segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Mc 8.34-9.1 QUEM QUISER VIR...

Introdução:

Seguir a Cristo é o maior projeto de vida. Todos construímos projetos de vida, mas certamente este é o mais importante e que requer uma dose maior de compromisso se quisermos segui-lo. Prioritariamente não fomos chamados para ser religiosos, isto é, nos vincularmos a uma determinada denominação, apesar de que esta é uma necessidade se quisermos viver num corpo. Prioritariamente também não somos chamados para sermos membros de uma igreja, embora isto inevitavelmente aconteça quando você ama a Jesus. Mas, prioritariamente, nosso chamado é para sermos discípulos.
Neste texto Jesus estabelece alguns princípios básicos para o discipulado. Ele faz três exigências para seus seguidores:
1. Negue-se a si mesmo;
2. Tome a sua cruz;
3. Siga-me.


Antes de tudo, precisamos considerar que discipulado é opcional - “Se alguém quer vir após mim”.(Mc 8.34). Ninguém é forçado a ser discípulo de Cristo. Somos chamados a isto, podendo ou não atender o convite. Existe aqui um elemento volitivo, da vontade. Ao mesmo tempo sabemos pela Bíblia, que Deus chama, elege, vocaciona, e somos desafiados também pelas Escrituras a nos levantarmos em resposta a este chamado.
Agostinho faz a seguinte colocação: “Quando Deus se agita, o homem se levanta”. Deus inicia o processo, e o homem precisa responder a este chamado divino.
Infelizmente tenho visto muitas pessoas, amigas do Evangelho, que não querem o compromisso de seguir a Jesus. Não sentiram ainda vontade de seguir a Jesus. “Se alguém quer vir”. Sem esta decisão, sem este passo, sem este querer, você pode continuar o resto da vida sem se tornar um discípulo de Cristo, já que o discipulado é opcional. Deus não vai estuprar sua consciência, sua vontade, não vai forçá-lo a ser aquilo que você não quer ser. “Se alguém quer vir”.
Muitas vezes Jesus exigiu daqueles que o admiravam um compromisso. Em Jô 6.66-68 foi muito objetivo e claro, quando percebeu que seus seguidores titubeavam em relação a um compromisso radical: “quereis também v’os outros retirar-vos?”
"Devemos dizer "não" por decisão pessoal – devemos morrer para o ego – na época em que estamos em pleno viver ativo, quando temos capacidade de desejar as coisas e de desfrutá-las. Esta "morte" não deve ser nem adiada, nem recuada, e nem ainda deve ser considerada como pertencendo somente ao momento da morte física" Francis Schaeffer

1. “Negue-se a si mesmo”. Para seguir a Cristo, precisa haver uma luta contra a autonomia do meu Eu - Precisa haver renuncia àquilo que mais amo e tento preservar, o meu próprio Eu. É necessário que eu me descentralize do meu próprio eu. Tudo que estiver relacionado ao meu Eu: auto promoção, auto centralização, auto glorificação.
Pedro negou a Jesus dizendo: "Não o conheço". Negar a si mesmo é dizer: "Não me conheço". O grande mal nosso é acharmos que somos o centro do mundo e que tudo deve girar em torno de nós. Isto vai contra todo o sistema moderno de educação. Os livros de auto ajuda lotam nossas bibliotecas e livrarias, todos eles exigindo autenticação do eu, exaltação do eu, e Jesus agora pede para que eu negue a mim mesmo.
A submissão é algo desprezível para nossa mente egocêntrica: Chuck Swindol escreveu famoso livro cujo titulo era: "Eu um servo? Cé tá brincando?". No entanto, Jesus disse: "Todo aquele que dentre vós não renunciar a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo" (Lc 14.33). O homem que vive em torno de sua própria glória, fracassa como discípulo.
Negar a nós mesmos é viver em Cristo e para Cristo. Jesus passa a governar nossa mente, vontade, desejo e emoções, porque eu submeto minha vida, sonhos e desejos a Ele. Eu o convido, de forma espontânea e volitiva para que ele venha e assuma o lugar central de minha vida que hoje pertence a mim. Eu abro mão de meus direitos e desejo que os direitos de Cristo sejam os meus.Eu abro mão de minha autonomia. Trago minha mente em submissão a Jesus para que ele a governe.
Orgulho é o pecado básico da raça humana. Ele impede que a gente glorifique a Deus, preferindo colocar nosso próprio Eu no centro de toda a atitude. Quando eu me julgo melhor, mais correto, mais justo, não consigo ver a gravidade de meu mal. Em razão disto, passo a ser exigente e demandar mais e mais atenção das pessoas que estão ao meu redor.
Um dos textos mais lindos que já li, foi escrito no ano de 1555. Preste atenção no seu conteúdo:

Uma carta de Jesus àqueles que o amam
John of Landsberg

Uma coisa que da qual eu gostaria de adverti-lo de forma especial é sua constante tendência ao desencorajamento e frustração, pois você se desespera ao perceber ao perceber o peso de suas faltas e que suas firmes resoluções em fazer as coisas de forma diferente redundaram em nada. Eu conheço o seu humor quando você se assenta sozinho, ou se levanta infeliz, em um puro estado de tristeza. Você não se move em minha direção, mas desenvolve um sentimento de que tudo o que você fez, todo o seu esforço redundou em perda e esquecimento. Este sentimento que se confunde com o desespero e com a auto piedade na verdade é uma forma de orgulho. Você fundamentou-se numa forma de segurança que o levou a queda, por você confiou na sua força e habilidade. Profunda depressão e perplexidade de mente freqüentemente seguem a perda da esperança, e isto decorre do fato pelo fato de você se firmou em coisas que não aconteceram como você esperava e queria. Na verdade, eu não quero que você ponha sua confiança nas suas forças, habilidades e planos, pelo contrário, quero que você desconfie destas coisas e de você mesmo, e ponha a sua confiança em mim, e nada mais. Quanto mais você confiar em você, mais você se tornará escravizado entristecido. Você ainda tem uma lição mais importante para aprender: Sua confiança própria não o ajudará a se manter firme. Você está se firmando num pé quebrado. Você não deve perder a esperança em mim. Você precisa esperar e confiar em mim, absolutamente. Minha misericórdia é infinita.

Jesus afirma que "se o grão de trigo não morrer, fica ele só". Morte é esmagamento, trituração. É parto, é dor, é grito. Mas, "se não morrer", não pode produzir frutos (Jo 12.24). No entanto, nossa vida é uma tentativa constante de afirmar o nosso Eu, de lutar pela sobrevivência do nosso Eu, de nos afirmarmos. Jesus nos convida a crucificar o nosso Eu. Na verdade, a única forma de sobrevivência, é a nossa desistência. O único caminho para nossa glorificação é a morte, e único jeito de viver é morrer com Cristo. "Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena"" (Cl 3.5).

2. Tome a sua cruz - Muitos interpretam erroneamente a expressão que vem a seguir: “tome a sua cruz”. Quando se deparam com o sofrimento, dificuldades e tribulações afirmam que esta é a sua cruz. No entanto acredito que a cruz a ser tomada, é a negação do eu: A renúncia dos meus direitos por causa de Cristo.
Os místicos cristãos da Idade Média costumavam orar diariamente: “Senhor, livra-me de mim mesmo”. Quão difícil nos é dizer de fato como João Batista: “Convém que ele cresça e eu diminua”. Em geral queremos afirmar nosso eu, mostrar nossa capacidade e competência. Por isto uma tradução correlata deste texto diz o seguinte: “Se alguém quer vir após mim, a se mesmo se negue, dia a dia”. Esta nossa luta será diária. Diariamente teremos que colocar nosso EU em rendição ao Senhor.
Não é uma tarefa fácil. A Bíblia nos ensina a apresentar os nossos corpos como sacrifício vivo. O problema do sacrifício vivo, é que quando ele é colocado no altar, muitas vezes sai correndo, não querendo estar naquele lugar.

3. “Siga-me” - Ser discípulo de Cristo envolve um caminhar na sua filosofia de ser e viver. Uma tradução diz: "Se alguém quiser andar nos meus passos". Isto significa identificar-se com Jesus. Ser discípulo é seguir o seu Mestre, andar nos seus passos.
Alguns anos atrás, um estudante muito relaxado ficava se exaltando por ter sido aluno de um professor muito famoso e exigente. Quando este professor o soube, afirmou em tom de severidade: "Freqüentou as salas de aula, mas nunca foi meu discípulo". A Igreja na verdade tem muitos seguidores, mas poucos discípulos.
Jesus afirmou de forma clara: “vós sois meus discípulos se fazeis o que vos mando”.Este negócio de construir uma vida ao seu próprio estilo, esquecendo-se do estilo de vida que Jesus exige de nós revela que não somos discípulos. O discípulo quer pisar nos passos de Jesus, quer seguir seus ensinamentos, quer pagar o preço da obediência e do sacrifício, mas sua filosofia de vida é a filosofia de vida do mestre.

