Introdução:
Teóricos do
comportamento humano ultimamente tem feito diferença entre suicídio e auto
destruição.
Poucas pessoas cometem
suicídio, entretanto, milhares entram num processo inconsciente de auto
destruição: Comem demais, vivem vida sedentária, consomem drogas, se envolvem
em brigas e conflitos, bebem demais, se amarguram demais, num lento e constante
processo de morte. É uma forma de auto sabotagem que faz parte desta lista de
auto destruição. O resultado é a morte antecipada. Desenvolvem um estilo de
vida adoecido e relacionamentos tóxicos.
Famílias também passam
por processos de auto destruição.
São lares que entram
em conflitos, ressentimentos, e chegam a um ponto que já não interessa mais o
que foi feito, mas num processo interminável o mal é repetido em ações/reações continuas,
conflitivas e destrutivas. Parece-se com a fábula de um homem que é
acidentalmente ferido por seu amigo e fica cego de um dos olhos, e se dirige a
Zeus, pedindo reparação. Zeus então lhe dá duas alternativas:
a)-
Posso curar e o assunto encerra aqui;
b)-
Posso furar o olho dele e pagar pelo mal que ele gerou.
O homem, irritado
respondeu: “prefiro que você fure os olhos dele para que ele saiba o quanto
estou sofrendo!”
No texto que lemos de
Jeremias, vemos a afirmação dolorida do profeta:
“Ai de mim, por causa da minha ruina! É mui grave a minha ferida; então
disse eu: com feito é isto o meu sofrimento e tenho de suportá-lo. A minha
tenda foi destruída, todas as cordas se romperam; os meus filhos se foram e já
não existem; ninguém ha que levante a minha tenda e lhe erga as lonas” (Jr
10.19-20).
O profeta está
chorando.
No cerne da sua
percepção ele coloca um olhar sobre a realidade das famílias de Israel, do povo
que decidiu abandonar o Senhor. Ele fala da tenda, da família, da casa, deste
habitat, suposto lugar de abrigo que fracassou. Seu olhar escatológico antevê a
destruição da família. E por isto ele chora. “É mui grave a minha ferida”.
Causas da auto
destruição familiar:
Primeiro, as cordas se romperam. Tendas possuem
estruturas frágeis e com pouca base de sustentação, a não ser suas cordas.
Todos os anos minha
esposa e eu acampamos. Sempre fazemos isto em épocas com poucos ventos e sem
chuva, mas ainda assim, estamos sempre atentos sobre a situação dos ferros que
são enterrados no chão e onde as cordas estão firmadas, por que isto dá firmeza
às barracas. Sem estas cordas, qualquer vento de uma intensidade um pouco
maior, pode derrubar a barraca.
Em 1987, fomos acampar
na chácara dos queridos Walú e Presb. Magno, em Brasília. Era um encontro de
casais, e como não havia lugar para acomodar todos, decidimos acampar. O
ambiente estava delicioso, organizado, mas não prevíamos que um grande temporal
desabaria sobre aquele acampamento. E quando isto aconteceu, tudo se tornou
caótico. As cordas não sustentaram as barracas que foram derribadas e
encharcadas com a forte chuva. Todos que estavam acampados tiveram que sair na
chuva, e se acomodar de madrugada, como podiam, na sala e nos espaços
disponíveis.
Quando as cordas não
se sustentam, a tenda cai.
Que cordas são estas?
O salmista afirma:
“Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (Sl
11.3). Quando os fundamentos morais, espirituais, afetivos de uma família se
rompem, a tenda cai.
Jesus fala da
necessidade de construirmos casa sobre a rocha, porque quando ela se encontra
em terreno frágil, ela cai. E quando ele fala dos fundamentos, afirma: “Aquela
casa se manteve firme, porque aquele homem ouviu as minhas palavras e as
praticou”.
A casa cai, quando a
sua base espiritual é desmontada. Quando a Palavra de Deus é menosprezada.
As cordas de sua casa
continuam firmes?
Segundo, lares sofrem processo de auto destruição quando
os filhos são atingidos. “os meus filhos se
foram e já não existem”.
Lares ruem quando suas
gerações são fragmentadas.
Temos o grande
compromisso de dar base para que a próxima geração seja alcançada com a graça
de Deus e o Evangelho.
Duas perguntas são
essenciais:
A.
Sua
fé está chegando à próxima geração?
B.
Se positivo, qual é a qualidade da fé que está chegando?
O texto fala de filhos
que se foram. Não geograficamente, mas emocionalmente. Filhos que se
distanciam, cujos vínculos de afeto são destruídos, lares onde prevalece o ódio.
