sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Jz 2.6-15 Comunicando Deus à próxima Geração

 


Introdução

 

Este texto nos é perturbador.

 

Ele descreve a dramática situação dos filhos de Israel logo após a morte de seu grande líder Josué (Jz 2.10-11). Logo após sua morte, os filhos que nasceram, perderam completamente a compreensão de quem era o Deus de seus pais, não eram capazes de amar Deus e se envolveram com outros deuses da terra como Astarote e Baal.

 

Sempre que falamos da nova geração duas perguntas são necessárias:

 

A. O Evangelho vai chegar aos teus filhos e netos ou vai morrer em você?

 

B. Se chegar à próxima geração, que tipo de Evangelho será: autêntico ou diluído?

 

A verdade é que temos o grande desafio de fazer o Evangelho chegar às próximas gerações:

 

Fui pastor por muitos anos numa das regiões mais secularizadas dos Estados Unidos: chamada de New England, no Nordeste daquele país. Nesta região, dois grandes avivamentos se deram 200 anos atrás. O primeiro com Jonathan Edwards, cujo fogo varreu as maiores cidades da região. Se uniu a Edwards, vindo da Inglaterra o avivalista Charles Whitefield, que chegou a pregar a 7 mil pessoas, no pátio central da Universidade de Harvard, sem nenhum recurso de som, apenas na potência de sua voz.

 

O segundo grande avivamento, se deu tempos depois, com o ministério de Charles Finney, que alastrou como fogo, começando em New York Upstate, atingindo New York e Boston.

 

Duzentos anos depois, entretanto, a realidade desta região é lamentável do ponto de vista espiritual. As igrejas estão vazias, prédios históricos deixaram de funcionar como igreja, o Evangelho perdeu completamente sua influência. Os historiadores chamam este período atual de “Pós-cristianismo”. Os templos foram se esvaziando e transformando em museus, bares e boates ou transformadas em sofisticados condomínios. Na região central de Boston estima-se que os que se consideram “nascidos de novo”, são apenas 0.5% da população.

 

Perguntas têm sido levantadas sobre as razões desta apostasia? Pelo menos três elementos podem ser apontados:

 

            a)- Liberalismo teológico – A Palavra de Deus deixou de ser considerado o último critério de validação da fé. Deixou de ser inspirada, inerrante e suficiente e se tornou relativa. Dos sete seminários evangélicos da região, apenas um pode ser considerado bíblico: O Gordon Conwell, no qual tive oportunidade de estudar, e também de ser professor. A neo-ortodoxia invadiu a teologia evangélica e o dano até hoje é irreparável.

 

            b)- Incapacidade de entender o contexto - Compramos um templo em Cambridge, cuja comunidade tinha apenas 12  membros, e negociamos o imóvel com o líder que era o caçula do grupo e estava com 82 anos. O que aconteceu com aquela comunidade? A cidade mudou a sua configuração e a igreja não percebeu.  Aquela que outrora fora uma cidade do subúrbio de Boston, agora se tornara uma metrópole. Cresceu grandemente em número de habitantes, mas a igreja não soube entender o que estava acontecendo e nem tirar proveito daquele momento para anunciar o evangelho aos imigrantes, latinos e asiáticos, e aos negros que passaram a residir na vizinhança. O evangelho deixou de ser comunicado de forma relevante e a próxima geração se distanciou.

 

            c)- Os pais não souberam transmitir o Evangelho aos seus filhos – Os jovens daquela igreja, simplesmente se dispersaram. O cristianismo deixou de ser importante para suas vidas e as verdades do Evangelho não foram traduzidas para suas vidas nem comunicada de forma eficiente. Os filhos se tornaram críticos da igreja e deixaram de amar a Deus. Com isto a igreja se esvaziou ficando apenas um pequeno grupo remanescente fiel.

