"Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda?” (Mal 3.8-9)
Introdução
No início do ano, iniciamos uma série de sermões sobre finanças e reino de Deus. São várias as razões para tratarmos deste assunto:
1. Deus fala deste assunto. Se Deus falou tantas vezes sobre este tema, por que não deveríamos falar? Jesus falou mais do dinheiro que do inferno e céu. É o segundo tema mais falado por Jesus, atrás apenas do reino de Deus.
2. Dinheiro pode ser antagônico a Deus. Jesus afirmou que ninguém pode servir a Deus e ao dinheiro, “porque ou há de odiar um e amar o outro ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.”
O dinheiro é quase sempre mau utilizado. Tradicionalmente existem três tipos de abordagens com o dinheiro:
a. Jumento – É aquele que trabalha e gasta tudo. Ele carrega nas costas a despesa de todos.
b. Muquirana - Não gosta de gastar e muito menos emprestar dinheiro para alguém. Sinônimo de Pão Duro, Mão de Vaca. É o Scrooge McDuck, aliás, é o nome original do célebre muquirana Tio Patinhas, personagem da Disney apresentado como o mais rico do mundo.
c. Sábio – Equilibra o uso do dinheiro. Trabalha, economiza, aplica bem os recursos.
3. Não há problema em ter dinheiro. Muitos servos de Deus eram homens ricos, entre eles Abraão, Isaque, Davi, Salomão. Isaias era da elite social em Israel, fazia parte da nobreza e aristocracia judaica. Na Bíblia, muitas mulheres ricas serviram ao Senhor com seus bens. (Zc 8.1-3). Portanto, o dinheiro em si, não é o problema, mas sim o amor ao dinheiro. A Bíblia afirma que este “amor deturpado”, não o dinheiro em si, é a raiz de todos os problemas.
O livro de Malaquias é repleto de interpelações de Deus ao seu povo e do povo a Deus. Na verdade, Deus está sendo inquirido, porque as coisas que ele diz parecem não fazer sentido. Neste texto, vemos a 6ª confrontação. Deus fazendo um apelo ao seu povo para que retorne seu coração ao ele.
O texto começa com uma queixa sobre a desobediência constante: “Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos e não o guardastes” (Ml 3.7). Deus está afirmando que o povo “sempre” lhe desobedeceu, assim como seus pais:
ü No deserto: Queixas, reclamações, deuses pagãos, infidelidade;
ü Nos dias dos juízes: perda das referencias sagradas
ü Na época dos reis: infidelidade, descaso, cultos esvaziados.
Princípios
1. Dinheiro e coração são fatos interligados
Este texto que fala sobre dízimos e ofertas, lamentavelmente tem sido “sequestrado”, da Bíblia, para tornar-se uma camisa de forças na tentativa de obrigar os fiéis a contribuírem. Entretanto, ele não deve ser visto como um instrumento de pressão, deve ir muito além disto. Seu sentido é bem mais profundo.
Se lermos atentamente, desde o princípio deste texto, veremos que o foco de Deus está colocado na obediência e nos afetos. A questão mais importante é levar-nos a considerar o coração. A pergunta mais importante aqui deveria ser a seguinte: quando reflito sobre a questão do dinheiro e do reino de Deus, devo me perguntar: Por que não quero doar meus recursos?
Veja o que diz os vs. 6-7
“Eu, o Senhor, não mudo.”
Antes de falar de dinheiro, de dízimo, de fidelidade: Três problemas são levantados neste texto:
A. O povo de Deus tinha perdido a compreensão de quem era Deus. Deus afirma que os tempos mudam, mas Ele não. Uma das características de Deus é sua estabilidade, ele é eterno. Transcende o modismo, tendências de pensamentos, discursos filosóficos. Deus não está acorrentado as variações humanas. Ele não muda.
Pensar em Deus assim muda nossa percepção.
Muitos dizem: “eu mudo se as coisas mudam”, e assim é, na verdade, o pensamento relativista. As pessoas aplicam isto para Deus. É fácil pensar em Deus como um ser de amor, mas porque não pensamos em Deus como ser de santidade? Ele sempre amou, mas ele é santo.
De forma enfática Deus afirma: “Por isto não sois consumidos.” A misericórdia de Deus não muda. Ele é misericordioso. “Se tu, Soberano Senhor, registrasses os pecados, quem escaparia?” (Sl 130.3-NVI) Malaquias afirma: “Quem poderá suportar o dia da sua vinda? E quem poderá subsistir quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros.” (Ml 3.2) Sua graça não muda, ela é incondicional. Sua fidelidade não muda: Se formos infiéis, ele continuará fiel, pois não pode negar-se a si mesmo. Faz parte da sua personalidade sua graça, misericórdia e graça. Por isto não somos consumidos.
B. O povo de Deus se distanciou da Palavra: “Desviaram dos meus estatutos.” (Ml 3.7).
Israel tinha perdido a referência da Palavra. O problema de não trazer as ofertas e dízimos estava relacionado à perda das referências e ordenanças dadas por Deus. A palavra de Deus já não era “a única regra de fé e prática.” Eles agora estavam recebendo direção e orientação de outras fontes. A Palavra de Deus havia sido relativizada e esquecida. Eles deixaram os valores e princípios, desviando-se dos estatutos e mandamentos divinos.
C. O povo se afastou de Deus – “Tornai-vos para mim.” (Ml 3.7)
Portanto, não devemos começar a leitura do texto a partir de Mal 3.9, mas de Mal 3.7. Deus está falando de relacionamento. O problema mais sério está ligado ao coração e aos afetos. É uma questão de distanciamento. Deus está pedindo as pessoas para voltarem, para não ficarem distantes.
A relação com Deus está quebrada. A forma das pessoas contribuírem ou não contribuírem está diretamente relacionado ao coração e a intimidade com Deus. Precisamos perguntar:
- Qual é o lugar do dinheiro?
- Como dinheiro pode revelar meu coração e intimidade?
-Como dinheiro pode se tornar fonte de benção e não apenas do acúmulo e lucro?
-O que o dinheiro revela sobre meu coração?
No vs. 9, Deus emprega um termo forte: “Vós me roubais.” Os recursos revelavam uma forma espúria de tratar a relação com Deus. Como um funcionário que tem a responsabilidade de cuidar das finanças de uma empresa, mas está desviando o dinheiro. Acusação forte de Deus.
Isto demonstra que dinheiro não é uma questão de bolso, algo material, mas está conectado ao coração. Por isto, “é o último a converter e o primeiro a esfriar.” (Bispo Paulo Ayres). Não é sem razão que Jesus coloca o dinheiro na relação com o coração: “Onde estiver teu tesouro, ai estará o teu coração.” Quando eu coloco o dinheiro que tenho a serviço do reino, isto tem a ver com o coração. Quando me recuso a dar esta destinação, isto também tem a ver com o coração. Dar e não dar, é uma questão diretamente relacionada ao coração.
2. Rouba-se de Deus, quando não se coloca os recursos materiais na ótica certa. “Roubará o homem a Deus?” Ml 3.9
Por se afastarem de Deus e de sua palavra, não se interessavam mais pelas coisas de deus. O templo, os atos religiosos, a adoração, tudo havia sido esvaziado.
Como entregar seus dízimos corretamente? “trazei todos os dízimos à casa do Tesouro (ou a casa do Senhor)”.
A. Proporcionalidade
Deus fala de proporcionalidade: 10%. Quem ganha mais dá mais, quem ganha menos, dá menos. Equação simples. Muitas pessoas afirmam que não sabem exatamente quanto ganham e por isto não podem avaliar os 10%. Não se trata de uma “fita métrica”, é coração.
B. Ideia de igualdade. Quem dá mais? Ninguém... para Deus não interessa o quanto se dá, mas o quanto se retém.
Certo professor, um rico empresário de Cuiabá, ministrando num seminário do Instituto Haggai afirmou: “Dou o mesmo dízimo do Kaká” (conhecido jogador da seleção brasileira, que era fiel no dízimo e escandalizava a mídia do Brasil por causa disto). Assustados, os alunos olharam para o professor e ele se explicou: “Dou 10% daquilo que eu ganho.
3. Evangelho, Graça e uso do dinheiro: Dinheiro deve ser colocado no lugar certo, pela razão certa, e ele gera o resultado certo.
Veja o que diz Ml 3.12:
“E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos.”
Este texto fala de felicidade e “deleite”. (descanso, alegria, paz)
Isto nos aponta para o Evangelho.
Precisamos lidar corretamente com o dinheiro e quando colocamos o coração no lugar certo é isto que acontece. Tudo tem a ver com afetos, obediência, intimidade com o Senhor. É disto que Deus está falando (Ml 3.6,7)
O centro do Evangelho é a graça incondicional de Deus. Ele nos amou primeiro; ele nos amou sem que tivéssemos feito qualquer coisa para sermos amados. Ele “sendo rico se fez pobre”, esta é a história da generosidade e da graça de Deus. Um Deus que dá, espontaneamente, abundantemente, de forma escandalosa. Quando entendemos o evangelho e a graça, sempre haverá gratidão, generosidade e alegria em nosso coração. Nossa relação com Deus não é de reciprocidade, não somos capazes de corresponder a todo amor que dele recebemos, mas de gratidão.
4. O Princípio da benção – Em Ml 3.9-10 encontramos o ponto mais controvertido do texto.
“Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas, e derramar sobre vós bençãos sem medida.”
Deus está afirmando que gostaria de abençoar o povo. Isto significa que Deus só dá se formos fiéis? Ou ainda: Se eu der, posso cobrar de Deus? Estas perguntas surgem na mente do leitor e eventualmente geram muitas dúvidas quando associada ao espírito da graça presente no evangelho.
Vamos deixar claro que “ser fiel no dízimo”, não é um pé de cabra para tirar da mão de Deus o que ele não quer nos dar. Toda relação nossa com Deus é baseada na graça, não na troca ou barganha. Não damos para sermos abençoados, mas porque somos abençoados. Não “subornamos” a Deus, e nem podemos usar nossa fidelidade para obrigar a Deus a nos abençoar financeiramente.
Qual é a ideia de fazer prova de Deus?
Apesar da necessidade de estarmos alertas em relação ao perigo de transformar nossa relação com Deus em uma espécie de barganha, tipo “toma lá, da cá!” como afirma a teologia da prosperidade que acredita que se eu for fiel, Deus está “obrigado”, e eu posso exigir e ordenar que Deus me abençoe financeiramente, a Bíblia sempre associa fidelidade à benção.
Pv 3.9-10 afirma:
“Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.” (Pv 3.9-10).
Nossa generosidade, antes de mais nada, é uma maneira de honrar a Deus. Deus é honrado na forma como empregamos nosso dinheiro, e nas ofertas que trazemos. O texto ainda nos ensina que dar honra com os bens e as primícias, traz benção: “se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.”
Não é apenas neste texto bíblico que fala da benção de Deus as pessoas que contribuem. Quando falo de dízimo, os ouvintes podem pensar que defendo isto porque eu sou pastor, mas eu me converti aos 16 anos de idade, e desde então, e nunca deixei de entregar meu dízimo ao Senhor. Eu era funcionário do Bradesco, e exercia a função de contínuo, a mais simples no banco, mas sempre trouxe meu dinheiro à casa do Senhor.
Mas para que não associemos demasiadamente a ideia da benção em coisas materiais, deixe-me colocar ainda num plano mais profundo: A grande benção de aprender a contribuir tem a ver com o fato de que colocamos nossa mente no lugar certo, alinhamos nosso pensamento à palavra de Deus.
Alguns anos atrás, retornando dos Estados Unidos, comprei uma casa no Brasil. Mas como estava vivendo muitos anos fora do Brasil, eu nem sequer declarava meu imposto aqui, e o meu CPF estava cancelado. Naquele mesmo ano, uma casa que havíamos comprado para que meu sogro e minha sogra morassem em Piracicaba, também precisava ser declarada. Esta situação me deixou angustiado. Eu temia que a receita me pegasse e criasse problema. Durante três meses fiquei preocupado. Um dia, ainda tenso, fui ministrado por Deus. Ele me ensinou que eu precisava descansar, que minha atitude era pagã, e eu me lembro de ter ficado envergonhado pelos meus sentimentos. Bem, nunca tive problemas com a receita, mas de qualquer forma, o ponto não é este. Eu precisava aprender a confiar em Deus, e eu fiquei triste por perceber que eu não confiava.
Onde entregar meu dízimo?
Por último, o texto nos ensina onde devemos entregar nossos dízimos. Não sou eu quem administro meu dízimo, mas aqueles que foram encarregados por Deus para cuidar das minhas doações.
Por que contribuir com minha igreja local?
Há muitas pessoas que não conseguem ser generosas, e encontram grande dificuldade em contribuir de forma proporcional, regular e com alegria, para a obra do Senhor. Muitos, contribuem esporadicamente, mas não com sua igreja local. Por alguma razão acreditam que podem “administrar seus dízimos e ofertas”, ou que, “sua igreja local não precisa de suas doações.” Eventualmente contribuem para pessoas e outras instituições, mas não para sua igreja local.
Queria apresentar algumas razões para você contribuir com sua igreja local, algumas de ordem teológica, outras de ordem prática.
1. Em Malaquias 3.10, a Palavra de Deus afirma: “trazei todos os dízimos à casa do Senhor.” A ordem é clara e objetiva. Dízimos não deveriam ser levados a “outros lugares”, mas ao templo, onde se cultuava a Deus.
2. Em 1 Co 16.2 Paulo orienta a igreja para, “no primeiro dia da semana”, as pessoas separassem seus recursos, conforme a sua prosperidade.” As pessoas eram assalariadas e recebiam semanalmente, então, toda semana deveriam separar aquilo que era destinado para a obra do Senhor.
3. Você deve levar seu dízimo e sua oferta no local onde você é alimentado espiritualmente e cuidado. Ninguém se alimenta em um restaurante e sai sem pagar a conta afirmando que pagará a conta em outro lugar. Se você não confia na administração da igreja da qual você é membro, esta pode ser uma boa razão para procurar outra comunidade na qual você se sinta confortável e seguro de que as pessoas que recebem os dízimos o fazem com bom senso, sabedoria e temor.
4. Sua igreja local precisa manter suas dependências, obreiros, missionários e pastores. Quando você leva seus recursos para outro lugar, você pode estar limitando a expansão, ainda que você faça com boa intenção.
5. Certa mulher procurou seu pastor e disse que era contra o dízimo. Seu pastor afirmou que ela não era contra as ofertas trazidas, mas era contra a “sua oferta”, já que ela recebia todos os benefícios dos recursos que membros fiéis, que de forma generosa contribuam para a manutenção do trabalho.
6. Não existe “igreja pobre”, existe igreja infiel. Quando as pessoas contribuem como a Palavra de Deus orienta, os recursos serão abundantes. “trazei todos os dízimos... para que haja mantimento em minha casa.” (Ml 3.10). Quando você traz seus recursos, sua igreja local terá abundância para sonhar projetos, investir em expansão e trazer melhorias para suas estruturas.
Quando era ainda um estudante de teologia, o Rev. Jacó Silva foi ao seminário falar sobre dízimos. Ele tinha posições bem radicais sobre o assunto. Um seminarista se levantou e disse: “Reverendo, o que fazer se eu sinto no coração que devo dar o meu dinheiro a uma pessoa ou outra instituição?” O Rev. Jacó respondeu: “Bacharel, o que diz a Bíblia? Trazei todos os dízimos à casa do Senhor. Se você sentiu algo diferente das Escrituras Sagradas, você sentiu errado. Pode assentar!”
Nossos dízimos devem ser trazidos à casa do Senhor, na igreja na qual somos membros e frequentamos.
Conclusão
Aprenda a dar seu dinheiro, mas antes... doe seu coração. Se você tem dificuldade de dar o dízimo, 10%, é porque não entendeu ainda o que Deus quer de você. Ele quer 100%. Se você der seu coração, que é 100%, não terá dificuldade de devolver os 10% recomendados na palavra. A Bíblia diz: “Filho meu, dá-me o seu coração.” (Pv 23.26).
Antes de Deus exigir que você dê algo, ele exige que você dê você mesmo!
Aplicações:
1. Como está sua relação com Deus e com sua palavra? Este texto não começa no vs 9-10, mas no vs.6-7 que fala da relação de obediência aos seus mandamentos que estavam sendo negligenciados, e a relação com Deus que havia esfriado.
2. Tome cuidado com a relação idolátrica com seu dinheiro. Dinheiro reflete o coração.
3. Ore sobre este assunto. Pergunte a você mesmo: Por que eu não contribuo para a obra de Deus? Por que não tenho prazer em ser fiel?
4. Converse com seu cônjuge sobre o assunto e comece a contribuir: fiel, regular e proporcionalmente.
É desta forma que precisamos ver o dinheiro, dízimo não é um pé de cabra para te forçar a contribuir para a obra do Senhor, mas é um termômetro que reflete seu coração.
Esta é a essência do evangelho. O problema do coração é o coração do problema.
Excelente texto. Fácil de leitura e fácil de entendimento. Deus o abençoe, Pastor Samuel.
ResponderExcluirobrigado pelo encorajamento meu irmao
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