Meu irmão mais velho
costuma afirma que a alegria do velho é ter sua casa cheia. Naturalmente
sabemos que nem todo idoso, infelizmente é acolhedor e bom anfitrião. Mas um
lar se torna sem vida e sem brilho, quando os filhos não mais frequentam tais
casas, quando os netos desenvolvem hostilidade em relação aos avós.
Meus dois filhos estão
casados, mas ainda não sou avô. Então aproveito para brincar com meus amigos
afirmando que “ser avô não deve ser coisa boa, porque todo avô fica bobo,
babando o tempo todo!”. Ao falar isto, sei que trata-se apenas de uma
provocação. A verdade é que nada é mais importante que saber que nossos filhos
“não foram”, no pior sentido. Se tiverem que ir, que seja por desafios,
oportunidades, estudos, trabalhos, formação de sua família, mas a porta estará
sempre aberta para eles.
Jeremias fala dos
filhos que foram, e não mais existem!
Fala daqueles que
morreram no coração, se distanciaram.
O salmo 128 descreve o
homem bem aventurado, dizendo que “sua esposa, no interior de sua casa, será
como a videira frutífera, e seus filhos, como rebentos da oliveira à roda da
sua mesa. Eis como será abençoado o homem que teme o Senhor!” Não há maior
alegria para uma casa que filhos amados, redimidos, perdoados, queridos.
Uma das músicas mais
fantásticas do João Alexandre diz o seguinte:
Paz e comunhão
Cuida
do passarinho e também da flor
Eles
esperam pelo teu amor
Faz do
teu lar um ninho e do mundo, um chão
Onde se
plante paz e comunhão
Para
que brote e cresça a mais viva semente,
Para
que a gente tenha o que colher,
Para
que o pão que venha a ser por nós assado
Seja
sinal traçado de viver.
Faz tua
nova casa na varanda do velho chão,
Convida
o teu irmão pra vir morar contigo,
Planta
paredes novas, feitas para servir de lar e abrigo
Faz um
café gostoso, põe a mesa no teu jardim,
Deixa
que assim as plantas tenham paz contigo,
Convida
o universo, faz a vida ganhar maior sentido.
Cuida
da tua morada, cuida do pequeno mundo,
Deixa
teu irmão bem perto, livre, livre...
Terceiro, ausência de esperança - “Ninguém há que levante a minha tenda e lhe erga as lonas”.
Este texto é pesado
porque revela o desatino e a dor do profeta, que não olha mais a vida com
perspectiva. Quantos lares estão vivendo assim, crendo que nada mais pode ser
feito, pais que desistiram.
O texto é curioso
porque ele diz que não há ninguém para levantar a sua tenda e erguer as lonas.
Isto é estranho! Não deveria ser ele mesmo a levantar a sua tenda? Não seria
isto uma tarefa do próprio pai? Por que ele espera que alguém faça o que ele
deve fazer?
Este texto reflete a
impotência de muitos, a falta de esperança daqueles que veem seus lares
arruinados e apenas choram e lamentam, entrando num quadro de entorpecimento e
apatia. Quando isto acontece, o máximo que fazem é chorar: ““Ai de mim, por causa da minha ruina!”
O que fazer quando não
mais cremos que algo possa acontecer? Quando perdemos a perspectiva de um
milagre? De uma obra portentosa de Deus?
Débora ou a mãe de Sísera. como reagimos?
O livro de Juízes
registra num mesmo capítulo, a situação de duas mulheres, que enxergam a vida por
prismas completamente diferentes. Uma é a mãe de Sisera, outra é Débora.
A mãe do comandante
Sísera, “Olhava pela janela e exclamava
pela grade: Por que tarde em vir o seu carro? Por que se demora os passos de
seus cavalos?” (Jz 5.28). Este quadro descreve uma mulher passiva, vendo
que algo de errado está acontecendo, mas que não consegue fazer nada para
proteger seu filho, que na verdade já tinha morrido.
No mesmo texto, vemos
a atitude de Débora:
“Ficaram desertas as aldeias em Israel, até que eu, Débora, levantei-me
por mãe em Israel...Desperta, Débora, desperta. Desperta, acorda, entoa um
cântico!” (Jz 5.7, 12). Débora não fica inerte. Ao perceber as aldeias
desertas, ela se levanta por mãe. Ela se desperta, acorda, é sacudida, sai para
a luta em favor do seu povo.
A mãe de Sisera
demonstra impotência. Fica olhando, vendo o desastre iminente, inerte, sem
saber como se mover. Apenas lamenta!
Débora, se levanta por
mãe, ela acorda!
