quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

At 17.16-34 O Deus desconhecido



Introdução:

Em sua segunda viagem missionária Paulo ministrou em várias cidades da Macedônia, entre elas Filipos, Tessalônica e Bereia, de onde foi praticamente, expulso da cidade.Dali segue para Atenas, onde permaneceu sozinho, aguardando a chegada de seus colegas de trabalho Silas e Timóteo.

O discurso de Paulo em Atenas (Atos 17,16-34) é importantíssimo para nossa reflexão atual, porque trata diretamente da relação entre gregos e cristãos, entre a cosmovisão cristã com a sociedade secularizada e pagã. Este é, sem dúvida, o grande desafio na obra missionaria, evangelística e para os pregadores contemporâneos. Como comunicar, de forma relevante, a mensagem do evangelho a uma geração que desconhece Deus? Ou que se cerca de outros deuses e discursos religiosos? O discurso de Paulo reflete o primeiro encontro entre filosofia grega e fé cristã.

O livro de Atos dos Apóstolos, narra inúmeras situações em que a mensagem de Cristo é pregada aos judeus nas sinagogas, mas o discurso de Paulo em Atenas que se dá por volta do ano 50-52 d.C., no Areópago, tem uma abordagem completamente distinta. Paulo sequer cita o Antigo Testamento. Os atenienses desconheciam e não se importavam com um livro que era sagrado para um povo específico: os judeus.O mesmo acontece hoje quando, no meio secularizado, citamos a Bíblia como autoridade. 

Percebendo a forma como se construía o pensamento dos atenienses, bem como seu temor supersticioso (deisidaimonia, religiosidade vs. 22) já que havia imagens para todas as divindades, incluindo uma dedicada ao ‘Deus desconhecido’ (agnôstô Theô), Paulo parte da reflexão filosófica, citando poetas; e da religiosidade, para pregar com relevância a mensagem de Jesus. Seus interlocutores são os filósofos epicuristas e estóicos, escolas filosóficas muito influentes naqueles dia. Este texto serve de paradigma para compreender melhor a relação entre fé cristã e filosofia no mundo antigo e como pregar o evangelho a uma geração que não possui qualquer vinculo intelectual com o pensamento judaico cristão.

Atos 17.16-34 é, sem discussão, uma das passagens mais relevantes em toda as Escrituras para a igreja em nossos dias. Como John Stott escreveu esta passagem responde o tipo de pergunta que que a igreja pós-moderna enfrenta.

Perguntas como:

“Qual deve ser a reação de um cristão que visita uma cidade que é dominada por ideologias ou religiões não cristãs, uma cidade que pode ser esteticamente magnífica e culturalmente sofisticada, mas moralmente decadente e espiritualmente morta?

Como lidar com uma cultura religiosa, mas dominada por um pensamento pagão?

Como reagir e responder a ideologia não-cristã? Ao ceticismo?

Como responder à questão: “o importante é ter fé” não importa qual é o seu Deus? As pessoas de Atenas eram religiosas. Paulo afirma: “Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos” (At 20.22), mas ainda assim estavam perdidos na superstição e idolatria.

Stott afirma que temos aqui quatro estágios da reação de Paulo em Atenas: O que ele viu, sentiu, fez e pregou.

Primeiro: O que Paulo viu?

Paulo estava à espera Silas e Timóteo que ficaram em Bereia de onde fora expulso pela perseguição. Enquanto esperava andou e observou cuidadosamente a religiosidade do povo: “Porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está escrito: AO DEUS DESCONHECIDO” (AT 17.23). Seu olhar era intencional e atento. E algo lhe chamou a atenção: “a idolatria dominante na cidade” (At 17.16).

