sábado, 20 de novembro de 2021

Desafios e Propostas num mundo polarizado Palestra CTPI




 

Introdução

 

Vivemos num mundo polarizado e cada vez mais radical. Apesar de se falar tanto em pluralidade e relativismo (e talvez por isto mesmo), percebemos como as sociedades tem tomado posições de extrema direita e esquerda, com facilidade. No mundo político estas expressões estão bem claras e no Brasil, podemos notar como isto tem acontecido com muita frequência.

 

É comum encontrarmos igrejas polarizadas em torno de ideologias. Pessoas tem saído da igreja por causa da visão de direita ou esquerda de seu pastor ou liderança. Nos grupos de whats up se quisermos manter a unidade, de vez em quando, precisamos conduzir as pessoas à moderação e bom senso. Recentemente uma pessoa colocou no meu grupo: “Você é 100% Bolsonaro?”  Eu disse: não! Nenhuma pessoa pode colocar toda sua confiança em qualquer partido ou personagem político, por mais que o que ele faz pareça correta ou inspire confiança. 100% colocamos apenas em Deus.

 

Por esta razão, gostaria de propor quatro desafios e quatro propostas para reflexão. Não precisamos concordar em tudo, nem precisamos polarizar, mas vamos lá

 

Desafios

 

1.    Radicais não se acham radicais.

 

Este é o primeiro desafio que temos. As pessoas mais extremas em sua posição declaram que são moderadas, uma espécie de ponto de equilíbrio.

 

Paulo se refere aos judeus como pessoas com “zelo sem entendimento”. (Rm 10.2) E é exatamente que os grupos radicais agem. Eles são zelosos, ciosos, mas o radicalismo tem o poder de cegar e obscurecer a discussão e a reflexão. Isto é histórico. Na espiritualidade clássica, quase sempre aqueles que se consideravam do bem eram do mal. É assim que agem os radicais. Eles são messiânicos em sua abordagem, entendem que sabem o que é melhor, eles tem a solução que se encontra na sua narrativa e ponto de vista. Eles estão convencidos que estão do lado do bem, dos pobres, da moral, de Deus, e assim por diante.

 

Muitas vezes transformam Deus em parceiro de seu ódio. Saulo de Tarso era assim. Ele julgava estar do lado de Deus quando prendia, açoitava e até matava os seguidores de Cristo. Ele estava cego e se opunha a Deus, mas julgava que fazendo isto estava se tornando aliado de Deus.

 

Muitos radicais encontram sua base de convicção no seu discurso, nos autores que leem e até na Bíblia Sagrada. Eles imaginam que estão na posição de colocar o mundo em seu trilho novamente e trazer a ordem e o bem. Apesar de tudo isto, eles não se acham radicais. Os outros é que o são.

 

2.    Toda polarização é herética.

 

Já pararam para refletir o que significa a palavra ortodoxia? Literalmente ela significa “cortar em linha reta”. Vem do grego “orthos” que significa “reto” e “doxa” que significa “fé”. É o que está em conforme com a doutrina religiosa tida como verdadeira. Exato ao extremo; capaz de seguir estritamente normas e regras e aceita como única e verdadeira uma ideologia, regra ou doutrina religiosa. Ortodoxo é aquele que tem a opinião certa. Ou acha que tem.  Heresia é a distorção da ortodoxia.

 

Muitos confundem o termo heresia com apostasia. Entretanto, seus significados são completamente distintos. Apostasia é a negação e rejeição da verdade, enquanto heresia é a distorção da verdade. O herege não nega a palavra, mas a distorce, dá um sentido diferente.

 

Eis alguns exemplos de heresias:

 

A.     Legalismo x antinomismo – Ambos são heréticos, porque pegam a lei e a distendem. Enquanto o legalista se torna radical e preso ao pé da letra (e a letra mata em muitos aspectos), o antinomismo nega o valor essencial da lei. Ambos lidam com a lei, mas ambos a distorcem.

 

B.     Oração sem ação e ação sem oração. Muitos são piedosos, espirituais, tangenciando as coisas eternas com atitudes místicas e religiosas, mas parecem não serem capazes de traduzir isto para a ética. Oram, mas não agem. Muitos monastérios se perderam no isolamento para oração, esquecendo-se da sua humanidade e do exercício da misericórdia e justiça. Muitos agem sem orar. Sem dependência de Deus, sem ter o cuidado de saber qual a orientação que Deus está dando naquele momento de sua história. Tanto um grupo como outro são heréticos, porque acentuam um aspecto da espiritualidade cristã, sem considerar o outro lado.

 

C.     Evangelizar sem humanizar, humanizar sem evangelizar – Eis outro exemplo de heresia. Em geral, nenhum destes grupos nega a necessidade das duas ações, mas  se despreocupam tanto de um determinado aspecto que se esquece dos demais. Quando nos omitimos em um ou outro destes aspectos, deixamos de perder a integralidade da missão. Nos tornamos fragmentados, perdemos a compreensão do discipulado cristão. Um avião precisa voar com duas asas para manter o equilíbrio. Com uma asa apenas ele perde a direção, ficará rodopiando até se espatifar no chão.