Este texto, motivou o
surgimento de um dos ministérios mais fantásticos no Brasil, chamado “Desperta
Débora!”. Mães que oram, lutam, intercedem pelos seus filhos e pelos filhos da
igreja. Precisamos de mães intercessoras. Precisamos de pais guerreiros.
Há momentos em que a
atitude de passividade, entrega, resignação, espera, pode ser fatal. As aldeias
de Israel ficaram desertas, até que Débora se levantou por mãe!.
Não podemos ficar
esperando que surja alguém que levante a nossa tenda e erga as lonas.
Para que nossos lares
não sejam destruídos, precisamos estar alertas como pai e mãe, não podemos
ficar apenas lamentando que nossa casa está caída, que nossos filhos se foram,
e que ninguém há que levante a tenda e erga as lonas. É preciso ter esperança.
Orar com esperança. Crer. Interceder. Suplicar. Proteger. Sair à guerra.
Conclusão:
O texto fala do
profeta dizendo: “Ai de mim, por causa da minha ruina! É mui grave a minha ferida; então
disse eu: com feito é isto o meu sofrimento e tenho de suportá-lo. A minha
tenda foi destruída”.
Não posso me
transformar em uma vitima e ficar chorando. Sem arrependimento, sem clamor, sem
ação, dominado pela impotência. Não posso apenas contemplar a gravidade da
minha ferida e ficar me vitimizando: Ai de mim!... A minha tenda foi
destruída... Ninguém há que levante a minha tenda...
A história da mulher
cananeia registrada em Mt 15.21-28 descreve uma mulher perseverante, que sai à
luta pela sua filha num processo de auto destruição. Ao procurar Jesus, o desespero estava
presente em seu rosto, sua família estava sendo destruída, sua filha estava
dominada por forças satânicas. Ela descreve a situação como de alguém
“horrivelmente endominhada”. Podemos imaginar um quadro tão confuso e caótico
quanto este? O diabo fazendo ninho na vida de sua filha? Sua casa sendo morada
do diabo?
Ele assume faz pelo
menos três coisas fundamentais:
A.
Ela não nega a situação – Não dá nome
bonitos, não psicologiza, não justifica, não faz avaliação psiquiátrica de sua
filha. Já viram pais tentando fazer diagnóstico de seus filhos?
A mulher siro fenícia,
encara o problema de frente. A realidade não era nada boa, mas ela não nega a
catástrofe iminente.
B.
Ela identifica o problema – “Minha filha está horrivelmente
endemoninhada”. Estar dominada por
forças malignas já seria uma dura realidade, mas ela a descreve como alguém
“horrivelmente” dominada. Isto revela a gravidade da situação.
C.
Ela vai na direção daquele que pode socorrer – “Ela clamava” (Mt 15.22). Isto é
esperança.
O mais surpreendente,
contudo, é o fato de que Jesus parece indiferente ao seu clamor. A leitura
cuidadosa do texto nos surpreende. Por três vezes Jesus constrange aquela
mulher e aos seus discípulos com uma atitude de aparente descaso e indiferença.
Ela por acaso desistiu? Pelo contrário. Do encontro inicial e fracassado,
marcado pelo seu clamor, ela aumenta a intensidade e se ajoelha diante de Jesus.
O texto afirma que “ela, porém, veio e o
adorou, dizendo: Senhor, socorre-me!” (Mt 15.25). Como é que Jesus vai
ignorar o clamor de alguém que tão intensamente luta pela sua casa? Com tanta
humildade e perseverança ora a Deus?
Quando estamos no meio
da aflição e buscamos a Deus eventualmente nos sentimos desamparados. Deus
parece distante, ele parece ignorar nossa dor. Por três vezes aquela mulher
clama o Senhor e parece ser desprezada e humilhada publicamente. O que Jesus
queria desta mulher? Ele queria saber se realmente lutar por aquele assunto tão
sério ocupava sua agenda. Muitas vezes paramos no primeiro round.
Mas Jesus atende
àquela mulher dizendo: “ó mulher, grande
é a tua fé! Faça-se contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha
ficou sã!” (Mt 15.28)
Muitos lares hoje em
dia estão em frangalhos. As cordas se romperam, a tenda caiu. O quadro é de
desalento, tristeza e desânimo. Nestas horas,
podemos nos paralisar e nos acomodar, ou podemos reagir e lutar por aquilo que
cremos que Deus pode nos conceder.
Esta hora não é hora
de vitimizar. Não é hora de apenas chorar.
É hora de despertar!
Que Deus nos ajude!
Nenhum comentário:
Postar um comentário