quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Jo 7.37-40 Princípios para uma vida abundante




Introdução:

Uma das formas mais efetivas para se ler a Bíblia é tentando assimilar o drama e a situação no qual o texto está inserido. O vs 37 afirma: “No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou” (Jo 7.37).

Que festa era esta?
Ela se refere à Festa dos Tabernáculos, dia sagrado para os judeus

Também conhecida como Festa das Cabanas ou Festa das Tendas ou, ainda, festa das colheitas, tendo em vista que coincide com a estação das colheitas em Israel, no começo do outono. É comemorado no décimo-quinto dia do mês de Tishri, duas semanas após Rosh Hashanah e, usualmente, cai final de Setembro ou princípio de Outubro.

Os judeus possuíam três festas fixas e sagradas, conforme nos relata o livro de Levítico:

São esta as festas fixas do Senhor, que proclamareis para santas convocações, para oferecer ao Senhor oferta queimada, holocausto e oferta de manjares, sacrifícios e libações, cada qual em seu dia próprio; além dos sábados do Senhor, e das vossas dádivas, e de todos os vossos votos, e de todas as vossas ofertas voluntárias que dareis ao Senhor. Porém aos quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes recolhido os produtos da terra, celebrareis a festa do Senhor por sete dias; ao primeiro dia, e também ao oitavo, haverá descanso solene. No primeiro dia tomareis para vós outros fruto de árvores formosas, ramos de palmeira, ramos de árvores frondosas, e salgueiros de ribeiras; e, por sete dias, vos alegrareis perante o Senhor, vosso Deus. Celebrareis esta como festa ao Senhor por sete dias cada ano; é estatuto perpétuo pelas vossas gerações; no mês sétimo a celebrareis. Sete dias habitareis em tendas de ramos; todos os naturais em Israel habitarão em tendas; para que saibam que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito: Eu sou o Senhor vosso Deus”. (Lv 23.33-43).

Era uma festa originalmente agrícola e possuía um significado histórico: a lembrança da peregrinação pelo deserto e o sustento pelo Senhor. A fragilidade das tendas que o povo construía era uma lembrança da fragilidade do povo quando peregrinou os 40 anos no deserto a caminho da Terra Prometida.
O último dia era o dia mais importante desta festa. Romeiros e peregrinos vinham de todos os lugares e construíam suas barracas de ramos, tendas eram colocadas por todos os lugares, tornando-se uma espécie de camping espiritual. Jerusalém estava lotada. Neste ambiente festivo Jesus se coloca em pé e exclama: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!”. Não é surpreendente apenas o gesto ousado, de levantar e gritar para as pessoas que passavam, mas ainda mais impactante é o convite e a promessa que Jesus faz: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!”.

Jesus está propondo aos romeiros de Jerusalém, uma vida abundante, cuja fonte era ele mesmo. Mas ao agir desta forma, ele estabeleceu alguns princípios para que esta vida pudesse se tornar realidade.

Primeiro, o princípio do desejo: “Se alguém tem sede!”

Jesus não convida a todos, mas apenas aqueles que sentem sede, que percebem que algo interior profundo e transformador lhes falta. São pessoas sedentas de significado, de Deus e de vida. Almas que se sentem vazias, incompletas, secas.

Pode parecer estranho. Durante muito tempo afirmei que todas as pessoas tem sede de Deus, mas ultimamente tenho considerado que muitos não tem sede de Deus. Alguns anos atrás caminhava com o Badú, na Lagoa Rodrigo de Freitas no Rio de Janeiro, um dos lugares mais lindos e charmosos que conheço, o dia estava maravilhoso, céu azul, Rio 40 Graus! O ambiente cheia de pessoas saradas, crianças brincando nos parques, jovens fazendo suas caminhadas, ciclistas pela orla, velas e caiaques na lagoa. Foi então que meu amigo disse reflexivamente: “Será que as pessoas que moram nesses maravilhosos apartamentos, com vista para a Lagoa e para a Praia de Ipanema, acordam de manhã, num domingo de sol, abrem seus jornais, tomam um café com uma mesa farta e dizem para si mesmas: Estou precisando de Deus?”
Tenho notado de forma cada vez mais clara que muitas pessoas não sentem sede. Não sentem necessidade de Deus, podem até achar a ideia de Deus interessante, mas decorativa, mas não necessária. A alma não anseia pelo Sagrado e pelo Eterno, quando muito sentem um pálido desejo de alguma coisa que também não sabem o que é. Tais pessoas não tem sede!

