Pentecostes é uma das três grandes festas anuais
instituídas pela Lei Mosaica: Páscoa
Pentecostes e Tabernáculo. Pentecostes foi um nome posteriormente dado a festa
das semanas ou das
colheitas (Ex 23.16; 34.22;
Nm.28.26). Tem este nome porque era celebrada 50 dias
depois da Páscoa (At 2.1). Nesta festa era exigido a presença
de todos os homens e só estavam isentos da presença os que fossem incapacitados
por doença ou enfermidade (Ex 23.17; Dt16.16).
Este
texto mostra a igreja vivendo entre dois grandes eventos da redenção:
Ressurreição e Pentecoste.
Ressurreição
Cerca de 50 dias atrás, os discípulos se
surpreenderam ao ouvir, primeiramente das mulheres, que Jesus havia
ressuscitado. A Bíblia afirma que esta informação era tão inesperada, que a
reação imediata era de que se tratava de um delírio feminino (Lc 24.11). Aos
poucos, porém, eles também tiveram experiências com Jesus, participaram deste
evento e se tornaram testemunhas oculares. Apesar deste fato tremendo, os
discípulos não conseguem avançar.
Stanley Jones afirma no livro “O Cristo
de todos os caminhos”, que a igreja vivia entre a ressurreição (um fato
histórico), mas sem o pentecostes (o poder necessário), e por isto continuava
de portas trancadas. O conhecimento da ressurreição, por maior que tenha sido,
não lhes dava a ousadia e intrepidez enfrentarem os desafios, e assim Jesus os
encontrou: “Ao cair da tarde daquele dia,
o primeiro dia da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos,
com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse-lhes: Paz seja
convosco!” (Jo 20.19). Apesar da ressurreição, a igreja estava encurralada
e ensimesmada, entre quatro paredes e com “as portas trancadas”, dominada pelo
“medos dos judeus”. É uma igreja que teme ser destruída e se esconde para se proteger.
“Nem
a fantástica notícia da ressurreição os arranca da morbidez
da paralisia de
análise" (Stanley Jones). A Igreja continua ensimesmada, sem
projetos para fora, apenas defendendo o grupo. Uma igreja
que teme ser destruída e se protege. O medo a faz ser assim. Medo de que seus
pressupostos não sejam suficientemente fortes para sustentar-se diante das evidências. Ao mesmo tempo revela-se incrédula.
Esta atitude é evidente em Tomé que não
consegue crer a
despeito do testemunho dos outros
apóstolos, assume atitude crítica. Dois discípulos estão no caminho de Emaús
retornando para suas casas, apesar de ouvirem a notícia de que Cristo
ressuscitara. Eles nem sequer se dao ao cuidado de averiguar a veracidade dos
fatos, porque isto lhes parece tão absurdo que não dava para crer. No encontro
de Jesus com seus discípulos, ele lhes censura a incredulidade (Mc 11.14).
A igreja estava vivendo entre a
ressurreição e o pentecoste.
Pentecoste
Torna-se
evidente que o conhecimento doutrinário não foi suficiente para levar a igreja
à realizar a obra, e Jesus sabia disto. Por isto “Determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem
a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes” (At 1.4). Para
realizar a missão eles precisavam de poder. Missão é algo subsequente à
experiência do Espírito. Lucas registra que as provas de sua ressurreição eram
"incontestáveis" (At 1.3), mas apesar de toda esta experiência e das
múltiplas aparições de Jesus por quarenta dias eles precisavam de algo
imprescindível: O derramamento do Espírito.
Este
texto nos mostra a igreja vivendo então, na expectativa de algo, há uma
promessa, mas ao lermos atentamente, verificamos que quatro elementos estão
presentes na vida da igreja, antes do derramamento do Espírito acontecer. Se
quisermos este poder de Deus, estas coisas precisam estar presentes em nossas
vidas.
É
muito comum vermos pessoas falando de avivamentos. Estudiosos atentos afirmam
que o Brasil nunca passou por um avivamento, porque historicamente os
avivamentos tem as seguintes características:
Primeiro,
são caracterizados por arrependimento, desejo de santidade, e retorno às
Escrituras Sagradas.
