sábado, 17 de agosto de 2024

1 Cr 12.32 um novo templo para um novo tempo


 


 

“Esses líderes sabiam o que o povo de Israel devia fazer, e a melhor ocasião para fazê-lo” (NTLH)

“Dos filhos de Issacar, conhecedores da época, para saberem o que Israel devia fazer” (RA)

 

 

 

Introdução

 

O mundo precisa de gente que saiba interpretar o seu tempo. É fácil virar monumento e viver de história, que apenas olha para o passado e adora museu, ao invés de se tornar um movimento, com perspectiva no futuro.

 

Davi estava formando o seu segundo escalão e descobriu uma turma interessante dentro de Israel. Os “filhos de Issacar”. Alguém já ouviu falar desta tribo? Quase não há menção das pessoas desta tribo no Antigo Testamento. O que estes jovens tinham de especial: o texto afirma que eles eram “conhecedores do seu tempo”. Você realmente entende o que está acontecendo ao seu redor?

 

Três exemplos do mundo empresarial nos revelam como é fácil perder a compreensão da realidade que nos cerca[1]:

 

Kodak

Uma das histórias mais fascinantes e tristes ao mesmo tempo no mundo empresarial. A Kodak promoveu uma revolução no mundo da fotografia e liderou o mercado mundial por quase todo o século XX. O que torna a história s chocante é que foi a Kodak a responsável a criar a primeira câmera digital em 1975, porém, como conta Stev Sasson: “...era fotografia sem filme, então a reação da gerência foi: ‘isso é foto – mas não conte a ninguém sobre isso “.

Os executivos da Kodak levaram a empresa a ruína por considerarem a fotografia digital como “uma tecnologia disruptiva”. A Kodak ignorou a inovação que ela própria criou: a revolução digital. A empresa entrou para a lista das empresas que faliram em 2012.

 

Xerox

A Xerox foi uma empresa tão importante no Ocidente, que até os dias atuais a sua marca virou sinônimo para fotocópia. Além disso, a empresa esteve, durante muito, tempo na dianteira das inovações. Foi a primeira a criar o PC, porém, os diretores achavam, à época, que digitalizar tornar-se-ia algo muito caro. Porém, com a revolução dos computadores domésticos e impressoras multifuncionais, a empresa foi passada completamente para trás. A falta de inovação da Xerox fez a empresa entrar na lista das empresas que faliram.

 

Blockbuster

 

A Blockbuster é outro exemplo de como foi engolida pelas inovações de terceiros.

Uma das suas grandes inovações foi a locação de vídeos por 48h e as caixinhas para devolução, pois, o aluguel era pago antes. Sobreviveram a transição do VHS para o DVD, porém, ignoraram um concorrente, ainda tímido, e que hoje domina o mercado de streaming: a Netflix, que à época funcionava como uma locadora que entregava em casa os filmes. Reed Hasting, o fundador da Netflix, propôs uma parceria com a Blockbuster, mas, John Antioco, CEO da locadora recusou. Resultado: a Blockbuster sobreviveu ao DVD, mas sucumbiu diante dos serviços de streaming, integrando a lista das empresas que faliram.

 

 

Estes jovens escolhidos por Davi para compor seu staff, não eram guerreiros, nem são descritos como valentes soldados, o que os tornava tão necessários e relevantes? Eles eram “conhecedores do seu tempo”. A tradução NVI afirma: “eram especialistas no conhecimento dos tempos e sabiam como Israel deveria agir.”

 

Quando consideramos a competência destes jovens devemos perguntar. Estamos conhecendo o nosso tempo? Sabemos qual é a cosmovisão, as tendências, os trendmarkers deste tempo no qual a igreja está inserida? O Hino da Mocidade Presbiteriana diz que “somos jovens num mundo velho, a pregar novos ideais, do mesmo evangelho que pregaram nossos pais.”, mas, e se formos “velhos num mundo jovem pregando ideais antigos?”

 

Que geração é esta?

         Mística

         Experiencialista

         Relativista

         Pluralista

         Subjetivista

         Relacionamentos descartáveis: Amor líquido.

         Mundo virtual

 

Precisamos de pessoas que saibam traduzir a igreja no seu contexto histórico. Jovens que amam a Deus, que possuam formação sólida e compromisso sério, mas que ao mesmo tempo consigam fazer uma leitura correta da sociedade e dos desafios atuais.