 

Contexto

 

Ao lermos o livro de Juízes, observamos que o povo de Deus havia enfrentado as piores batalhas. A conquista não foi algo fácil. Guerras, mortes, enfrentamento. Com a graça de Deus, contudo, a terra foi conquistada e isto trouxe estabilidade, conforto e segurança. A velha liderança morreu, já fazia 70 anos. Na hora de desfrutar as conquistas, algo trágico porém acontece. A nova geração não conheceu Yawé (Jz  2.11). Veja o contraste com o vs. 7, que fala de uma geração fiel. O que aconteceu entre uma geração e outra? Qual é a diferença Entre uma e outra? Por que a fidelidade a Deus evaporou?

 

O que gerou esta situação?

 

1.  Não houve transição entre uma geração e outra – “...e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel.”(Jz 2.10).

 

Este texto é inquietante. A velha geração não transmitiu à nova geração o conhecimento de Deus. Eles não apenas não conheciam a Deus, mas não sabiam nada dos feitos grandiosos de Deus. O pacto, alianças e chamados dados por Deus, não foram transmitidas à nova geração, que não soube das obras que o Senhor efetuara em Israel. Os pais não contaram a história do livramento que Deus fizera a Israel e como Deus os havia trazido com mão forte àquele lugar. Os filhos não conheciam a história do povo de Deus, os pais não lhes relataram.

 

Nossos filhos precisam ouvir as verdades eternas.

O povo de Deus era instruído sobre isto:

Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tuca casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.” (Dt 6.4-6)

 

Precisamos discernir esta nova geração para saber como deveremos comunicar de forma eficiente, as boas novas do Evangelho. Lewis Rath, educador, define algumas características das crianças do Século XXI:

 

i.               High-tech: Geração virtual - Crianças que já nascem com uma enorme facilidade para lidar com computadores e tecnologias modernas. A sensação que temos é que já nasceram com chip de computador na cabeça.

 

ii.              Excessivamente exposta a informações – É impressionante a quantidade de imagens, sons, idéias que recebem, ouvem e vêem, antes de chegarem à idade escolar;

 

iii.            Não relacional – Se comunicam melhor através do mundo virtual, mas não se tocam facilmente. São isoladas em seus mundos de “second life” e “avatares”.

 

iv.             Estressada – Excesso de atividades. Os pais realmente acreditam que se seus filhos receberem uma grande quantidade de informações terão mais sucesso. Não é raro encontra uma criança de 10 anos ter uma agenda tão complicada quanto a de um adulto.

 

v.              Insegura - Por estarem cada vez mais distanciadas dos pais, sentem-se muito inseguras emocionalmente e com muita dificuldade em tomar decisões e assumir compromissos mais sérios.

 

vi.             Iracunda - É uma geração nervosinha, cheia de tiques nervosos e de exigências e direitos, e se irrita com facilidade.

 

vii.           Deprimida: Consultórios cheios de crianças com dilemas profundos: fobias, pesadelos e  luto existencial.

 

Mas acima de tudo precisamos lembrar que outra característica desta geração é que ela precisa de Deus, e que Jesus a ama. O Evangelho precisa tocar seus corações. As verdades de Deus precisam alcançá-la.

 

2.  Falta de conhecimento pessoal de Deus: “não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel.”(Jz 2.10).

 

Duas coisas nos são relatadas no texto: não conhecia a Deus e nem sabiam dos seus poderosos feitos.

 

São duas coisas diferentes e complementares:

 

A primeira, a falta de conversão. Eles não conheciam o Senhor. Tem a ver com a experiência própria, conhecer Deus não de segunda mão, mas ter uma conversão real. Nossos filhos precisam conhecer a Deus de forma pessoal ou eles não continuarão no caminho do Senhor. Apenas uma conversão profunda, legitima, real, transformadora, será capaz de sustenta-los na fé. Deus não tem netos, só filhos. Sem conversão, sem conhecimento de Deus, os filhos de crentes abandonarão o Senhor, e se tornarão macumbeiros, espíritas, espiritualistas, esotéricos, mas não crente em Cristo, cheios do Espírito Santo, que amam a Palavra de Deus e servem o Senhor.

 

A segunda, não conheciam as obras que o Senhor fizera a Israel. Eles não conheciam a Deus (não eram convertidos), mas também nada sabiam de Deus. Os pais sequer se preocuparam em relatar o que Deus tinha feito no meio deles. Os pais não souberam comunicar aos filhos a realidade de um Deus que havia visitado seu povo, tirado do Egito, feito milagres sobrenaturais entre eles, e os sustentará com maná por quarenta anos no deserto. Os pais não ensinaram.