 

D.    Paixão sem conteúdo, conteúdo sem paixão. Nos meios evangélicos é muito comum vermos pessoas apaixonadas por Cristo, mas que deturpam as verdades essenciais da fé cristã. Paixão sem conteúdo gera fanatismo, é um desastre. Alguns dos grupos cristãos mais apaixonados da história perderam seu ponto de equilíbrio por causa do excesso de emocionalismo e paixão descontrolada. Por outro lado, temos as pessoas que sabem muito, conhecem muito da palavra, mas perderam a capacidade de se apaixonar pelo que pregam e pelo Jesus que anunciam.  São eruditos, teólogos de renome, grandes acadêmicos com o coração frio e vazio de calor e de fogo.

 

Todos estes pontos tem a ver com intensidade. Alguém já afirmou que o fanático é alguém que “vendo-se perdido, coloca mais velocidade”. Então, deixando bem claro, heresia não é a negação da verdade, mas a excessiva ênfase que damos a um determinado aspecto da verdade e a negação, minimização ou sublimação de outros aspectos da verdade.

 

3.    Polarização desafia o Evangelho

 

Jesus lidou constantemente com polarizações, de várias naturezas:

 

ü  Politica: Romanos x Judeus. Jesus colocou intencionalmente no seu colegiado, dois homens de linhas políticas completamente radicais em suas posições.

 

Um era “Simão, o zelote”. Os zelotes eram nacionalistas, um grupo político que odiava os romanos, criava complô para matar os romanos e eram ferrenhos opositores políticos do sistema. Entre os apóstolos havia também “Mateus, o publicano”. Este grupo era acusado de ser entreguista. Eles cobravam impostos dos judeus para entregarem aos romanos. Isto rendia um bom dinheiro, era um bom salário, mas gerava oposição e ódio. Os publicanos eram odiados pelos judeus por causa de sua função pública.

 

ü  Racial - Judeus e gentios. Gentios são todos aqueles que não vinham da genealogia israelita. Os judeus se consideravam o povo eleito de Deus, e que Deus não amava e nem se preocupava com o destino das outras nações.

 

Muitos judeus ortodoxos chegavam a orar diariamente: “Senhor, graças te dou por não ter nascido nem gentio, nem cachorro, nem mulher”. Pedro afirma em Atos 10 que ele nunca havia entrado na casa de um gentio, nem jamais tido uma refeição com eles. Jesus teve com enfrentar o etnocentrismo judaico, lidando com pessoas angustiadas como a mulher Siro Fenícia e tantos outros que foram tocados por ele.

 

ü  Geográfica – Judeus e Samaritanos. Os samaritanos eram os remanescentes do  antigo reino do Norte, desde a época da divisão entre Judá que seguiu Roboão, e Efraim, e mais nove tribos, que seguiram Jeroboão, por causa da questão dos tributos.

 

Desde então, os samaritanos foram ficando cada vez mais isolados, e por estarem mais próximos do Mediterrâneo, recebiam muita influência pagã e a religião judaica se tornou diluída. Os samaritanos se consideravam judeus, mas os judeus não os consideravam como parte do povo de Deus. Jesus teve que lidar com muitas situações que envolviam a polarização entre estes dois grupos.

 

Os discípulos igualmente tiveram que lidar com as polarizações.

 

A.     O problema dos gentios – Atos 11.

 

O tem central do primeiro concilio da igreja cristã em Jerusalém foi em torno da da pregação da mensagem do Evangelho aos gentios. A Igreja estava tão polarizada que tiveram que convocar um concilio para tratar e deliberar sobre o assunto.

 

B.     O Problema da circuncisão – Atos 15

 

Alguns anos depois, superado a questão dos gentios, surgiu outra questão que polarizou a igreja. Os novos convertidos, não judeus, deviam ou não circuncidar? Mais uma vez, foi necessário outro concílio com toda liderança da igreja em Jerusalém. Mais uma vez tiveram que discutir e deliberar sobre um assunto que estava polarizado. A liderança da igreja precisava de uma palavra firme para trazer reconciliação e paz.

 

C.     O problema de comer ou não carne – Rm 14 e 1 Co 8

 

Os cristãos morando em Corinto, cidade portuária e cosmopolita, estavam agora lidando com o pluralismo religioso e de ideias. Muitas pessoas adoravam outros deuses e sacrificavam parte da comida aos deuses pagãos. E ai, os cristãos podiam ou não comer destas carnes que agora eram colocadas na feira? Paulo foi muito amoroso e inspirado pelo Espírito Santo, traz uma palavra de moderação e equilíbrio, dando liberdade para que as pessoas agissem de acordo com suas consciência, mas ao mesmo tempo orientando como cada um deveria respeitar a opinião dos outros. O amor deveria prevalecer sobre as diferenças.

 

D.    O problema dos judaizantes – Carta aos Gálatas

 

Cerca de 30 anos depois de Jesus retornar para os céus, a Igreja da Galácia enfrenta um pensamento radical de alguns irmãos radicais, que começaram a retomar ritos, práticas e atos judaicos. Uma grande batalha teológica se travou. Paulo chega a afirmar que eles estavam decaindo da graça, por estarem retornando aos rudimentos teológicos da antiga aliança. Foi um momento complicado na igreja de Cristo. Mais uma vez as polarizações estavam vindo à tona.

 

E.     O problema dos pneumatikonsCo 14

 

Tanto a carta de Paulo aos Colossenses quanto a primeira carta de João, lidam com uma heresia que haveria de ameaçar gravemente a igreja de Cristo. Os gnósticos. Eles se julgavam superiores espiritualmente aos demais, baseavam sua vida cristã em visões, sonhos e novas revelações. Em Corinto eles começaram a estabelecer certa confusão e desordem no culto público. Em Colossos, os pneumatikons (os espirituais), criaram também muita confusão porque falavam de mistérios que eram acessíveis apenas aos iniciados, criando uma áurea de espiritualidade místico que trouxe muita confusão aos irmãos. Mais uma vez o radicalismo se revelava e tomava forma.

 

4.    Polarização ameaça a unidade da igreja

 

Um dos momentos mais dramáticos e tristes que presenciei na história de igrejas que pastoreei, se deu em uma congregação. Havia ali muita disputa política dentro do Conselho. Um presbítero era cunhado de um prefeito recém eleito, e o outro, marido da ex-secretária de saúde do município, que havia perdido o cargo na recente eleição. Um dia, houve uma solicitação do prefeito à igreja para apoiar um evento da cidade, e o pastor aquiesceu, porque era, na realidade, alguma coisa muito simples e o prefeito, na verdade, nem precisava pedir o apoio da igreja. Um dos presbíteros ao saber que o pastor havia apoiado o evento, pediu que ele se retratasse e retirasse o seu apoio, enquanto o outro bateu na mesa e disse que o pastor não deveria fazer isto. A coisa se tornou tão tensa, que a comunidade se dividiu e metade da igreja desapareceu.

 

Todas as vezes que surgem polarizações, a igreja está correndo risco de uma ruptura tola e destrutiva.

 

As polarizações podem ser de três naturezas:

 

A.     Teológicas – Como vimos acima, às vezes numa disputa por um aspecto doutrinário não essencial, a igreja se torna tão radical nas suas posturas que perde a capacidade de dialogar o amar os diferentes. Boa parte das divisões da igreja acontecem por causa de conflitos em posições teológicas e diferenças de abordam de uma determinada visão.

 

B.     Ideológicas – Muitas vezes a igreja se divide por questões de direita e esquerda. Esta tem sido uma questão tão forte em nossas igrejas ultimamente, que certamente veremos muitas igrejas se dividindo porque irmãos de posições ideológicas não conseguirão aceitar alguém que pense de forma diferente.

 

Ideologicamente é fácil encontrar grupos que se percebem messiânicos. Eles salvarão o mundo de... A partir desta perspectiva, tudo se justifica porque há uma função redentiva nas suas posições. Eles são os libertadores do mal. É Assim que o talibã se vê no Afeganistão. Eles defendem suas ideias crendo que libertarão as pessoas da dominação americana e espantarão os pagãos que moram no seu país.

 

Assim tem sido com a esquerda brasileira, ao dizer que é preciso tirar Bolsonaro porque ele é do mal. A razão, contudo, é ideológica. Ele é do mal porque não apoia determinadas posições quanto aos temas liberais como ideologia do gênero, a questão do desmatamento, etc.  Por sua vez, os bolsonaristas satanizam Lula porque acreditam que por ele ser da esquerda, ele vai dominar o Brasil, e matar os cristãos. Apesar de termos nossas posições, veremos sempre que em cada lado político, há fortes interesses econômicos, poder, lobbies e pressões da imprensa e do capital, que muitas vezes desconhecemos.

 

Schaeffer sintetizou bem esta questão ao afirmar: A diferença entre o capitalismo e o comunismo é uma só: No capitalismo o homem quer oprimir o homem; no comunismo é o contrário”.

 

C.     Politica – Muitas vezes a ideologia não é o problema, mas o personalismo político, ou mesmo o partidarismo. Boa parte das disputas politicas no Brasil, quando centradas no centrão, um grupo fisiológico, sem opiniões ética e valores definidos, e não possuem diferenças ideológicas substanciais. Seu projeto político é se manter no poder. É fácil vermos pessoas que estão tirando vantagem politica não por causa de suas divergências de opiniões, mas por causa do seu carisma e influência. Os simpatizantes aderem não por causa da linha e princípios que defendem, mas por simpatizarem com a pessoa ou partido.

 

O problema é que, para cada posição, é fácil encontrar argumentos filosóficos, éticos e até mesmo versículos bíblicos que dão apoio, e desta forma é fácil instrumentalizar a Bíblia para apoiar pontos de vista pessoal. Cria-se assim o que Juan Carlos Ortiz chamou de “o Evangelho dos santos evangélicos. ”

 

Conclusão

 

Polarização gera ódio, perseguição, violência. Quando a polarização tem um espectro do sagrado, quando os movimentos históricos são vistos como realidades sacralizantes, as questões assumem proporções ainda mais perigosas e maiores.

 

Precisamos pedir a graça de Deus para:

 

Primeiramente, levar a comunidade cristã à reconciliação.

A mensagem da cruz é uma mensagem que reconcilia pessoas a Deus, gentios aos judeus. Diferentes matizes podem encontrar a beleza do perdão, da aceitação, através da obra de Cristo.

 

Em segundo lugar, é necessário resgatar o equilíbrio do Evangelho. Estabilidade, harmonia, aceitação das diferentes opiniões é fundamental. Curiosamente, Paulo fez um exaustivo discurso em duas das suas principais cartas, tratando deste assunto.

 

Na carta aos Romanos ele diz: “Acolhei ao que é débil na fé, não, porem, para discutir opiniões, um crê que de tudo se pode comer, mas o débil come legumes; Quem come não despreze o que não come; e o que come não julgue o que come, porque Deus o acolheu.” (Rm 14.1-3). Na carta aos Coríntios, ao tratar da liberdade cristã afirma: “Vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos.” (Rm 8.9)

 

Terceiro, precisamos considerar qual o nosso papel como discípulos de Cristo, numa cultura polarizada, por um lado, sem suprimir a verdade, deixando aquilo que é essencial sendo negligenciado, e por outro lado, sem se tornar legalista, pronto para acusar e julgar quem possui opinião diferente. Como criar uma comunidade que incorpora as diferentes sem rejeitar a verdade?

 

Em missiologia afirma-se que muita contextualização gera sincretismo e a ausência de contextualização gera distanciamento cultural, isolamento e gueto. Sabemos que muitas vezes esta tensão define o tipo de igreja que estamos construindo.

 

Precisamos indagar ainda como resgatar a unidade bíblica numa sociedade fragmentada? Como aplicar o princípio de Ef 4.15: “Seguindo a verdade em amor, naquele que é o cabeça, Cristo”. Amor sem verdade não é amor; verdade sem amor, é antibíblica.

 

Como sermos modelos pastorais, não de pessoas que encorajam o distanciamento, o legalismo e a ruptura, mas que se tornam referencias de reconciliação e perdão?

 

As recomendações bíblicas são fundamentais para cada um de nós.

 

É necessário que o servo de Deus não viva a contender, e sim, deve ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente.” (2 Tm 2.24).

 

Deus não tem dado espirito de covardia, mas de poder, de amor e equilíbrio” (NVI), a tradução ARA prefere o termo “moderação”.

 

“Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto estão Senhor.” (Fp 4.5)

 

Quem sabe, olhando com mais profundidade, com oração e direção de Deus, possamos permitir que o corpo de Cristo, com suas diferenças de opiniões, backgrounds diferentes, possa exercer uma santa influencia de amor e moderação, numa sociedade que cada vez busca mais a hostilidade e a polarização.

 

Que Deus nos ajude!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

A Cooperação na Evangelização do mundo

 



Confessamos que o nosso testemunho, algumas vezes,

tem sido manchado por pecaminoso individualismo e desnecessária

duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais profunda na verdade, na adoração, na santidade e na missão[1]

 

 

Introdução:

 

 

O desafio evangelístico e missionário é possível, mas não pode ser realizado apenas por um pequeno segmento da igreja, nem por uma única denominação, ou uma única agência missionária. Para que o evangelho se torne conhecido, ele precisa da cooperação e unidade de todos no mesmo propósito: Alcançar todas as etnias, conforme a ordem dada por Jesus em Marcos 16.15.

 

Esta cooperação eclesiástica, entretanto, não é tão fácil de ser realizada. Algumas situações são claramente percebidas e tornando-se empecilhos para a evangelização mundial, entre eles, podemos falar de quatro obstáculos:

 

1.     Lutas denominacionais

 

Numa consulta sobre evangelização urbana, coordenada pela equipe de Ray Bakke, realizada em Agosto de 1983, em três grandes cidades de diferentes continentes (Belgrado, Cairo e México City), fizeram a seguinte pergunta: Por que a Missão Urbana é tão Ineficaz? Depois de analisadas as respostas, chegaram, entre outras, às seguintes conclusões observadas em todos lugares:

 

1. Não existem pessoas orando de forma organizada pela cidade.

2. Não existem líderes treinados,  sejam eles leigos ou pastores.

3. A maioria dos evangélicos perdeu a visão, motivação e paixão pelos perdidos, marginalizados e abandonados.

4. As igrejas não cooperam entre si.

5. Existem poucos líderes entre 30 e 45 anos nas igrejas. Uma das razões pelas quais a igreja é tão pouco efetiva na Missão Urbana.

 

Queria destacar o quarto tópico, porque ele se encaixa perfeitamente na discussão sobre a obra da evangelização, que analisamos neste texto.

 

Se fizermos uma viagem missionária nos rios da Amazônia, para atingir as populações ribeirinhas isto fica evidente. Podemos chegar a pequenos vilarejos e verificar a existência, num espaço muito pequeno, mais de uma denominação, competindo de forma agressiva para ocupar um espaço entre os fieis.

 

Recentemente numa avenida no subúrbio da cidade de Anápolis, fiquei estupefato com a quantidade de pequenas igrejas de diferentes denominações, concorrendo umas com as outras no mercado espiritual. Cada uma procurando atrair o maior número de clientes, fidelizá-los.

 

O problema entre tais lutas é que o esforço torna-se diluído, e eventualmente temos muitas pessoas numa mesma região, (mercados mais promissores), enquanto em outras áreas mais carentes, não existem recursos para alcançar os não evangelizados. A diluição da obra missionária enfraquece a estratégia. Afinal, “um reino dividido contra si mesmo, não subsistirá?”

 

2.     Diferenças doutrinárias

 

Muitas vezes o problema não é luta denominacional, mas divergências doutrinárias. Eventualmente qualquer diferença teológica, pode se tornar um problema para um acordo ou aliança de cooperação. Naturalmente sabemos que existem divergências irreconciliáveis, que envolvem aspectos centrais da fé cristã, mas muitas vezes as divergências são periféricas, tem a ver com forma de governo, usos e costumes e doutrinas secundárias. Mas ainda assim se tornam grandes o suficiente para que as pessoas não caminhem juntas.

 

Por definição e por sua natureza, o termo diabo literalmente significa “Aquele que divide”. Quanto menor for a ação intencional de tornar conhecido de todas as nações, menos efetiva será a obra evangelística. Tenho percebido que mesmo entre pastores da mesma denominação, há muita discrepância entre a interpretação de determinados tópicos, especialmente aqueles que envolvem questões éticas mais atuais.

 

3.     Vaidade dos líderes

 

Outras vezes, a eficácia da evangelização perde a sua exuberância, por causa da vaidade de líderes, impedindo que haja diálogo e uma ação conjunta no propósito maior, de anunciar Cristo a todas as criaturas.

 

Quando pensamos em plantação de igrejas, através de parcerias, um dos grandes problemas que encontramos, mesmo em igrejas da mesma denominação é a suspeita e a glória pessoal. Quando tentamos elaborar um projeto comum para uma determinada região, esbarramos na luta para que, de alguma forma, aquele projeto traga algum brilho para personalidades e comunidades que buscam glória pessoal.

 

Em se tratando de diferentes denominacões, o problema se amplia: Temos a “vaidade pentecostal”, a força de personalidades auto centradas e o “orgulho doutrinário”. São egos inflados de líderes auto glorificadas, de bispos, apóstolos, profetas e patriarcas. Quando analisamos as divisões da igreja, fala-se muito nas “questões doutrinárias” e “divergências litúrgicas”, mas quando olhamos com mais cuidado, observamos que se trata de puro narcisismo de líderes buscando preponderância e reconhecimento. A vaidade, “pecado predileto do diabo”, está presente.

 

Um exemplo clássico no Brasil se deu em 1903 na disputa entre Eduardo Carlos Pereira e Eduardo Lane, cujos problemas históricos ficaram conhecidos como a “Questão dos 3 Ms: “Mackenzie, Missionários e Maçonaria” resultando na cisão entre a IPB e IPI. Depois da divisão, as duas igrejas seguiram linhas similares, adotando os mesmos símbolos de fé, fizeram pequenas mudanças estatutárias para justificar as diferenças para disfarçar o orgulho, e as maiores diferenças, como ordenação de mulheres ao ministério feminino, só surgiram, de fato, recentemente.

 

Quando a fogueira da vaidade está acesa, tudo se torna “espiritual demais”, e se justifica teologicamente. Quantas decisões com aparências espirituais tem sido tomada para disfarçar vaidades pessoais. Esta “espiritualidade” travestida de piedade, é um grande obstáculo para o avanço do evangelho.

 

4.     Ação demoníaca.

 

Precisamos entender que quem se opõe verdadeiramente ao avanço do evangelho é Satanás. Ele verdadeiramente criará todos os obstáculos possíveis para que a obra evangelística não avance. “Por isso, quisemos ir até vós (pelo menos eu, Paulo, não somente uma vez, mas duas); contudo, Satanás nos barrou o caminho” (1 Ts 2.18). Nem sempre é fácil distinguir a ação demoníaca nos movimentos cotidianos da história, mas muitas vezes a oposição vem em forma de repressão, perseguição, ações governamentais, decretos e proibições.

 

Satanás é contrário a todo esforço para que a igreja de Cristo seja vitoriosa. Ele usará todas suas armas politicas e históricas, para se opor àqueles que se esforçam para tornar Cristo conhecido entre as nações.

 

Quando estudamos mais cuidadosamente as duas bestas em Apocalipse 17, é fácil observar como forças políticas e históricas são grandes aliadas. “Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora. Tem estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem” (Ap 17.12,13)

 

A necessidade da cooperação

 

É fundamental o diálogo, o planejamento, a alocação de recursos e a utilização de dons e recursos para a obra missionária. Muitas missões e movimentos tem se esforçado para que isto se torne real. Poderíamos citar centenas delas, mas queria me ater a um bom modelo já aplicado por muitos anos: O Instituto Haggai.

 

Como evangelista e pastor, John E. Haggai percebeu que, na maioria das vezes, a ação missionária e o envio de obreiros para campos não alcançados, exigia uma quantidade muito grande de recursos com pouca eficácia e resultado. Então ele considerou a possibilidade de não enviar missionários, mas trazer líderes cristãos, com certa influência politica, financeira e administrativa de seus países de origens e treiná-los para serem mais eficientes na evangelização. Quase todos anos, cerca de mil líderes são convidados para receber treinamento intensivo nas oficinas oferecidas em Singapura e em Maui-HA. Você poderá encontrar ali, pessoas de diferentes denominações, com backgrounds diferentes, de denominações que você nunca ouviu falar, com diferenças teológicas, entretanto, há um único alvo: Capacitar líderes para o avanço da obra do evangelho no mundo.

 

A cooperação se torna importante por várias razões:

 

1.     Este é o desejo de Cristo

 

Na verdade, quando analisamos a oração sacerdotal, percebemos que Jesus condicionou a eficácia da evangelização à unidade da igreja: “Que todos sejam um para que o mundo creia que me enviastes”.

 

A expressão, “para que”, parece exprimir a condição sine qua non do avanço da obra evangelística e do despertamento da fé entre os descrentes. Jesus parece ser claro ao afirma que não será possível alcançar o mundo sem unidade.

 

Certa vez conversava com um padre, colega no Mestrado na PUC/Rio. A conversa com ele era sempre amigável, ainda que discordássemos em muitos aspectos teológicos. Era possível dialogar, opinar, manter o respeito e ouvir o outro. Certo dia, um incidente que envolvia um ato ecumênico de padres com pais de santo na Igreja do Senhor do Bonfim em Salvador-BA, se tornou o polo do debate. Eu lhe disse: “Vocês suprimem a verdade em prol da unidade”, e ele replicou: “mas vocês, em nome da verdade, não conseguem unidade nem entre igrejas que possuem os mesmos fundamentos”.

 

Obviamente, não podemos justificar o descompromisso com a verdade do evangelho, com “a fé que uma vez por todas foi dada aos santos”, mas será que isto é suficiente para que, nunca sejamos capazes de assentar e pensar no grande desafio que a obra evangelística exige de nós? Será que “em nome da pureza teológica”, não tenhamos certa “vaidade doutrinária” que nos leva a uma atitude de arrogância e desprezo pelos irmãos de outras denominações? Será que isto nos autoriza a nunca pensarmos com humildade como podemos, juntos, para a glória de Deus, pregar o evangelho de forma mais efetiva, e minimizar o sofrimento daqueles que precisam da misericórdia e compaixão de Cristo?

 

“É interessante notar a ligação que Jesus faz entre a unidade e a credibilidade do evangelho. O mundo, percebendo que os discípulos são unidos, poderá crer que os discípulos são unidos, poderá crer que Jesus é o enviado do Pai. O amor e a comunhão entre o Filho e o Pai são demonstrados, no dia a dia, por meio do amor e da comunhão entre os seguidores de Jesus[2]

 

Jesus condiciona a efetividade do evangelho, à unidade da igreja. Será que isto não deveria ser uma razão para que, nos aproximemos e aprendamos uns com os outros?

 

2.     Os recursos são multiplicados

 

Quando consideramos os grandes desafios da obra missionária, no nosso país e fora, precisamos reconhecer que os desafios são grandes demais. A obra evangélica não conseguirá atingir “todos os confins da terra”, se não nos unirmos.

 

A verdade é que “um e um é sempre mais que dois”, quando se trata de solidariedade, fraternidade e missões.

 

Uma das palestras que tenho feito para plantadores de igreja e para aqueles que querem aprofundar a temática é: o custo é alto demais, mas juntos podemos fazer diferença. Tenho visto alguns esforços sendo recompensados...

 

No Brasil posso citar alguns destes movimentos: O CTPI tem procurado encorajar novos projetos, estimulando parcerias. O grande desafio na plantação de igrejas não é apenas plantar uma igreja, mas “criar um movimento de plantação de igrejas”, uma cultura eclesiástica que estimule o envolvimento de conselhos e lideranças de igrejas locais ao estabelecimento de novas comunidades.

 

A igreja Presbiteriana de Pinheiros, tem se esforçado para estabelecer parcerias. Há centenas de cidades no interior de São Paulo precisando de ações mais intencionais de plantação de igrejas, e a disposição do pastor, com seu conselho local, tem conseguido provocar boas iniciativas. O mesmo acontece na Igreja da Gávea, no Rio, que desde 1990, tem investido grande quantidade de recursos para plantação de igrejas no interior do Estado do Rio. Pessoalmente, o conselho de nossa igreja em Anápolis, também tem apoiado e encorajado iniciativas para que outras igrejas possam surgir e o reino de Deus avance, entendendo que, “plantar igrejas é o melhor método de evangelização”, como bem afirmou Tim Keller.

 

Na medida em que recursos são alocados, experiências compartilhadas, objetivos comuns estabelecidos, começamos a perceber que tudo se torna mais recompensador e viável. Isto traz alegria, senso de pertencimento e amor fazendo o evangelho avançar de forma mais rápida. Os recursos se multiplicam quando apresentamos a Deus os cinco pães e dois peixinhos. Percebemos que o milagre acontece! De repente cinco mil homens podem ser alimentados com os recursos escassos, porque eles passam pelas mãos abençoadoras de Jesus, que faz tudo muito maior do que realmente temos em mãos.

 

Ekströn enumera cinco vantagens da cooperação na obra evangelística[3]:

 

A.    A não duplicação de esforços. Eventualmente grupos missionários estão trabalhando na mesma direção e poderiam somar esforços.

B.     Melhor aproveitamento dos recursos. Sejam eles humanos ou materiais. É necessário otimizar os recursos, não desperdiçando dinheiro nem o tempo dos obreiros com sobreposição de trabalho.

C.     Um trabalho mais eficiente. Se cada um fizer o que sabe fazer e para o qual foi treinado, teremos um movimento missionário de qualidade.

D.    Oferecer um exemplo de comunidade alternativa. Se a credibilidade do evangelho depende da unidade da igreja, a influência do trabalho missionário numa comunidade é diretamente proporcional ao exemplo vivido.

E.     Equilíbrio e solidez no trabalho. A decisão conjunta sobre como realizar o trabalho promove um desenvolvimento equilibrado e favorece um crescimento em maturidade que, por sua vez, gera solidez e seriedade no empreendimento.

 

3.     Pessoas com diferentes backgrounds trazem compreensões diferentes sobre o mesmo ponto de vida, enriquecendo a obra

 

Outro aspecto a ser mencionado, é a riqueza dos dons e talentos. Eu estou hoje na terceira idade, e certa impulsividade e “agressividade” que sempre tive ministerialmente falando, já não se encontram presentes. Tenho me assentado com um grupo de pastores jovens, que me tratam com muito respeito e afirmam que eu sou o mentor deles. Mas, na verdade, quando estou com eles, eu sempre fico empolgado em ver que, a igreja tem despertado jovens com tão grandes talentos e paixão pelo reino. Isto me dá uma enorme alegria. eu aprendo muito com eles, e meu coração é sempre muito encorajado na caminhada. A nova geração traz frescor e dinâmica nas aproximações.

 

Tenho caminhado também com pastores jovens de outras denominações, que me tratam com muito carinho. É muito bom ver como eles percebem as coisas de um ponto de vista que a minha cultura eclesiástica não é capaz de ver.

 

No livro “Correntes de águas vivas”, de Richard Foster, o autor fala de diversas tradições de espiritualidade no cristianismo, e cada uma delas com sua riqueza e ênfase, são elas: 

 


 

Por questão de tempo, não podemos analisar cada uma destas correntes, mas é possível perceber que cada uma delas apresenta singularidades, tendências, abordagens e ênfases distintas.  A corrente carismática dará ênfase a alguns aspectos doutrinários mais que a outras e eventualmente, em detrimento de outros. A corrente contemplativa possui suas cores e peculiaridades. Assim acontece com toda tradição espiritual presente no cristianismo.

 

Foster encoraja o que ele chama de “cross-over”. É necessário certa intencionalidade e disposição de atravessar fronteiras e diferenças e se aproximar com respeito e humildade da compreensão que o outro possui. Todas as diferentes correntes, com suas ênfases, são deficientes em si e precisam aprender umas com as outras. Existem fraquezas e pontos fortes em cada uma destas tradições, mas com amor podemos ser enriquecidos no nosso esforço em sermos cada vez mais parecidos com Cristo.

 

4.     Uma única denominação não pode ser eficiente em todas as culturas, ambientes políticos, grupos sociais.

 

Ninguém pode ser tudo para todos. Não há recursos, talentos e dons para abranger todos os segmentos e enviar obreiros para todos os lugares. Precisamos entender os limites. Durante muito tempo me senti culpado por perceber alguns deficiências de minha igreja local, mas depois entendi que não dá para fazer tudo. Sozinho.

 

Temos três obras assistenciais da igreja na nossa cidade. Cada uma delas exige planejamento, envolvimento, recursos humanos e financeiros. Às vezes o processo é lento e demorado, e bate certa frustração de não conseguir realizar tudo o que é necessário. Cada grupo considera seu projeto mais urgente e prioritário que outro. Eventualmente pessoas (bem intencionadas), sugerem a criação de mais um projeto. Muitas vezes eu desencorajo, porque acho que “mais da mesma coisa nos leva para o mesmo lugar”, e que “não precisamos criar mais um projeto, mas precisamos melhorar as condições dos projetos que temos”. Outras vezes, a proposta é razoável e eu digo: “quem tem a visão tem o dom”, se você percebe que Deus está lhe chamando para realizar isto e lhe deu esta visão, certamente você é a pessoa mais adequada para liderar. Então, “faça você mesmo!”, elabore um projeto, mobilize as pessoas, encaminhe pedido de recurso à igreja, encontre os doadores. Se você conseguir isto, certamente Deus estará lhe dando direção e será uma benção. Muitas vezes, a pessoa não queria se envolver, ela só desejava trazer mais um projeto para que o pastor levasse adiante...

 

Quando pensamos em evangelização é o mesmo desafio: Por que não plantar mais uma igreja? Podemos adotar outro missionário? Podemos fazer parceria com este campo? Cada um destes projetos exige análise, oração, tempo, treinamento, liderança, etc., mas certamente há um limite de recursos. Cada um deles precisa ser considerado com temor porque Deus pode estar dando direção para determinados campos e precisamos ter sensibilidade para saber onde Deus quer que realmente estejamos, e como devemos nos envolver em tais situações.

 

Alguns anos atrás, Rick Warren desenvolveu um conceito chamado de “Princípio da unidade homogênea.” Sua tese, extremamente controvertida, é que, “nenhuma igreja pode ser tudo para todos”, e que devemos selecionar nosso “público-alvo”, e colocar nossa energia nesta direção. Os opositores de Warren afirmam que o Evangelho não pode ser seletivo, e que não podemos nos dar ao luxo de concentrar nosso esforço evangelístico em apenas determinados grupos. Todos os dois lados, possuem valores positivos e são propícios a críticas.

