Introdução:
“Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne agora
conhecido dos principados e potestades nas regiões celestes” (Ef 3.10).
Este texto que serve
de referência para nossa reflexão na inauguração desta comunidade que recebe o
nome de mosaico, é o mesmo texto que foi utilizado no boletim da Igreja
Presbiteriana de Anápolis (Central), por 62 anos. Não é interessante observar
como as peças se encaixam perfeitamente? Quando o tema foi escolhido, nenhum
daqueles que sugeriram fizeram qualquer associação com isto. A escolha foi
aparentemente casual, mas demonstrou ser providencial no seu nível mais
profundo.
Muitas vezes, “a
casualidade” possui elementos surpreendentes. Na verdade, a Bíblia nunca fala
de coincidências, mas de providência. A primeira é vaga, incerta, a segunda é
dirigida por Deus. A história humana não é feita de sorte e acaso, mas de
direção divina e propósito.
Minha esposa e eu
temos um curioso incidente que mostra como as peças se encaixam perfeitamente
na história:
Meus avós viveram muito tempo na
cidade de Resplendor-MG, onde também viveram os pais da minha esposa Sara
Maria. Quando minha esposa estava de férias passou um tempo naquela cidade
visitando parentes e resolveu tirar uma fotografia na casa onde seus pais
moraram, um antigo casarão em frente à estação ferroviária da cidade.
No primeiro dia de namoro com
minha esposa, que morava em Registro-SP, fomos olhar fotografias e ela me
mostrou esta fotografia, tirada no alpendre daquela casa. Quando vi a foto,
falei que ela estava equivocada e que aquela casa era, na verdade, dos meus
avós. Ela entrou no alpendre da casa, sem pedir licença, e com medo de ser
descoberta pelos proprietários, tirou rapidamente a fotografia e saiu correndo.
Quando afirmei que era a casa de
meus avós, ela teimou comigo e disse que eu estava errado, porque aquela era a
casa paroquial da igreja presbiteriana. Ficamos teimando e resolvemos pedir
para a D. Loyde (minha sogra), nos explicar a confusão. Ela então afirmou que aquela
casa era a antiga casa da igreja, mas que havia sido vendida a um homem chamado
Sr Antonio Vieira (que era o meu avô). Resumo da opera: se Sara Maria tivesse
batido na porta daquela casa, teria conhecido meus avós... não é surpreendente?
Tenho uma foto de criança, junto com minha família, na mesma varanda onde a
Sara anos depois tiraria uma foto na sua adolescência.
Para
ler toda história. blog: http://revsamucacasosestranhos.blogspot.com/2018/06/estranhas-coincidencias.html
Quando o nome Mosaico
foi escolhido, ninguém sabia deste fato de que, por mais de 60 anos, a igreja
Presbiteriana Central, que assume este projeto, utilizou este texto no seu
boletim. Não é isto surpreendente?
O que significa este
texto?
“Para que, pela multiforme sabedoria de Deus, seja agora conhecida dos
principados e potestades, nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 3.10).
A palavra
“multiforme”, vem do grego “policromia” (que inclui diversidade de cores). A
sabedoria de Deus não possui apenas uma tonalidade branca, ou preta, ou cinza.
Sua sabedoria se expressa de formas diferentes. Um mosaico só é compreensível
porque ele possui multiformes colorações. Na medida em que as cores se
sobrepõem e se completam, o quadro vai tomando forma.
Este texto nos ensina que
Deus possui uma “sabedoria multiforme”, como um mosaico, e Deus quer usar sua
igreja para que esta forma seja manifesta.
Já
viram um mosaico?
Ele é formado de
pequenas pedras, de cores diferentes, que vão assumindo forma nas mãos de um
habilidoso artista. Por ser feito de pedras, mesmo que o tempo o desgaste, ele
pode ser restaurado pelo olhar atento de um artista, que poderá colocar
novamente as pedras no lugar. Isto pode ser percebido em muitas escavações de
antigas ruinas que estão sendo reconstruídos com a ajuda dos arqueólogos.
O texto de Efésios
3.10 nos ensina grandes lições:
Primeira, Deus tem propósitos claros para sua igreja – “Para
que, pela igreja”, nos aponta
o rumo.
