quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Mt 1.18-25 A Singularidade do Natal

Introdução:

Apesar de todas as luzes, glamour e festividades que cercam esta estação tão significativa do ano, não devemos esquecer que Jesus é a razão do Natal.

Papai Noel é apenas um intruso. Ele entrou como penetra da festa e ficou. Tenho pensado se além da razão comercial e financeira que cerca o evento natal, movimentando milhões de reais, não existe uma tendência espiritual de fazer a gente pensar, ainda que inconscientemente, que tanto o nascimento de Jesus como Papai Noel, são nada mais que mitos, representações de verdades, mas não seres reais.

Ouvimos os relatos tão maravilhosos registrados nos Evangelhos: A visita dos magos, o anúncio do nascimento de Jesus a uma adolescente chamada Maria, o sonho de José, a manifestação angelical dos anjos cantando músicas celestiais no meio do deserto (os pastores, depois de ter ouvido os anjos, nunca mais apreciariam qualquer outro tipo de música...), a experiência de Ana e Simeão, e podemos achar que tais eventos são formas poéticas de se contar histórias, mas não necessariamente verdadeiras, apenas românticas ou fantasiosas, assim como são as fábulas e os “causos” contados no interior do Brasil por pessoas simples e sem instrução. Aí surgem os mitos, lendas, poesias, músicas... Podemos facilmente pensar no Natal desta forma.

Não podemos esquecer da singularidade do Natal.

Neste texto, vemos 4 verdades que apontam para tal singularidade.

1. Natal é um evento profético – O Evangelista Mateus faz uma referência a uma profecia especifica (Mt 1.23), que fora dada pelo Profeta Isaias, cerca de 700 anos antes do nascimento de Jesus (Is 7.14). Esta profecia fala que uma virgem daria luz a um filho. Certamente não se trata de uma profecia délfica, que são afirmações de videntes acerca de algo genérico. Certa profetisa se aproximou de uma mulher grávida da igreja e afirmou: “Vejo que estás grávida de um varão, mas se duvidares, será de uma menina”. Este é o tipo de profecia genérica que tantas vezes temos ouvido.
A Profecia de Mateus é direta e clara. O nascimento do Messias seria algo diferenciado, e assim o foi. Maria fica perplexa com a noticia e indaga: “Como será isto, já que nunca tive relação sexual?”. José fica perplexo com a informação que lhe pareceu estranho, de que sua noiva encontrava-se grávida por uma intervenção direta de Deus. Ele chegou mesmo a cogitar uma separação em secreto.

Existem cerca de 600 profecias do Antigo Testamento que se cumpriram no Novo Testamento, cerca de 300 delas referentes a Jesus.

Profecias nos ensinam algumas coisas muito importantes em relação a história. Nos mostram que não nos encontramos num universo vago e cego, mas nas mãos de um Deus sábio, providente, amoroso e poderoso. A história humana não é uma sucessão de eventos casuais e desconectados, mas é resultado de uma ação de Deus. Ele não apenas intervém na história, mas faz a história, intervindo, elaborando um propósito e até mesmo um cronograma, já que o apóstolo Paulo afirma que “vindo a plenitude do tempo, Deus enviou Jesus, nascido de uma mulher” (Gl 4.4). Jesus nasceu no tempo de Deus e no lugar determinado por Deus. Miquéias, outro profeta do Antigo Testamento afirmou até mesmo o local onde ele nasceria. “E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Mq 5.2). Jesus é o centro da história de Deus.

Yancey afirma: “O Deus que trovejava, que podiam movimentar exércitos e impérios como peões num tabuleiro de xadrez, esse Deus apareceu na Palestina como um nenê que não podia falar, nem controlar a bexiga, que dependia de uma jovem para receber abrigo, alimento e amor”.

2. Natal nos revela também um Deus que quebra paradigmas – A começar pela afirmação de que “a virgem conceberá”.

Outros aspectos também nos são mostrados nas narrativas bíblicas, mostrando que a vinda do Messias subverte a ordem humana. Um rei não nasce numa estrebaria, mas num palácio; não é colocado ao lado de animais dentro de um coxo, mas nos berços luxuosos das dinastias. Os judeus esperavam um messias glorioso, Jesus se apresenta como um servo sofredor e varão de dores.
Sistematicamente padrões e convenções são colocadas de cabeça para baixo nas narrativas bíblicas.
Deus se revela aos pastores, um grupo social tão desprezado que no templo não lhes era dado o direito de ficarem no lugar dos santos, reservado aos gentios, mas deveriam ficar no pátio dos gentios, que eram reservados a pessoas deficientes, gentios e mulheres. Deus se revela a estes pastores, num local deserto. O palácio ignora as grandes realidades espirituais que surgem na periferia.
Deus também decide se revelar aos magos. Espiritualistas estranhos e enigmáticos que mais se pareciam com Paulo Coelho que com pastores evangélicos. Estes homens viviam de buscas esotéricas e tentando decifrar os mistérios dos céus através de suas pesquisas, algumas delas relacionadas à alquimia, transformação de formulas mágicas, ciências ocultas, e busca pela fonte da eterna juventude. A este grupo estranho na sua religiosidade, que moravam muito longe de Israel , vindos do Oriente, uma citação muito provável ao Iraque, e não aos escribas que viviam no templo, lendo e estudando os escritos do Antigo Testamento.

