quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Js 24.14-25 Quando pastores desencorajam a fé...

Imagem relacionada

Introdução:

Não é muito difícil encontrar pastores que desanimam a fé das ovelhas. Algumas destas situações são tão graves que muitos nunca mais se recuperam. São abusos de autoridade, infidelidade de caráter, incoerência moral, heresia, e tais atitudes tem um efeito devastador sobre o coração dos fiéis. A palavra de Deus sempre exorta contra os falsos profetas: “Eis que sou contra os que profetizam sonhos mentirosos, diz o Senhor, e os contam, e com suas mentiras e leviandades fazem errar o meu povo” (Jr 23.32). No Novo Testamento há constantes exortações sobre os falsos mestres e guias, a Epístola de Judas, é toda voltada para este tema. O apóstolo Pedro assim os descreve: “...tendo olhos cheios de adultério e insaciáveis no pecado engodando almas inconstantes, tendo coração exercitado na avareza, filhos malditos” (2 Pe 2.14).

Tais obreiros desencorajam as ovelhas de duas formas:

Primeiro, mau exemplo – A vida de contradição, mentiras e enganos, desencoraja a fé genuína e pura daqueles que a aceitaram de forma pura. Quando homens proclamam a Palavra de Deus mas vivem num estilo de vida de hipocrisia, o resultado é apostasia e desânimo. Eles não apenas causam frieza no coração das pessoas, mas esvaziam a santidade e o temor de Deus.

Segundo, falsos ensinamentos – É neste sentido que o apóstolo exorta a igreja de Filipos a acautelar-se dos “falsos obreiros”, que ensinam aquilo que é contrário às Escrituras. O resultado deste tipo de ensinamento é o liberalismo teológico que nega o que Deus falou e afirma o que Deus negou, gerando secularismo como temos visto nas igrejas da Europa e do Nordeste dos EUA. Tais pastores questionam a Bíblia e sua autoridade e inerrância e levam igrejas e denominações à destruição e fracasso, desviam o rebanho, geram questionamentos ao invés de provocar fé autêntica e pura.

Talvez a ilustração abaixo reflita um pouco deste tipo de sentimento de incredulidade de uma comunidade cristã. Certamente os nomes e fatos são fictícios, apenas estou reproduzindo-os para exemplificar:

Em Aquiraz, pertinho de fortaleza, Ceará, Tacilita Bernarda começou a construir um anexo do seu prostíbulo, e uma igreja neopentecostal fez forte campanha contra a construção, com orações contínuas. Uma semana antes da inauguração, um raio incendiou o cabaré. Tacilita processou a igreja e o pastor, responsabilizando-os pela “intervenção divina”, que destruiu a obra. A igreja alegou que não havia prova de intervenção divina a partir das orações.
O juiz teria feito o seguinte comentário na audiência de abertura: “Pelo que li até agora, temos de um lado a proprietária de um prostíbulo que acredita firmemente no poder das orações, e do outro lado, uma igreja inteira que afirma que as orações não valem nada”.

Um olhar sobre o texto:
No texto de Josué 24, vemos este grande líder do povo de Israel se despedindo, depois de uma longa liderança. Ele ajunta o povo para dar um recado final, ele deseja conclamar todos a renovarem sua aliança com o Senhor. Uma leitura superficial, leva-nos a acreditar que ele está encorajando o povo, mas quando colocamos uma lente mais de perto, vemos que na verdade ele está usando um recurso didático diferente: Ele os “desencoraja” a servir o Senhor.
Nos versículos iniciais (14-15), ele encoraja o povo a abandonar os falsos deuses ou fazerem uma opção diferente: Abandonarem ao Senhor. Ele afirma que já havia optado: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (24.15).
O povo responde imediata e unanimemente que vai seguir Yahweh. Aí então, Josué didaticamente tenta mostrar que eles precisam pensar e considerar quais as implicações de seguir ao Senhor. Josué coloca as coisas mais ou menos assim: “Seguir a Yahweh é uma opção arriscada”.

Quais são os argumentos que ele usa?

1.      Não pode ser uma decisão emocional – O povo estava reunido, ouvindo seu velho líder perto da morte fazendo uma declaração de fé, e responde rapidamente: “Então respondeu o povo, e disse: Longe de nós o abandonarmos o Senhor para servirmos outros Deuses, porque o Senhor é o nosso Deus” (Jos 24.16,17a).