O “para que, pela igreja”, demonstra uma
intencionalidade explicita de Deus em usar sua igreja. Deus a estabeleceu com
propósitos específicos. A igreja está incluída no seu projeto para a história, e que possui
planos cósmicos, já que ele fala de “principados e potestades nas regiões
celestiais”. Deus quer usar a igreja para propósitos que transcendem a esfera
do natural, indo para uma dimensão sobrenatural que atinge principados e
potestades. Precisamos entender as oportunidades que se abrem como formas
divinas de Deus orientar a agenda que a igreja precisa seguir.
Esta doação do terreno
aqui na área do Anaville, aponta nesta direção. Não tínhamos orado por isto,
não tínhamos pedido por isto, não fizemos planos de nos estabelecer aqui, entretanto,
Deus mesmo abriu as portas para que aqui estivéssemos. É por isto que esta
doação assume uma dimensão tão surpreendente.
Segunda, Jesus prometeu que edificaria a sua igreja
Nós, seres humanos,
somos transitórios e temporais. Somos como um conto ligeiro, com a erva, como
um breve pensamento, nossa curta história na terra é muito pequena quando
consideramos a eternidade. Somos fugazes, “como nuvem passageiro, que com o
vento se vai”. Mas o projeto de Jesus é eterno. Esta comunidade aqui transcende
a nossa história curta.
Perguntaram a Rubem
Alves quantos anos ele tinha, e ele respondeu: “Quantos tenho eu não sei, mas
quantos já gastei eu sei”. O projeto de um homem na terra é transitório e
passageiro. Não tem durabilidade. Por isto Jesus encorajava seus seguidores a
construírem tesouros nos céus, onde traça nem ferrugem corroem. Os projetos de
Deus, contudo, transcendem a história humana.
Este espaço que hoje
recebemos, ultrapassará nossa história. Se Jesus não voltar logo, este projeto
aqui orientará os filhos dos nossos filhos e pessoas que jamais imaginávamos,
serão seus futuros lideres e membros. Quanta surpresa esta nova comunidade,
Mosaico, revelará na história. Daqui a pouco seremos apenas história. Mas a
história não se perde porque vai muito além de nós mesmos.
Quem está por detrás
disto tudo é a Rocha Eterna.
Um antigo hino afirma:
1. Da igreja o fundamento, é
Cristo, o Salvador,
em Seu poder descansa, é forte em Seu amor.
Pois nEle alicerçada, segura e firme está
e sobre a rocha eterna, jamais se abalará.
em Seu poder descansa, é forte em Seu amor.
Pois nEle alicerçada, segura e firme está
e sobre a rocha eterna, jamais se abalará.
2. A pedra preciosa que Deus
predestinou
sustenta pedras vivas que a graça trabalhou.
E, quando o monumento surgir em plena luz,
a glória do edifício será do Rei Jesus.
sustenta pedras vivas que a graça trabalhou.
E, quando o monumento surgir em plena luz,
a glória do edifício será do Rei Jesus.
Jesus afirmou aos seus
discípulos: “Eu edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 1618). Ele
assegurou aos seus discípulos que edificaria a sua igreja. Quem edifica não
somos nós, mas ele. Jesus está comprometido direta e pessoalmente com este
projeto. Esta promessa é clara. Sua igreja se expressa na história de diversas
formas e nomes: Católica, Ortodoxa, Reformada, Presbiteriana, Pentecostal,
Neo-Pentecostal. Todas estas igrejas, por terem a presença humana que é falha e
tendente à corrupção, podem sofrer distorções e heresias, mas a igreja verdadeira,
construída por Jesus, neste mosaico, vai se firmar como sua igreja,
transcendendo a história.
Podemos afirmar que
desta igreja espalhada em todo mundo, com diversas formas, diferentes cores e
tamanhos (mosaico), 1/3 dos seus seguidores não são apenas nominais, e estão dispostos
a morrer por sua fé. A igreja de Cristo, já superou perseguição, martírio, oposição,
enfrentamentos, infidelidade, e se mantém como uma rocha, porque quem a edifica
é o próprio Senhor Jesus. Não se trata de projeto humano. Jesus morreu por sua
igreja. Ele está comprometida em edifica-la.
Terceira, Deus não tem plano B para a história.
A Igreja ocupa um plano central no projeto de Deus para a história. Um
plano cósmico.
Preste atenção no encadeamento da
ideia do texto.
Por três vezes a palavra “mistério”, aparece (3,4,9), Paulo diz
que recebeu este mistério através de uma revelação e que deveria comunicá-lo
aos pagãos. Agora ele aprofunda o tema afirmando o povo redimido, tem a missão
de tornar conhecida esta multiforme sabedoria que existe em Deus.
