sábado, 30 de junho de 2018

Ef 3.10 Mosaico





Introdução:

Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne agora conhecido dos principados e potestades nas regiões celestes” (Ef 3.10).
Este texto que serve de referência para nossa reflexão na inauguração desta comunidade que recebe o nome de mosaico, é o mesmo texto que foi utilizado no boletim da Igreja Presbiteriana de Anápolis (Central), por 62 anos. Não é interessante observar como as peças se encaixam perfeitamente? Quando o tema foi escolhido, nenhum daqueles que sugeriram fizeram qualquer associação com isto. A escolha foi aparentemente casual, mas demonstrou ser providencial no seu nível mais profundo.

Muitas vezes, “a casualidade” possui elementos surpreendentes. Na verdade, a Bíblia nunca fala de coincidências, mas de providência. A primeira é vaga, incerta, a segunda é dirigida por Deus. A história humana não é feita de sorte e acaso, mas de direção divina e propósito.
Minha esposa e eu temos um curioso incidente que mostra como as peças se encaixam perfeitamente na história:

Meus avós viveram muito tempo na cidade de Resplendor-MG, onde também viveram os pais da minha esposa Sara Maria. Quando minha esposa estava de férias passou um tempo naquela cidade visitando parentes e resolveu tirar uma fotografia na casa onde seus pais moraram, um antigo casarão em frente à estação ferroviária da cidade.

No primeiro dia de namoro com minha esposa, que morava em Registro-SP, fomos olhar fotografias e ela me mostrou esta fotografia, tirada no alpendre daquela casa. Quando vi a foto, falei que ela estava equivocada e que aquela casa era, na verdade, dos meus avós. Ela entrou no alpendre da casa, sem pedir licença, e com medo de ser descoberta pelos proprietários, tirou rapidamente a fotografia e saiu correndo.

Quando afirmei que era a casa de meus avós, ela teimou comigo e disse que eu estava errado, porque aquela era a casa paroquial da igreja presbiteriana. Ficamos teimando e resolvemos pedir para a D. Loyde (minha sogra), nos explicar a confusão. Ela então afirmou que aquela casa era a antiga casa da igreja, mas que havia sido vendida a um homem chamado Sr Antonio Vieira (que era o meu avô). Resumo da opera: se Sara Maria tivesse batido na porta daquela casa, teria conhecido meus avós... não é surpreendente? Tenho uma foto de criança, junto com minha família, na mesma varanda onde a Sara anos depois tiraria uma foto na sua adolescência. 


Quando o nome Mosaico foi escolhido, ninguém sabia deste fato de que, por mais de 60 anos, a igreja Presbiteriana Central, que assume este projeto, utilizou este texto no seu boletim. Não é isto surpreendente?
O que significa este texto?
Para que, pela multiforme sabedoria de Deus, seja agora conhecida dos principados e potestades, nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 3.10).
A palavra “multiforme”, vem do grego “policromia” (que inclui diversidade de cores). A sabedoria de Deus não possui apenas uma tonalidade branca, ou preta, ou cinza. Sua sabedoria se expressa de formas diferentes. Um mosaico só é compreensível porque ele possui multiformes colorações. Na medida em que as cores se sobrepõem e se completam, o quadro vai tomando forma.

Este texto nos ensina que Deus possui uma “sabedoria multiforme”, como um mosaico, e Deus quer usar sua igreja para que esta forma seja manifesta.

Já viram um mosaico?
Ele é formado de pequenas pedras, de cores diferentes, que vão assumindo forma nas mãos de um habilidoso artista. Por ser feito de pedras, mesmo que o tempo o desgaste, ele pode ser restaurado pelo olhar atento de um artista, que poderá colocar novamente as pedras no lugar. Isto pode ser percebido em muitas escavações de antigas ruinas que estão sendo reconstruídos com a ajuda dos arqueólogos.

