domingo, 14 de novembro de 2021

Jo 3.14-19 Deus amou o mundo

 


 

Introdução

 


Ilustração: Como chegar a Santos?

 

Certa pessoa se perdeu no trajeto para Santos, ao passar por São Paulo. Desorientada resolveu perguntar para um rapaz, e ele disse:

*    Volte a rua de onde vocês vieram, e depois de dois sinais ... humm... por aqui não vai dar...

*    Não! Faça o seguinte: segue direto, vão passar por uma longa avenida, quando a rua acabar.... humm... por aqui também não vai dar...

*    Então façam o seguinte: façam o contorno aqui, andem três sinais e quando chegarem a um grande hipermercado... por aqui também não vai dar...

 

Confuso, o rapaz disse o seguinte: Sabe de uma coisa? Daqui de onde vocês estão, não tem como chegar a Santos.

 

Esta é uma boa ilustração para pessoas que acham que não tem mais jeito. É óbvio que dava para chegar a Santos de onde estavam, ou de qualquer outro lugar, mas o rapaz não sabia o caminho, assim como muitas vezes não sabemos para vencer os obstáculos que temos pela frente.

 

O texto de Jo 3.16 é uma boa ilustração da esperança e direção que podemos ter na vida, mesmo quando estamos desorientados e confusos. A afirmação simples e direta do texto é que “Deus amou o mundo”, e isto já faz brotar em nós uma maravilhosa dimensão espiritual. O texto não afirma que Deus veio julgar o mundo e expelir fogo do céu contra os pecadores, não faz afirmações sobre condenações, mas nos fala do afeto de Deus. “Ele amou”, e seu amor tem uma dimensão profunda.

 

Este texto fala também sobre a razão de Deus enviar Jesus. Qual a razão de seu nascimento? Por que Deus decidiu se tornar um de nós, assumir forma humana, viver entre as pessoas simples da Judeia, e na esquecida região da Galileia, terra de obscuridade? 

 

Por que Deus fez isto? A razão foi seu amor por nós.

 

O amor de Deus é sua pura essência. Quando a Bíblia fala de Deus, sua definição mais simples é: “Deus é amor”. Esta afirmação de João contrapõe-se a toda visão pagão dos deuses babilônicos, helênicos e romanos. Ainda observamos neste texto a natureza do seu amor: Ele amou “de tal maneira”, e isto aponta para sua intensidade e profundidade.

 

Brennan Manning, que foi alcoólatra por muitos anos, num pequeno vídeo de quatro minutos cujo titulo é “Você sabe que eu te amo?” afirma  afirma que um dia numa pequena cabana nas montanhas do nordeste americano, onde foi “emboscado” por Deus. O que ele ouvi de Deus ali no silêncio e na contemplação foi a maravilhosa afirmação: “Você sabe que eu te amo, e que sempre desejei que você tivesse um tempo para estar comigo?” Vale a pena conferir este material disponível no youtube.

 

Quando olhamos para as Escrituras Sagradas entendemos que a razão de Deus ter criado o mundo foi seu amor. A razão dele ter elegido o povo de Israel para comunicar o seu pacto com a humanidade, foi seu amor. A razão dele ter mandado Jesus foi seu amor. O amor de Deus está no centro das Escrituras Sagradas. Ele é o eixo da compreensão bíblica. Deus sempre está declarando seu amor a um povo infiel, que muitas vezes o rejeita abertamente, que se torna frio em seus afetos. Deus nunca deixa de amar, e seu desejo é fazer com que os pecadores voltam para ele, se arrependam de seus pecados e da sua frieza espiritual, se convertam a ele e sejam curados.