A igreja de Cristo é chamada para
revelar o projeto de Deus à humanidade, e proclamar esta dimensão abrangente do
domínio de Deus sobre todas as coisas, aos poderes históricos e espirituais,
principados e potestades. Deus poderia ter feito isto através de revelação
“direta”, ou lançar mão do ministério dos anjos, mas decidiu que esta
proclamação seria feita através da igreja.
Jesus capacita sua igreja, dando-lhe
o poder do Espírito e a envia ao mundo. Sua missão, portanto, ocupa um lugar
central no projeto de Deus. A Igreja faz parte da estratégia de Deus para a
humanidade.
Elizabeth Elliot narra uma parábola
do encontro de Deus com seus anjos nos céus.
Certo dia, Deus estava apreciando a
sua criação, quando os anjos chegaram e lhe perguntaram:
-“Senhor, para onde mandastes teu
Filho?
E Deus então, apontou o dedo para a
imensidão das galáxias, e foi dando um “close” na grandiosidade do universo até
chegar à terra, um pequeno e aparentemente insignificante planeta, nebuloso e
azul. E disse:
-“Para este planeta”.
Os anjos então indagaram:
-“E depois da saída do teu Filho,
quem está cuidando do seu projeto”
Deus então respondeu:
-“Eu deixei o meu povo lá”
Os anjos responderam:
-“E se este povo falhar?”
Deus olhou, seguro e confiante e
respondeu:
-“Eu não tenho plano B”.
Quarta, A essência da mensagem: Sua multiforme sabedoria.
O que Deus quer comunicar? “Para
que, pela igreja, a multiforme sabedoria
de Deus seja conhecida...” Sua sabedoria com tonalidades distintas é o
que ele deseja revelar ao mundo, através de seu povo.
A palavra “multiforme” no original,
literalmente é “policromia”. Deus deseja comunicar, pela igreja, seu projeto
aos poderes temporais e eternos, e ironicamente escolhe sua igreja. O fato da
responsabilidade estar nas mãos da igreja, não parece frágil demais?
Quando Jesus designa seus discípulos
para o projeto evangelístico ele diz o seguinte: “Ide, eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos” (Lc
10.3).
Sejamos honestos, esta figura não é
alguma coisa tão promissora... Lobos são vorazes, ovelhas frágeis. Se ele
dissesse, “eis que vos envio como lobos
para o meio de ovelhas”, certamente nos sentiríamos mais confortáveis. Mas
ele nos coloca como o grupo mais frágil neste ecossistema e nos envia para uma
alcateia. Qual a possibilidade de sucesso? Como estas ovelhas poderão
sobreviver, a não ser que o pastor suprema, esteja empenhada em defendê-las?
Com o pastor na frente, estas ovelhas podem seguir seguras, porque “as portas
do inferno” não prevalecerão contra elas.
Neste texto Deus escolhe a igreja
para manifestar sua policromia, sua “multiforme cor”, e a envia a declarar seu
mistério aos poderosos. Deus quer que sua “policromia”,
seu mosaico
se revele na história e confronte principados e potestades. A grande benção é
saber da promessa que Jesus fez: “Eu edificarei a minha igreja e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Se olharmos para a
suficiência da igreja, nos assustamos; mas se olharmos para Cristo, nos
tornamos ousados. Por isto Paulo afirma que tal proclamação é feita, “segundo a força operante do seu poder”
(Ef 3.7). O que poderia fazer a igreja sem o poder capacitador de Deus?
“Para que, pela igreja, a
multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida”.
Que sabedoria é esta?
O texto está falando de Cristo. A
igreja é vocacionada por Deus para proclamar a glória de Cristo, colocar Jesus,
o mistério de Deus, no lugar certo, no eixo central da história. O “mistério”
de Deus estava oculto em Cristo, e se revelou num tempo específico, numa
geografia conhecida, com uma ambientação política, caminhando pelas estradas
poeirentas da Galileia e da Judeia.
Jesus é o “Alfa e o Ômega”, o princípio
e o fim. Deus preparou o seu povo para revelar ao mundo as “insondáveis riqueza
de Cristo”. A Igreja de Cristo testemunha o projeto de Deus na história, embora
nem sempre seja ouvida, e muitas vezes sofrendo rejeição e oposição. Ainda
assim, este é o papel da igreja: “proclamar as virtudes daquele que nos chamou
das trevas para sua maravilhosa luz”, de anunciar o mistério de Deus que se
revela em Cristo.
