segunda-feira, 16 de julho de 2018

Jr 10.19-20 Auto destruição familiar





Introdução:

Teóricos do comportamento humano ultimamente tem feito diferença entre suicídio e auto destruição.

Poucas pessoas cometem suicídio, entretanto, milhares entram num processo inconsciente de auto destruição: Comem demais, vivem vida sedentária, consomem drogas, se envolvem em brigas e conflitos, bebem demais, se amarguram demais, num lento e constante processo de morte. É uma forma de auto sabotagem que faz parte desta lista de auto destruição. O resultado é a morte antecipada. Desenvolvem um estilo de vida adoecido e relacionamentos tóxicos.
Famílias também passam por processos de auto destruição.
São lares que entram em conflitos, ressentimentos, e chegam a um ponto que já não interessa mais o que foi feito, mas num processo interminável o mal é repetido em ações/reações continuas, conflitivas e destrutivas. Parece-se com a fábula de um homem que é acidentalmente ferido por seu amigo e fica cego de um dos olhos, e se dirige a Zeus, pedindo reparação. Zeus então lhe dá duas alternativas:

a)- Posso curar e o assunto encerra aqui;
b)- Posso furar o olho dele e pagar pelo mal que ele  gerou.

O homem, irritado respondeu: “prefiro que você fure os olhos dele para que ele saiba o quanto estou sofrendo!”

No texto que lemos de Jeremias, vemos a afirmação dolorida do profeta:
Ai de mim, por causa da minha ruina! É mui grave a minha ferida; então disse eu: com feito é isto o meu sofrimento e tenho de suportá-lo. A minha tenda foi destruída, todas as cordas se romperam; os meus filhos se foram e já não existem; ninguém ha que levante a minha tenda e lhe erga as lonas” (Jr 10.19-20).

O profeta está chorando.
No cerne da sua percepção ele coloca um olhar sobre a realidade das famílias de Israel, do povo que decidiu abandonar o Senhor. Ele fala da tenda, da família, da casa, deste habitat, suposto lugar de abrigo que fracassou. Seu olhar escatológico antevê a destruição da família. E por isto ele chora. “É mui grave a minha ferida”.

Causas da auto destruição familiar:

Primeiro, as cordas se romperam. Tendas possuem estruturas frágeis e com pouca base de sustentação, a não ser suas cordas.

Todos os anos minha esposa e eu acampamos. Sempre fazemos isto em épocas com poucos ventos e sem chuva, mas ainda assim, estamos sempre atentos sobre a situação dos ferros que são enterrados no chão e onde as cordas estão firmadas, por que isto dá firmeza às barracas. Sem estas cordas, qualquer vento de uma intensidade um pouco maior, pode derrubar a barraca.

Em 1987, fomos acampar na chácara dos queridos Walú e Presb. Magno, em Brasília. Era um encontro de casais, e como não havia lugar para acomodar todos, decidimos acampar. O ambiente estava delicioso, organizado, mas não prevíamos que um grande temporal desabaria sobre aquele acampamento. E quando isto aconteceu, tudo se tornou caótico. As cordas não sustentaram as barracas que foram derribadas e encharcadas com a forte chuva. Todos que estavam acampados tiveram que sair na chuva, e se acomodar de madrugada, como podiam, na sala e nos espaços disponíveis.

Quando as cordas não se sustentam, a tenda cai.
Que cordas são estas?
O salmista afirma:
Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (Sl 11.3). Quando os fundamentos morais, espirituais, afetivos de uma família se rompem, a tenda cai.
Jesus fala da necessidade de construirmos casa sobre a rocha, porque quando ela se encontra em terreno frágil, ela cai. E quando ele fala dos fundamentos, afirma: “Aquela casa se manteve firme, porque aquele homem ouviu as minhas palavras e as praticou”.

A casa cai, quando a sua base espiritual é desmontada. Quando a Palavra de Deus é menosprezada.
As cordas de sua casa continuam firmes?

Segundo, lares sofrem processo de auto destruição quando os filhos são atingidos. “os meus filhos se foram e já não existem”.
Lares ruem quando suas gerações são fragmentadas.
Temos o grande compromisso de dar base para que a próxima geração seja alcançada com a graça de Deus e o Evangelho.

Duas perguntas são essenciais:
A.   Sua fé está chegando à próxima geração?
B.    Se positivo, qual é a qualidade da fé que está chegando?