A
Bíblia e as doutrinas fundamentais, como justificação pela graça são
resgatadas. As pessoas sentem tristeza pelo pecado e são atraídas pelas coisas
de Deus. A Bíblia passa a ser estudada com seriedade profunda, e as pessoas
sentem seu pecado e buscam santidade.
Quando
Jonathan Edwards, pregou seu famoso sermão: “pecadores nas mãos de um Deus
irado”, conta-se que as pessoas abraçavam os pilares do templo com medo de
morrerem e irem para o inferno. A frieza e o compromisso daqueles dias foram substituídos
por vida intensa de oração e alegria de Deus.
As
igrejas são renovadas. Novo desejo pela oração, pela leitura da Palavra, por
uma vida santa.
Segundo,
são movimentos duradouros
Alguns
movimentos da história duraram séculos. Para se ter uma ideia, afirma-se que só
nove avivamentos históricos se deram. Considere, por exemplo, o avivamento no
país de Gales. Um grupo de irmãos se reuniu para orar, e os familiares
começaram a ficar preocupados porque os jovens não voltaram para suas casas.
Eles chegaram lá e viram um grupo clamando fervorosamente pela obra de Deus em
suas vidas. Aquelas pessoas foram igualmente contagiadas pelo fervor presente
na reunião e enquanto uns saiam, outros foram chegando. Esta reunião de oração
durou, ininterruptamente por décadas.
O
avivamento que soprou na Coréia do Sul, durou cerca de 100 anos.
O
avivamento da Azuza Street, impactou o mundo inteiro.
O
primeiro avivamento da América, com Jonathan Edwards no Século XVII, gerou uma
quantidade imensa de missionários no mundo inteiro.
Avivamento
não é uma experiência pentecostal que acontece num grupo de pessoas e fica por
isto mesmo. São movimentos duradouros e longos.
Terceiro,
tem grande impacto social
Quando
aconteceu o movimento wesleyano na Inglaterra, no meio de uma igreja fria,
institucional e formal, a Inglaterra estava a ponto de falência moral e
espiritual. John Stott afirma que se não houvesse avivamento, teria acontecido
uma guerra civil tão sangrenta quanto a Revolução Francesa. Londres estava
marcada pela decadência moral, bares e prostíbulos, e os índices da violência
aumentavam significativamente. Foi então que Deus despertou John Wesley e
Carlos Wesley, e um pequeno grupo de irmãos, que ficaram posteriormente
conhecidos como Metodistas. Por que metodistas? Se quisessem ser membros de sua
igreja, precisavam assinar termos de compromisso e envolvimento, que incluíam,
entre outros, acordar 4 hs da manhã para orar.
A
Inglaterra foi transformada pela vida destes homens de oração.
No
Brasil, infelizmente, nunca aconteceu um avivamento que mudasse historicamente
o rumo de uma sociedade. Apesar do aumento de igrejas, ainda não vimos o que o
poder do Evangelho de forma transformadora. Nossa nação está podre, sua
liderança política corrupta, a sensualidade e a imoralidade presentes, e os
índices de violência aumentando cada vez mais, as famílias se esfacelando,
mesmo os cristãos com uma vida de frieza e apatia espirituais.
Oh!
Como estamos necessitados de um mover do Espírito. Como minha vida precisa
disto, como minha família precisa disto, como a igreja precisa disto, como o
país precisa disto!
A
Igreja primitiva estava ali, entre a ressurreição e o pentecostes. A obra não se
realizaria sem este fogo do Espírito.
Ao
estudarmos atentamente este primeiro capítulo, observamos que quatro
ingredientes antecederam o derramamento. Estes mesmos elementos precisam estar
presentes no meio do povo de Deus se desejamos derramamento do Espírito.
1.
Expectativa do
novo - “E
comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que
esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes” (At 1.4).
Eles
estavam encharcados por um sentimento de que algo novo aconteceria entre eles.
Jesus didática e intencionalmente criou esta expectativa em seus corações.
"Eis que envio sobre vós a promessa
de meu Pai; permanecei na cidade, até que, do alto, sejais revestidos de poder"
(Lc.24.49).