 

Há sempre espaço para o perdão, restauração e redenção nas Escrituras. Ao contrário do rapaz confuso que afirmava que não havia como chegar a Santos, que relatamos no inicio deste sermão, não importa de onde você venha, qual seja a sua condição, a Bíblia afirma que todos os cansados e sobrecarregados podem vir a ele e serão aliviados de sua carga de culpa, de medo, de ansiedade, de tristeza. Afirma também que aquele que confessa e deixa seus pecados, alcançará misericórdia. Não existe situação humana que Deus não possa tratar e curar. Não interessa sua condição, volte para ele. O desejo de Deus é que todos se arrependam e voltem para serem curados. Por isto ele enviou Jesus.

 

O amor de Deus tem a ver com sua oferta. “Para que não pereça, mas tenha a vida eterna”. Seu amor possui eternas implicações. Mais do que soluções temporárias, Deus deseja tratar de nossa eternidade, da salvação de nossas almas. A mensagem do evangelho vem tratar do desespero humano de não saber seu destino eterno, e para onde vai depois da morte. Seu amor trata de nossa dor no presente, mas resgata-nos da condenação eterna depois da morte.

 

O autor da carta aos Hebreus fala da grande salvação que nos foi dada por meio de Jesus, e pergunta: “Como escaparemos se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb 2.3) A salvação que Deus oferece não é uma salvação comum, é uma grande salvação.

 

Por que podemos afirmar que é grande a salvação que Cristo nos oferece?

 

  1. É grande pela sua procedência. “Porque Deus amou o mundo. “Deus amou”,   o amor nasce primeiramente em Deus, vem do Senhor. Ele nos amou. Ele nos ama. O amor não nasceu no coração dos homens, nem de alguma instituição. Ele nos amou sendo nós pecadores.

 

A fonte de salvação é o amor de Deus. Se alguém me perguntar, porque sou eleito, porque Deus me salvou, eu não terei nenhuma dúvida em afirmar que foi por causa do seu amor, mas se você me perguntar porque ele me amou, eu não saberei responder. Não havia em mim nenhuma virtude que realçasse, por isto a Bíblia afirma que a salvação é gratuita, não meritória. Deus ama sem que tenhamos mérito. A procedência do amor é de Deus. Ele amou o mundo.

 

Paulo afirma que “Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” (1 Tm 1.15). Algumas vezes já afirmei que Paulo se considera o principal dos pecadores porque ele não me conheceu... Paulo se sentia o pior dos pecadores, mas ele não era o pior. Podemos afirmar que ele era um dos piores. Mas e quanto a nós? É correto dizer que somos um dos “melhores pecadores?” Veja como esta afirmação não faz sentido algum. Quem é pecador não é “melhor”.

 

O amor de Deus é grande por causa da sua procedência. Ele vem de Deus, é o seu amor. Deus amou, e isto torna a salvação algo tão grandioso.  

 

  1. É Grande pela sua amplitude – “Porque Deus amou o mundo”. Não apenas algumas pessoas ou regiões.

 

Um antigo cântico dizia: “O amor de Jesus é maravilhoso! Alto é, intransponível, profundo também, mas acessível. A sua extensão é incomparável, sim. Oh! Grande amor.”

 

Deus amou o mundo. Seu amor é universal. Pessoas do mundo inteiro tem sido salvas pela sua graça. Nunca a igreja estendeu tanto seu avanço missionário e cresceu tanto quanto no último século, apesar de ter sido o século de maior perseguição contra a igreja e talvez por isto o evangelho tenha proliferado tanto. Tertuliano de Cartago, um dos pais da igreja afirmou que “o sangue dos mártires é a semente dos cristãos” (Tertuliano, Apologético, 50,13).

 

O evangelho tem sido fecundo na Ásia, na África, na América Latina. O Livro de Apocalipse afirma que diante do trono encontram-se pessoas de todas as tribos, povos línguas e raças. (Ap 7.9) Os judeus concebiam um Deus que amava apenas os descendentes de sangue de Abraão, mas este texto fala de um Deus que amou o mundo. A palavra mundo aqui está se referindo a todos os seres humanos.

