segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Mc 7.31 A duplicidade do Mal

Introdução: Nossos problemas normalmente possuem duplicidade. O que se vê não é exatamente o que causa o problema. Nossas ações visíveis apenas refletem problemas mais profundos. “A boca fala daquilo que o coração está cheio”. Existe o problema que se vê, aquilo que é facilmente diagnosticado, mas as raízes podem se encontrar num nível muito mais profundo e denso.
A teoria sistêmica de aconselhamento já tem trabalhado bastante sobre tal conceito. O paciente identificado de uma determinada família, um adolescente deprimido ou uma criança problema, é a ponta do problema. Será que esta criança realmente é o problema ou apenas reflexo de uma família disfuncional?
Exemplificando:
 Por que nos iramos? Ira normalmente é um pecado de superfície, alguma coisa profunda encontra-se em nossa alma, e nossa ira vem a tona. O problema está mais profundo;
 Por que vivemos ansiosos? Nossa ansiedade revela um problema mais profundo: Nossa dificuldade de crer na provisão e cuidado de Deus. Ansiedade sempre revela nossa incredulidade.
 Lutero afirma que por detrás de um problema sempre existe outro mais profundo: Para ele, a quebra do primeiro mandamento, "não terás outros deuses diante de mim", é o pecador gerador de todos os demais males. Por idolatrarmos coisas e pessoas antes que adorarmos a Deus, vivemos nesta angústia de nossa alma.

Narração:
Este texto nos fala de um homem surdo e gago. Sua dificuldade de fala apenas revela um problema de audição. Por ouvir mal, decodifica mal as palavras e reproduz mal as palavras. Sua gagueira é resultante da insegurança no seu ouvido.
Alguém já afirmou que todos nós temos quatro faces em nossa personalidade:

ObscuraNem eu nem os outros conhecem

OcultaEu não sei, mas os outros sabem

EscondidaEu sei, os outros não sabem

ReveladaEu conheço, os outros também conhecem.

Normalmente nossos problemas são superpostos: Um abismo chama outro abismo...
Todos temos dois problemas; O que se percebe ( a gente pense que este é o problema), e o que gera o problema: (nem sempre temos conhecimento desta face de nossa alma: O que está gerando esta questão.
Por isto o salmista indaga: "Por que estás abatida, oh minha alma. Espera em Deus pois ainda o louvarei. A ele, meu auxilio e Deus meu" (Sl 42.1).

Como lidar com estas questões de nossa vida? Com coisas que nos tornam menos do que aquilo que somos? Este texto sugere uma progressão neste encontro com Cristo: Aproximação, experiência privativa com Cristo e seu toque.

1. Precisamos nos aproximar de Jesus – O texto mostra que “Lhe trouxeram” (Mc 7.32) Parece-nos que não foi uma iniciativa pessoal, mas algumas pessoas, preocupadas com sua situação, o apresentaram a Deus. A luz de Cristo denuncia nossas trevas, revela nossa podridão, os cantos escuros do porão de nossa alma e os esqueletos de nosso armário. A presença de Cristo ilumina. Esclarece nossas mentes, revela o escondido. O texto de Hb 4.12 afirma que a Palavra de Deus "é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes, e é apta para separar juntas e medulas e discernir os pensamentos e propósitos de nosso coração".
Nossos pensamentos, nossas intenções, nossas motivações, nossos segredos são revelados com a palavra de Deus.
Muitas vezes somos trazidos a Jesus, como o texto parece indicar neste caso. "Então, lhe trouxeram um surdo e gago e lhe suplicaram que impusesse as mãos sobre ele" (Mc 732). Parece-nos que ele não toma a iniciativa de vir, mas algumas pessoas o induzem a vir. São aqueles que reconhecem a autoridade de Jesus, e o trazem para ser tocado por Jesus. Muitas vezes somos "trazidos" a Jesus, porque nós mesmos ainda não estamos convencidos de que vale a pena. Vivemos num tempo de tantas falsas promessas, de ofertas de expectativas errôneas e nos tornamos cínicos quando Deus nos chama para virmos. E assim continuamos. No entanto, vir para perto de Jesus, ser tocado por Jesus, ilumina nossa alma.

