Impressões da pandemia

 

Introdução

Einstein disse a Chaplin, o que mais admiro na sua arte é que você não diz uma palavra e o mundo inteiro te entende. E Chaplin respondeu, mas a sua glória é ainda maior, pois o mundo inteiro te admira sem entender o que você diz.

Quais as minhas impressões do isolamento da época da pandemia? Eu posso trabalhar isso em duas dimensões.

Primeira, pessoalmente. Foi um dos templos mais difíceis pelos quais passamos.  Eu não pude pregar presencialmente na igreja, por seis meses e quatro dias, porque eu fazia parte do grupo de risco com mais de 60 anos. E a sensação que eu tive foi a sensação do J. Quest que diz em uma de suas músicas: “eu quero ficar só, mas sozinho comigo eu não consigo.” 

Me lembrei ainda de Bon Jovi, outro cantor conhecido. Numa entrevista ele disse que é muito mal-humorado e determinado dia ele chegou em casa e sua esposa estava profundamente zangada e irritada com ele e começou a fazer as malas dizendo:” eu não vou ficar mais com você. Estou indo embora.” E começou a pegar as coisas do guarda-roupa e colocar numa grande mala, irritada e gritando com ele. No ímpeto, ele também puxou uma grande mala colocou ao lado da mala dela na cama e começou a pegar as roupas suas roupas dentro dela. Sua esposa zangada perguntou: “O que você está fazendo? tá ficando doido? E ele respondeu: Eu também vou embora, ou você acha que você vai me deixar aqui sozinho tendo que conviver comigo?”

Algumas surpreendentes ações da igreja na Pandemia:

1.        Criatividade: Em 1 Crônicas 12:32, Davi reuniu dos filhos de Issacar, 200 jovens, porque eles conheciam o seu tempo e sabiam que Israel deveria fazer. Eu acho que essa questão da criatividade da igreja é uma das coisas mais notáveis de como o povo de Deus pode se reinventar e fazer coisas de forma diferente, louvado seja o nome do Senhor.

2.        Mobilização: A segunda coisa que chamou a atenção foi a mobilização da igreja. Nós vimos muitas manifestações interessantes. O Ministério Infantil da Igreja criou uma atividade chamada Lado a Lado e alguns desses dessas crianças pré-adolescentes, adolescentes e jovens criaram outro ministério chamado Sempre Juntos. Alguns jovens ligavam para os idosos da igreja, para dar um alô, conversar com eles, foi uma das coisas mais lindas que eu já vi, presenciei e principalmente considerando que era uma época de crise.

3.        Modernização da igreja: A terceira coisa que eu percebi foi a modernização da igreja, que teve que se reinventar e com isso também teve que comprar material novo de som, equipamento de mídia, aproveitou para ornamentar a fachada, criar alguma coisa que fosse moderna, contemporânea e transformar a igreja num outro momento da história. Com a necessidade de criatividade a igreja também teve que se modernizar e muito do avanço na área da mídia aconteceu por causa dessa situação e eu acredito que Deus estava de certa forma trabalhando na vida da igreja para um novo momento na história. Por exemplo, eu creio que o último sinal que Jesus deu entre os sinais da sua volta é que o evangelho será pregado a todo mundo. Com a modernização da mídia, o evangelho pode ir em todos os cantos do mundo e a igreja se tornou muito mais agressiva e forte nesse item.

4.        Fazer de forma diferente: O quarto aspecto que eu mencionaria é a oportunidade que a igreja teve de agora fazer as coisas, pregar o evangelho de forma diferente. Minha esposa Sara Maria, durante dez anos, ministrou curso no Instituto Haggai Internacional, falando sobre a necessidade de escrever e trabalhar conteúdos para a internet. Muitos estudantes, de diversos países, Ásia e da África, usaram essa metodologia antes da pandemia. Certamente, escrever coisas positivas sobre o evangelho, sobre Jesus, pode trazer um efeito transformador para a história da igreja. Muita gente aprendeu a fazer isso. Não só usar a mídia para política, o que é o lado negro da igreja, mas usar a mídia, para comunicar o evangelho de forma graciosa, profunda e sensata.

5.        Ação social. Muita necessidade surgiu nesses dias, era muito difícil fazer qualquer ação, os diáconos da igreja, a igreja em si, se mobilizou de forma tremenda, houve pessoas de fora da igreja, que ligaram pra a junta de diaconal, que cuida das pessoas necessitadas, e disseram que queriam ajudar nesses tempos, e queriam saber pra onde destinariam suas ofertas. Uma única pessoa enviou cinco mil reais pra que os diáconos pudessem trabalhar no cuidado com as pessoas que precisavam. A nossa igreja ligou para outras igrejas da nossa denominação, perguntando se havia necessidades também naquelas igrejas mais de periferia, pra que pudéssemos ajudar. Foi muito bom ver esse lado bonito da igreja, de cuidado, de proteção uns aos outros. Louvado seja o nome do Senhor.