 

  1. É Grande pela sua intensidade – “Porque Deus amou o mundo de tal maneira. É interessante prestar atenção à expressão, “de tal maneira”. Qual o significado esta expressão? Ela aponta para o fato de que Deus amou a todos os seres humanos, mesmo aquele que você considera o menos merecedor. Amou tanto que não fez e nem faz acepção de pessoas. Essa é a dimensão do seu infinito amor.

 

Só o amor de Deus seria capaz de amar um mundo caído. Paulo chega a afirmar: “Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Rm 5.7-8).

 

Esta é a intensidade de seu amor.

 

  1. Grande pelo seu preço – “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu Filho Unigênito. Muitos menosprezam a salvação por ela ser de graça, mas Bonhoeffer faz questão de nos lembrar que o amor de Cristo custou muito para Deus. Ele nos deu o seu único Filho.

 

O Apóstolo Pedro afirma: Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram,
mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo
.” (1 Pe 1.18-19).

 

“O sangue de “Jesus é o tema central da Bíblia. De Gênesis a Apocalipse esse fio escarlata, o sangue de Jesus, é o tema principal. No Antigo Testamento, o sangue de Jesus é prefigurado no derramamento do sangue dos animais sacrificados nos holocaustos. No Novo Testamento o sangue de Jesus é derramado para a nossa redenção” (Hernandes Dias Lopes)

 

 

  1. Grande pela sua oportunidade – “para que todo aquele que nele crer”. Não exclui ninguém. Basta crer.

 

Jesus é bem claro sobre isto. Neste texto que lemos no início, há uma promessa e uma advertência: “Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto  não crê no nome unigênito do Filho de Deus” (Jo 3.18). Veja que bela afirmação. Não há julgamento, ou como diz Paulo em Romanos 8.1: “Nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus”. A fé é o passaporte para receber a dádiva da salvação. O requisito para o céu é a fé. A confiança na obra de Cristo. a capacidade de olhar para a cruz.

 

Em Ef 2.8-9 lemos: “Pela graça sois salvos mediante a fé, e isto não vem de vós; não de obras pra que ninguém se glorie.” A fé, e não a performance, os méritos, ou as obras. Basta receber o presente que nos foi dado por meio de Cristo. A fé acolhe a oferta de Deus. A fé diz sim ao amor de Deus. A fé recebe a dádiva celestial.

 

Você já colocou sua confiança no sangue de Cristo ou ainda está confiando naquilo que você pode fazer? Você está impressionado com o Cristo fez ou está impressionado com o que você tem feito? Qual a base de sua confiança para salvação: A obra de Cristo ou suas obras?

 

Podemos afirmar que é grande pela facilidade. A salvação foi uma conquista de Deus para nós. “Não de obras”. Não tem que cumprir promessas, basta crer de todo coração.

 

  1. Grande pelo livramento – “...para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna.

 

Por isto o autor aos hebreus afirma: “Como escaparemos se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb 2.3). A obra de Cristo nos livra da condenação eterna. Pode existir uma dádiva maior que a vida eterna? Jesus não diz que teremos a vida eterna, mas que ela já pode ser uma realidade em nossa vida. “Para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” Não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo. Nenhuma condenação. “Agora, pois, nenhuma condenação ha para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Ninguém mais pode nos condenar, pois Cristo morreu em nosso lugar e satisfez toda a justiça de Deus. Jesus levou a nossa culpa. Ele pagou o preço da redenção e nos libertou. Recebemos perdão. A sentença de morte, que deveria recair sobre nossa cabeça, caiu sobre Jesus.

 

O apóstolo João afirma:  “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus.” (1 Jo 5.11-13)

 

  1. Grande pela sua benção – “...para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna.

 

Esta grande salvação descrita em Jo 3.16, nos fala de algo maravilhoso: Ela nos possibilita estar com o Senhor para todo sempre.

 

Temos muita dificuldade de entender as coisas em perspectivas não aristotélicas. Tudo que está fora da categoria tempo e espaço é confuso e difícil de entendimento.

