sábado, 6 de agosto de 2022

Lc 7.48-50 Três grandes declarações de Deus sobre nós!

 




 

 

 

Três grandes declarações de Deus sobre nós!

Lc 7.48-50

 

 

 

Introdução

 

Situações inusitadas

A vida muitas vezes nos coloca diante de situações que não sabemos muito bem como reagir, que nunca julgávamos que veríamos ou passaríamos por elas. São cenas bizarras, inesperadas, fora do eixo da “normalidade”. 


Certa vez eu estava fazendo um casamento em Goiânia, e falei que marido e mulher deveriam sempre declarar um ao outro o seu amor, porque esta é uma frase de afirmação. Quando eu digo "eu amo você!", estou na verdade renovando votos, deixando claro onde se encontra o meu coração, e isto fortalece o relacionamento. Nesta hora, lá na frente, no altar, a mãe da noiva falou bem alto: "Estou casado com meu marido por quase trinta anos e ele nunca disse que me ama!" A situação ficou tensa. Então, para quebrar o gelo, eu disse àquele senhor em forma de brincadeira: "Se você não disser que ama a sua esposa, daqui para o final deste ceimonial, vou puxar sua orelha." Todo mundo riu, mas sem dúvida foi uma situação tensa e inusitada.


 É isto que vemos neste texto.

 

Primeiro, um fariseu convidar Jesus para sua casa

 

Primeiro, um fariseu convidar Jesus para um jantar. Esta certamente não é uma cena normal. Jesus se assenta com publicanos, conversa com samaritanos, toca em leprosos, dialoga com prostitutas, mas ser convidado por um fariseu é no mínimo inusitado.

 

Os fariseus se julgavam os guardiões do judaísmo e eram o grupo mais estrito na guarda da Lei. Rigorosos quanto aos costumes e tradições dos anciãos, prontos a lutar para garantir a ortodoxia da religião a qualquer custo. Jesus entra em cena neste universo religioso, questionando determinadas interpretações da lei (é bom observar que Jesus nunca rejeitou a lei, se você acha que ele não prestava atenção às leis, precisa reler o evangelho). Em Mt 5.17-18 ele diz claramente:

 

“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” Jesus não veio revogar a lei, mas para cumpri-la.

 

O que ele queria é que a Lei não ficasse no seu aspecto exterior, nem na superficialidade, mas que tivesse uma dimensão mais profunda. Por má interpretação da Lei, ela havia se transformado num instrumento de controle e opressão, e não de libertação. Basta considerar a questão do sábado para entender isto.

 

O próprio evangelista Lucas registra: “Sucedeu que, em outro sábado, entrou ele na sinagoga e ensinava. Ora, achava-se ali um homem cuja mão direita estava ressequida.
Os escribas e os fariseus observavam-no, procurando ver se ele faria uma cura no sábado, a fim de acharem de que o acusar
.” (Lc 6.6-7) Eles usam o sábado para acusar Jesus. Por isto ele  afirmou que “o homem não foi feito por causa do sábado, mas o sábado por causa do homem.” É importante colocar a Lei no seu prisma correto.

 

Então, o texto lido nos surpreende quando observamos que um fariseu convida Jesus para jantar. Esta não é uma cena comum. Pessoas moralistas tinham dificuldade com Jesus e se distanciavam, enquanto os pecadores se sentiam acolhidos e se aproximavam. Pessoas “boas “e “justas” encontram dificuldade porque por se considerarem justas e boas demais, nunca conseguem entender a graça e o perdão do evangelho, porque na sua compreensão, a ética que possuem é sua salvação. Quando muito, entendem que Jesus participa de seu resgate, mas não dependem, de forma tão intensa, da obra de Cristo. Eles serão salvos, em última instância, por seus méritos, esforços, boas obras, caridade e integridade.

 

Se forem perguntados sobre o caminho para os céus, 80% dirão por caridade,  generosidade e boas obras. No fundo, serão salvas por elas mesmas, não pelo que Cristo fez. Dessa forma colocam o foco neles mesmos, não em Cristo. Este foi o discurso do irmão mais velho na parábola o filho pródigo: “Mas ele respondeu a seu pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito sequer para alegrar-me com os meus amigos.” (Lc 15.29) Sua moral era ilibada, e isto, na sua opinião,  lhe dava o direito de rejeitar o irmão e criticar o pai.

