Introdução
Salomão é um dos personagens mais
extremos da Bíblia. Ele vai facilmente da glória à queda, do sucesso ao
fracasso, da admiração ao desastre. Ele é um homem encantador quando se
aproxima de Deus, e assustador quando se esquece de Deus. Iniciou seu reinado
com marcas maravilhosas de envolvimento e culto ao Senhor, terminou seus dias
dividido entre idolatrias e divindades bizarras. Tudo isto pode ser percebido
nestes poucos versículos que lemos, mas se quisermos aprofundar ainda mais as
leituras bíblicas, ficaremos impressionados com esta oscilação no seu estilo de
vida, que vai do Sagrado ao profano com tanta facilidade.
Salomão é de tudo, um pouco
Salomão é de tudo, muito.
Sua grandeza e seu fracasso. Sua
honra e sua queda, sua adoração a Deus e sua idolatria.
Pela instabilidade de suas
emoções, ele cometeu grandes equívocos. Suas decisões revelaram um homem que
entra num momento de glória e depois começa a mergulhar profundamente na sua
vaidade, orgulho, e até o profundo vazio da sua alma, conforme ele revela em
Eclesiastes 2.11. Uma vida de vaidade e correr atrás do vento. Um homem que
olha a vida com desencanto e amargura. Um homem secularizado e paganizado.
Quais foram os equívocos de Salomão?
1.
Preocupou-se com sua imagem de
estadista e rei, mas não se preocupou com seu coração.
Salomão era um sucesso...
a. A Rainha de Sabá, (provavelmente
Etiopia), ficou deslumbrada com a riqueza e luxo de Salomão. Ela nem podia
parar de admirar toda glória e pompa do palácio de Salomão – 2 Cr 9.1-6
b. Sua glória – “Assim, o rei Salomão excedeu a todos os reis
do mundo, tanto em riqueza como em sabedoria” (2 Cr 9.13
i. Escudo de ouro batido para a
guarda – 2 Cr 9.16
ii. Todas as taças de ouro – 2 Cr
9.20
iii. Quatro mil cavalos em estrebaria
– 2 Cr 9.25
Reis vinham visitá-lo e lhe
traziam presentes. Grande glamour no palácio:. Todos os reis o admiravam, mas e
seus súditos?
Salomão foi devorado pela sua
vaidade.
2.
Preocupou-se com a casa de Deus,
mas não com o dono da casa
-Seu coração se desviou do
Senhor. 1 Rs 11.1-9
-Quebrou todos os mandamentos: Dt
17.16-17
-Idolatria
o resultado: quando lemos 1 Reis
11, vemos algumas declarações pesadas:
i.
“O Senhor se indignou contra
Salomão” (1 Rs
11.9).
ii.
“Levantou o Senhor contra Salomão um
adversário” (1 Rs 11.14).
iii.
“Porque Salomão me deixou e se
encurvou a Astarote” (1
Rs 11.33).
Salomão transformou Israel numa
nação pagã: “Salomão seguiu a Astarote,
deusa dos sidônios, e a Milcom, abominação dos amonitas. Assim, fez Salomão o
que era mau perante o Senhor e não perseverou em seguir ao Senhor. Como Davi,
seu Pai” (1 Rs 11.5-6).
3.
Sustentou seu governo com grandes
impostos para manter o luxo, não entendendo as necessidades de um povo que
sofria para sustentar o palácio.
O que não é dito de forma clara?
Nos dias de Salomão, surgiu um opositor chamado Jeroboão, que se insurge contra
o excesso de tributos e impostos que Salomão impõe sobre o seu povo. Alguém tem
que pagar a conta. Não é assim que faz os nossos poderes políticos?
Nesta semana (02.05.2019), O Supremo Tribunal
Federal (STF) teve que explicar ao Tribunal de Contas da União (TCU) por que
decidiu fazer uma licitação de R$ 1,3 milhão para comprar medalhões de lagosta
e vinhos importados – e somente os premiados – para as refeições servidas pela
Corte. A acusação é de violação da moralidade administrativa. Não se engane o
palácio... foi assim
com 1/5 de Portugal; com a independência dos EUA (imposto do chá); e com Israel
(Roboão e Jeroboão).