Atenas, em seu auge (Séc V a.C) foi a maior cidade do mundo. A arte, literatura, a arquitetura e as filosofias que existiam influenciavam a cultura grega e ainda são o ponto de partida para a reflexão filosófica até hoje, no pensamento ocidental. Atenas era o lar de alguns dos filósofos mais influentes da história, como Péricles, Sócrates, Platão e Aristóteles. Corinto era a capital da província, mas Atenas era a maior cidade. Os romanos dominavam pela força, mas os gregos pela mente. A cidade que era o berço da cultura mundial estava imersa numa profunda cegueira espiritual, encharcada de um maligno obscurantismo espiritual.

Petrônio, um escritor contemporâneo de Paulo, afirmou que era mais fácil um deus em Atenas do que um homem. Estima-se que a população de Atenas fosse de 10.000 habitantes, mas havia cerca de 30.000 estátuas públicas associadas à idolatria. Havia mais estátuas dos deuses em Atenas do que em toda a Grécia.

Lá se encontrava ainda o maravilhoso templo na colina da cidade, o Partenon, dedicado à deusa Atena, com suas magníficas colunas. O templo feito de ouro e mármore possuía 17 colunas laterais e 8 colunas de largura. A estátua da deusa podia ser vista a sessenta quilômetros de distância. Paulo sentiu uma forte tristeza e indignação, ao ver como a cidade estava entregue ao obscurantismo religioso.

Não faltava religião. O povo estava farto de religião. O que faltava era o conhecimento do Evangelho do Senhor Jesus Cristo; daquele que morreu na cruz e ressuscitou dentre os mortos, única esperança para a humanidade.

Segundo: O que Paulo sentiu?

Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade” (At 17.16).

A expressão “se revoltava” (paroxuno) tem a raiz da palavra “paroxismo”, em português, que significa “estimular, irritar, provocar, causar ira”. Era utilizada em referência a um ataque epilético ou convulsão. Paulo experimentou uma reação visceral de indignação. Ele teve uma “epilepsia espiritual”.

Certamente ele ficou impressionado com a arquitetura de Atenas, com obras de arte espalhada por todos os lados sendo que a maioria era de ídolos. Mas sua possível reação de encantamento transformou-se em tristeza, porque todos aqueles nichos refletiam a tendência à idolatria e o afastamento de Deus. Isto causou-lhe uma reação profunda e visceral . A cidade de Atenas estava sufocada pelos ídolos.

Terceiro: O que Paulo fez?
É interessante pensar sobre isto, porque Paulo não ficou lamentando a situação caótica da sociedade, mas decidiu confrontar aquela situação. Paulo procurou locais onde poderia, de alguma forma, falar da verdade de Jesus.

O texto descreve pelo menos três ambientes em que Paulo ensinou:
a.     Sinagoga – “Por isso, dissertava na sinagoga entre judeus e gentios piedosos” (At 17.17). É Importante enfatizar a expressão “por isso”. Ao observar toda condição espiritual daquela cidade, Paulo decidiu pregar àqueles que imediatamente poderiam estar ligados à Lei e às profecias. Ele se dirigiu estrategicamente aos judeus.

b.    Praça – “...também, na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali”(At 17.17). Estando numa cidade pagã e pluralista, ele sabia que os atenienses não ficariam à vontade de entrar numa sinagoga judaica, por isto ele sai da sua zona de conforto, deixa as paredes e se dirige aos locais públicos, onde os debates de ideias aconteciam. Naquele ambiente “universitário”,  os filósofos e estóicos passaram a discutir com ele, a ponto de ter sido chamado de “tagarela”, e receber o desprezo e zombaria ao ser considerado “pregador de estranhos deuses; pois pregava a Jesus e a ressurreição” (At 17.18). Com razão, sua mensagem era “bizarra”, como ele mesmo definiu: A mensagem da cruz é “escândalo par os judeus e loucura para os gentios”.