Josué se interpõe e começa a questionar a decisão deles, literalmente, ele os desencoraja a tomar esta decisão. Ela não podia ser algo emocional.
Muitas pessoas tem agido assim. Respondem a Cristo de forma rápida sem considerar o que estão fazendo. Jesus várias vezes desencorajou seguidores a o acompanharem, pondo à prova aqueles que queriam segui-lo. Vejam o relato de Mateus: “Vendo Jesus muita gente ao seu redor, ordenou passar para a outra margem. Então, aproximando-se dele um escriba disse-lhe: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. Mas Jesus respondeu: as raposas tem seus covis e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça. E outro dos discípulos lhe disse: Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Replicou-lhe, porém, Jesus: Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos” (Mt 8.18-22).
Noutra ocasião, depois de um claro discurso sobre sua morte, ele convidou os discípulos a comerem sua carne e beberem seu sangue, mas muitos se escandalizaram dizendo: “Duro é este discurso, quem o pode ouvir?”  (Jo 6.60), e se vocês pensam que Jesus tenta aliviar, amenizando o que dissera, veja sua reação: “Então perguntou Jesus aos doze: Porventura quereis também vós outros retirar-vos?” (Jo 6.67).
Jesus desencoraja muitos seguidores quando estes fazem menção de se tornarem seus discípulos, por perceber a superficialidade do compromisso que desejam adotar, porque eles não expressam uma anseio profundo ou não estão entendendo o que fazem.

2.      É preciso avaliar os custos – Josué tenta demonstrar ao povo emotivo de Israel, que as exigências de seguirem ao Senhor eram muito altas. Eles precisavam considerar se realmente queriam seguir a Yahweh.

Ele afirma categoricamente: “Não podereis servir ao Senhor” (Js 24.19). Ele abertamente desencoraja o povo a seguir ao Senhor. E para justificar, usa dois argumentos:

Primeiro, considere o caráter de Deus

Não podereis servir ao Senhor porquanto é Deus santo, Deus zeloso, que não perdoará a vossa transgressão nem os vossos pecados” (Js 24.19). Qualquer seguidor de Cristo precisa considerar seu caráter santo e zeloso. Isto livra da fé negligente e vazia, da religiosidade displicente, da ética frouxa, do discipulado barato. Deus é exigente quanto ao seu povo por causa do seu caráter santo. “Sede santos porque eu sou santo” (Mt 5.48).

Tentar seguir uma vida de ambiguidade e pecado ao mesmo tempo em que parecem servir a Deus é fogo santo no altar: Pode trazer juízo ao invés de trazer benção. “De Deus não se zomba”. No AT Yahweh várias vezes rejeitou sacrifícios, ofertas e cultos do povo por causa do vazio de seus ritos. “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? Diz o Senhor, estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados, e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes nos meus átrios?  (Is 1.11,12). “Aborreço, desprezo as vossas festas, e com as vossas assembleias solenes não tenho nenhum prazer. E, ainda que me ofereçais holocaustos e vossas ofertas de manjares, não me agradarei deles, nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais cevados. Afasta de mim o estrépito dos cânticos, porque não ouvirei as melodias das tuas liras” (Am 5.21-23).
Josué quer mostrar ao povo que não adianta tentar seguir uma vida de ambiguidades e pecado diante do Deus santo. Ao invés de bençãos, atrairiam maldição.

Segundo, considere as exigências de Deus

Ele, “...não perdoará a vossa transgressão nem os vossos pecados” (Js 24.19). Josué sabia de quão perdoador era o Deus de Israel, ele não é um Deus vingativo. Mas ele também sabia como o povo facilmente perdia a noção de uma vida santa, e era atraído pelos deuses da terra e pelos seus detestáveis ídolos. Ele está dizendo mais ou menos o seguinte: “Não podemos ficar fazendo de conta que somos o povo de Deus quanto não queremos, de fato, obedecê-lo”. Por isto se torna ainda mais enfático: “Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes ao Senhor para o servir” (Jos 24.22). 

Em Lucas 14.27-33 há um belíssimo texto que tem sido usado muitas vezes para falar de liderança, e ele se aplica perfeitamente aos princípios de organização e ordem. “Pois, qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar”. Na verdade, porém, Jesus não está falando de liderança, mas de discipulado. No vs 27 ele afirma: “E qualquer que não tomar a sua cruz, e vier após mim, não pode ser meu discípulo”, e no vs. 33 conclui: “Assim, pois, todo aquele que dentre vós, não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo”.

Precisamos avaliar as exigências de Deus para o discipulado. É Ele quem diz como deve ser o padrão, e não nós. Ele é o Mestre, nós somos discípulos.

3.      Considere a família no processo – Josué demonstra que seguir ao Senhor é uma decisão importante, porque não leva em conta apenas um ato individual e pessoal, mas corporativo e solidário, porque implica também em envolver a família. Os filhos devem estar incluídos na decisão que tomamos de seguir a Deus.