O texto de Efésios 3.10 nos ensina grandes lições:

Primeira, Deus tem propósitos claros para sua igreja – “Para que, pela igreja”, nos aponta o rumo.
O “para que, pela igreja”, demonstra uma intencionalidade explicita de Deus em usar sua igreja. Deus a estabeleceu com propósitos específicos. A igreja está incluída no  seu projeto para a história, e que possui planos cósmicos, já que ele fala de “principados e potestades nas regiões celestiais”. Deus quer usar a igreja para propósitos que transcendem a esfera do natural, indo para uma dimensão sobrenatural que atinge principados e potestades. Precisamos entender as oportunidades que se abrem como formas divinas de Deus orientar a agenda que a igreja precisa seguir.
Esta doação do terreno aqui na área do Anaville, aponta nesta direção. Não tínhamos orado por isto, não tínhamos pedido por isto, não fizemos planos de nos estabelecer aqui, entretanto, Deus mesmo abriu as portas para que aqui estivéssemos. É por isto que esta doação assume uma dimensão tão surpreendente.

Segunda, Jesus prometeu que edificaria a sua igreja
Nós, seres humanos, somos transitórios e temporais. Somos como um conto ligeiro, com a erva, como um breve pensamento, nossa curta história na terra é muito pequena quando consideramos a eternidade. Somos fugazes, “como nuvem passageiro, que com o vento se vai”. Mas o projeto de Jesus é eterno. Esta comunidade aqui transcende a nossa história curta.
Perguntaram a Rubem Alves quantos anos ele tinha, e ele respondeu: “Quantos tenho eu não sei, mas quantos já gastei eu sei”. O projeto de um homem na terra é transitório e passageiro. Não tem durabilidade. Por isto Jesus encorajava seus seguidores a construírem tesouros nos céus, onde traça nem ferrugem corroem. Os projetos de Deus, contudo, transcendem a história humana.
Este espaço que hoje recebemos, ultrapassará nossa história. Se Jesus não voltar logo, este projeto aqui orientará os filhos dos nossos filhos e pessoas que jamais imaginávamos, serão seus futuros lideres e membros. Quanta surpresa esta nova comunidade, Mosaico, revelará na história. Daqui a pouco seremos apenas história. Mas a história não se perde porque vai muito além de nós mesmos.
Quem está por detrás disto tudo é a Rocha Eterna.

Um antigo hino afirma:
1.     Da igreja o fundamento, é Cristo, o Salvador,
em Seu poder descansa, é forte em Seu amor.
Pois nEle alicerçada, segura e firme está
e sobre a rocha eterna, jamais se abalará.

2.     A pedra preciosa que Deus predestinou
sustenta pedras vivas que a graça trabalhou.
E, quando o monumento surgir em plena luz,
a glória do edifício será do Rei Jesus.


Jesus afirmou aos seus discípulos: “Eu edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 1618). Ele assegurou aos seus discípulos que edificaria a sua igreja. Quem edifica não somos nós, mas ele. Jesus está comprometido direta e pessoalmente com este projeto. Esta promessa é clara. Sua igreja se expressa na história de diversas formas e nomes: Católica, Ortodoxa, Reformada, Presbiteriana, Pentecostal, Neo-Pentecostal. Todas estas igrejas, por terem a presença humana que é falha e tendente à corrupção, podem sofrer distorções e heresias, mas a igreja verdadeira, construída por Jesus, neste mosaico, vai se firmar como sua igreja, transcendendo a história.
Podemos afirmar que desta igreja espalhada em todo mundo, com diversas formas, diferentes cores e tamanhos (mosaico), 1/3 dos seus seguidores não são apenas nominais, e estão dispostos a morrer por sua fé. A igreja de Cristo, já superou perseguição, martírio, oposição, enfrentamentos, infidelidade, e se mantém como uma rocha, porque quem a edifica é o próprio Senhor Jesus. Não se trata de projeto humano. Jesus morreu por sua igreja. Ele está comprometida em edifica-la.

