Introdução:
Frei Carlos Mesters escreveu um
sugestivo livro com o nome de "Deus onde estás?" Este foi também o
lema da SAF da IPB em 1989: "O teu
Deus onde está?"
Há uma preocupação atual com a
apostasia, preocupação aliás, justificada. Existe sempre uma estatística para
dizer quantos entraram, mas não para dizer quantos saíram.
Muitas igrejas não tem apontado crescimento
numérico em seu rol, apesar de terem recebido significativo número de novos membros,
porque muitos infelizmente tem se afastado da igreja. O desafio não é apenas
ter a porta da frente aberta para acolher e receber os visitantes e novos
membros, mas também para fechar a porta de trás. Considere quantos filhos da
igreja encontram-se fora da comunidade. Tome as páginas de catálogo de membros
e veja quantos permanecem na Igreja. Enumere os amigos, que já comungaram
conosco e que se foram ou simplesmente se afastaram da comunidade cristã.
Contexto:
O texto de Lucas é narrativo, mas
queremos dar-lhe uma ênfase alegórica, que pode ser um discurso didático, ainda
que perigoso porque alegoricamente é fácil deturpar e manipular o sentido
original. Muitos pregadores modernos tem usado este recursos com resultados
desastrosos.
Na Bíblia encontramos pelo menos
um texto no qual o Apóstolo Paulo lança deste recurso ao falar de Sara e Hagar
como figura de duas alianças (Gl 4.21-31), numa interpretação bem complexa, mas
certamente aceita por tratar-se de um texto inspirado da Bíblia Sagrada. Nenhum
expositor sério da Bíblia faria isto hoje em dia, mas nós cremos sem
dificuldade que Paulo era inspirado por Deus ao fazer tal leitura.
O texto de Lucas descreve a
embaraçosa situação de José e Maria que perdem Jesus nos dias agitados e turbulentos
da Páscoa na cidade de Jerusalém, a festa mais importante para os judeus.
Pessoas vinham de todos os lados e superlotavam a cidade, fazendo-a mais
parecida com um mercado persa ou Rio de Janeiro em dias de carnaval.
O que é mais assustador: Jesus se
perdeu no templo.
O menino Jesus foi esquecido
dentro das estruturas religiosas. Ele nunca saiu dali, conversando com os
mestres, mas seus pais não tinham mais a capacidade de saber onde ele se
encontrava, apesar de Jesus nunca sair do perímetro dos imensos corredores e
inúmeras salas e compartimentos no maravilhoso e ostensivo templo de Herodes.
Não é difícil imaginar como
Cristo se perdeu nos círculos religiosos.
Podemos perder a Jesus dentro dos
templos, participando das atividades diárias da casa do Senhor, servindo a
Deus. Não são poucos os que perderam a
Jesus servindo a Jesus, porque ignoraram alguns elementos essenciais para andar
em comunhão com Jesus, o senhor da obra.
Em 2 Rs 22.1-13 vemos o relato de
uma época em que os textos sagrados não exerciam grande papel na vida das
pessoas, e se perdeu nos dias do rei Josias, um dos piedosos reis de Judá. Ele
derrubou o altar do bezerro de ouro, que há 300 anos estivera de pé, e promoveu
uma restauração física no templo e nesta reforma encontraram, no meio dos
escombros, o Livro da Lei, que estava perdido por aproximadamente cinquenta
anos. Aquele livro estava perdido dentro do templo. Cinquenta anos perdido na
casa de Deus!
Podemos perder a Jesus dentro do
templo! Muitos perderam o temor e a reverência para com Deus apesar de estarem
na liderança da obra, e talvez por estarem na liderança. Podemos perder a
Bíblia em nossas igrejas, particularmente na vida de muitos cristãos e muitas
vezes até mesmo nos púlpitos!
As circunstâncias que levaram a
perda de Jesus, são as mesmas que nos levam a afastar-se dele em nossos dias:
Como Jesus se perdeu?