A palavra “tagarela” (spermologos) estava relacionada a várias espécies de pássaros que se alimentam de grãos e era usada para descrever mestres que, não tendo ideias próprias, acabavam plagiando os outros, aderindo às opiniões de vários autores. É um termo de escárnio equivalente a “papagaio”, como declarou Eugene Peterson.

c.     Areópago – “Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago dizendo, Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas?” (At 17.19). O areópago já era um lugar mais elitizado, em forma de teatro. O ambiente ali era de muita discussão filosófica, e os atenienses apreciavam a multiplicidade de ideias: “Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as ultimas novidades”(At 17.21).

Ao observarmos que ele foi levado ao Areópago, devemos entender que sua mensagem causou tanta agitação entre os filósofos que estes o levaram perante o principal conselho legislativo e judicial de Atenas. O areópago se referia a um tribunal de juízes que consistia de trinta atenienses aristocráticos, e era um dos tribunais mais respeitáveis do mundo gentio.

Paulo nasceu em Tarso, uma das três grandes cidades universitárias do mundo romano, as outras duas era Atenas e Alexandria (Egito). Tarso foi profundamente influenciada pela cultura grega. Paulo era um judeu helenista. O diálogo começou com uma pergunta: “Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos saber o que vem a ser isso?” (At 17.20). Eles não tinham interesse genuíno no Evangelho, mas a novidade da mensagem lhes atraiu e valeu a Paulo o convite para o Areópago.
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Quarto: O que Paulo pregou?

O texto afirma que Paulo teve que enfrentar dois conhecidos grupos filosóficos que “contendiam com ele”: Os epicureus e os estóicos (At 17.18).
Que linha de pensamento estes dois grupos defendiam?

Duas correntes filosóficas

Epicureus

Os epicureus eram seguidores de um filósofo grego chamado Epicuro (342- 270 a.C). De acordo com Epicuro, o objetivo principal da vida era atingir o máximo de prazer e a quantidade mínima de dor. Pregavam e acreditavam que o sentido e o propósito da vida era a satisfação do desejo, já que a vida é só o aqui e o agora. Não acreditavam na vida após a morte, no juízo final, nem no céu e muito menos no inferno. Para eles, ou os deuses não existiam, ou não exerciam influência alguma nos seus negócios. Viviam apenas para testar os deleites da carne e desfrutarem todos os prazeres. Eles eram hedonistas. Se você pensa desta maneira, certamente você está muito distanciado da visão cristã. Na verdade, a visão epicurista não difere da realidade da nossa cultura atual.

A filosofia epicurista é a sementeira a partir do qual o hedonismo moderno cresceu. Considere seus colegas de trabalho que não conhecem a Jesus, a sociedade brasileira, os artistas do cinema e da TV. Não agem exatamente assim? Trata-se de uma sociedade dominada pelo prazer, que não pensa no destino de alma e que um dia terá que prestar contas a Deus. A síntese desta filosofia é “comamos e bebamos porque amanhã morreremos”, não tem preocupação com o amanhã; talvez você pense assim: A vida passa e tenho que aproveitar a vida, procurando satisfazer os desejos e paixões. Paulo confronta essa linha de pensamento.

Estóicos

Os estoicos eram discípulos do pensador Zenão (332-260 a.C.). Eram panteístas e fatalistas e acreditavam que forças impessoais controlavam todas as circunstâncias da vida. Eles se orgulhavam de sua capacidade de aceitar o que viesse. Ou seja, os estoicos ensinavam que a vida é cheia de momentos bons e ruins, e que ninguém é capaz de evitar o mau, então, é preciso manter-se sereno em qualquer circunstância. Na filosofia estóica não havia esperança. Não havia para onde correr, já que a vida era determinada pelo fatalismo, pelo destino cego e implacável; as pessoas viviam à mercê do acaso e do destino. Não há como mudar, a vida vai para onde tem que ir, não adianta crer em nada, nem manter a esperança. Estamos fadados às coincidências e acasos.

Mas o evangelho ensina outra coisa: 
É possível mudar. Sair da escravidão do pecado,  ser liberto. Há uma nova vida em Jesus. Ele se manifestou para libertar, perdoar, transformar e fazer novas todas as coisas. Ele pode mudar sua vida, e transformar sua história. Jesus continua libertando os cativos e transformando vidas, por isso a filosofia estóica está equivocada. É possível mudar, quando Deus opera no coração do homem. Aquelas pessoas eram cultas, mas cegas espiritualmente.

O conteúdo da mensagem

Paulo começou sabiamente com um ponto de referência na cultura. Esta é, certamente, o mais adequado quando se procura comunicar a um mundo secularizado. É preciso descobrir os pontos de contato. Paulo não abriu um pergaminho como fazia ao pregar em uma sinagoga; no entanto, o que ele disse foi completamente bíblico.
Em seguida, começou a falar sobre o Deus vivo e verdadeiro aos atenienses. Paulo compartilhou cinco verdades sobre Deus.

1.                    Ele é o criador dos céus e da terra – “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas” (At 17.24).

A primeira declaração das Escrituras é: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Precisamos afirmar o lugar de Deus em relação à criação. O mundo não  é produto de uma explosão cósmica ou de um processo evolutivo. Como diz Adauto Lourenco: “Precisamos ter mais fé para crer na evolução, do que crer que Deus criou todas as coisas”. É mais fácil você acreditar que pegando um milhão de letras e jogando no ar, elas formariam um dicionário do que acreditar que uma explosão deu fruto a este Cosmos com suas leis e ordem.


O Dr. Marshall Niremberg, Prêmio Nobel de biologia descobriu que o ser humano adulto tem 60 trilhões de células vivas, e, em cada uma dessas células há um 1,70m de fita DNA, onde são gravados e computadorizados todos seus dados genéticos, a cor dos seus olhos, a cor da sua pele, etc. Se você pegar a fita DNA do seu corpo e “espichá-la”, você terá 102 trilhões de metros de fita DNA, você tem 102 bilhões de quilômetros de vida DNA. Daria para dar diversas voltas no sistema planetário. Códigos de vida não se originam do nada e do acaso, foi preciso uma mente inteligência sábia e onipotente para criar essas coisas. A vida não é produto do acaso; a vida é feita pela mão de um Deus Todo-Poderoso.

A biologia moderna, com sua ênfase no evolucionismo, e de forma mais complexa na “geração espontânea”, faz de tudo para descartar a ideia de Deus por detrás da criação, mas o Deus que adoramos é o Deus criador dos céus e da terra, e “pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hb 11.3).

Ele é o Deus criador, “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe...” (At 17.24). Paulo começa declarando que existe um Deus que criou todas as coisas. Este é o ponto de partida para a evangelização: Deus, pessoal e propositadamente, criou todas as coisas. É também o ponto final lógico do culto cristão. Romanos 11.36 nos lembra que a criação leva à doxologia: “Por que dele e por meio dele e para ele são todas as coisas”. A mensagem de Paulo contrariava a visão dos estóicos, panteístas que acreditavam que tudo fazia parte de Deus. Eles não tinham a cosmovisão de um Deus criador.

A afirmação ousada do apóstolo de que Deus criou o mundo e todas as coisas era poderosa e perturbadora para os atenienses ouvirem. Este era um dos problemas fundamentais em Atenas. Eles realmente não acreditavam que Deus criou os céus e a terra. E que por isto era “... Senhor do céu e da terra...” (At 17.24).

Por meio da natureza podemos perceber a ação de um Deus Todo-Poderoso.

Conta-se que na revolução francesa decidiram fechar templos, queimar bíblias e impor uma sociedade ateia, e um mensageiro chegou a uma cidade interiorana e disse a um camponês cristão:

– Eu vim aqui pra fechar o templo da sua igreja, queimar a sua Bíblia e banir a tola ideia de Deus.

E aquele camponês respondeu bravamente:
– O senhor pode queimar o templo da minha igreja, pode queimar a Bíblia, mas antes do senhor banir da minha mente a ideia de Deus, o senhor vai ter que, primeiro, apagar as estrelas do céu, porque enquanto elas brilharem eu saberei que Deus existe e que Ele é o criador de todas as coisas!

O Deus a quem servimos é o criador dos céus e da terra, essa é a primeira verdade que Paulo anuncia na capital da cultura, a cidade de Atenas.

2.    Ele é o Deus da providência – “Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (At 17.25)

Ele é Poderoso e soberano. Não precisa de nada, não se submete a nenhuma vontade, regra ou convenção humana, que ele mesmo não tenha criado. Alguém afirmou: “não gosto deste negócio de um Deus sobre o qual não temos controle”. Pois a verdade é que não temos qualquer controle sobre o Todo-Poderoso. Este é o Deus da bíblia.

A grande tentação da idolatria é que Deus fez o homem a sua imagem e semelhança, mas o homem resolver fazer deuses à sua imagem e semelhança. O fascínio da idolatria é exatamente este. Queremos deuses que pudessem manipular, controlar e domesticar, não um Deus Todo-Poderoso.

Deus não precisa de coisa alguma. Nem do nosso louvor, nem do nosso dízimo, nem que a gente venha à igreja. Ele não é um Deus nem maior nem menor porque eu o ignoro ou porque eu o adoro. Ele é Ele! (Jo 23.13). Se afirmo que ele não existe, ele não vai deixar de existir. Se afirmo que ele existe, não é isto que o faz existir, já que sua existência não depende de nós.

Pois, Ele mesmo é quem dá vida, respiração e tudo mais”. Mais adiante lemos: “pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17.28). É Ele que nos dá a vida, preserva a saúde, dá o fôlego da vida, envia o sol e a chuva para o ímpio e para o cristão, dá o pão de cada dia. É Deus quem dá a benção de ter paladar e coloca sabores, os mais diversos, nos frutos que estão à mesa; Deus nos tem cercado de bondade, Ele preserva a vida. Ele é o dono de tudo. Senhor e sustentador do céu e da terra. Ele governa tudo.

Por esta razão, Deus não cabe dentro de estruturas ou construções. “... não habita em santuários feitos por mãos humanas” (At 17.24). Não se limita a templos construídos por mãos humanas: “Assim diz o SENHOR: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis vós? E qual é o lugar do meu repouso? Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o SENHOR, mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra” (Is 66.1–2). Ele é o Deus provedor “Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (At 17.25).

3.    Deus controla os eventos da história – “...de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação”(At 17.26) –

Não apenas criou, mas sustenta a natureza.
Ele “fixou os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação”(At 17.26). e “não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-nos chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e alegria” (At 14.17).

O profeta Jeremias descreve assim a relação de Deus com sua criação: “Assim diz o Senhor, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas” (Jr 31.35). A natureza é controlada por Deus.

Impressiona-me a previsibilidade das estações:
No Centro Oeste do Brasil, todos os anos, as coisas acontecem do mesmo jeito: Durante 4 meses raramente chove (Maio a Agosto). Quando a chuva cai, a natureza brota por toda parte. No calor de agosto, o lavrador prepara a terra, a chuva é ansiosamente esperada, e mais uma vez a semente será colocada na terra trazendo fartura e abundância de cereais. A previsibilidade aponta para um Deus harmônico.

Assim é o nosso Deus
Esta compreensão destrói o falso conceito deísta que afirma que Deus criou a natureza, mas não se importa com ela. O Deus que adoramos está presente na natureza, nos seus ciclos e estações, e em todas as coisas vivas. Ele é o sustentador de todas as coisas. Deus não apenas criou, mas cuida da criação. Deus sustenta a criação.