Jesus não faz convite a estas pessoas.
Seu convite é claro, direto e específico: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!”.

Em 2003 cheguei a Anápolis para pastorear a igreja Central. Naquela ocasião, a Junta Diaconal da igreja era composta de um grupo bem pequeno de pessoas. Alguns já partiram para a glória como o Sr. Josias e Sr. Ítalo, que um dia, chegou a mim e disse: “Pastor, o clima de Anápolis é seco, e não úmido. Precisamos ingerir água, mas não o corpo não sente muita necessidade de líquido, então, beba água todas as vezes que lembrar, mesmo estando sem sede”. Este conselho tem sido valioso!
O mesmo se dá com pessoas que fazem caminhadas nas secas e áridas regiões do Arizona. Quando um grupo sai para fazer tracking, o guia logo os adverte sobre a necessidade de beberem água.  Cada pessoa precisa levar consigo uma certa quantidade de água, e o guia de vez em quando para e pede para que todos bebam um gole, porque muitas pessoas já sofreram hidratação, tendo um cantil pendurado na cintura.

O que fazer quando não há sede? Ou parafraseando Djavan: “Sabe lá, o que é morrer de sede em frente ao mar?”.

Certa vez, João Marcos, baiano e bom músico brasileiro residente em Cambridge-MA, responsável pela quarta feira musical em uma das mais conhecidas casa de Jazz de Boston, me pediu que eu orientasse uma colega de trabalho que estava fazendo muitas perguntas sobre Deus e queria saber se eu podia ajudá-la. Naturalmente me dispus e aquela mulher teve dois encontros comigo e desapareceu. Apesar de tentar reestabelecer o contato, as tentativas eram frustradas, e ao encontrar João Marcos lhe falei que parecia que ela não estava interessada, e ele me deu uma resposta inesquecível: “Samuel, deixa dar sede!”

Já tentou dar água para quem não quer beber? Filhos facilmente manipulam e estressam os pais com a questão da alimentação. Pais querem que os filhos comam e eles insistem em não comer, alguns pais ficam desesperados com esta situação. Muitas vezes também sofremos e nos angustiamos por pessoas amigas que mostram completo desinteresse pelas coisas espiritual. Como desejamos que elas possam desejar as coisas de Deus.

O convite de Jesus possui orientação clara para uma vida abundante. O primeiro e básico princípio é o desejo. “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!”. Você tem sede de Deus?  Se você não tem interesse talvez pudesse começar com uma oração bem mais profunda: “Senhor, quero querer beber de tua fonte. Dá-me sede de ti!”

Segundo, o princípio da disponibilidade: “Venha a mim e beba!”

Jesus deixa claro que existe uma fonte, e esta fonte está disponível a todos quantos aceitarem o convite e vierem. Há uma fonte a jorrar, ela é acessível.

O problema é que temos procurado saciar nossa sede em outras fontes.
O profeta Jeremias afirma:

Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retém as águas” (Jr 2.12,13). A tradução livre da Bíblia, A Mensagem, de Eugene Peterson afirma: “cavaram cisternas que vazam, que parecem verdadeiras peneiras”.

As cisternas da Judéia não são como as nossas, que abrimos um buraco na terra e achamos água. Elas são na verdade, reservatórios com calefação, que guardam as águas que caiem das chuvas esporádicas que ocorrem duas a três vezes por ano, e que são recolhidas e armazenadas. Uma boa cisterna pode guardar 70 mil litros, e mantinha uma família o ano inteiro, mas infelizmente, algumas destas cisternas não possuíam um sistema bom e as águas vazavam, causando grande stress e ansiedade para a família.

