quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pv 11.29 Não perturbe sua casa!

Introdução:

Em psicopatologia existe uma descrição muito profunda atualmente sobre crianças e adolescentes problemáticos. Ao preencher a ficha, as pessoas tem o cuidado de colocar ao lado: “Paciente identificado”, porque tem se chegado a conclusão de que, “não existem filhos problemas, mas pais problemas”.
O texto bíblico afirma que “quem perturba a sua casa, herdará o vento”. (Pv 11.29). Esta é uma declaração pesada. Como podemos perturbar nossa casa?

1. Pais perturbam sua casa quando se distanciam dela – Mantendo uma relação de frieza e indiferença ou passividade, ou ambas. Bly afirma: “não receber nenhuma benção de seu pai é uma ferida. Um pai ausente, indiferente ou distante, ou um pai que só pensa em trabalhar, é uma ferida”.
O divórcio ou abandono também pode ser uma ferida, porque o menino (a) acredita que se tivesse feito melhor ou se fosse mais atraente, bonito ou educado, seu pai teria ficado em casa. Alguns pais ferem pelo seu silencio. Estão fisicamente presentes, mas agem como ausentes. O silêncio é ensurdecedor. No caso de pais silenciosos os filhos estão perguntando: “Quem sou eu?”; “eu significo algo?”. O silêncio é ambíguo.
O mercado de trabalho, a competitividade nas empresas, o ritmo alucinante de cobrança, onde mamom domina, leva muitos pais a se distanciarem de seus filhos.
Ló, ao escolher Somoma e Gomorra por causa dos atrativos financeiros e mercadológicos que viu, não considerou Deus nem seu família no processo. As campinhas de Moabe eram muito atraentes, e ele se esqueceu de avaliar todas as implicações do processo. Posteriormente perde sua esposa e filhas.
O momento mais aguardado de um filho, na fase edipiana, é exatamente quando o seu pai volta para casa no final do dia, após um longo dia de trabalho. A ausência paterna ou indiferença com a casa, podem gerar angústias que jamais serão curadas no coração de uma criança pequena. James Dobson afirma que “tempo é moeda no mundo emocional”. Para o seu filho pequeno, você o ama se der tempo e ficar com ele.
Como pais e mães estão saindo para o mercado de trabalho, onde todos se sentem desafiados e prover não somente as necessidades, mas ainda os caprichos e desejos cada vez mais sofisticados, tipificados em carros mais caros, viagens mais dispendiosas, a pergunta que fica é: “Todos estão provendo, mas quem está cuidando dos filhos?”.
Pais perturbam seus filhos quando não estão presentes. Quando se tornam distantes, indiferentes à vida doméstica, e não convivem com seus filhos. Antigamente os pais transmitiam a profissão aos seus filhos, e isto implicava um longo tempo juntos, muitas vezes com disputas e diferenças, mas os pais estavam presentes. A alienação parental, seja através do divórcio, do distanciamento ou mesmo do abandono, gera problemas emocionais profundos nas crianças.

2. Pais perturbam seus filhos quando os deixam inseguros – Esta insegurança possui níveis, sendo que o maior dele se encontra em relacionamentos disfuncionais, onde o pai é alcoólatra ou drogado, ou existem brigas e ameaças constantes, que muitas vezes se desemboca em acusações e violências domésticas. As crianças tornam-se acuadas e rígidas, elas não sabem o que vai acontecer em casa.
Existem níveis mais brandos, mas que também trazem sérios problemas emocionais e perturbam a formação emocional dos filhos. Ele pode ser percebido em lares nos quais a mãe ou pai, estão constantemente ameaçando sair de casa, ou abandonar a família. Os filhos não sabem o que vai acontecer com eles. Em geral, na fantasia infantil, as crianças possuem dois temores: O primeiro é da morte dos pais, o segundo do divórcio. O divórcio, apesar de ser tão comum em nossos dias, gera profunda crise no coração da criança. Dependendo da idade ela não sabe se seus pais se separaram por causa dela. E quando ela tem que tomar posição, num momento de suas vidas em que não tem condições de decidir, fica ainda pior.
Recentemente acompanhei o caso de uma mulher que saiu de casa e se divorciou do marido. Os filhos adolescentes ficaram completamente perdidos, e ainda tinham que lidar com a acusação e auto comiseração do pai que dizia que se eles gostassem dele, ficariam com ele. Na verdade os filhos gostavam dos dois, mas sabiam que o pai, pelas suas atividades fora de casa, não tinham condições de cuidar deles. Esta é uma situação aflitiva para os filhos.
Nestas brigas e ameaças constantes, facilmente expomos nossos cônjuges, levantando suspeitas sobre a integridade de seu caráter. Se o pai está se divorciando, a mãe faz todos os tipos de acusação, de preferência na frente dos filhos, porque deseja que os mesmos fiquem do seu lado. O mesmo se dá quando a mãe resolve se divorciar. As acusações, suspeitas, palavras duras, são compartilhadas num nível e volume que os filhos são obrigados a compartilhar. Isto gera muito insegurança e traz enormes desequilíbrios para a vida dos filhos.
Pv 14.26 faz uma afirmação importante sobre este assunto: “No temor do Senhor, tem o homem forte amparo, e isso é refúgio para os seus filhos”. Ter lugares seguros, ninhos que geram proteção, ambiente de paz, ajudam nossos filhos a organizar seus sentimentos e valores. Quando os pais deixam sua casa insegura, isto reflete de forma direta e perniciosa sobre as emoções dos filhos.