 

Por esta razão, não é comum fariseus convidarem Jesus para suas casas para jantar. O evangelho lhes é ofensivo. Eles não o querem assentado às suas mesas. Jesus deixou claro que: “Os sãos não precisam de médico, e sim os doentes. Não vim chamar justos, e sim pecadores, ao arrependimento.” (Lc 5.31,32) Se você não se considera um pecador, você nunca sentirá qualquer necessidade do evangelho. Você estará sempre admirado consigo mesmo, nunca com o que Deus fez através de Cristo.

 

Segundo, o comportamento excêntrico de uma mulher

 

Além da inusitada situação do fariseu que convida Jesus para o jantar, temos também a situação de uma mulher excêntrica numa festa familiar.

 

A.    Ela entrou na casa de um fariseu de forma invasiva. Ou você acha que um fariseu convidaria uma prostituta para sua casa?

 

Numa situação natural, ele a teria expulsado, mas considerando o fato de que Jesus estava ali e vários outros convidados presentes, isto o inibiu de um comportamento mais radical

 

B.     O gesto da mulher é excêntrico. Ela derramou um vaso de alabastro com unguento e enxugava os pés de Jesus com seu cabelo e os beijava.

 

Uma cena forte! Estranha. Jesus tinha vindo da rua, ele usava sandálias abertas, estava com os pés sujos, mas aquela mulher não se incomoda e, curiosamente, Jesus também não. Vamos tentar entender a razão disto.

 

O fariseu em seu coração pensa o seguinte: “Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora.” (Lc 7.39)

 

Mas o que passa no coração de Jesus?


Jesus acolhe a dor e humilhação daquela mulher. Ele dá espaço para que ela possa ser redimida. Ele permite que pessoas quebradas sejam restauradas e não a interrompe. Seu gesto é surpreendente. Ele deixa que ela derrame seu coração e lágrimas, trata da sua dor com respeito. Não esmaga a cana quebrada.

 

Como precisamos de espaço para sermos autênticos, aceitos acolhidos e amados. Para explicar isto ao fariseu, Jesus conta uma parábola:

 

Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: “Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem.” (Lc 7.41-42)

 

Sabe por que pessoas “boas” tem dificuldade para adorar? Ironicamente é porque elas são “boas”. Pessoas boas geralmente não possuem grande admiração por Cristo, mas estão muito admiradas consigo mesmas. E por isto não sabem adorar ou não se preocupam em adorar a Deus. Podem até convidar Jesus para um jantar, mas não possuem capacidade de se derramar e ter intimidade com Deus.

 

Por não ter admiração por Jesus, Simão não se preocupou com regras simples da hospitalidade judaica, citadas aqui por Jesus.

 

-Ele não lhe lavou os pés. Ora, quando Jesus se assenta àquela mesa, não podemos imaginar que as mesas de então sejam parecidas com as mesas de nossos dias. As pessoas ficavam assentadas e os pés ficavam para baixo. Na verdade, as pessoas comiam “deitadas” sobre poltronas e tapetes. Por isto, antes de se assentar à mesa, geralmente se lavava os pés.

 

-Não lhe deu um beijo. A saudação básica do judeu era um beijo no anfitrião. Era como estender a mão e cumprimentar. Por alguma razão insólita e deselegante, ele não fez aquilo que era elementar.

 

-Não ungiu sua cabeça. Este era um ato de acolhimento e afetividade, muito comum entre amigos que chegavam à casa para fazer uma visita.

 

Todas estas três regras básicas foram quebradas, e isto demonstra que apesar dele ter convidado Jesus para sua casa, ele se encontrava desconfortável. Simão não fez o básico.

 

Em contrapartida, a mulher pecadora, se torna extravagante no seu gesto. Simão tinha curiosidade sobre Jesus, mas não demonstra admiração, ao passo que aquela mulher demonstra louvor e gratidão. Esta mulher tem coração adorador, quebrantada, com admiração por Cristo, o que a conduz ao louvor, à gratidão. Sem admiração não há louvor.

 

Tenho pensado muito na questão da admiração, ao fazer uma releitura dos evangelhos nestes últimos dias. Veja quantas vezes as pessoas que conviveram com Cristo demonstraram admiração:

 

- Lc 5.26: “Todos ficaram atônitos.”

-Lc 5.8-9: “Simão Pedro prostrou-se aos pés de Jesus.”

-Lc 8.56: A ressurreição da filha de Jairo: “Seus pais ficaram admirados.”

-Lc 8.25: Temor e admiração quando Jesus acalma a tempestade.

 

Tenho a impressão de que nos falta admiração e encantamento por Cristo em nossas vidas e nas nossas igrejas, e isto esta mulher tinha de sobra.

 

Você está encantado por Jesus?

O fariseu recebeu Jesus, mas não estava admirado por Cristo. Duas características se tornam presentes em pessoas que andam com Cristo, mas não estão admiradas.

 

A)- Suspeita – Simão fica de longe! Não se aproxima, não cumprimenta, não lava os pés, não o unge com óleo. Simão é distante, não se rende. Ele fica perto o suficiente para não se envolver. Parece aquela frase de sogra que diz: “Sogra não pode viver tão perto que vá de chinelos, nem tão longe que vá de malas.” Muita gente age assim com Jesus. Quer ficar observando e analisando, mas não quer tocar nem se deixar tocar. São curiosos acerca das coisas espirituais, mas não se rendem a elas.

 

B)- Julgamento - Esta segunda atitude é ainda mais grave. No primeiro incidente ele já julga Jesus. “Se fosse profeta saberia que ela é pecadora.” Tudo que é relacionado às coisas de Deus passa por crítica e julgamento. Ficam analisando a igreja, as coisas que acontecem, as falhas de alguém, a atitude de um pastor, mas nunca se encantam com Cristo e com aquilo que ele faz.

 

Três maravilhosas declarações de Deus acerca de nós

 

Diante deste quadro, o texto conclui com três maravilhosas declarações de Deus acerca daquela mulher e que são maravilhosas quando as ouvimos de Deus. Eu espero que estas três afirmações chegue ao seu coração de forma profunda e impactante.

 

Primeira: Perdoados são os teus pecados (Lc 7.48)

 

Que grande declaração de Deus a respeito desta mulher.

 

A alma culpada vive se autocondenando, e a culpa é um poço sem fundo, não tem limites. Jay Adams afirma que 50% das pessoas que hoje vivem em hospitais psiquiátricos seriam curadas, se a questão da culpa saísse de seus ombros.

 

A culpa nos fragiliza emocionalmente, atinge diretamente nossa saúde, nos debilita espiritualmente.

 

A Bíblia afirma: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (1 Jo 1.9). Não importa o tamanho de seu pecado, nem as acusações que pairam sobre sua vida. Ouvir a declaração de perdão é libertador. Você já ouviu a declaração de Cristo sobre sua vida? “Perdoados são os teus pecados?” Se já ouviu você vive em liberdade. Não mais condenação, nem acusação. Se você ainda não ouviu é porque você ainda não entendeu o evangelho.

 

O evangelho é basicamente sobre redenção. Um Deus que resolve perdoar, absolver, restaurar o caído.  Uma das grandes declarações do evangelho encontra-se na carta aos Romanos. “Agora, pois, nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus.” (Rm 8.1). Nenhuma!!!

 

Segunda: A tua fé te salvou! (LC 7.50)

 

O que Jesus queria dizer com esta frase? Salvou de que?

 

Certamente ela foi salva da culpa e da condenação. Ela vivia condenada por si mesma, condenada pela sociedade (e aparentemente a sociedade tinha seus motivos, porque ela não tinha boa fama na cidade), mas a coisa mais importante: Ela havia sido salva da condenação de seus pecados.