 

Certa vez perguntaram a um sábio o que era a eternidade. Ele respondeu:

Em certo país há um pássaro mágico, que vem afiar seu bico numa montanha de granito, de 100 em 100 anos. Quando esta montanha desaparecer por causa da ação deste pássaro, ter-se-á passado um segundo da eternidade.

 

Conclusão: Como escaparemos?

 

Ao lermos este conhecido texto de João 3.16, temos de ler o texto anterior. A maioria dos cristãos sabe de cor este versículo, mas a maioria ignora os dois versículos anteriores:

 

E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado. Para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.14-15).

 

Veja que João 3.16 começa com uma conjunção explicativa: “porque”. Portanto este versículo deve ser entendido à luz do texto anterior, porque eles estão interligados. Por que Jesus cita Moisés e faz referência àquele aspecto da história do povo de Deus no deserto, quando Moisés levantou uma serpente de bronze, numa longa vara, e a colocou no meio do arraial? Qual a relação entre aquela serpente e a obra de Cristo?

 

Vamos resgatar um pouco da história.

O povo de Deus havia pecado, trazendo sobre si mesmo, severas condenações. Serpentes abrasadoras começaram a picar as pessoas e muitos morreram por causa disto. O povo começou a entrar em pânico, e Deus ordenou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze, a fixasse numa comprida vara e a colocasse no meio do arraial. Todos que fossem picados pelas cobras, olhariam e seriam curados. E assim aconteceu.

 

Não parece um texto estranho demais? Por que Deus fez isto?

O apóstolo João, inspirado pelo Espírito Santo, vai agora narrar este evento da história da forma como Jesus o explica. Quando Deus fez aquilo, ele estava preparando o povo para entender o seu plano de salvação. Um dia, seu filho amado seria levantado numa cruz. E todos que olhassem para esta cruz, seriam curados.

 

Existe na corrente sanguínea do ser humano, um veneno inoculado pelo diabo. Este veneno, que é o pecado, mata e destrói. Quem é picado por este pecado morre eternamente. Infelizmente, todos nós somos pecadores. A Bíblia afirma que “não há justo, nem um sequer”, e que “todos pecamos e estamos destituídos da graça de Deus”. O resultado é que este sangue envenenado, que corre em nossas veias, precisa de cura, mas o homem não tem antídoto contra esta peçonha, apenas quando o sangue de Cristo começa a percorrer nossas veias, o sangue que sai da cruz de Cristo e penetra em nossa natureza, seremos curados. Não há outro remédio. Apenas a obra de Cristo pode nos livrar do veneno do pecado e do diabo.

 

O Brasil é um enorme campo missionário. As pessoas estão tirando a Bíblia do centro. Perdemos a simplicidade do evangelho. A mensagem é simples. “Quem crer e for batizado, será salvo; quem porém não crer, será condenado” (Mc 16.16). E afirma ainda: “E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado.” Temos que olhar para o Cristo crucificado. Jesus está neste texto mostrando como somos salvos. O Filho do Homem precisa ser levantado. E do modo como o povo do deserto olhava e era curado, assim também seremos curados ao contemplarmos a obra de Cristo na cruz.

 

Em Jo 10.9 Jesus afirma: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo”. Não adianta estar perto da porta: 5 cm ou 5 km e você ainda está do lado de fora, é necessário entrar por esta porta. É preciso se arrepender de seus pecados e confiar em Cristo. “Quem nele crê não é julgado”. Este é o plano de Deus que se cumpre em Cristo. é isto que Jesus está ensinando a Nicodemos, um religioso que o procura com todos seus discursos teológicos, mas que precisava nascer de novo. Jesus está falando do plano de salvação de Deus para a raça humana.

 

Você tem olhado para Cristo?

Você já entendeu o que ele estava fazendo ali naquela cruz? Por que ele foi levado a este lugar de condenação e julgamento? Por que ele morreu?

 

Esta é a grande salvação: “Todo aquele que nele crê tem a vida eterna.”

 

 

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