 

Precisamos então, com oração e temor, considerar onde Deus deseja que estejamos. Paulo e seus colegas desejavam ir para Bitinia, e Deus proibiu; planejaram ir para a Ásia, e o Espírito Santo não permitiu. Ali em Trôade, sem saber que direção tomar, Deus enviou uma visão dizendo: “Passa a Macedônia e ajuda-nos”. Bitinia e Ásia não precisavam do Evangelho? Claro que sim. Então, por que então o Espírito Santo, o autor da obra missionária, impediu? Bem, nunca saberemos exatamente os motivos de Deus, mas sabemos que ele executa seu querer de acordo com seus planos, e é muito bom quando nos alinhamos à visão do próprio Deus, para fazer, não aquilo que achamos melhor, mas sim, aquilo que ele deseja e espera de nós.

 

Dave Ferguson afirma que há cinco níveis de igrejas:

Nivel 1: Igrejas em Declínio – Muitas vezes se dá porque a igreja não tem mais clareza de visão e propósito, ou perderam sua relevância. A maneira como a igreja se envolveu no passado não está mais envolvendo a comunidade.

Nivel 2: Estabilização – Essas igrejas estao ganhando terreno a cada ano, mas suas perdas nesse mesmo período neutralizam seus fanhos. Muitos se sentem confortáveis se mantiverem seu tamanho atual. Cerca de 80% das igrejas estao no nível 1 ou 2.

Nível 3: Adição: Igreja que estão experimentando crescimento. Às vezes o crescimento é enganoso. Talvez seja apenas uma reorganização dos frequentadores, porque uma determinada igreja teve uma divisão ou possuem um melhor ministério infantil. Outras vezes o crescimento vem principalmente de conversões, com um forte ministério para jovens e envolvimento missionário. As igrejas deste nível representam aproximadamente 16% de todas as igrejas.

 

Nível 4: Reprodução: Igrejas que estão se reproduzindo, e isto leva à multiplicação. É bom crescer mas porque se contentar com o bom, quando Deus deseja a excelência? 96% das igrejas americanas nunca se reproduziram. Elas podem ser jovens ou velhas, pequenas ou grandes, mas nunca treinaram e enviaram outras pessoas para a linha de frente.

 

Estatística Brasileira: Um levantamento publicado pela Secretaria Executiva da Igreja Presbiteriana do Brasil, em 2008 chegou à conclusão de que 45% das igrejas não tem nem Congregação nem ponto de pregação:

 

 

mais estarrecedora ainda é a informação de que 76% das igrejas não tem igrejas filhas, isto é, apesar de muitas vezes serem igrejas vigorosas, elas nunca conseguiram deixar o legado sequer de uma igreja. Elas não conseguiram se reproduzir, se reproduzirir.

 

 

 

Nível 5: Multiplicação: No nível 5, a igreja não apenas está reproduzindo mas ela está multiplicando-se, e assim influenciando todo o reino de Deus. Ela não deseja apenas expandir com novas igrejas, mas quer influenciar outras igrejas e obreiros para criar um movimento. Apenas 4% das igrejas estão se reproduzindo ou multiplicando. Imagine se este numero chegasse a 10%? Tim Keller afirma que este é o número da inflexão. Se 10% das igrejas estivessem se reproduzindo isto influenciaria dramaticamente o cenário espiritual dos Estados Unidos.

 

Este é o objetivo do recente movimento de plantação de igrejas: como liberar líderes e recursos para iniciar novas igrejas com o objetivo de alcançar novas pessoas? Como potencializar outras igrejas e outros lideres para maior efetividade do reino. Nós queremos que nossas igrejas locais cresçam ou estamos interessados em multiplicar a efetividade do ministério para a glória de Deus?

 

Conclusão:

 

A cooperação na evangelização do mundo é fundamental, necessária e imprescindível. A oração de Jesus revela quão importante é esta cooperação: “Que eles sejam um, para que o mundo creia que me enviastes”.

 

A unidade de coração gera engajamento e cooperação. Não estamos competindo, somos parceiros. Todos nós temos vaidades pessoais mas nosso ego precisa morrer para que Cristo floresça. É bom lembrar, que este EU, quer sempre ter o controle, mesmo sendo discípulos de Cristo. Ele quer reinar, e um rei não se curva com facilidade.

 

Na medida em que, entendemos o senhorio de Cristo, as implicações do evangelho, a ordem de Cristo à sua igreja, o mandato da evangelização, vamos, aos poucos, entendendo que nem a denominação, ou a igreja local, nem meu ministério pessoal e reputação tão desejada, são mais importantes que a glória de Cristo e a expansão de sua obra no mundo, afinal:

 

Vós sois raça eleita,

nação santa,

povo de propriedade exclusiva de Deus,

a fim de proclamardes

as virtudes daquele que vos chamou para trevas,

para sua maravilhosa luz.”

(1 Pe 2.9)

 

“Instamos para que se apresse o desenvolvimento de uma cooperação regional e funcional para maior amplitude da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento mutuo, e para o compartilhamento de recursos e experiências[4]

(O Pacto de Lausanne)

 



[1] O Pacto de Lausanne, Perspectivas no Movimento Cristão Mundial, São Paulo, Ed. Vida Nova, 2009, p. 784

[2] EkströnBertil – Missões e Cia., in Perspectivas no Movimento Cristão Mundial, São Paulo, Ed. Vida Nova, 2009, p. 778

[3] [3] Ekströn, 2009, op cit p. 780, 781

[4] Pacto de Lausanne, Perspectivas no Movimento Cristão Mundial, São Paulo, Ed. Vida Nova, 2009, p. 784