 

Não pode haver conversão sem comunicação do Evangelho. A fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus. Nossos filhos precisam saber sobre Deus, ouvir sobre Deus e aprender sobre Deus. Muitos pais estão transferindo esta responsabilidade para a igreja, mas considere quanto tempo seu filho convive com a igreja. A igreja é parceira, mas não pode assumir esta gigantesca tarefa de ensinar espiritualmente seus filhos e moldá-los no caminho do Senhor. O texto de Deuteronômio afirma que deve ser um processo diligente e constante, não podemos baixar a guarda.

“...tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tuca casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.”

 

Invista no seu filho, leve-o a ter gosto pelas coisas do Senhor…Leia a Bíblia com ele, ore com ele, fale de Deus para ele, ensine corinhos, ensine a contribuir financeiramente com a igreja, ensine-o a amar a igreja. Seu filho vê como você coloca o dinheiro e o amor que você tem pelo reino de Deus, e também vai imitá-lo nas suas atitudes.

 

Leve seu filho ao conhecimento do Senhor. Ore pelo seu filho, invista na sua alma. As igrejas de New England se fecharam porque a nova geração não conheceu o Senhor. O dinheiro para construir aquelas catedrais, enviar dinheiro para missões, transmitir o evangelho ao mundo, veio de gente convertida realmente ao Senhor. Mas os filhos não aprenderam de Deus, não conheceram a Deus. Os pais não transmitiram aos seus filhos. A fé que eles tinham morreu neles mesmos.

 

Na oração sacerdotal, Jesus ora pelos seus discípulos: “Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse as Escrituras” (Jo 17.12). Ao ler este texto, tive a sensação de que esta deve ser a oração de pais piedosos: Guardá-los, protegê-los, para que nenhum deles se perca!

 

Quais as conseqüências deste descaso espiritual?

 

1.  Fizeram o mau perante o Senhor – (Jz 2.11) Filhos que não conhecem a Deus, não se preocupam com sua glória. A visão distorcida na teologia, vai desembocar numa espiritualidade vazia e numa ética vazia. Por não conhecerem a Deus, não fazem o bem.  Eles começaram a servir os Baalins  e Astarotes. Ora, isto é o mesmo que dizer que nossos filhos vão começar a se render aos orixás.

 

A questão é que somos espirituais. Se não aprendermos a servir o Deus vivo, vamos começar a buscar substitutos. Vamos construir ídolos. Deuses falsos ocuparão o lugar do Deus verdadeiro como aconteceu em Israel , que passa a servir a deuses falsos (Jz 3.5). Se não ensinarmos os filhos a amar o Senhor, vão se tornar críticos, cínicos e zombadores. Vão buscar respostas em gurússhamans e profetisas. Este é o quadro que surge da apostasia.

 

2.  Provocaram o Senhor à ira – “Deixaram o Senhor , Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses das gentes que havia ao redor deles, e os adoraram, e provocaram o Senhor à ira.”(Jz 2.12).

 

Estas coisas trouxeram juízo de Deus. O texto afirma que Deus os abandona. Na visão do apóstolo Paulo, este é o grande juízo de Deus sobre a humanidade. Em Rm 1.24,26,28 lemos que Deus “os entregou”. Este é o juízo mais severo de Deus. Ele deixa o povo à deriva, se cansa de nos orientar, e por causa da rebeldia e nos entrega às nossas próprias paixões. O castigo de não conhecer a Deus é a desestrutura familiar, as patologias da alma: Solidão, angústia, vazio. Pessoas se entregando a paixões: homossexualismo, prostituição, drogas.