 

Por que precisamos conhecer a época que vivemos?

 

  1. Conhecendo o tempo, não corremos o risco de nos perdermos no passado – Tenho encontrado muitas pessoas que se perdem na memória de um tempo bom, vivem agarradas a este passado, e não conseguem mais projetar sua vida em relação às novas oportunidades que estão surgindo.

 

Tais pessoas costumam dizer: “Aquele tempo é que era bom” ... ou, “Não é necessário mudar. O tempo bom é hoje!”. Alguns chegam ao absurdo de querer reviver “movimentos” históricos. Temos acompanhado dentro de igrejas evangélicas, pessoas que querem reviver experiência dos homens do passado, sem entender seu contexto e os motivos que levaram Deus a levantar uma geração que foi tão significativa para seu tempo.

 

Pessoas tradicionais tendem a confundir essência com acidente, temporal com eterno, histórico com revelado; sem considerar que o velho, quando surgiu, também era novo.

 

Certa vez participei ativamente da programação de um grupo que queria celebrar uma data histórica. No saudosismo começaram a dizer como era bom o tempo passado, e perceber que o saudosismo florescia. Então, cuidadosamente, comecei a dizer que não era importante apenas saber apenas de onde viemos, mas projetar a visão do lugar aonde queremos chegar.

 

  1. Quem conhece o seu tempo, interpreta a vida considerando tal realidade – Sabe fazer a hermenêutica certa e investir seu tempo apropriadamente.

 

Uma conhecida canção de final de ano diz: “every generation, blames the one before”. Como, sem precisar culpar a geração antiga, podemos ter igrejas e pastorados relevantes? Como ser contemporâneos nesta geração plural, superficial, com grande mobilidade, individual, subjetivista, dominada pelo experiencialismo?

 

John R. W Stott afirma que os liberais têm relevância sem conteúdo, mas que os conservadores têm conteúdo sem relevância. Será que a realidade precisa ser esta?

 

Precisamos pedir a Deus que nos dê a graça de sermos deste tempo, servindo a nossa geração. A palavra de Deus nos afirma que um dos reis de Israel conseguiu efetivamente fazer isto. “Tendo Davi servido à sua própria geração conforme o desígnio de Deus, adormeceu.” (At 13.36) Esta é a geração que Deus nos colocou para servir. Como vamos respondê-la, sem comprometer o conteúdo do Evangelho? Como alcançar esta geração virtual que parece já nascer com um chip na cabeça?

 

  1. Quem conhece o tempo, projeta o futuro – O lema de Steve Jobs e da Apple é “Think different!”. Esta capacidade de pensar com novas estratégias e ver perspectivas com novas lentes, faz toda diferença na vida. Certa vez, Jobs afirmou que nunca faziam pesquisa de mercado, porque as pessoas não sabiam o que queriam, até ver o que eles estavam oferecendo.

 

Então, para ilustrar, fez o seguinte comentário. Se Henry Ford perguntasse às pessoas como elas gostariam que fossem os veículos do futuro, certamente diriam que queriam mais conforto e cavalos mais potentes. Eles não conheciam o motor a diesel, então não conseguiam fazer comparações. Para Jobs, portanto, quando as pessoas viam as novas invenções, elas então diziam: “Era exatamente isto que nós queríamos ter”.

 

Visão é a antecipação do futuro. A capacidade de ver e colocar os olhos onde ninguém está vendo. No entanto, as projeções para 2020/2040, surgem agora, daqui a 10 ou 20 anos, você pode estar no mesmo lugar, ou construir perspectivas.  Basta fazer uma leitura da história para que a gente perceba isto. Aqueles que conseguiram dar grandes saltos de qualidade, foram homens com capacidade de ver onde oportunidades onde pessoas viam problemas.

 

Gary L. McIntosh & Glen Martin escreveram interessante livro chamado “The Issachar Factor”, com o subtítulo: “Compreendendo tendências que confrontam sua igreja e desenham uma estratégia para o sucesso”.  Eles começam o livro falando da revolução que foi a mudança do relógio antigo, manual, em relação ao relógio de quartzo, digital. Contam a história do inventor deste relógio e como ele e ofereceu seu produto aos suíços, tradicionais fabricantes de relógio, mas eles rejeitaram a proposta uma vez que eram detentores de quase todos os relógios fabricados no mundo. Se eles eram donos do mercado, por que mudar?