4.    Deus é Senhor de todos os homens  Sendo ele Senhor do céu e da terra” (At 17.24).

Um dos ensinamentos mais claros na Bíblia é de Jesus como Senhor. O Novo Testamento chama Jesus de salvador 22 e duas vezes e 665 de Senhor. Precisamos crer em Jesus como Senhor, diante do qual todo joelho um dia se dobrará. Todos os poderosos um dia terão que se curvar diante de Deus.

Ele é o Deus soberano “de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação” (At 17.26). Ele controla a vida e o destino dos homens e das nações. Na verdade, Deus determinou tudo! A ascensão e a queda de nações e impérios estão em Suas mãos (Dn 2.36; Lc 21.24). Deus estabeleceu os limites de sua habitação, determinando suas conquistas. Esta mensagem era contrária aos estóicos que achavam que tudo acontecia por acaso e destino. Ele é o Deus que se revela “para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós” (At 17.27).

Mesmo sendo soberano Ele não é tão distante que não pode ser encontrado. Trata-se da revelação natural de Deus na consciência humana (Rm 2.14-15). Mesmo aqueles que nunca ouviram o evangelho ainda são responsáveis perante Deus por falhar em viver de acordo com a revelação natural. Paulo cita  um dos poetas gregos e isto demonstra que os gregos não podiam alegar ignorância. Até mesmo seus poetas reconheciam a revelação de Deus na natureza. O poeta Epimênides observou que “pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos”, Embora Paulo pudesse citar tais verdades partindo do Antigo Testamento, ele escolheu, ambientar sua palavra à audiência pagã, que não estava familiarizada com as Escrituras. Ele usa citações dos poetas gregos para refutar a visão ateniense da natureza de Deus.

5.    Deus é o autor da salvação  Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que ha de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17.27).

Paulo pregou Jesus e a ressurreição.
Por que é importante falar deste tema?

Porque a morte de Jesus é o ponto central das Escrituras, é o remédio que Deus providenciou para resolver o problema central da raça humana que é o pecado. O pecado entrou na história e causou um terrível estrago. O pecado nos tornou escravos dos desejos e paixões, e nos distanciou de Deus. Fomos criados para sua glória, mas lamentavelmente vivemos apenas para nossa glória pessoal e nos rebelamos contra o criador. Nenhum mérito humano pode reparar este dano causado pelo pecado, nem nos tornar suficientes para ganhar a salvação. Não há ninguém que consiga agradar a Deus. O pecado causou um grande abismo, separando-nos de Deus. Jesus pagou nossas dívidas e nos perdoou, por meio do seu sangue. Por isto Paulo prega a Jesus, porque nenhuma mensagem cristã é completa se não falarmos de Cristo.

A Bíblia afirma que Deus vai julgar o segredo do coração dos homens. Por isto, sem Jesus estamos todos perdidos. O homem não pode salvar-se a si mesmo. Deus enviou seu único filho, Jesus e fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós. Em Jesus somos libertos e perdoados, nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. Ele sofreu a penalidade do nosso pecado, e todo aquele que nele crer e nele confiar, tem a vida eterna. Esta é a grande mensagem da salvação.
É bom refletir no fato de que muitos confessarão a Jesus como Senhor obrigatoriamente no dia do juízo, mas não serão salvos. Jesus afirma que “Aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante do Pai”. É necessário confessar hoje, no tempo presente, a Cristo como Senhor. Alguns pressupõem que não estão  fazendo nada errado, e não precisam se arrepender de coisa alguma, mas a situação do ser humano é pior: precisamos nos arrepender não apenas daquilo que fazemos, mas daquilo que somos. Por mais religioso ou moralista que você seja, você é pecador. Nosso problema nas igrejas de hoje é que muitos estão crendo, sem se arrependerem. É preciso arrependimento para a salvação. Precisamos nos arrepender de nossa justiça própria, de viver uma vida achando que somos bons e não precisamos de um salvador.
A verdade é que, pelas obras, méritos e religiosidade, ninguém será salvo. Nossa salvação é obra exclusiva de Jesus Cristo, e por isto precisamos confessá-lo e depositar toda nossa confiança no seu sacrifício do calvário, para sermos salvos.