O texto fala de filhos que se foram. Não geograficamente, mas emocionalmente. Filhos que se distanciam, cujos vínculos de afeto são destruídos, lares onde  prevalece o ódio.
Meu irmão mais velho costuma afirma que a alegria do velho é ter sua casa cheia. Naturalmente sabemos que nem todo idoso, infelizmente é acolhedor e bom anfitrião. Mas um lar se torna sem vida e sem brilho, quando os filhos não mais frequentam tais casas, quando os netos desenvolvem hostilidade em relação aos avós.
Meus dois filhos estão casados, mas ainda não sou avô. Então aproveito para brincar com meus amigos afirmando que “ser avô não deve ser coisa boa, porque todo avô fica bobo, babando o tempo todo!”. Ao falar isto, sei que trata-se apenas de uma provocação. A verdade é que nada é mais importante que saber que nossos filhos “não foram”, no pior sentido. Se tiverem que ir, que seja por desafios, oportunidades, estudos, trabalhos, formação de sua família, mas a porta estará sempre aberta para eles.

Jeremias fala dos filhos que foram, e não mais existem!
Fala daqueles que morreram no coração, se distanciaram.

O salmo 128 descreve o homem bem aventurado, dizendo que “sua esposa, no interior de sua casa, será como a videira frutífera, e seus filhos, como rebentos da oliveira à roda da sua mesa. Eis como será abençoado o homem que teme o Senhor!” Não há maior alegria para uma casa que filhos amados, redimidos, perdoados, queridos.
Uma das músicas mais fantásticas do João Alexandre diz o seguinte:

Paz e comunhão

Cuida do passarinho e também da flor
Eles esperam pelo teu amor
Faz do teu lar um ninho e do mundo, um chão
Onde se plante paz e comunhão

Para que brote e cresça a mais viva semente,
Para que a gente tenha o que colher,
Para que o pão que venha a ser por nós assado
Seja sinal traçado de viver.

Faz tua nova casa na varanda do velho chão,
Convida o teu irmão pra vir morar contigo,
Planta paredes novas, feitas para servir de lar e abrigo

Faz um café gostoso, põe a mesa no teu jardim,
Deixa que assim as plantas tenham paz contigo,
Convida o universo, faz a vida ganhar maior sentido.

Cuida da tua morada, cuida do pequeno mundo,
Deixa teu irmão bem perto, livre, livre...

Terceiro, ausência de esperança - “Ninguém há que levante a minha tenda e lhe erga as lonas”.

Este texto é pesado porque revela o desatino e a dor do profeta, que não olha mais a vida com perspectiva. Quantos lares estão vivendo assim, crendo que nada mais pode ser feito, pais que desistiram.

O texto é curioso porque ele diz que não há ninguém para levantar a sua tenda e erguer as lonas. Isto é estranho! Não deveria ser ele mesmo a levantar a sua tenda? Não seria isto uma tarefa do próprio pai? Por que ele espera que alguém faça o que ele deve fazer?

Este texto reflete a impotência de muitos, a falta de esperança daqueles que veem seus lares arruinados e apenas choram e lamentam, entrando num quadro de entorpecimento e apatia. Quando isto acontece, o máximo que fazem é chorar: ““Ai de mim, por causa da minha ruina!”
O que fazer quando não mais cremos que algo possa acontecer? Quando perdemos a perspectiva de um milagre? De uma obra portentosa de Deus?

Débora ou a mãe de Sísera. como reagimos?
O livro de Juízes registra num mesmo capítulo, a situação de duas mulheres, que enxergam a vida por prismas completamente diferentes. Uma é a mãe de Sisera, outra é Débora.
A mãe do comandante Sísera, “Olhava pela janela e exclamava pela grade: Por que tarde em vir o seu carro? Por que se demora os passos de seus cavalos?” (Jz 5.28). Este quadro descreve uma mulher passiva, vendo que algo de errado está acontecendo, mas que não consegue fazer nada para proteger seu filho, que na verdade já tinha morrido.
No mesmo texto, vemos a atitude de Débora:
Ficaram desertas as aldeias em Israel, até que eu, Débora, levantei-me por mãe em Israel...Desperta, Débora, desperta. Desperta, acorda, entoa um cântico!” (Jz 5.7, 12). Débora não fica inerte. Ao perceber as aldeias desertas, ela se levanta por mãe. Ela se desperta, acorda, é sacudida, sai para a luta em favor do seu povo.
A mãe de Sisera demonstra impotência. Fica olhando, vendo o desastre iminente, inerte, sem saber como se mover. Apenas lamenta!