Desta forma, afirma categoricamente: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15). Ele está querendo lembrar que o propósito não é apenas de virmos a Deus, mas de apresentarmos nossa casa diante de Deus. O chamado é para família. “Estas palavras que te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tuca casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te” (Dt 6.6-7). Que palavras tão relevantes eram estas? “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força” (Dt 6.4-5)

Quando Moisés foi enviado por Deus para tirar o povo da escravidão do Egito, Faraó não gostou nada da ideia, e por isto ofereceu quatro contrapropostas na negociação, e nenhuma delas foi aceita. Inicialmente ele fez uma contrapartida para que o povo servisse a Deus no Egito, não houvesse uma mobilização para sair do país. Moisés rejeitou! Na segunda proposta Faraó disse que os deixava sair, conquanto não fossem muito longe do Egito, mas ficassem ali na fronteira. Na terceira, ele sugeriu para que não levassem as crianças, e na última, para que não levassem os bens. Satanás não se importa que a gente vá, mas seu alvo é que deixemos a família para trás. Em todas estas quatro propostas malignas, a resposta foi sempre não. Bens e família deveriam também estar envolvido no ato do culto.
Josué se interpõe seguindo o mesmo pensamento: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor” (Jos 24.15).

O chamado cristão envolve a família.

Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). Esta é uma decisão importantíssima para o discipulado. Deus não está interessado num chamado individual, mas tem planos para a família. Por isto a Reforma Protestante sempre se refere à “família do Pacto” ou “A família da aliança” (Harriet Van Gronigen & Gerard Van Gronigen, Cultura Cristã). Susan Hunt fala do “pacto geracional” (A graça que vem do lar, Cultura Cristã).  

4.      Precisamos considerar a exclusividade de Deus – Josué sabia quão inclinado era o coração daquele povo a seguir outros Deuses e ídolos que os influenciavam. Por isto, depois de ouvir a afirmação de que queriam seguir ao Deus de Israel, Josué afirma: “Sois testemunhas contra vós mesmos de que escolhestes o Senhor para o servir. E disseram: nós o somos. Agora, pois, deitai fora os Deuses e4stranhos que há no meio de vós, e inclinai o coração ao Senhor, Deus de Israel” (Js 22-23).

Mais uma vez, Josué tenta “desencorajar” e dissuadir o povo a “não seguir ao Deus de Israel”, e o motivo é específico. Se quisessem seguir precisavam considerar o fato de que Yahweh exige exclusividade, é zeloso e não reparte sua glória com ninguém”. Não poderiam servir a Deus e aos deuses das nações pagãs. Este é o mesmo argumento que o profeta Elias quando deseja convencer o povo de Israel a deixar de seguir Baal. “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o” (1 Rs 18.21).
O mesmo princípio se aplica nos nossos dias. Os deuses modernos são sofisticados e dividem nossa atenção. Os “deuses do coração” (Ez 14), disputam lugar com o Deus verdadeiro. Dentre eles nomeamos a reputação, o lazer, o entretenimento, o conforto, a aprovação das pessoas, todos eles exigindo uma atenção dividida na adoração que devemos prestar a Deus. É bom considerar que o primeiro mandamento não é contra o ateísmo, mas contra o politeísmo: “Não terás outros deuses diante de mim”. O grande problema da raça humana não é a incredulidade, mas a idolatria. É fácil construir altares para deuses falsos, que exigem adoração, e nos dão a entender que não é possível viver sem eles.

Conclusão: Josué desencoraja o povo?

Na verdade, não!

O que ele faz é aplicar um princípio de “aprendizado por contraste!”

Eugene Peterson no livro “A vocação espiritual do pastor”, afirma que eventualmente pastores deveriam se recusar a orar em determinados ambientes e por alguns motivos fúteis e banais. Ele afirma que as pessoas facilmente banalizam as orações e perdem a compreensão do que significa falar com Deus. Se recusar a orar, eventualmente, poderia gerar mais impacto no coração das pessoas, do que as orações formais e superficiais que faríamos.

Josué queria colocar as coisas no lugar, da forma certa. Dizer o que as pessoas estavam acostumadas a ouvir, talvez não gerasse o efeito necessário.

Nos dias atuais, temos uma igreja viciada em clichês e comportamentos religiosos, as atitudes seguem um desenrolar de superficialidade e eventualmente apenas um tratamento de choque pode gerar crise suficiente para que mudanças necessárias e urgentes ocorram.
A igreja atual, também tornou-se consumista, sem compromisso, com discipulado barato, sem levar a sério as implicações de seguir a Cristo e do chamado que receberam. Perdeu a noção da santidade de Deus e do medo do pecado. Para quebrar o ritualismo religioso e a frieza eventualmente apenas um tratamento de impacto pode produzir efeitos. Foi isto que Jesus disse aos discípulos que estavam oscilando no seu compromisso: “Quereis, vós outros, também retirar-vos?


Josué está fazendo exatamente isto: “Escolhei hoje a quem sirvais”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário