe 5.8).

No primeiro período da década de 60 A.D., os cristãos foram perseguidos duramente em Roma. O Imperador naqueles dias era Nero. Pedro e Paulo perderam suas vidas durante o seu império. O Apóstolo Pedro, percebendo que as coisas iam de mal a pior, escreveu esta carta de instrução e encorajamento aos cristãos espalhados pelo Império Romano. Os cristãos estavam sendo perseguidos. Muitas acusações surgiram contra eles:
· Os cristãos foram acusados de antropófagos, pois diziam comer o sangue  e a carne de um certo Jesus
· Foram acusados de praticar incesto, porque casavam-se com suas irmãs.
· Foram taxados de revolucionários e rebeldes, pois não se curvavam diante dos deuses pagãos, nem da estátua de César.
· Nero detestava os cristãos. Outros imperadores também os perseguiram. Pedro escreve esta carta para fortalecer os irmãos.

Como eles deveriam reagir, que resposta dar a todo este contexto de oposição?

1.     Eles deveriam seguir o modelo de vida de Jesus - “…armai-vos tambem vós do mesmo pensamento…” (1 Pe. 4:1). Como Jesus lidou com a oposição, as acusações que sofreu, qual era sua reação diante de pessoas que brutalmente feriam a glória de Deus? Se estilo de vida deve nos inspirar.

Nada é mais eficaz do que viver e agir como Cristo fez. Jesus deixou o pecado. Ele tinha como sua única opção a de fazer tudo para glorificar a Deus. Ele não podia agir de forma que ferisse o coração do Pai celestial. Ele não deixou que o pecado o orientasse a sua vida.
Ao viver de forma santa, a igreja emudece os acusadores.
Quando os opositores de Daniel quiseram destitui-lo do alto posto que tinha no palácio, eles disseram. “Nunca acharemos ocasião alguma para acusar a este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus.” (Dn 6.5). Eles chegaram à conclusão que a única coisa que poderia acusá-lo seria a sua fé. Isto é o que acontece quando existe integridade e caráter. Os inimigos só vão encontrar do que nos acusar na nossa fé, na forma de culto que prestamos, na devoção que demonstramos a Deus. Poderão nos chamar de carola, fanáticos, supersticiosos, místicos, mas vão ter que parar aqui.
Jesus foi acusado e levado diante do tribunal de Roma. Pilatos, corrupto e populista, o enviou para a morte, mas antes de sua execução precisou fazer um veredito absurdo e contraditório. “Não vejo nele crime algum”. Qual tribunal do mundo, por mais corrupto que seja, seria capaz de condenar um homem depois de isentá-lo? Historicamente é mais fácil criar falsos pressupostos, trazer falsas testemunhas, mas dar um veredito declarando uma pessoa inocente e ainda assim condená-lo é lgo absurdamente inconsistente e incoerente.
Então, se quisermos enfrentar a oposição de forma efetiva, precisamos seguir o modelo de Cristo.

2.     Eles precisariam deixar de viver segundo o estilo pagão - Pedro fala das paixões carnais – “…já não vivais de acordo com as paixões dos homens”. (1 Pe 4.2).
Pedro mostra aos irmãos que eles não podiam mais viver desta forma, porque eles estavam vindo daquela vida de depravação. “porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios”. Ele diz: “vocês já agiram assim, este foi o comportamento de vocês, em nada diferente ao que os opositores de sua vida nos dias de hoje”.   
O homem sem Deus é orientado por paixões. Este é o modus operandi da vida de um homem distanciado de Deus. Agir de acordo com as paixões mundanas é o procedimento habitual. Eles não fazem isto porque querem fazer o mal, eles fazem isto porque são incapazes de viver sem satisfazer suas paixões, eles são dominados pelo pecado,  mas se quisermos viver de forma diferente hoje, temos que abandonar os impulsos do velho homem, que “se corrompe segundo as concupiscências do engano” (Ef 4.22).

3.     Eles deveriam ignorar as pressões sociais“…difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão”.(1 Pe 4.4).
O que a palavra de Deus nos ensina aqui é muito importante: O homem sem Deus não consegue entender porque alguém não faria o que ele faz. Eles estranham... Qual é o resultado? Oposição. Difamação.
Os cristãos foram acusados de todas as formas no império romano. Eram acusados de praticar incesto, de desrespeitarem a lei, de segregação social. Eles continuaram vivendo vida santa e dando testemunho do Cristo ressurreto. Trezentos anos depois, o império romano se rendia à conspiração silenciosa e santa da igreja.
Estas atitudes estão presentes hoje.
Muito se fala hoje de discriminação sexual, mas quanto ouvimos falar de discriminação religiosa? Recentemente (outubro 2017) o articulista J. R. Guzzo da Revista Veja publicou o artigo "Gente incômoda" afirmando que os evangélicos são o grupo religioso que mais cresce no Brasil e os caracteriza como "incômodos" para grande parte da população brasileira. O apóstolo Pedro afirma: “Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós, como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome” (1 Pe 4.14,15).
Portanto, este tipo de comentário feito pelo Sr. Guzzo, pouca diferença faz para a vida da igreja. O povo de Cristo muitas vezes foi execrado em praça pública por sua fé, mas o que não podemos permitir é que a igreja dê motivos éticos para que as acusações tenham fundamento.

Para vencer esta ferrenha oposição, temos algumas armas altamente eficientes:

A.   Nossa união com Cristo: “Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos vós do mesmo pensamento…” (1 Pe.4.1). “O sofrimento e morte de Jesus conquistaram o pecado fazendo-nos penetrar na sua vida ressurreta”[1] Jesus carregou sobre si nossos pecados em seu corpo, para que, tendo morrido para o pecado, vivamos para a justiça (Rm 6.8-12). Nunca confie na sua carne (Fp 3.2-11), mas mantenha sua comunhão com Cristo para estar firme no dia mau, na hora da oposição e enfrentamento.

B.    Uma nova atitude mental – “Armai-vos também vós do mesmo pensamento”. (1 Pe 4.1) Desta forma, entendendo o propósito de Jesus e sua vitória sobre o pecado, somos motivados a viver em santidade.
O que fez Jesus?
pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1 Pe 2.23). Este era o processo mental de Jesus, este era seu pensamento. Glorificar o pai com seu estilo de vida.

C.    Uma compreensão clara do processo de deterioração resultante do pecado – (1 Pe 4.3,4; Rm 6.21) “Por isso, difamando-vos, estranham que não concorrais com eles ao mesmo excesso de devassidão” (1 Pe 4.4).
Pecado gera decadência: dissolução; concupiscência (desejo estragado); borracheiras (degradação moral, corrupção); orgias (imoralidade e perversão sexual), bebedices; detestáveis idolatrias. Tudo isto é um processo de destruição da alma e da dignidade humana.
Já vimos isto na história. Tais atitudes degradantes cansam as pessoas, mesmo uma sociedade pagã, não suporta este nível baixo de moral. O império romano caiu, apesar de sua riqueza e pujança, não sobreviveu. Seus excessos morais foram tão aviltantes que o castelo ruiu. Assim acontecerá ao homem que segue este processo de auto destruição psicológica e moral.

D.   Entendendo que devassidão moral traz juízo de Deus – “Os quais hão de prestar contas àquele que é competente para julgar vivos e mortos” (1 Pe 4.5).
A sociedade pagã, não tem conceito de pecado, e muito menos de juízo. Contudo, uma das coisas que trazem profunda mudança em nossa atitude é a compreensão de que estamos diante de um Deus santo.

Conclusão:
Não precisamos ficar assustados com as acusações, e com estes levantes que temos presenciado nos últimos dias. Nada disto deve causar estranheza. Historicamente os cristãos foram acusados de todas as formas no império romano. Permaneceram firmes na graça e prevaleceram. Assim também se dará nesta geração. A igreja é vitoriosa, porque Jesus tem um compromisso por este povo por quem ele morreu na cruz.

Isto me traz algumas aplicações:

Primeira, não preciso viver sem esperança e com medo de que o cristianismo, nossos valores e convicções serão destruídos. A Igreja é de Cristo. “Todo aquele que contra ela se levantar será reduzido a pó”. Isto me dá esperança e ousadia.

Segunda, isto me desafia. Ao invés de ficar julgando e olhando para fora, preciso olhar para dentro. “Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?”  (1 Pe 4.17). Isto deve gerar em mim temor e santidade.



[1] . Stott, John R. W. – The Message of first peter – Bible Speaks Today – Downers Grove, Il. Ingter Varsity Press, 1988.pg. 170


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