Os atenienses deveriam se arrepender. Paulo utiliza a palavra “arrependimento” em seu sentido etimológico, “mudar a mente”. Eles deveriam mudar a forma de pensar sobre Deus. Ele não é um ídolo feito por mãos humanas, mas o Criador, Sustentador e Senhor de tudo. Os atenienses deveriam se arrepender porque o julgamento estava próximo. Deus julgará o mundo “por meio de um homem que destinou”. O Senhor Jesus Cristo é o juiz de todos os homens. Crer em Cristo leva à salvação; não crer em Cristo leva à destruição. Não há salvação fora de Jesus. Embora tenha sido morto pelos judeus, Deus “o ressuscitou dentre os mortos”. Sua ressurreição mostrou a aprovação de Deus e o qualificou como juiz.


Conclusão:
Como responder ao evangelho?

Diante do discurso de Paulo, três respostas foram dadas:

A.   O grupo dos zombadores (At 17.34) – Quando o evangelho é pregado esta é uma resposta comum: oposição e escárnio. As pessoas não costumam ser diferentes dos intelectuais atenienses.

Quando ouviram falar de ressurreição de mortos, uns escarneceram, e outros disseram: A respeito disso te ouviremos noutra ocasião” (At 17.32). A resposta à mensagem era previsível, considerando o desprezo que seus ouvintes expressaram anteriormente ao chamá-lo de “tagarela” (cf. At 17.18). Quando ouviram falar da ressurreição de mortos, alguns zombaram. Os epicureus não acreditavam na ressurreição, achavam que a morte era o fim da vida.

B.    O grupo dos indiferentes – (At 17.34) – Outro grupo tem uma atitude de desprezo: “A respeito disto te ouviremos em outra ocasião”. O que eles afirmam é que não é importante refletir sobre isto nos dias atuais. Tais pessoas adiam suas decisões. São muitos os que pensam e agem assim.

Há uma estória que diz que houve uma assembleia no inferno e os demônios estavam preocupados, porque pessoas estavam sendo libertas e saindo das suas garras, e então, decidiram criar um plano, um projeto para impedir as pessoas de crerem em Jesus. Um demônio se levantou e disse:
– Eu tenho uma solução, vamos dizer que a Bíblia é uma mentira, uma bobagem, que papel aceita tudo e esse livro já tem mais de dois mil anos e não merece mais crédito no século da ciência. Então levantou um demônio mais experiente e disse:
– Essa não vai colar, porque esse livro tem enfrentado as fogueiras, a intolerância, os críticos, e este livro é uma bigorna que tem quebrado todos os martelos dos céticos.
Então, levantou-se outro demônio e disse:
– Bom, então vamos dizer que o homem é bom, que ele não precisa de Deus, que ele pode chegar até ao céu pelos seus esforços, pelos seus méritos.
Então outro demônio, ainda mais experiente, pediu a palavra e disse:
– Isso não vai funcionar porque quando o homem reconhece que é pecador e põe sua confiança no Filho de Deus, ele vai ser salvo, não tem jeito. E muitas outras propostas foram sendo levantadas. Nenhuma satisfez até que o maioral do inferno se levantou e disse:
– Eu tenho uma solução. Vamos dizer para o homem que a Bíblia é verdade, vamos dizer para o homem que ele é pecador, vamos dizer para o homem que só Jesus Cristo salva, mas vamos falar um pouco mais. Vamos levar o homem a tomar essa decisão mais tarde, agora não, agora é cedo, depois quem sabe…
Este é o perigo fatal, porque seu amanhã pode não existir. E a Bíblia diz: “Se hoje ouvirdes a minha voz, não endureçais o vosso coração”. Hoje é o dia, agora é o tempo, não amanhã. O amanhã pode não existir.