Jesus convida o povo para encontrar nele, e não em outras fontes, a água da vida, que pode saciar verdadeiramente a sede, e afirma que está água está disponível para aqueles que, com sede o buscam.

Este é o seu convite: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).

A fonte da abundante vida está disponível, a todos os que, de coração e ardente desejo, o buscarem. “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração”. As águas vivam estão disponíveis.

Terceiro, o princípio da condicionalidade: “Se alguém crer em mim, como diz a Escritura!”

Aqui encontramos outro princípio de vida abundante que não pode ser desconsiderado. Talvez ele se torne um dos maiores impedimentos para que experimentemos a vida abundante oferecida por Jesus. Ele afirma que nossa fé não pode se basear naquilo que achamos ou pensamos, mas naquilo que a Palavra de Deus afirma. Precisamos crer em Jesus, “como diz a Escritura”.

Vivemos numa perigosa época do subjetivismo.
As pessoas creem que a verdade encontra-se dentro delas mesmas e que o mais importante é seguir suas impressões e emoções, fazer “do jeito que acham certo”. A fé é particularizada e individualizada, não há uma fonte de autoridade sobre as pessoas. Eles apenas acreditam que o importante é fazer “do jeito que acham que é certo”.

Não é isto que sugere o famoso slogan da Nike? Just do It! Apenas siga seus instintos e percepções.

Mas Jesus estabelece um princípio fundamental para que a fé seja experimentada em abundância. “Se alguém crer em mim como diz a Escritura”. Não crer do jeito que acho ou penso, mas como a Palavra afirma que devemos crer. Isto se contrapõe radicalmente a esta geração que insiste em afirmar: “Eu creio em Deus do meu jeito”, ou “eu tenho minha opinião formada e acho que é assim”. Em tais situações dizemos a Deus como as coisas devem ser, o conceito de divindade, da fé e da vida é formada a partir de minhas concepções particulares, e não a partir daquilo que a Bíblia diz.

Mas Jesus estabelece a condição. Os rios de agua viva fluirão do seu interior, se você crer em mim, como diz a Escritura. A leitura sobre Cristo não é formada a partir de uma elucidação interior, mas a partir daquilo que Deus revelou em sua palavra.

Creio que, pelo menos duas concepções sobre cristo são urgentes e necessárias.

A.      Reconhecer Jesus como Salvador Pessoal – As Escrituras nos apresentam a condição do homem sem Deus como alguém perdido e que precisa de salvação, e que esta salvação só pode ser conseguida por meio da obra de Cristo. Jesus morreu na cruz em nosso lugar e pagou o preço de nosso pecado.
Sem entendermos a seriedade do pecado e a grande salvação que nos é ofertada por meio do sacrifício de Cristo, ainda não entendemos exatamente quem é Jesus. Ainda não cremos nele da forma como as Escrituras nos dizem que devemos crer.

Um clássico exemplo disto se encontra na narrativa da cura do cego de nascença registrada em Jo 9.
Quando as autoridades religiosas indagam sobre quem o curou ele afirma que era Jesus, mas quando lhe perguntam o que ele acha de Jesus ele afirma de forma vaga que era um homem especial. “O homem chamado Jesus” (Jo 9.11); posteriormente, mais uma vez pressionado, afirma ser Jesus um profeta (Jo 9.17). Ambas as respostas são vagas e incertas. Ele não sabe quem é Jesus. Uma pessoa assim nunca poderá crer em Cristo como as Sagradas Escrituras ensinam. Apesar de ser simpatizante, e tendo até mesmo recebido a grande benção da visão.

Por esta razão, Jesus se aproxima dele para clarificar sua concepção pessoal. Ele precisava crer em Jesus, não com uma fé meramente intuitiva, mas ele precisava entender quem de fato era aquele homem que o havia curado. Quando Jesus lhe pergunta: “Crês tu no Filho do Homem?”, ele responde: “Quem é, Senhor, para que eu nele creia?” (Jo 9.35.36). Ele não tinha ideia da identidade de Cristo. Ele tinha compreensões parciais. É possível sermos curados e abençoados por Jesus, sem compreender quem de fato ele é. Quando descobrimos quem ele realmente é, isto traz grandes e profundas implicações para nossas vidas.