Só
acontece pentecoste para quem espera pentecoste.
Quem
não espera nada de Deus não recebe nada.
Deus atende expectativas de corações sedentos e sinceros "Buscar-me-eis e me achareis, quando me
buscardes de todo coração” (Jr 29.13). “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e
abrir-se-vos-á.
Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á”
(Mt 7.7-12).
O cristão atento é aquele que já experimentou a graça da
salvação, mas aguarda a promessa do que virá. Encontra-se na ponta dos pés
aguardando o que Deus fará. Onde houver
expectativa há abertura para a ação do Espírito de Deus.
Portanto, ore com expectativa, leia a Bíblia com expectativa, abra seu coração
com expectativa, venha à Igreja com expectativa.
Acredito
que a conhecida frase do evangelista D.L. Moody aponta nesta direção. “Faça
grandes coisas para Deus e espere grandes coisas de Deus”. Deus nos dará na
medida da expectativa. Atribui-se a John Haggai a frase: “Sonhe com coisas tão
grandes para Deus, que se ele não fizer, o resultado será o fracasso”. A mulher
hemorrágica dizia: “se eu apenas lhe
tocar as vestes, então serei curada”(Mc 5.28), e ela voltou curada, ao
passo que centenas de outras pessoas, igualmente necessitadas, voltaram para
suas casas, sem experimentarem o poder restaurador e renovador de Jesus.
Os
discípulos não sabem o que virá, alguns estavam até com erradas expectativas,
mas eles aguardam. E a promessa se revela: “Ao
cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar, de
repente veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa
onde estavam assentados” (At 2.1,2).
2.
Intensa vida de oração – “Quando ali entraram, subiram
para o cenáculo... todos estes perseveravam unanimes em oração, com as
mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele (At 1.12,13).
É
importante notar que até mesmo a mãe de Jesus e seus irmãos estão nesta reunião
de oração. Porque é importante o registro deles nesta reunião? Os irmãos de
Jesus, em determinado momento de seu ministério, acharam que ele estava tendo estava
com um surto psicótico pela coisas que dizia e fazia e foram atrás dele para
trazerem de volta para casa (Mt 12.48), mas agora, todos eles, inclusive Maria,
encontram-se, reconhecendo quem ele era, e participando desta abençoada reunião
de oração.
Somente
a oração pode dar a exata dimensão de quem somos no reino e propiciar o
ambiente para que sejamos revisitados pelo pentecostes. É assim, de joelhos,
que encontramos a igreja neste momento. Eles voltaram do Monte das Oliveiras depois
de verem Jesus sendo elevado para os céus, e voltaram diretamente para o
cenáculo, para orar (At 1.13).
A
igreja estava orando antes do pentecostes acontecer, mas o que surpreende aqui
é que a liderança ora. Todos os onze apóstolos estão ali e são citados
nominalmente. Só quem não aparece nesta reunião de oração é Judas Iscariotes,
por razões óbvias, mas porque também já havia morrido. Estão frisando isto,
porque é muito fácil líderes de igreja e pastores se esquecerem da importância
da oração comunitária. É conhecido o fato de que presbíteros e diáconos
raramente participam de reuniões de oração.
Pentecoste
se dá na vida da igreja que ora.
Em
At 2.1 novamente vemos a igreja reunida e orando, se aproximando de Deus sincera
e devocionalmente, abrindo-se para a possibilidade de uma ação sobrenatural em suas
vidas.
3.
Atenta leitura das Escrituras – “Irmãos,
convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo profetizou
anteriormente pela boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que
prenderam Jesus”(At 1.15). “Porque
está escrito no Livro dos Salmos” (At 1.20).
Como
eles tomam conhecimento destas verdades relatados no Antigo Testamento? Porque
estavam lendo cuidadosamente a Bíblia.