C.    Confiança e entrega (At 17.34) – O último grupo é marcado por aqueles que creram e se agregaram à igreja de Cristo.

Alguns entenderam a mensagem e foram convencidos de sua verdade. É preciso tomar esta decisão na vida. É preciso se render a Cristo, nascer de novo, receber a Jesus como Salvador e Senhor. Entre nós e Deus há um grande abismo e só através de Cristo poderemos ser resgatados. Muitos disseram a Paulo: A respeito disso te ouviremos noutra ocasião” (At 17.32). Entretanto, Paulo saiu do meio deles logo em seguida e nunca mais voltou (At 17.33). O ministério de Paulo em Atenas foi um fracasso? Apesar de não haver registro de uma igreja fundada em Atenas, alguns homens acreditaram na pregação, entre eles, Dionísio, membro do Areópago, um homem de muita influência em Atenas. Lucas também menciona uma mulher chamada Damaris (At 17.34).

Conclusão:

No dia 31 de outubro de 1989, aconteceu um fatídico crime na agência do Banco Itaú em São Bernardo do Campo, quando sete assaltantes entraram e uma criança começou a chorar no colo da sua mãe. Então, um daqueles assaltantes dirigiu-se à mãe e disse: Faça calar essa criança, senão eu a mato. A criança, mais perturbada ainda, não conseguiu calar a sua voz, e aquele assaltante, friamente, covardemente, impiedosamente matou aquela criança e a sua mãe.
Naquele dia do crime, a polícia matou cinco daqueles sete criminosos, mas aquele que tinha assassinado a criança escapou. Tratava-se de “Paulinho Bang-Bang”, um moço de classe média da cidade de Piracicaba, que, brigado com o pai, saiu de casa, mergulhou nas drogas e no crime. Para espanto da nação brasileira, o pai daquela menina assassinada, que também ficou viúvo, era um crente no Senhor Jesus Cristo; e ele disse no Jornal Nacional, para o Brasil inteiro ouvir: Aquele homem matou minha mulher e minha filha barbaramente, porque não conhecia o Deus que eu conheço; eu o perdoo porque ele não conhecia o meu Jesus”. E não apenas o perdoou, mas enviou à cadeia um missionário e evangelista, para levar uma Bíblia e falar-lhe do amor de Deus, e quando aquele evangelista foi à prisão, “Paulinho Bang-Bang”, em vez de acolher a palavra, pegou um punhal, feito por ele na prisão, objetivando enterrá-lo no peito do evangelista. Quando ele ergueu a mão para sacrificar aquele que trazia a boa notícia do Evangelho foi quebrado pelo poder de Deus, perdeu a articulação do braço e do corpo e ali mesmo caiu sem nenhuma força para prosseguir com seu intento. Quando ele se levantou, era uma nova criatura. À semelhança de Saulo de Tarso era um homem convertido. Aquele homem era “Paulinho Bang-Bang”, agora um pastor evangélico, transformado pelo poder de Deus.

Platão relata uma história sobre um filósofo chamado Tales, que viveu cerca de um século e meio antes dele. O filósofo estava andando por uma estrada olhando para o alto, estudando as estrelas, quando tropeçou em um poço. Após ouvir seus gritos de socorro, uma criada puxou-o para fora. Tales disse que estava tão ansioso para saber sobre as coisas do céu, que não conseguiu ver o que estava debaixo dos seus próprios pés.
Muitos são assim. Eles se preocupam com perguntas elevadas, mas não querem enfrentar o seu próprio pecado e a necessidade de um Salvador antes de morrer.

Que decisão você vai tomar?
Qual é a sua escolha?
Você já confiou nEle como Salvador e Senhor?
Você já abriu seu coração para Ele?

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