 

O inventor então, foi procurado pelos japoneses, que revolucionaram a indústria de relógio no mundo. Qual foi o ponto: Os suíços não entenderam as mudanças que estavam ocorrendo, não quiseram ver perderam o tempo e ficaram para trás. A história mostra os resultados: atualmente 99% da população do mundo usa relógios de quartzo.

 

Tantos nos dias de Davi, como homem, precisamos de pessoas que saibam retraduzir o contexto histórico em que vivem. A igreja precisa de gente assim: Que ama a Deus, que possui formação sólida e compromisso sério, e que faça uma leitura correta da vida e dos desafios contemporâneos.

 

  1. Quem conhece o seu tempo, faz de tudo para viver na dimensão da eternidade – Parece contraditório, mas Brennan Manning afirma que ““todos os cristãos deveriam estar sempre conscientes de sua morte”. Ao entender sua transitoriedade consegue ser relevante, sabe que é mortal e passa. Davi serviu à sua própria geração e adormeceu.

 

Os homens são mortais e passam... A vida passa como vento ligeiro, breve pensamento, flor da erva. O que fazemos agora, ecoa na eternidade.

 

Certo homem estava de forma monótona lendo as genealogias da bíblia, quando observou que todas as pessoas tinham que encontrar a morte no final, já que a Bíblia diz que as pessoas haviam vivido tantos anos, gerado filhos... e morreram! Diante disto, refez sua vida. Ele compreendeu o seu fim. Nossa história vai ser fechada num determinado momento, e precisamos construir a vida em relação a estas verdades.

 

Conclusão

 

A Bíblia nos ensina que Jesus é a chave hermenêutica da história. “Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher.” (Gl 4.4) Jesus vem nos ensinar existe um tempo específico para nascer, viver, servir e morrer. Este é o nosso tempo... Esta é a nossa geração. Não fomos chamados para servir outro tempo.

 

Jesus se identificou com a cultura, geografia, costumes e realidades de seu tempo, e ministrava a palavra, “conforme permitia a capacidade de seus ouvintes.” (Mc 4.33) Uma das coisas que nos impressiona nos Evangelhos é a compreensão de Jesus do coração do homem. Várias vezes o evangelho usa expressões como estas:  Ele “conhecia seus pensamentos” (Lc 5.22) e “sabendo o que se lhes passava no coração.” (Lc 9.47)

 

Jesus tinha noção clara da realidade do homem e sua necessidade de ser resgatado da sua futilidade, dos pensamentos inúteis, de uma cosmovisão errônea sobre a vida, sobre Deus, sobre a eternidade e sobre si mesmo. Mas acima de tudo, ele sabia da condição pecaminosa e da impossibilidade do homem de se justificar diante de um Deus santo. Ele veio com o objetivo claro de morrer na cruz para nos restaurar, reconstruir a imago Dei que se perdeu no ser humano por causa do seu pecado e da tentativa de construir uma vida independente de Deus.

 

Por esta razão Jesus foi para a cruz. Para nos resgatar da nossa tola arrogância, e do risco de sermos condenados eternamente por nossos pecados. Jesus conhecia a realidade humana e sabia da necessidade desesperadora de serem alcançados pela sua graça e serem conduzidos para a vida eterna.

 

Ao pensarmos em igreja, novos tempos, precisamos estar muito atentos à necessidade dos seres humanos de serem alcançados pela graça.

 

Estamos construindo um novo templo para um novo tempo, mas queremos afirmar que apesar deste projeto ser algo encantador, nosso grande alvo não são os tijolos, nem a arquitetura, mas a expectativa de que Deus possa alcançar uma nova geração, derramando sobre nós o seu Santo Espírito, criando uma nova geração para um novo tempo, que traduza o evangelho de Cristo de forma contemporânea, com graça e simpatia. Uma igreja “ao compasso dos tempos, mas ancorada na Rocha”, que é Jesus Cristo.

 

Precisamos aprender a imitar o nosso Mestre,

 



[1] Fonte: https://euqueroinvestir.com/educacao-financeira/conheca-a-historia-de-15-empresas-que-afundaram-ao-nao-inovar

 

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