É necessário e urgente, que saiamos de um nível de fé intuitiva, para uma fé consciente e madura. Compreender sua obra, o que ele fez na cruz, recebê-lo como salvador pessoal.

Você já entendeu o sacrifício de Cristo Jesus por você? Já foi crucificado com ele na sua morte? Você já entendeu o valor de seu sangue e o sacrifício de remissão que ele fez a seu favor na cruz?

A.      Reconhecer Jesus como Senhor de sua vida – Este é outro nível de fé, que aprofunda ainda mais.
O cego de nascença foi curado e abençoado, mas ainda não reconhecia a divindade de Cristo, mas quando Jesus clarificou o seu ministério e disse quem ele era, uma confissão maravilhosa saiu de seus lábios:
Então, afirmou ele: creio, Senhor; e o adorou” (Jo 9.38).

Sua compreensão sobre a identidade de Jesus e a confissão o leva a outro nível de relação. Não era apenas um admirador, mas seguidor. Ele se prostrou diante dele e o “adorou”, submetendo-se à Cristo.

Infelizmente somos uma geração que se declara cristã, mas não reconhece o senhorio de Cristo, nem sua autoridade, por isto não nos submetemos como servos. Quando afirmamos: “sou senhor da minha história”, ou “eu decido o que fazer de minha vida”, estamos afirmando nossa independência. Isto mostra que eu sou senhor e não servo de Cristo.

Você reconhece Jesus como senhor?
Já transferiu a ele seus direitos?
Tem obedecido incondicionalmente?
Já entregou planos, desejos e vontade a Ele?
Tem permitido que Ele governe seu lar, estudos, finanças, trabalho, amizades, sua agenda?

Quarto, princípio da surpreendente abundância – “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de agua viva” (Jo 8.38).

Na verdade, a abundância é descrita como resultado e não objetivo. Jesus afirma que, aqueles que crerem nele como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva (Jo 8.38).

Talvez seja esta a razão de não experimentarmos a riqueza e abundante vida em Cristo.

Isto tem a ver com o fato de que amamos a Jesus da forma como decidimos amar e não como ele diz que devemos crer. Isto tem a ver com o fato de que o povo de Deus tem abandonado as riquezas insondáveis de Cristo indo atrás de cantos de sereia. “A mim me deixaram, o manancial de aguas vivas, e cavaram para si, cisternas rotas, que não retém as águas” (Jr 2.13). Temos buscado abundância nos entretenimentos, prosperidade, lazer, viagem, conforto – deuses modernos – mas nada disto satisfaz a alma. A busca está na direção errada.

Jesus fala de algo surpreendente para aqueles que o buscam: “Do seu interior fluirão rios de água viva”.

O Evangelho de João faz questão de explicar o significado desta palavra.
Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem” (Jo 8.39)

A fonte de água viva, é, nada menos que o próprio Espírito Santo. A vida abundante não é prosperidade como alguns afirmam; nem ausência de conflito ou conforto, mas a terceira pessoa da Trindade que passa a habitar em nós, quando recebemos a Cristo, pela fé, em nossos corações.

É isto que nos diz a Palavra de Deus:
Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1.13).
Este Espírito, é o que enche nosso coração da graça indizível, nos antecipa com os gozos celestiais da vida eterna e da comunhão com Jesus. Esta surpreendente graça transforma radicalmente nossa história. Isto é vida abundante!

Conclusão:
Você tem sentido vazio, desencorajado, sem sentido e propósito, coração seco, angústia ou mesmo desespero?
Creia em cristo. Não do seu jeito, não como você acha que deve ser. Não estabeleça as condições, mas aceite as condições do discipulado.

Jesus promete que “do seu interior fluirão rios de agua viva”.
Você não gostaria de ser surpreendido por esta abundante vida?

Saciar sua alma nas fontes de água viva?

Nenhum comentário:

Postar um comentário