3. Pais perturbam sua casa quando não dão estabilidade – Filhos precisam de rituais. Uma das características da pós modernidade é a desinstalação. Quase não existem rituais e formas estabelecidas, e não dá para saber, com certeza, até que ponto isto é positivo.
Não estou pensando em ritos religiosos, que tendem a engessar-se, embora certos rituais religiosos também sejam positivos: ter horários e programas espirituais, quer seja a participação na missa ou nos cultos. Crianças gostam de ir à igreja, cumprir certos ritos mágicos ou sagrados. Adultos também sentem a mesma necessidade.
A ausência de ritos traz instabilidade. Por isto culturas criam ritos: O da circuncisão no povo judaico e islâmico, os batismos e iniciações religiosas, os ritos culturais em tribos animistas ou o afastamento da jovem do seu círculo social no primeiro ciclo menstrual, demonstrando que agora é uma mulher.
Existem outros ritos sociológicos e familiares igualmente importantes: As férias na casa dos avós, a viagem com determinados amigos, um programa semanal da família como pescar, ir ao cinema, jogar boliche ou dominó, desde que isto aconteça dentro de uma certa periodicidade são verdadeiros ritos.
Meu pai não possuía muitos ritos com a família, mas anualmente íamos pescar e acampar. Tudo era muito provisório e precário, mas ao mesmo tempo empolgante. Tralhas de pesca, cozinha, roupas de dormir, colchões, cinco filhos dentro de um pequeno carro, e lá íamos nós. Este rito da vida era aguardado ansiosamente.
O texto que lemos acima fala do perigo de “Perturbar” a casa. Perturbar é desequilibrar a ordem. Filhos precisam de estabilidade.
Certa vez aconselhei uma mulher cujo filho apresentava alguns sintomas graves de depressão, apesar de ser ainda um pré adolescente. Como era uma família de bom poder aquisitivo, psicólogos e psiquiatras foram contratados para ajudar neste processo que desembocava agora numa síndrome de pânico. Quatro anos antes ele havia perdido o querido avô de uma forma trágica. Ele havia se suicidado. Dois anos mais tarde seus pais se separaram, e de quebra ainda teve que mudar de cidade, perdendo vinculo com sua escola e amigos, indo morar com sua mãe e avó. Depois de algum tempo sua mãe casou-se novamente e ele mudou-se para outra casa, para conviver com um homem completamente diferente. Eles freqüentavam uma comunidade cristã, mas por causa da distância, sua mãe mudou também para outra comunidade. Quando sua mãe me expôs a situação, não tive dúvidas de recomendar-lhe que procurasse dar um pouco mais de estabilidade para que seu filho pudesse se sentir mais seguro.

Filhos precisam de estabilidade em três áreas:

Física – Ter seu espaço, seu quarto, suas coisinhas arrumadas. Pode ser em ambiente simples, mas ter suas gavetinhas, suas roupinhas, uma estrutura mínima, ajuda o equilíbrio das emoções. Obviamente isto inclui ainda a segurança quanto à alimentação. Viver inseguro sem saber se hoje haverá alimentos disponíveis ou não, pode trazer transtornos psiquiátricos tremendos.

Emocional – Relacionamentos de famílias e amigos. Ter pessoas de referência, às vezes não se tem os avós por perto, mas encontra-se vínculos com amigos. Estas coisas da casa, quando os pais geram ambiente de acolhimento, quando as ameaças são suprimidas, trazem enorme tranqüilidade para seus corações.

Espiritual – Filhos precisam de referências do sagrado. Existe no coração dos seres humanos uma propensão para o sagrado. Quando os filhos desenvolvem esta espiritualidade de forma tranqüila e madura, isto traz um enorme potencial de saúde e alegria para eles, principalmente numa idade na qual apresentam enormes aberturas para as coisas espirituais. Freqüentar uma comunidade, ter vínculos religiosos, ajuda e muito na caminhada rumo à maturidade.

Conclusão:>“Quem perturba a sua casa, herdará o vento”. Já pararam para pensar no significado de herdar o vento? Não me parece ser algo muito positivo. Ventos me lembram de forças descontroladas que eventualmente mudam a face de uma região ou mesmo de um país. Me faz recordar de um furacões e tornardos, que arrasam cidades inteiras e deixam cidades completamente destruídas. Quem conviveu com o katrina em New Orleans ou se lembra daquelas pavorosas cenas, sabe do que estamos falando. Esta não é a herança nem o legado que queremos para nossa casa.
Existem filhas que se tornaram verdadeiras “Hilda furacões”. Pessoas desequilibradas na história, afligidas por uma perda não elaborada de sentido. Filhos que deixam um rastro de morte e dor nos pais. Geralmente estes personagens furacões possuem uma história de dor e angústias não resolvidas. Certamente não é esta a herança que queremos para nossos filhos.
A Bíblia afirma que “herança do Senhor são os filhos”, e eles são “como flechas nas mãos do guerreiro”, e diz que é bem aventurado aquele que enche deles a sua aljava. Filhos são heranças benditas .
Um guerreiro não pega suas flechas e as joga a esmo. Antes, aponta para o alvo que se deseja alcançar, focaliza cuidadosamente na presa, para ter os resultados que espera atingir.
Flechas mal direcionadas causam sérios acidentes. Assim é a vida do homem que perturba sua casa. Nunca nos esqueçamos que “quem perturba a sua casa, herdará o vento”.

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