Realidade

O que a pandemia ou as catástrofes podem fazer com a igreja em tempos difíceis? Historicamente, a igreja sempre se fortaleceu em calamidades e não foi diferente nessa época da pandemia. Algumas coisas interessantes aconteceram na minha comunidade.

A primeira delas é que as pessoas nunca deixaram de contribuir e a arrecadação da igreja não diminuiu por causa da pandemia, apesar de todo o cenário contrário. Outra coisa interessante, se você olhar na história, no ano 240 houve um grande evento da pandemia, da peste negra, e o testemunho de fé da igreja nesse período foi alguma coisa impactante para a sociedade romana. Foi uma das ações que mais abriram as portas para o Evangelho, porque as pessoas viam como os cristãos estavam comprometidos em não apenas da sua própria comunidade, mas daqueles que não faziam parte dela.

A segunda coisa que a gente pode falar é que houve muita solidariedade e cuidado nesse período. E a Igreja de Cristo se fortaleceu muito, porque muitos irmãos, com seus recursos, puderam abençoar a muitos.

Âmbito familiar

No âmbito familiar, algumas coisas aconteceram, positivas e negativas.

A.       O primeiro ponto que eu destacaria é que as pessoas que já estavam passando por grandes crises, a pandemia acelerou o divórcio. Quem já não se dava bem aproveitou a oportunidade para se divorciar.

 

B.      Quem tinha criança jurou nunca mais ter porque as crianças eram obrigadas a ficar dentro de casa presas. Imagine você num apartamento trabalhando online com dois filhos como aconteceu com minha sobrinha em São Paulo, transformando o seu quarto no escritório e seu esposo transformando a sacada de casa, no outro escritório, enquanto as duas crianças ficavam na sala e nos seus quartos. Foi um momento muito difícil. Em ambientes pequenos ou fechados, as tensões tendem a se manifestar de forma mais agressiva. O isolamento trouxe muita depressão e ansiedade. Depressão porque é um movimento de um retorno para si, o fato de ficar preso, ficar isolado, isso gera, certamente, grande efeito psicológico. Ansiedade porque as pessoas não sabiam o que iria acontecer, qual seria o próximo passo e quais as consequências dessa tão nefasta enfermidade?

 

C.      Outro aspecto a ser mencionado foram os abusos sexuais. A imprensa afirma que houve 27% de aumento nos casos de abusos sexuais. Aumentou também a violência doméstica. O fato das tensões estarem presentes, as pessoas terem que lidar diariamente com a presença do outro, o que não era comum porque saíam para o trabalho, foi alguma coisa que assolou e aumentou a questão da violência doméstica.

 

 

D.        Stress. Outro aspecto a ser mencionado no âmbito familiar foi o estresse. Você ter que lidar com fatores novos traz muito desconforto. O novo incomoda, desorganiza e desarticula. Você estava em uma zona de conforto e sabia fazer as coisas do jeito que sempre fez. Agora tem que se reinventar. Isso é muito estressante.

Conclusão

Pelo que é que orei durante esses dias da pandemia?

Eu diria que três motivos principais estiveram no meu coração.

O primeiro, naturalmente, era por saúde e livramento. Eu, particularmente, perdi dois amigos queridos na pandemia, apesar de não ter perdido nenhum membro da minha igreja. Mas essa questão estava muito presente na família. Era um momento muito tenso, muito complexo, e o número de mortes aumentando. Então, todos ficávamos muito inseguros.

A segunda coisa, eu orava pelo equilíbrio pessoal, não só meu, mas como da comunidade, da minha família, porque você tem que lidar agora com outros fatores e isso traz muita tensão, muita dor, muita depressão, muita ansiedade.

Terceiro. Eu orei para que Deus desse ousadia a igreja. Precisamos ser ousados e esse foi um dos assuntos das minhas orações.

Em At 4.28-31, a igreja estava passando por um período de perseguição e tribulação. Eles não oraram para que as circunstâncias mudassem, mas pediram para que Deus lhes desse ousadia para testemunhar com coragem o Cristo crucificado. Estávamos fragilizados e precisamos crer que Deus estava sobre todas as coisas, que as trevas não estavam dominando a igreja, mas que Deus, que edifica sua igreja, estava movendo a igreja para uma direção até então desconhecida.

Que Deus nos abençoe.