A. Distração ou desatenção- Maria e José se descuidaram...No
lufa-lufa da viagem e da festa, perderam o menino.
É fácil perder a Jesus na páscoa,
quando embrulhamos a maravilhosa mensagem da redenção nos enormes ovos de
chocolate; ou na festa de Natal, embalados pelo simpático velhinho de roupa
vermelha, carregado de presentes e cercado de ostentosos e caros banquetes
regados a vinho e champagne, nas festas que promovemos ou nas quais somos
convidados a participar.
É fácil perder a Jesus dentro do
templo.
Nos perdemos na festa, na
burocracia, no maquinário, na eclesiologia, nos planejamentos, na programação,
sem pararmos para perguntar: Onde está o dedo de Deus nisto tudo? Nos tornamos
desatentos com aquilo que é essencial. As estruturas não são podem ser maiores
que Deus.
B. Ativismo – Maria e José tinham muitas
coisas com que se preocupar nesta viagem.
Eles não tinham reservas em
hotéis como em nossos dias, nem poderiam contratar os serviços da Trivago, ou
da Paula Turismo. Eles tinham que levar comida, fazer suas refeições, preparar o
almoço nos improvisados lugares onde descansavam, se acomodavam e dormiam.
Havia inúmeros detalhes e envolvimentos da viagem. Podemos ver Maria, como uma
mãe atarefada nos preparativos para a longa viagem.
Além do mais, muitas pessoas para
encontrar, quantas novidades...
Deus facilmente se torna um
adereço da festa, como sempre acontece nas nossas festas religiosas. Se o
programa é bom, se há uma boa participação, uma boa música, boa comida, bom
pregador, não paramos para considerar: Onde está o dedo de Deus?
Às vezes temos um bom
organograma, boa programação, mas não perguntamos onde está Deus. Eventualmente
precisamos fazer como Isaque, sendo levado pelo seu pai Abraão para ser
sacrificado e pergunta de forma displicente mas relevante: “Temos aqui lenha e
fogo, mas onde está o cordeiro?” Isaque era uma criança, mas estava percebendo
que alguma coisa estava faltando naquele ato de culto que seu pai estava
preparando. “Onde está o cordeiro?”
Precisamos perguntar em nossas
atividades e tarefas: O que tem Deus a ver com tudo isto que fazemos? Onde está
Deus neste projeto? Ele realmente está engajado nisto ou fazemos apenas para
cumprir uma agenda de programas? Afinal de contas, Deus não está interessado em
ungir métodos, mas vidas.
C. Familiaridade com o Sagrado - "Quando ele atingiu os doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume
da festa" (Lc 2.42).
A expressão “segundo o costume”, transmite a ideia de que isto fazia parte do
calendário anual da família. Estava no programa, fazia parte da normalidade da
vida.
Rotinas são importantes na vida.
Precisamos de rituais,
regularidade, mas o problema é que, com o passar do tempo, é fácil perder a
inspiração. Rotinas são mestras em tirar o senso de admiração e sacralidade.
Pessoas religiosas são facilmente
vitimadas por este problema. Deixam de ver o sagrado como algo importante, e
tudo se torna apenas algo que precisa ser feito. A Bíblia passa a ser lida, mas
não necessariamente como Palavra de Deus para nos corrigir e educar na justiça.
Ir à igreja é necessário, mas nem sempre estamos conscientes do porque vamos à
igreja, por isto, qualquer programa interessante pode nos distrair. Perdemos a
dimensão da grandeza do ato e nos acomodamos com o constante lidar com o
sagrado. As coisas sagradas deixam de ser relevantes para nossas vidas, apesar
de ainda continuarem a ser feitas, como hábito e rotina.
O conhecido versículo da Bíblia “Eis
que estou à porta e bato", é dito por Jesus a uma de sua igrejas..