Débora, se levanta por mãe, ela acorda!

Este texto, motivou o surgimento de um dos ministérios mais fantásticos no Brasil, chamado “Desperta Débora!”. Mães que oram, lutam, intercedem pelos seus filhos e pelos filhos da igreja. Precisamos de mães intercessoras. Precisamos de pais guerreiros.
Há momentos em que a atitude de passividade, entrega, resignação, espera, pode ser fatal. As aldeias de Israel ficaram desertas, até que Débora se levantou por mãe!.
Não podemos ficar esperando que surja alguém que levante a nossa tenda e erga as lonas.
Para que nossos lares não sejam destruídos, precisamos estar alertas como pai e mãe, não podemos ficar apenas lamentando que nossa casa está caída, que nossos filhos se foram, e que ninguém há que levante a tenda e erga as lonas. É preciso ter esperança. Orar com esperança. Crer. Interceder. Suplicar. Proteger. Sair à guerra.

Conclusão:
O texto fala do profeta dizendo:  Ai de mim, por causa da minha ruina! É mui grave a minha ferida; então disse eu: com feito é isto o meu sofrimento e tenho de suportá-lo. A minha tenda foi destruída”.
Não posso me transformar em uma vitima e ficar chorando. Sem arrependimento, sem clamor, sem ação, dominado pela impotência. Não posso apenas contemplar a gravidade da minha ferida e ficar me vitimizando: Ai de mim!... A minha tenda foi destruída... Ninguém há que levante a minha tenda...

A história da mulher cananeia registrada em Mt 15.21-28 descreve uma mulher perseverante, que sai à luta pela sua filha num processo de auto destruição.  Ao procurar Jesus, o desespero estava presente em seu rosto, sua família estava sendo destruída, sua filha estava dominada por forças satânicas. Ela descreve a situação como de alguém “horrivelmente endominhada”. Podemos imaginar um quadro tão confuso e caótico quanto este? O diabo fazendo ninho na vida de sua filha? Sua casa sendo morada do diabo?

Ele assume faz pelo menos três coisas fundamentais:
A.   Ela não nega a situação – Não dá nome bonitos, não psicologiza, não justifica, não faz avaliação psiquiátrica de sua filha. Já viram pais tentando fazer diagnóstico de seus filhos?
A mulher siro fenícia, encara o problema de frente. A realidade não era nada boa, mas ela não nega a catástrofe iminente.

B.    Ela identifica o problema – “Minha filha está horrivelmente endemoninhada”.  Estar dominada por forças malignas já seria uma dura realidade, mas ela a descreve como alguém “horrivelmente” dominada. Isto revela a gravidade da situação.

C.    Ela vai na direção daquele que pode socorrer – “Ela clamava” (Mt 15.22). Isto é esperança.

O mais surpreendente, contudo, é o fato de que Jesus parece indiferente ao seu clamor. A leitura cuidadosa do texto nos surpreende. Por três vezes Jesus constrange aquela mulher e aos seus discípulos com uma atitude de aparente descaso e indiferença. Ela por acaso desistiu? Pelo contrário. Do encontro inicial e fracassado, marcado pelo seu clamor, ela aumenta a intensidade e se ajoelha diante de Jesus. O texto afirma que “ela, porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me!” (Mt 15.25). Como é que Jesus vai ignorar o clamor de alguém que tão intensamente luta pela sua casa? Com tanta humildade e perseverança ora a Deus?
Quando estamos no meio da aflição e buscamos a Deus eventualmente nos sentimos desamparados. Deus parece distante, ele parece ignorar nossa dor. Por três vezes aquela mulher clama o Senhor e parece ser desprezada e humilhada publicamente. O que Jesus queria desta mulher? Ele queria saber se realmente lutar por aquele assunto tão sério ocupava sua agenda. Muitas vezes paramos no primeiro round.
Mas Jesus atende àquela mulher dizendo: “ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã!” (Mt 15.28)

Muitos lares hoje em dia estão em frangalhos. As cordas se romperam, a tenda caiu. O quadro é de desalento, tristeza e desânimo.  Nestas horas, podemos nos paralisar e nos acomodar, ou podemos reagir e lutar por aquilo que cremos que Deus pode nos conceder.
Esta hora não é hora de vitimizar. Não é hora de apenas chorar.
É hora de despertar!

Que Deus nos ajude!

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