 

Neste texto de Juízes, lemos ainda que a ira do Senhor se revela também na perda da liberdade dos filhos de Israel . Foram entregues à mão dos espoliadores.  “Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel e os deu na mão dos espoliadores, que os pilharam; e os entregou na mão dos seus inimigos ao redor; e não mais puderam resistir a eles. (Jz 2.14) Deus se torna seus opositores. São entregues e não conseguem mais se libertar do diabo nem resisti-lo. São espoliados.  “Por onde quer que saíam, a mão do Senhor era contra eles para seu mal, como o Senhor lhes dissera e jurara; e estavam em grande aperto.” (Jz 2.15). é duro quando o Deus se torna o adversário, quando o inimigo já não está do lado de lá, mas somos confrontados diretamente por Deus. Ele mesmo coloca o povo “em grande aperto”.

 

3.  Decadência espiritual progressiva – Sucedia, porém, que, falecendo o juiz, reincidiam e se tornavam piores do que seus pais, seguindo após outros deuses, servindo-os e adorando-os eles; nada deixavam das suas obras, nem da obstinação dos seus caminhos.” (Jz 2.19). Ocorre um acentuado estado de decadência espiritual, por isto “tornaram-se piores que seus pais”. O Afastamento de Deus vai trazendo conseqüências cada vez mais graves. Os filhos de Israel tornaram-se mais obstinados.

 

Conclusão:

Como comunicar o Evangelho positivamente à nova geração?

 

Gostaria de considerar algumas alternativas que tem se demonstrado eficiente:

 

  1. Crie uma atmosfera de vida cristã em sua casa - Encha o seu lar com a idéia, com o conceito, com valores de Deus. Tome decisões com base naquilo que Deus é, e diga aos seus filhos.  Ore com eles, deixe que eles percebam que você teme a Deus, que você ora, que você lê a Bíblia.

 

Reggie Joiner, da Universidade da Família afirma que igreja e família precisam estabelecer uma parceria, e que para produzir frutos mais eficientes, é necessário uma estratégia mais efetiva. O titulo de seu livro é “Pense Laranja”, que para ele é uma cor secundária, uma combinação entre o vermelho e o amarelo, e representam o que o esforço destas duas comunidades, aliadas entre si, poderão realizar.

 

  1. Preste atenção se os seus filhos estão conhecendo o Senhor - Tenho visto muitas pessoas realmente plugadas, mas por outro lado vejo tantas preguiçosas quanto a este tema.

 

Certa mulher afirmou que sempre trazia seus filhos à Escola Dominical, porque não queria perder oportunidade de transmitir Jesus para suas vidas. Se interessava pelo conteúdo da Educação cristã da igreja, os versículos que os filhos haviam aprendido na escola dominical, e perguntava o que estavam aprendendo. Se interesse. Compre boa literatura cristã e coloque em suas mãos. Existem bons materiais didáticos que ajudam mães e pais interessados em comunicar o Evangelho a seus filhos.

 

  1. Crie espaços (momentos)  para que seus filhos tenham oportunidade de conhecer a Deus-  Leitura da Palavra em casa, culto doméstico, oração ao redor da mesa, oração antes de dormirem. Crie espaços: Invista em acampamentos e retiros. Compra livros com mensagens cristãs e Bíblias didáticas apropriados à sua idade. Crie momentos para falar do que Deus já fez por vocês, compartilhe as bençãos espirituais, crie temor nos seus corações, para que tratem as coisas de Deus com reverência e temor. Leve um missionário para sua casa para contar as experiências do que estão fazendo.

 

Tenho aprendido que lares que gostam dos pastores e missionários, normalmente formam filhos interessados nas coisas de Deus.

 

  1. Ore para que seu filho tenha um encontro pessoal com Deus - Peça a Deus para tornar seu filho um servo dele, para que Deus se compadeça de sua alma. Esta deve ser uma agenda permanente, se realmente estivermos interessados pela sua alma.

 

  1. Ore para que Deus faça de você um homem (mulher) temente, para que através de sua vida, seu filho sinta fome e sede de Deus – Quando os pais demonstram interesse pela vida espiritual, os filhos se sentem mais motivados a seguir a Deus. Lembre-se: Nada gera mais incredulidade no coração de nossos filhos que a hipocrisia ou atitude de pessoas que querem que seus filhos conheçam a Deus, mas eles mesmos não estão interessados pela vida espiritual.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário