Serie: vendo a vida sob o prisma de Jesus
Introdução
David Wilkerson, no seu livro, "Não estou com raiva de Deus", relata uma de suas viagens de conferencia, e que ao chegar na casa do pastor que o acolheria, descobre que o pastor havia matado seu filho acidentalmente, ao dar a ré no carro e passar por cima dele. Depois disto, Wilkerson começa a viver uma situação de desconfiança em relação a Deus.
Este texto nos fala de uma situação similar. João Batista, o precursor de Jesus, encontra-se na cadeia, antevendo sua morte. Ali na cela, ele passa a duvidar de seu ministério e da pessoa de Jesus.
Vários fatores contribuíram para nossa dúvida:
Ø A passividade de Deus diante de sua situação. Deus estava de braços cruzados enquanto seu servo, encontra-se nas mãos de um líder político inescrupuloso, aguardando sua sentença, que acabou sendo a morte por decapitação. Por que Deus é passivo diante de situações nas quais seus servos encontram-se sob ameaças? (Hc 1.13-14)
Ø O silencio de Deus diante da injustiça? Por que Deus não executa logo a sentença? (Sl 73. Asafe entra em crise por causa disto.
Ø A inconsistência de Deus: É assim que Deus trata seus ungidos? Jesus declara que entre os nascidos de mulher nenhum era maior que João Batista. (Mt 11.11)
Ø O fator motivador da pergunta: expectativas frustradas. Se Deus se interessa mesmo por mim, por que estou nessa situação?
A dúvida de João surge diante de uma forte oposição (dor). Por que Deus não atenta para meu sofrimento? Mostra ainda que a duvida é algo comum no meio do povo. "És tu aquele que estava para vir, ou temos que esperar outro?" (Lc 7.19)
Como Jesus responde à angústia e inquietação de João?
I. O que Jesus não fez?
- Jesus não ficou irado – Não contra argumentou dizendo: "O que ele quer? Já vim em carne, lido constantemente com pecadores, e porque este comedor de gafanhotos fica ainda com dúvidas?" Jesus não fica chocado com sua incredulidade. Deus nunca ignora as questões de quem busca a sinceridade.
- Jesus não dá respostas filosóficas a João – Não tenta respondê-lo com argumentações, nem com palavras. Jesus sabe que para aquele que está angustiado, não bastam palavras explicativas, a consolação precisa ver em formas mais concretas.
- Jesus não salvou João – Ele tinha poder, subjugara demônios, era o Senhor dos Senhores, criador dos céus e da terra, dono absoluto de todas as coisas, controlara o mar bravio, fizeram multiplicar pães, poderia simplesmente mudar o coração de Herodes, ou até mesmo matá-lo, mas por alguma razão misteriosa, resolveu não livrar João do martírio.
II. O que Jesus fez?
Quando Deus está trabalhando em nossas vidas, e não traz livramento, não é porque ele tem suas mãos atadas, mas por que ele tem um propósito de Deus de benção e paz para nossas vidas.
1. Jesus revela a DIMENSAO do seu reino – E faz isto mostrando aos discípulos de João que os não aceitos são aceitos. "cegos vêem, coxos andam, leprosos são curados". Revela que seu reino é reino de inclusão, esta é natureza de seu reino. Estas pessoas eram feridas abertas na sociedade, sem lugar, sem voz, nem vez. Jesus toca nas suas vidas, descortina seus valores. Para um sistema que valoriza as pessoas, pela sua conta bancaria, ou pela forma de suas pernas, isto é revolucionário.
A. Perspectiva – "os cegos vêem"
B. Equilíbrio – Coxos andam. A característica do coxo é a incapacidade de se firmar sobre suas pernas. De andar por si mesmo.
C. Inclusão social – Os marginalizados "leprosos", são tocados e curados. Voltam novamente a viver em comunidade. Experimentam o livramento de sair de um estigma de vergonha, culpa e desprezo social.
D. Esperança – "aos pobres é anunciado o Evangelho". O Evangelho não distingue classe. Inclui todos na mesma possibilidade. Onde houver pessoas necessitadas da graça e da misericórdia de Deus, o Evangelho abrirá uma porta.
E. Libertação – 7.21 de espíritos malignos. Pessoas dominadas por forças espirituais, descobrem o poder maravilhoso e libertador do Evangelho sobre suas vidas.
F. Cura – "Jesus curou a muitos" (7.21)
G. Restauração de vidas – Os mortos ressuscitam. 7.22. Mortos são pessoas para quem a vida já não mais responde, cujos afetos não podem ser mais encontrados, para quem não existe mais reação alguma. Nenhuma capacidade de afeto, de sensibilidade, de toque. Nada faz sentido para o morto. Por tais pessoas, apenas um toque sobrenatural de Jesus pode livrá-los.
2. Jesus revela a EFICÁCIA de seu Reino – Um reino de poder. A sepultura não tem mais poder diante da manifestação do filho de Deus. Se ele não livrava João não era por falta de poder.
Jesus queria mostrar a João que ele não estava brincando com idéias, com conceitos, com ideologias, mas estava falando de realidades espirituais concretas, tangíveis. João era o tipo de pessoa, cuja aflição não poderia mais ser respondida com discurso, mas com a experiência. Talvez alguns que estejam aqui, vivem atualmente nesta dimensão.
O secularismo nos impossibilita de crer na intervenção sobrenatural de Deus. Nos leva a reduzir Deus a um amontoado de idéias e conceitos. O problema de nossa vida espiritual é exatamente este. Muitas vezes achamos que nossa fé está baseada em razão, em lógica, idéias. Mas Jesus afirmava que suas palavras eram espírito e vida, e que o reino de Deus não consiste em comida em bebida, mas alegria e paz em Deus.
Paulo ao escrever aos Corintios afirma: "A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração de Espírito e de poder. Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus" (1 Co 2.4-5).
Nada pode ser mais eficaz contra nossa incredulidade e dúvida que a intervenção de Deus sobre a nossa vida. Um toque de Deus é mais eficaz que dez mil palavras. Quando falamos de idéias, podemos persuadir as pessoas, mas a fé de tais pessoas passa a se apoiar na sabedoria dos homens, não no poder de Deus. Quando a fé se sustenta nas evidencias do poder de Deus, deixa de ser uma abstração e torna-se algo concreto.
3. Jesus demonstra o CONTEÚDO do Reino – Uma mensagem de esperança aos pobres. Gente sem fé pode voltar a ver. Gente sem esperança pode acreditar. Nossa vida não é uma vivência sem esperança. Aqueles que acham que Deus se esqueceu deles são lembradas com a palavra da fé e da aceitação que provem do Evangelho.
4. Jesus encoraja João a não tropeçar nele diante da provação – 7.23
Muitas vezes nos escandalizamos diante do sofrimento. Deus se torna um problema para nossa mente. Como conciliar nosso sofrimento com a realidade de um Deus amoroso? Como um Deus poderoso permite a injustiça, não reage de pronto as agressões que justos e inocentes sofrem? Satanás tenta nos fazer pensar que isto é sinal do desamor, apatia e indiferença de Deus. Mas Jesus recomenda a João que não se deixe levar por este raciocínio.
Jesus revela que o fato de não livrá-lo não é por falta de poder, mas por causa do seu propósito. Deus é misterioso. Alguém já comparou a vida com uma colcha de retalhos. Quando você olha por baixo, não consegue ver coerência naquele trabalho, mas vendo de cima, faz todo sentido, é uma obra de arte. Uma ovelha minha, de Anápolis, escreveu o seguinte poema:
Colcha de retalhos
Moema Torres Baracuhy
Sempre admirei uma colcha de retalhos
Com o passar dos anos, continuo admirá-las,
E as comparo com a vida do ser humano.
Na colcha, colocamos pequenos pedaços de tiras coloridas
Que se juntam para formar um todo.
Este todo, muitas vezes não tem harmonia,
Nem nas cores e nem no formato,
Mas esta diferença dá um efeito todo especial,
Que as tornam coloridas e atrativas.
Outras fogem a esta regra, são apáticas e sem colorido,
Não chamam muita atenção.
Mas mesmos assim, tem aqueles que as preferem.
Como acontece conosco, a mais bela criação do mundo.
Comparando com minha vida.
Que é uma autêntica colcha de retalhos
Onde foram colocados retalhos de várias cores e tamanhos
Uns deram um belo colorido à minha vida,
Se não fossem os vários retalhos unidos pelo amor,
Esta minha vida seria insípida e sem graça.
08 de Julho 2003
Samuel Vieira
Anápolis-Go.
Setembro de 04