Aquela
comunidade tinha de fato a Bíblia como referência de suas vidas. É importante
lembrar que não era tão fácil ter acesso ao Antigo Testamento, poucas pessoas
tinham direito para comprar um pergaminho com os textos sagrados, era preciso
ir para a sinagoga e ler a Torah e os Nabiins (Lei e os profetas) que ficavam
guardados e sobre a proteção de algum líder espiritual, mas apesar da
dificuldade de acesso aos textos sagrados, eles estavam refletindo sobre seu conteúdo
e verdade, e desta forma encontram referencias proféticas sobre aquilo que está
acontecendo entre eles.
É
assim que devemos ler a Bíblia, procurando respostas para enfrentar as batalhas
das crises que estamos vivendo, dos momentos históricos nos quais estamos
envolvidos.
Esta
é a leitura de quem procura ouvir a voz
de Deus.
Quanto
tempo faz que você não lê a Bíblia devocionalmente, não para preparar estudos
bíblicos e sermões, nem por curiosidade teológica, mas para ouvir a voz de Deus?
Juan
Carlos Ortiz, conhecido pregador argentino afirma que precisamos ler os textos
não sublinhados da Bíblia para não criarmos o “evangelho dos Santos evangélicos”. Um conhecido meu, certa vez
sugeriu ao ver minha bíblia toda marcada, que eu comprasse uma bíblia nova,
para fazer novas marcações e encontrar novas realidades e promessas de Deus.
Talvez ele tivesse razão.
Mas
o que vemos na igreja de Atos, é este cuidado em ler a Bíblia, em saber a
vontade e o plano de Deus para suas vidas, em querer se orientar não pelas
circunstâncias e sentimentos do coração, mas pelas verdades eternas reveladas
nas Escrituras.
4.
Vida
intensa de comunhão
“Ao cumprir-se o dia de Pentecostes,
estavam todos reunidos no mesmo lugar”(At.2.1)
Observem
como este texto enfatiza a vida de comunidade.
São
várias afirmações sobre o mesmo tema, todos revelando como valorizavam a vida comunitária:
“Estavam
todos”
“reunidos”
“No
mesmo lugar”.
Todas
estas três frases falam da mesma coisa: vida de comunhão:
Não
faltava ninguém...
Não estavam dispersos...
Não estavam em outro
aprisco...
Nos
grandes avivamentos históricos, um fato sempre presente e comum, era a busca
comunitária.
Se
quisermos experimentar renovação em nossas vidas e em nossa igreja precisamos
aprender a orar juntos.
Infelizmente
as reuniões de oração são geralmente as mais desprezadas e esquecidas. Parece
que ninguém gosta de orar, ou consideram a oração comunitária de pouca
importância, mas o que vemos nesta igreja é que toda igreja estava em oração, e
a liderança também estava presente.
Conclusão
Uma
das coisas que observo na vida de Hananias, Mizael e Azarias, quando desafiam o
império babilônico, é que estes jovens estavam dispostos a pagar o preço de uma
vida de compromisso com Deus. Eles se sacrificaram por isto. Eles se deram
incondicionalmente a Deus.
Muitos
gostariam de passar pela experiência de andar com o quarto homem da fornalha,
mas quantos estão dispostos a enfrentar sistemas, oposição, ameaças, por causa
de Deus?
Muitos
falam que desejam avivamento, ou mesmo, reavivamento, mas quantos, na verdade
estão dispostos a pagar o custo de uma vida de busca, de oração, de leitura
atenta da palavra, de vida comunitária, para experimentar o derramamento do
Espírito em suas vidas?
É
certo que havia a promessa clara de Jesus para os seus discípulos, mas é
perceptível também que o derramamento do Espírito, não aconteceu no vácuo, mas
em vidas desejosas de Deus, atentas às coisas de Deus, disponíveis para Deus.
Certa
vez o grande evangelista Moody afirmou: “O mundo está por ver o que Deus é capaz
de fazer por uma vida inteiramente consagrada a Deus”.
Que
Deus nos dê graça e disposição para uma vida de reverência e piedade. Só assim
experimentaremos a promessa dada por Jesus aos seus discípulos: “Porque João, na verdade, batizou com água,
mas vós sereis batizados com o Espírito Santo não muito depois destes dias”(At
1.5).
Rev. Samuel Vieira
Christ The King Presbyterian
Church
Cambridge - Ma, 15.05.96
Refeito, Novembro 2017
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