Já pararam para refletir em quão
estranha é a sua afirmação? Ele está dizendo que encontra-se do lado de fora e
deseja entrar nela. Ele não está dentro da igreja, mas excluído, batendo à
porta e pedindo para entrar. A familiaridade com o sagrado facilmente gera
monotonia e tédio.
Os judeus no deserto sentiram "fastio
do maná". Aquele evento era maravilhoso. Todos os dias, Deus na sua
providencia mandava alimento dos céus. Eles não precisavam plantar para colher,
apenas recolhiam e preparavam as receitas. Aquele evento era extraordinário,
mas os judeus disseram a Moisés que estavam com saudades do Egito, onde haviam
sido explorados e escravizados e sentiam “fastio do maná”. O mesmo acontece
quando nossa espiritualidade é meramente um ato rotineiro, quando temos gestos
espirituais apenas pelos costumes. Ficamos enfastiados com o banquete que desce
dos céus!
D. Estrutura organizacional - O templo de Jerusalém era um
elefante branco, enorme. Havia compartimentos reservados aos quase 4 mil
levitas. Além disto havia os músicos, que cantavam ou oficiavam. O lugar
preparado para os sacerdotes encarregados dos sacrifícios. Havia o pátio dos
gentios, o lugar dos santos, o santo dos santos, sala para objetos sagrados,
sala para vestes, tudo isto no superlativo.
As estruturas são imprecindíveis
e necessárias, mas profundamente eficientes também para roubar a nossa alma.
Por isto não podem ser a essência
do nosso culto nem o alvo de nossa vida cristã. Muitos tem perdido a Cristo por
isto.
Confundem essência com acidente,
organização
com organismo,
histórico com revelado,
temporal com o eterno.
Por isto vemos tantos teólogos
apostatando? Pastores céticos? Oficiais
descrentes, porque conheciam apenas a obra, mas não o Senhor da Obra. A isto
soma-se o número de pessoas se afastando da graça. Concílios que não conciliam
nada, reuniões que não nos abençoam em nada.
O que fazer quando você se sente
esgotado espiritualmente? Quando
sentimos nosso valor espiritual se esvaindo, quando começamos a ter aquela
sensação de vazio espiritual. O que você faz quando percebe que Jesus se perdeu
no meio da festa?
Como nós, os pais de Jesus,
tentaram resolver o problema.
Infelizmente, eles, como nós, primeiramente
fizeram algumas suposições equivocadas. Levantaram algumas teorias sobre o
problema.
Consequências:
1. Seguir normalmente a vida, sem
pressupor que algo esteja realmente errado- “Pensando,
porém, estar ele entre os companheiros de viagem, foram, caminho de um dia”
(Lc 2.44). O versículo anterior afirma que Jesus fica no templo, “sem que seus pais o soubessem” (Lc
2.43).
Os pais de Jesus equivocada se
firmaram em ideias erradas sobre o menino Jesus. "Pensando estar". Por causa desta equivocada maneira de
analisar o problema, eles foram caminho de um dia. Viajaram cerca de 30 kms, a
pé, sem o menino, e acham que está tudo certo!
É fácil continuar caminhando, sem
ter ideia exata de onde Jesus se encontra. Caminhamos sem ele e achamos que
está tudo normal. É possível caminharmos com Jesus acreditando que Jesus está
conosco, mas ele se encontra a uma longa distancia de nós.
Existe um raciocínio complicado
quando perdemos o sentido da direção. Quantos quilômetros eles terão que
corrigir nesta caminhada? Supondo que andaram 30kms, isto significa que terão
que andar 60kms, para corrigir a rota. São 30 kms para ir e 30 kms para voltar.
Ao mesmo ponto de onde saíram.
A diferença é que, quando
voltarem, terão o menino com eles.
Então, se você percebe que Jesus
está longe, volte. O caminho de volta pode ser cansativo, mas não dá para
continuar a jornada quando se sabe que ele ficou para trás. Precisamos
reencontrar, nem que seja três dias depois.