Conclusão:
A igreja é o método de
Deus para evidenciar sua sabedoria ao mundo. Deus usa formas diferenciadas para
alcançar determinadas culturas. Usa diferentes formas (estratégias, abordagens)
para espalhar a sua sabedoria. Deus usa um mosaico,
diferentes pedras, tamanhos, cores. A diversidade é a forma de Deus abençoar.
Mosaico pressupõe alguns elementos:
A.
Uma
igreja para diferentes classes sociais – Não sonhamos e nem queremos uma igreja
que fique em torno de si mesma, mas uma igreja mesclada por diferentes classes
que revelem o amor de Cristo ao mundo. A Igreja é a única instituição que não
existe para si mesma, mas para servir. Se quisermos um mosaico, precisamos pensar no Anaville, Bairro Sto Antonio, Novo
Leblon, Summerville, e assim por diante. Mosaico pressupõe diversidade. A
primeira a ser enumerada é a social.
B.
Uma igreja que transcende a barreira da idade
– Não é igreja para classe média e pessoas de meia idade. Mas uma comunidade
que se preocupa com seus filhos, crianças, jovens e adolescentes. Mosaico
pressupõe uma comunidade onde jovens e velhos se encontram.
Na CHBC, em Washington
DC, o conselho proibiu grupos homogêneos, mas encorajou grupos com diversidade.
Não queriam White-americans se reunindo de um lado e black do outro. Queriam
que pessoas diferentes estivessem juntas expressando a beleza do evangelho que
reconcilia todas as coisas e desfaz as diferenças. Da mesma forma, os grupos foram
encorajados a terem jovens e velhos mesclados, ricos e pobres juntos, para que
aprendessem o significado do evangelho.
C.
Pelo
fato dos mosaicos serem feitos de
pedra, o tempo pode fazer ruir a ordem e a beleza da arte original, mas um bom
arqueólogo, com criatividade e pesquisa, com paciência e cuidado, saberá
recolocar as obras no lugar, de forma artesanal é possível restaurá-lo. Assim
Deus deseja fazer conosco. Muitas vezes intrigas e controvérsias pessoais,
vaidade e controle, poderão tentar desmontar este mosaico divino, mas com perdão, bom senso e graça, as pedras
poderão se recolocadas no seu local e trazer novamente a vitalidade e beleza.
D.
Já
assistiram Discovery Channel? Certamente você já se impressionou com a
criatividade e diversidade da natureza. Em alguns momentos chegando à
bizarrice. Com toda esta diversidade policrômica, a natureza se estabelece.
O que é feio para
você?
Eu particularmente não
gosto de cobra nem na TV, e acho o sapo feio, asqueroso e deformado. Mas Deus
criou todos estes seres. Ele fez a natureza em forma de mosaico. Se você acha o sapo feio, deve admitir que ele tem seu
peculiar modelito. Na linguagem de um famoso fenomenologista, Heidegger, toda
criatura possui seu próprio “eidos”, sua
particular beleza na diversidade. Se você acha que o sapo não tem nada de
bonito, pergunte para a “sapa”, o que ela acha disto? Certamente ela o acha
lindo! Por isto ela não se apaixona por outras espécies, mas por um belo e
atlético sapo que cruza o seu caminho. Ou vocês já foram um sapo se apaixonando
por um grilo?
E.
Por
último, fundamental e imprescindível: Mosaico,
é diverso, multiforme, multicolorido, mas precisa de um fundamento sobre o qual
ele será moldado e desenhado. Este fundamento é o próprio Senhor da igreja,
Cristo, a pedra angular. Deus usa não apenas uma cor e um tom, para alcançar
diferentes pessoas, culturas, temperamentos, nível social e classes, mas o
fundamento não poderá ser removido. “Porque
ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus
Cristo” (1 Cor. 3:11).
Neste texto de Efésios
3.10, a Bíblia está se referindo a Cristo, o mistério de Deus outrora oculto, e
que agora se revela em Jesus de Nazaré.
O mosaico tem que
estar alicerçado em Cristo. Seu fundamento dá firmeza ao projeto. Diferentes cores,
formas variadas, heterogeneidade, diversidade, mas um único fundamento.