Terceira, Deus não tem plano B para a história.
A Igreja ocupa um plano central no projeto de Deus para a história. Um plano cósmico.
Preste atenção no encadeamento da ideia do texto.
Por três vezes a palavra “mistério”, aparece (3,4,9), Paulo diz que recebeu este mistério através de uma revelação e que deveria comunicá-lo aos pagãos. Agora ele aprofunda o tema afirmando o povo redimido, tem a missão de tornar conhecida esta multiforme sabedoria que existe em Deus.
A igreja de Cristo é chamada para revelar o projeto de Deus à humanidade, e proclamar esta dimensão abrangente do domínio de Deus sobre todas as coisas, aos poderes históricos e espirituais, principados e potestades. Deus poderia ter feito isto através de revelação “direta”, ou lançar mão do ministério dos anjos, mas decidiu que esta proclamação seria feita através da igreja.
Jesus capacita sua igreja, dando-lhe o poder do Espírito e a envia ao mundo. Sua missão, portanto, ocupa um lugar central no projeto de Deus. A Igreja faz parte da estratégia de Deus para a humanidade.

Elizabeth Elliot narra uma parábola do encontro de Deus com seus anjos nos céus.
Certo dia, Deus estava apreciando a sua criação, quando os anjos chegaram e lhe perguntaram:
-“Senhor, para onde mandastes teu Filho?
E Deus então, apontou o dedo para a imensidão das galáxias, e foi dando um “close” na grandiosidade do universo até chegar à terra, um pequeno e aparentemente insignificante planeta, nebuloso e azul. E disse:
-“Para este planeta”.
Os anjos então indagaram:
-“E depois da saída do teu Filho, quem está cuidando do seu projeto”
Deus então respondeu:
-“Eu deixei o meu povo lá”
Os anjos responderam:
-“E se este povo falhar?”
Deus olhou, seguro e confiante e respondeu:
-“Eu não tenho plano B”.

Quarta, A essência da mensagem: Sua multiforme sabedoria.
O que Deus quer comunicar? “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida...” Sua sabedoria com tonalidades distintas é o que ele deseja revelar ao mundo, através de seu povo.
A palavra “multiforme” no original, literalmente é “policromia”. Deus deseja comunicar, pela igreja, seu projeto aos poderes temporais e eternos, e ironicamente escolhe sua igreja. O fato da responsabilidade estar nas mãos da igreja, não parece frágil demais?
Quando Jesus designa seus discípulos para o projeto evangelístico ele diz o seguinte: “Ide, eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos” (Lc 10.3).
Sejamos honestos, esta figura não é alguma coisa tão promissora... Lobos são vorazes, ovelhas frágeis. Se ele dissesse, “eis que vos envio como lobos para o meio de ovelhas”, certamente nos sentiríamos mais confortáveis. Mas ele nos coloca como o grupo mais frágil neste ecossistema e nos envia para uma alcateia. Qual a possibilidade de sucesso? Como estas ovelhas poderão sobreviver, a não ser que o pastor suprema, esteja empenhada em defendê-las? Com o pastor na frente, estas ovelhas podem seguir seguras, porque “as portas do inferno” não prevalecerão contra elas.
Neste texto Deus escolhe a igreja para manifestar sua policromia, sua “multiforme cor”, e a envia a declarar seu mistério aos poderosos. Deus quer que sua “policromia”, seu mosaico se revele na história e confronte principados e potestades. A grande benção é saber da promessa que Jesus fez: “Eu edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Se olharmos para a suficiência da igreja, nos assustamos; mas se olharmos para Cristo, nos tornamos ousados. Por isto Paulo afirma que tal proclamação é feita, “segundo a força operante do seu poder” (Ef 3.7). O que poderia fazer a igreja sem o poder capacitador de Deus?

Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida”.
Que sabedoria é esta?
O texto está falando de Cristo. A igreja é vocacionada por Deus para proclamar a glória de Cristo, colocar Jesus, o mistério de Deus, no lugar certo, no eixo central da história. O “mistério” de Deus estava oculto em Cristo, e se revelou num tempo específico, numa geografia conhecida, com uma ambientação política, caminhando pelas estradas poeirentas da Galileia e da Judeia.
Jesus é o “Alfa e o Ômega”, o princípio e o fim. Deus preparou o seu povo para revelar ao mundo as “insondáveis riqueza de Cristo”. A Igreja de Cristo testemunha o projeto de Deus na história, embora nem sempre seja ouvida, e muitas vezes sofrendo rejeição e oposição. Ainda assim, este é o papel da igreja: “proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz”, de anunciar o mistério de Deus que se revela em Cristo.