2. Precisamo de uma experiência privada com Jesus – (Mc 733) Jesus mesmo toma a iniciativa em relação a este homem. Jesus o tira da multidão, à parte. Jesus o tira das pressões cotidianas, do burburinho social, porque aquele homem precisa ter uma entrevista, um encontro de alma, com Jesus.
Muitos de nós, precisamos deste toque individual de Jesus. Deixar que Jesus se aproxime. Somos uma sociedade muito agitada, pressionada, precisamos de parar com Deus para ouvi-lo. Isto traz cura para a alma, dar tempo para que nosso coração se sedimente.
A verdade é que gostamos muito da multidão. Mas nossa experiência com Jesus não pode ser reduzida a uma experiência pública. Jesus nos chama para a individualidade, ele deseja tratar conosco. Cura de almas não se dá nu burburinho.
Jesus quer lidar com um homem cuja voz é quebrada, gaga, que lhe causa constrangimento. Muitos temos gagueiras nas nossas emoções, nossas memórias, nossa língua, no jeito de falar e de ser. Nos tornamos deficientes, somos incapazes de articular com propriedade a nossa vida.
Tenho encontrado pessoas com dificuldade de articular suas emoções, são pessoas descontroladas em sua psique. Por ouvir tanta bobagem, por serem receptáculos de tantas informações desencontradas, tanto conteúdo danificado, começam a falar de forma truncada, gaguejam na vida.
Nossos comportamentos refletem nossa alma. Somos o que pensamos ser, ou o que nos disseram que seriamos. Somos o que cremos ser. O que nossos ouvidos, que são, a antena de nossas almas, disseram que éramos. Comportamentos refletem estado de alma.
Conheci uma garota de uma família nos EUA. Ele foi abusada sexualmente pelo seu próprio tio. Ela relatou isto para sua mãe que, talvez por medo de confrontar ou num processo de negação, lhe disse que aquilo não passava de uma fantasia. Esta menina cresceu odiando a sua mãe, e se tornou uma pessoa cujos relacionamentos eram altamente agressivos. Sua vida virou um caos. Ninguém gostava dela na família e ela fazia questão de que não gostassem. Odiava viver, entregou-se a todos os namorados, enveredou-se por caminhos tortuosos. Um dia, churrasco na família, ela vai passando na varanda, sem cumprimentar ninguém para ir para seu quarto, quando um dos tios a confrontava com sua deselegância e rudeza. E ela, replicou com toda sua amargura, ódio e ressentimento, tudo quanto ela tinha na sua alma contra sua família: denunciou a insensibilidade de sua mãe, a falta de caráter de seu tio, a hipocrisia de uma família certinha, porque sua alma estava em caos.

Por que tantas pessoas encontram dificuldade em serem vitoriosas? A gente culpa o sistema, a forma da pessoa ser, mas o problema pode está muito mais profundo: "Do coração procedem todas as fontes da vida". Não foi isto que Jesus falou?
Quando as pessoas indagaram a Jesus sobre a comida (aspectos exteriores da lei), Jesus disse que o que fazia mal não era o que a pessoa comia, mas aquilo que estava no coração do homem. A essência do mal não é o exterior, mas o interior.
Um dos casos mais dramáticos registrados pela policia se deu com um que viveu aqui perto de nós, na cidade de Corumbá: Ele se tornou um serial killer, matando mulheres, depois de ter sexo com ela. Numa das entrevistas que ele deu, afirmou que havia dentro dele uma sede incontrolável por matar, uma voz que o mandava matar as pessoas. Embora ele venha a ser julgado pelos seus atos bárbaros, isto é, o seu julgamento tem a ver com seu comportamento, não pelo que acontecia no seu coração, sabemos que o seu grande problema está no seu coração.
No inicio do ano, dei uma serie de palestras sobre como educar filhos no século XXI, e um dos temas que explorei foi como educar nossos filhos não exteriormente, mas como pastorear o coração dos nossos filhos, isto é, identificar o que se encontra por detrás de suas atitudes e comportamentos pecaminosos, e ajudá-los nos seus conflitos interiores.
A mesma coisa precisamos fazer com nossas reações. Por que ajo e reajo da forma que faço? Como interpreto a vida de forma tão amargurada? A quem desejo matar? A quem desejo ferir? Via de regra estas questões tem a ver com ódios e ressentimentos mal resolvidos, com iras sepultadas vivas, questões mal resolvidas em nosso coração.
Uma experiência, um encontro de nossa alma com Jesus é libertador, já que ele é a luz do mundo. Algumas pessoas, diante do encontro com sua dor, literalmente vomitam, jogam para fora pedaços de bílis. Isto revela a intensidade e a profundidade da dor. Mas o que vemos é o que se encontra de forma periférica. A dor mais profunda se esconde por detrás de nossa face e de nossas reações exteriores. A gagueira oculta a dificuldade de ouvir. A primeira é perceptível, mas não é a causa, a causa provém da incapacidade auditiva.
A Bíblia diz que Jesus levou sobre si nossas enfermidades. Ele pede para que lancemos sobre ele toda a nossa ansiedade, porque ele tem cuidado de nós.

3. Jesus não se distrai com os problemas visíveis de nossa vida, mas vai na essência de nosso problema. O que ele faz no texto? "pôs-lhe os dedos nos ouvidos e lhe tocou a língua com saliva...e disse: Efatá! Que quer dizer: Abre-te!
O que ele faz aqui?
Ele confronta a surdez. Você precisa a ouvir de forma diferente, a ver de forma diferente, a discernir de forma diferente. Nossa audição truncada, recebe emoções truncadas e nos leva a reagir de forma truncada. Só Jesus pode nos confrontar nas áreas que nossa vida precisa ser confrontada. Quem não ouve bem, não fala bem. Por isto a Bíblia afirma: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” Deus precisa nos capacitar a ouvir, para que nosso diálogo possa ser restaurado.
Existe uma afirmação do salmista que diz: “sacrifícios e ofertas não quisestes, abriste o meu ouvido”. Eugene Peterson afirma que uma declaração mais direta seria: “Cavaste ouvidos em mim”. É exatamente isto que precisa acontecer em nós. Deus precisa cavar ouvidos, nos habilitar a ouvir.
Jesus não entra nas questões visíveis da alma, mas penetra nos segredos do coração e da alma daquele humem . A Bíblia afirma que Jesus vai "julgar os segredos dos homens", de conformidade com o Evangelho (Rm 2.16). Quais são os segredos seus que precisam ser julgados por Jesus.
O que leva a sua fala, a forma de expressar sua vida, a ser tão embaraçada? O que está atravancando sua vida? O que tem transformado sua capacidade de comunicar amor, ternura, paixão, em algo tão trôpego? O que tem gerado sua gagueira?
A Bíblia afirma que quando os ouvidos se abrem, o impecilho da língua se desprende e a pessoa passa a falar desembaraçadamente (7.35).
Solte as amarras da alma que sua vida vai ser livre, desembaraçada. Ninguém pode andar bem, se seus movimentos interiores são todos confusos.
O escritor aos hebreus afirma que precisamos nos desembaraçar de "todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia", correndo "com perseverança, a carreira que nos está proposta" (Hb 12.1). a verdade é que impecilhos na alma, ninguém será livre.
Agora, só Jesus tem o poder de confrontar estas questões da alma. Por isto precisamos nos aproximar dele.

Você não está precisando de vir a Jesus?
Não gostaria de ser tocado por ele?
Não gostaria de experimentar a cura de dentro para fora que só ele pode gerar?
Curve sua cabeça, vamos orar...

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