 

Quanto à autocondenação, gostaria de dizer o seguinte. Tenho visto muitas pessoas severas demais consigo mesmas, vivendo sempre culpadas, sem encontrar alívio no seu autojulgamento. Talvez fosse o caso desta mulher. Ela tinha motivos para viver se culpando, sofrendo a penalidade de sua consciência acusadora, da culpa voraz. Como ela é salva? Encontrando aceitação e perdão aos pés de Cristo. Ela não pede a Jesus cura física, nem encontrava-se endemoninhada. Na verdade, ela não pede nada a Jesus, mas Jesus sabia da sua vergonha e dor. Ele sabia que ela precisava de perdão e restauração. Por isto faz a declaração do perdão de seus pecados. Ela não mais viveria baseada na sua culpa real (ou imaginária), mas na declaração da libertação recebida. Sua fé em Cristo a salvou da culpa e condenação.

 

Sua fé em Cristo tem trazido salvação a você? Libertação da culpa e do medo? A fé em Cristo traz os benefícios de Cristo para nossa vida. Por isto a fé traz graça, alegria e renovação aos nossos corações. Pela fé recebemos os benefícios da cruz, pela fé somos perdoados de nossos pecados, pela fé somos libertos da condenação do inferno.

 

Terceira: “Vai-te em paz!” (Lc 7.50)

 

Ela ouviu a declaração de perdão, recebeu a libertação por meio da fé que ouvindo a afirmação de Cristo a acolheu verdadeiramente no coração. Ela se sentiu curada. Estes dois passos iniciais são essenciais para seguir a vida em paz.

 

Sem ouvir, ou ouvindo, mas não recebendo o perdão, não haverá paz. Eventualmente não ouvimos e eventualmente não acolhemos o perdão – se um destes passos não for assimilado, não haverá paz. Você só terá paz recebendo a mensagem do perdão.

 

Eu gosto muito do conceito da confissão auricular da Igreja Católica, quando o fiel procura o padre para confessar seu pecado, e falar daquilo que está impedindo o avanço de sua fé, embora em não creia em alguns de seus fundamentos:

 

a)- A Igreja Católica crê que a confissão é um sacramento. Eu não defendo esta ideia.

b)- A Igreja Católica crê que o padre pode absolver a pessoa. Eu creio que o perdão de pecados não é uma perspectiva clerical, mas divina. Eu confesso, admito que errei, abandono o pecado e recebo o perdão de Deus. Sem mediação sacerdotal.

c)- A Igreja Católica dá uma série de exercícios espirituais para a pessoa alcançar o perdão, desde rezar alguns “pais-nossos” e “ave-marias”, até participar das missas, ou fazer alguma doação. Mas o perdão de Deus não está condicionado a nada que fazemos. Perdão é ato unilateral de Deus, e ele perdoa livre, voluntária e plenamente.

 

Feito estas ressalvas, reafirmo que gosto da ideia da confissão auricular pelo seguinte: é bom ouvir que fomos perdoados. Que sensação boa deve ser ouvir de seu padre, em quem você confia a declaração de liberdade: “Eu te absolvo em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo.“ Muitas vezes tenho feito isto a pessoas que se sentem culpadas, e que arrependidas ainda não encontram a paz para seguir suas vidas com liberdade. Eu lhes declaro: “Irmão, Jesus já te perdoou, vai-te em paz!”

 

Mas a maior benção acerca do perdão é ouvir do próprio Deus: “Filho, estão perdoados os teus pecados!” Jesus disse isto a muitas pessoas, para espanto e escândalo daqueles que estavam ao seu lado. Esta compreensão do perdão, dado por meio do sangue de Cristo nos dá paz para seguir adiante.

 

Viva sem culpa, sem condenação, sem acusação. Viva em liberdade. Viva olhando para a cruz de Cristo. Muitas vezes você tropeçará, trairá o seu Mestre, mas volte para Deus em contrição e perdão. Viva debaixo do perdão para viver debaixo da paz.

 

Foi isso que Jesus disse a esta mulher: “Vai-te em paz!”

 

Muitas pessoas estão precisando ouvir esta declaração tríplice:

“Estão perdoados os teus pecados!

“A tua fé te salvou!”

“Vai-te em paz!”

 

Estas são as três grandes declarações que precisamos ouvir de Deus.

 

 

 

 











 











 


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