Conclusão:
A igreja é o método de Deus para evidenciar sua sabedoria ao mundo. Deus usa formas diferenciadas para alcançar determinadas culturas. Usa diferentes formas (estratégias, abordagens) para espalhar a sua sabedoria. Deus usa um mosaico, diferentes pedras, tamanhos, cores. A diversidade é a forma de Deus abençoar.

Mosaico pressupõe alguns elementos:

A.   Uma igreja para diferentes classes sociais – Não sonhamos e nem queremos uma igreja que fique em torno de si mesma, mas uma igreja mesclada por diferentes classes que revelem o amor de Cristo ao mundo. A Igreja é a única instituição que não existe para si mesma, mas para servir. Se quisermos um mosaico, precisamos pensar no Anaville, Bairro Sto Antonio, Novo Leblon, Summerville, e assim por diante. Mosaico pressupõe diversidade. A primeira a ser enumerada é a social.

B.     Uma igreja que transcende a barreira da idade – Não é igreja para classe média e pessoas de meia idade. Mas uma comunidade que se preocupa com seus filhos, crianças, jovens e adolescentes. Mosaico pressupõe uma comunidade onde jovens e velhos se encontram.

Na CHBC, em Washington DC, o conselho proibiu grupos homogêneos, mas encorajou grupos com diversidade. Não queriam White-americans se reunindo de um lado e black do outro. Queriam que pessoas diferentes estivessem juntas expressando a beleza do evangelho que reconcilia todas as coisas e desfaz as diferenças. Da mesma forma, os grupos foram encorajados a terem jovens e velhos mesclados, ricos e pobres juntos, para que aprendessem o significado do evangelho.

C.    Pelo fato dos mosaicos serem feitos de pedra, o tempo pode fazer ruir a ordem e a beleza da arte original, mas um bom arqueólogo, com criatividade e pesquisa, com paciência e cuidado, saberá recolocar as obras no lugar, de forma artesanal é possível restaurá-lo. Assim Deus deseja fazer conosco. Muitas vezes intrigas e controvérsias pessoais, vaidade e controle, poderão tentar desmontar este mosaico divino, mas com perdão, bom senso e graça, as pedras poderão se recolocadas no seu local e trazer novamente a vitalidade e beleza.

D.   Já assistiram Discovery Channel? Certamente você já se impressionou com a criatividade e diversidade da natureza. Em alguns momentos chegando à bizarrice. Com toda esta diversidade policrômica, a natureza se estabelece.

O que é feio para você?
Eu particularmente não gosto de cobra nem na TV, e acho o sapo feio, asqueroso e deformado. Mas Deus criou todos estes seres. Ele fez a natureza em forma de mosaico. Se você acha o sapo feio, deve admitir que ele tem seu peculiar modelito. Na linguagem de um famoso fenomenologista, Heidegger, toda criatura possui seu próprio “eidos”, sua particular beleza na diversidade. Se você acha que o sapo não tem nada de bonito, pergunte para a “sapa”, o que ela acha disto? Certamente ela o acha lindo! Por isto ela não se apaixona por outras espécies, mas por um belo e atlético sapo que cruza o seu caminho. Ou vocês já foram um sapo se apaixonando por um grilo?

E.    Por último, fundamental e imprescindível: Mosaico, é diverso, multiforme, multicolorido, mas precisa de um fundamento sobre o qual ele será moldado e desenhado. Este fundamento é o próprio Senhor da igreja, Cristo, a pedra angular. Deus usa não apenas uma cor e um tom, para alcançar diferentes pessoas, culturas, temperamentos, nível social e classes, mas o fundamento não poderá ser removido. “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”  (1 Cor. 3:11). 

Neste texto de Efésios 3.10, a Bíblia está se referindo a Cristo, o mistério de Deus outrora oculto, e que agora se revela em Jesus de Nazaré.
O mosaico tem que estar alicerçado em Cristo. Seu fundamento dá firmeza ao projeto. Diferentes cores, formas variadas, heterogeneidade, diversidade, mas um único fundamento.

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