2. Buscar resposta entre os companheiros de viagem, parentes e
conhecidos – “Pensando, porém, estar ele entre
os companheiros de viagem, foram, caminho de um dia e, então, passaram a
procurá-lo entre os parentes e conhecidos” (Lc 2.44).
Ao perceberem que perderam Jesus,
tentaram encontrar entre companheiros, parentes e conhecidos. Inútil e
infrutífera busca! Os amigos também não sabem onde se encontra o menino. É um
cego guiando outro cego. José e Maria agora precisam fazer uma viagem de 30
kms, ou três dias de caminhada, em completa desorientação. As pessoas sabem
tanto quanto eles e o resultado só poderia ser: "Não o encontraram"
(Lc 2.44). Ninguém sabe.
A desorientação espiritual
deixa-nos fragmentando, mas se Jesus é perdido no coração, na sua vida, só
existe um caminho: Procurá-lo a partir de onde você o perdeu. “E não o tendo encontrado, voltaram a
Jerusalém à sua procura” (Lc 2.45).
Normalmente Jesus se perde por
descuido ou negligência espiritual, como aconteceu no caso dos pais Aqui se
encontra um forte ponto de tensão da vida cristã. Os pais de Jesus se
distraíram e o perderam.
Quantas coisas podem distrair o
nosso coração hoje em dia. Quanto entretenimento... Quando temos uma prática
equilibrada da oração, estudo da Bíblia, compromisso com o reino e com sua
comunidade, dificilmente o perdemos. Quem não fala com Deus se desorienta. Quem
não fica perto do filho em dia de festa, pode perder o menino. Mesmo estando
profundamente comprometido com estruturas, programas e atividades comunitárias.
Por isto vale a pena a
recomendação bíblica: "Lembra-te de
onde caístes e arrepende-te".
Onde Jesus pode ser
encontrado?
Apesar de toda procura e da
ansiedade no coração de Maria e José, como pais perdendo seus filhos em
ambientes repleto de pessoas, Jesus será encontrado no mesmo lugar onde sempre
esteve, isto é, na casa do Pai.
“três dias depois, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores,
ouvindo-os e interrogando-os” (Lc 2.46).
É necessário retorno.
"A crise de
integridade", foi um livro escrito por Warren Wiersbe. O autor começa
dizendo que a Igreja pode ser comparado a arca de Noé, lugar de salvação, lugar
de vida, mas também onde animais diferentes precisam conviver harmoniosamente e
repartir o espaço reservado para cada um, onde tantas vezes cheira mal. Wiersbe
Conclui que, apesar de não ser nada cheiroso estar dentro da arca, os que se
encontram dentro, jamais gostariam de sair, porque é o único lugar no mundo
onde existe vida. Lá fora está a morte...
As vezes buscamos Jesus em muitas
outras experiências, ao passo que Jesus nunca esteve longe.
Ele estava no lugar onde sempre
esteve: Na casa do Pai.
É no convívio dos crentes que
Jesus se manifesta,
Na
comunhão com o povo de Deus que encontramos graça,
Na
oração sincera que encontramos a Cristo,
Na
leitura devocional da Palavra que encontramos direção
E
no rasgar de corações que é possível achar vida.
É
necessário dar um passo atrás, buscar o ponto de partida.
Maria e
José precisam voltar para o templo para se encontrar com o menino.
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Paz.
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Gávea, Rio de
Janeiro, 13.01.90
Boston, 27 de outubro
de 96
Igreja de Anapolis,
Janeiro 2019
Graça e paz gostei muito dessa mensagem pois as igrejas estão lotadas de pessoas que estão perdidas longe de Jesus que Deus continue te inspirando cada dia mais
ResponderExcluirDeus continue te abençoando sempre. Muito gratificante. Estou abastecido com estás palavras.
ResponderExcluirLindo.
ResponderExcluirExcelente sermão, Deus falou comigo!
ResponderExcluirFantástico
ResponderExcluirTremendo abriu a minha mente, que Deus seja louvado!
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