Jeroboão se transformou
num perseguido político e teve que fugir para o Egito, mas após a morte de
Salomão, quem está lá, novamente? O mesmo Jeroboão volta para Jerusalém e
novamente briga contra o excesso de impostos. A respostas de Roboão, filho e sucessor de
Salomão, ao clamor popular não foi ouvido, e a estabilidade de Israel acabou de
forma trágica: O reino foi dividido entre Reino de Israel e de Judá, agora com
duas sedes, dois exércitos, dois reis, duas nações.
A vaidade de Salomão estrangula
seus súditos, e destrói a estabilidade de seu reino. As decisões que hoje
tomamos, nos destroem ou nos abençoam amanhã.
4.
Preocupou-se com grandes
projetos, mas não a essência da adoração.
Todos os cultos de Salomão são
gigantescos e extravagantes. Salomão era assim: Grandes sacrifícios e oferendas,
tudo luxuoso demais: 22 mil bois e 120 mil ovelhas (2 Cr.7.5). Alguma vez você
realmente considerou estes números, não são eles impressionantes?
A festa que Salomão deu foi de
sete dias, com todo povo de Israel presente (2 Cr 7.9). Já imaginou a logística
de tudo isto? De onde vem os recursos de tudo. Tudo nele está no superlativo: “Assim o rei Salomão excedeu a todos os reis
do mundo, tanto em riqueza como em sabedoria” (2 Cr 9.22). “Engrandeci-me e sobrepujei a todos os que
viveram antes de mim em Jerusalém” (Ec 2.9).
Muito provavelmente, Salomão
tenha desenvolvido um mecanismo de defesa compensatório: Sua mãe foi o estopim
da maior crise no reinado de Davi, num horroroso adultério que teve de tudo: escândalo,
morte, tráfego de influência, próprio dos palácios.
Alguns comentaristas como Gary
MacIntosh acreditam que esta necessidade de Salomão em superar os limites,
viver na adrenalina constante, depender de admiração constante, tinha a ver com
o fato de que ele trazia um horroroso estigma de ser mulher de Bateseba.
O que aconteceu a Salomão, por
causa de tais atitudes.
Resultados:
Primeiro, Vazio Espiritual
O livro de Eclesiastes, autobiográfico,
escrito por ele, revela o vácuo que este distanciamento de Deus e sua soberba
gerou na sua alma. O tema do livro é vaidade, que literalmente deveria ser
traduzido por falta de sentido. Salomão foi o primeiro existencialismo da
história. Ele não vê sentido na história, na natureza, nas conquistas. Assim é
o homem sem Deus. Ele está perdido no seu vazio, na falta de significado e
propósito. Sem Deus, nada faz sentido.
Segundo, Relacionamentos vazios.
O livro de Cantares revela uma
profunda crítica literária sobre o estilo de vida de Salomão. Precisamos ler
Cantares com a perspectiva certa. Pensamos que Cantares foi escrito por
Salomão, por causa da preposição “de salomão”, que aparece no início do livro, a verdade é que esta
preposição poderia ser melhor traduzido como “pertencente” a Salomão, ou “acerca
de Salomão”, ou ainda, “posse de
Salomão”, ou “sobre Salomão” e
não “autoria”, como parece imediatamente sugerir. Salomão é um dos personagens
do livro, sendo citado cinco vezes, e todas as vezes, embora sutilmente, de
forma crítica e não elogiosa.
Heirinch Ewald sugere que na
verdade, era uma crítica a Salomão e seu comportamento excêntrico com as
mulheres. Afinal, será que todos as famílias e homens de valor em Israel
concordavam com o harém que Salomão construiu no seu palácio, para sustentar
uma corte cara, com mil mulheres, para satisfazer a luxúria de um rei
encantando com sensualidade?