Não é estranho que as coisas sejam assim?
Deus se revela ainda a adoradores anônimos, gente simples na sua fé como Simeão e Ana, que viviam numa santa expectativa da vinda do Messias, e não àqueles que ocupavam respeitáveis cargos na hierarquia da religião judaica como o sumo sacerdote e os senhores do Sinédrio, guardiões da sã doutrina judaica.

O natal vai paulatinamente quebrando convenções tidas como certas, e Deus vai formando assim um novo povo, a partir de um Deus diferenciado do conceito estabelecido.

3. Natal nos comunica a realidade de um Deus acessível e humilde – “Ele será chamado de Emanuel, que quer dizer, Deus conosco” (Mt 1.23).

Natal nos mostra um Deus acessível, caminhando com a humanidade.

As grandes religiões falam de um Deus grande e poderoso.

No Islã, a saudação feito demonstra isto: “Alah é grande!”. Não há conceito de um Deus pai para os muçulmanos.

No Judaísmo, as pessoas temiam ao pronunciar o nome sagrado de Deus, e no templo, criaram um lugar separado para que Deus se manifestasse, e não era o local onde as pessoas se encontravam, mas no Santo dos Santos. Os gentios eram isolados do templo e ficavam num pátio exterior, ao lado das mulheres.

Agora vemos aqui, os pastores serviçais e analfabetos; os magos, gentios distanciados das promessas de Deus se aproximando do menino que nasce. Que coisa pode ser menos sagrada que um recém nascido enfaixando e chorando?
Acessibilidade e humildade não é própria das pessoas que detém o poder, e muito menos de Deus.

Quando a Rainha Elizabeth II viajou para os Estados Unidos, levou consigo cerca de 1800 kg de bagagem, sendo que tinha 2 trajes para cada ocasião, 1 traje de luto para o caso de algum funeral, 40 assentos de pelica para vasos sanitários, 1 cabeleireira, 2 camareiras e uma infinidade de atendentes. Uma viagem desta custa cerca de 20 milhões de dólares. É desta forma que os poderosos agem.
Agora nos encontramos diante de uma criança indefesa. Em Jesus reside toda a plenitude de Deus, Ele é a expressão exata do ser de Deus, no entanto, escolher ser frágil, se vulnerabiliza, se humaniza, torna-se humilde e acessível.

Leonardo Boff afirma que “uma pessoa assim tão humana, só poderia ser divina”.

4. A quarta característica do natal é que ele nos anuncia a Salvação. “É que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador que é Cristo o Senhor”.

Nasceu o Salvador. Quem precisa de salvação?

Salvação é para pessoas que se perderam na vida. Que enfiaram as mãos pelos pés, que se equivocaram, confundiram-se e não sabem mais o que fazer par retomar o fio da sua história.
Tenho visto pessoas desencontradas e que parecem não saber mais como encontrar o eixo de sua história. Isto se deu por causa de uma experiência traumática, por uma grande frustração, ou pelos constantes desvios, gente que vai pouco a pouco tomando decisões erradas e quando se percebem não sabem mais como voltar.

A Bíblia diz que Jesus veio buscar e salvar o perdido (Lc 19.10). Gosto muito de pensar sobre isto.
Max Lucado afirma que poucas pessoas tem tão pouco senso de direção como ele. Já entrou num vôo pensando estar viajando para um local e parar noutro destino completamente diferente; já pegou a estrada na direção errada, só se atrasou em eventos por não encontrar a rua certa, e assim por diante. Perdido é alguém que perdeu o senso de direção, e não sabe mais para onde está indo e não consegue mais voltar.

“Hoje vos nasceu o Salvador”. Jesus é o seu nome. Ele veio para nos salvar.

Que grande noticia o natal nos traz!

Conclusão:

Em maio de 2008 Jônatas Alves, um jovem de apenas 18 anos saiu para caçar na cidade de Presidente Figueiredo, que fica a 170 Kms de Manaus, e se perdeu na densa floresta da região. Um aparato de amigos, bombeiros e soldados foi acionado para ajudar na procura, mas depois de 20 dias, as buscas se encerraram, mas não para seu pai que era agricultor. Com a ajuda de seu irmão e dois mateiros, ele continuou sua incansável busca, pois dizia que em seu coração estava certo de que seu filho ainda vivia. Depois de 50 dias, o encontraram ainda vivo, a 45 Km de onde havia se perdido. Infelizmente o garoto não sobreviveu, mas ainda conseguiu dizer ao seu pai: "Eu sabia que o senhor viria!""
Por ser uma região de difícil acesso, ele amarrou seu filho a uma rede a 2 mts de altura, temendo que algum animal o devorasse e foi buscar ajuda para o resgate, e seu corpo foi sepultado na cidade, com a presença de 32 amigos e familiares.

O garoto faleceu, mas seu pai nunca desistiu de buscá-lo.

A história do Natal nos fala também de outro pai, que incansavelmente veio atrás dos seus filhos, "buscar e salvar o perdido". Na história do Natal, felizmente, o final foi diferente. "Ele nos transportou do império das trevas e nos trouxe para o reino do Filho do seu amor". Ele nos resgatou e nos trouxe com vida para desfrutarmos de sua comunhão e cuidado.

Devemos celebrar o natal com alegria. Nele encontramos a graça de Deus disponível a todos nós. No Natal genuíno vamos encontrar este maravilhoso Deus, que sendo Senhor da terra e dos céus, Senhor da história, resolveu ainda se tornar gente e caminhar entre nós.

Que Deus nos abençoe!

Samuel Vieira

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