No livro de Eclesiastes, Salomão faz
uma declaração que nenhuma mulher concorda, e nem os homens que amam as suas
esposas: “Juízo que ainda procuro e não
achei, entre mil homens, encontrei um como esperava, mas entre mil mulheres,
nem sequer uma” (Ec 7.28). O fato de se envolver com tantas mulheres,
esvaziou seu respeito e admiração pelas mulheres. Prostitutas também sofrem o
mesmo problema: Elas desenvolvem graves suspeitas e ressentimentos contra os
homens. O mesmo acontece com homens e mulheres que trocam regularmente de
parceiro. O sexo oposto passa a ser desvalorizado.
Conclusão:
Deus abençoou muito a Salomão,
dando-lhe honra, respeito, admiração, experiências sagradas belíssimas,
manifestações de seu cuidado. Mas ele não soube lidar com a fartura de bens e a
glória que recebeu. Salomão se perdeu em seu coração, no vazio e futilidade da
riqueza e charme que alcançou. O seu poder e seu dinheiro se tornaram na sua
maldição.
A benção de Deus não poderia mais
estar com ele. Na vida de Salomão, como na nossa, se aplica bem o princípio de
Charles Stanley: “nunca viole os princípios de Deus se você deseja ganhar ou
manter as bençãos de Deus”. Deus não pode abençoar a infidelidade do coração do
homem.
Deus deixou isto claro.
Antecipando-se à derrocada espiritual que o coração de Salomão enfrentaria:
A. Deus afirma que sua benção e glória que estava no templo, seria condicionada
à fidelidade do povo, e não de forma incondicional. (2 Cr 7.16,19-20). Deus não
poderia abençoar um povo infiel. Deus antecipa o que aconteceria
posteriormente, quando o templo foi saqueado e destruído, e seu povo levado
cativo para a Babilônia.
B.
Salomão começou bem: Com humildade,
devoção, adoração extravagante. Terminou mal: Não cuidou do essencial
a.
Roberto
Clinton, professor do Fuller Theological
Seminary em Pasadena, CA, afirma que 2/3 dos líderes cristãos acabam mal. É
uma estatística muito pesada.
b.
A
exortação bíblica é clara: “Aquele que
perseverar até o fim, este será salvo”. Não conta apenas como começamos,
mas acima de tudo, como terminamos. Salomão começou bem e terminou mal.
Manassés foi um desastre, mas posteriormente se quebrantou, se humilhou e se
arrependeu, e se tornou um rei piedoso.
C.
A cruz de Cristo
a.
A
mensagem do evangelho nos exorta a uma constante vigilância e a uma vida de
arrependimento. Jesus começa sua pregação dizendo: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. A primeira tese de Lutero
afixada em Wittemberg dizia: “A vida do cristão deve ser uma vida de
arrependimento diário”.
b.
Livra-nos
da armadilha da performance, de tentar viver uma vida para impressionar as
pessoas. O grande desejo de Deus não é que você seja um sucesso, mas que você
seja fiel. Jonas foi um sucesso, mas foi um desastre. Estevão, o primeiro
mártir cristão, foi um fracasso, morreu cedo, abandonado, injustiçado e
apedrejado, mas cumpriu fielmente seu ministério, amando a Jesus e servindo ao
reino de Deus. O alvo do evangelho é levar o coração do homem a estar alinhado
com o coração de Deus.
c.
A
cruz de Cristo vem lembrar-nos da nossa fragilidade. Salomao era frágil, não se
cuidou. Deus tentou corrigi-lo, ele resistiu, e terminou seus dias de forma
estranha, adorando deuses pagãos, fazendo sacrifícios e templos a outros deuses
da vizinhança pagã.
A vida de Salomão vem nos lembrar
de como precisamos da obra do Espírito Santo em nosso coração. Há uma propensão
para a vaidade, para a auto-suficiência, para o orgulho. Facilmente deixamos
que nosso coração seja alimentado com o poder, conquistas, sexo, reputação, mas
Deus não se deixa enganar. Precisamos de relacionamentos profundos com Deus,
não performance humana. Precisamos de gratidão, Deus não está impressionado com
nossas tolas realizações humanas, mas deseja um coração contrito e
transformado.
Que texto formidável. Jesus esteja sempre iluminando sua vida Pastor Samuel.
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