Ser discípulo de Cristo envolve uma compreensão do significado e valor da vida eterna – Porque a seguir, Jesus entra na questão da vida eterna e suas implicações. Jesus faz no vs 36 e 37 duas perguntas fundamentais para a alma humana:

A. Que aproveitaria ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
B. Que daria um homem em troca de sua alma?

Estas duas perguntas são cruciais: Jesus afirma que quando o seguimos, entendemos a natureza e as implicações de seu chamado. Entendemos que estamos lidando com coisas eternas e não podemos procrastinar, adiar, ou atrasar uma decisão. Não podemos nos descuidar. Quem entende as implicações do chamado de Cristo, já considerou a benção que é seguir esta vida tendo conosco a segurança trazida por Jesus. A Bíblia nos afirma que fomos resgatados, não por coisas corruptíveis como prata ou ouro, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro, sem defeito e sem macula, o sangue de Cristo (1 Pe 1.18-19).
O que daria você em troca de sua alma? Nenhuma posse dura para sempre, e nenhum ganho é eterno.Uma pessoa em Brasília, possuidora de muitos bens, cujo ganho chega a fabulosa quantia de 170 mil dólares por mês, afirmou certa vez estar angustiada, por perceber que a morte vai um dia chegar. Isto é, ao chegar a hora de desfrutar suas conquistas financeiras, entra em crise por causa delas. Percebe a volatilidade dos seus bens, a fragilidade de seus pressupostos. Enfrenta a crise pontuada aqui por Jesus: “Que aproveitaria ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”

Ser discípulo envolve uma entrega sem receios, e uma afirmação corajosa – “qualquer que se envergonhar de mim e de minhas palavras” (Mc 8.38). Discipulado tem que ser algo de que não podemos nos envergonhar, e Jesus estabelece duas linhas de ação: De mim e de minhas palavras.
A. Envergonhar-se de Cristo – Não ter vergonha em dizer que pertence a Jesus, assumir-se como servo de Cristo, sair da condição de seguidor oculto e tornar-se alguém publicamente reconhecido como discípulo de Jesus. A Bíblia fala de Nicodemos que “veio ter de noite, com Jesus”. Existem muitas pessoas que temem a explicitação da sua fé. Temem perder a popularidade, temem a critica publica. Existem pessoas que não vêem a igreja porque são de famílias tradicionais e não querem ser vistas ouvindo a Jesus. O compromisso com Jesus exige que você se exponha.O Batismo é um testemunho de fé, por isto deve ser feito publicamente e não num local escondido.

B. Envergonhar-se das palavras de Cristo – Não ficar intimidado com o conteúdo das mensagens de Jesus. Conta-se que certa feita perguntaram ao Rev Billy Graham, se ele realmente acreditava na seriedade do texto bíblico que afirmava que Jonas havia sido engolido por um grande peixe, ao que ele teria respondido: “Se a Bíblia me dissesse que foi Jonas quem engoliu um grande peixe, ainda assim acreditaria”. Num mundo plural e relativista como o nosso, os princípios da Palavra de Deus são muitas vezes tão criticados, a palavra de Cristo muitas vezes escandaliza. Paulo afirmava: “Não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para salvação de todo aquele que nele crê”.

Ser discípulo de Cristo é viver sempre, na santa expectativa de que o poder do Reino de Deus caminha entre nós – (Mc 9.1) Discipulado envolve uma compreensão de que sua vida é sobrenaturalmente cercada pela presença de Deus. Isto implica em não levar a vida baseada em não em si mesmo, mas no poder que emana de Deus. Esta promessa de vida abundante, de experiências sobrenaturais, de experimentar o reino de Deus na sua dimensão mais profunda, não é só para a outra vida, mas é algo prometido para antes da morte. “Alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até vejam ter chegado com poder o reino de Deus” (Mc 9.1). Discípulo é alguém que vive cercado pelas possibilidades da sobrenaturalidade, conta com a intervenção sobrenatural de Deus na história, se vê participando de um projeto no qual o reino de Deus faz todo o sentido.

Conclusão:Tudo isto se inicia com uma decisão. “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo”. Você gostaria de seguir a Jesus, na sua radicalidade mais profunda? Pagar o preço do discipulado renunciando sua vida para que a vida dele se revele na sua vida? Se você deseja tomar esta decisão ele está dizendo que, “Quem quer perder a vida por causa de mim e do Evangelho, salvá-la-á” (Mc 8.35).

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Mc 8.27-30 Se és Filho de Deus

Introdução:
No livro “Se és Filho de Deus” , Ellul analisa a natureza de cristo, seus sofrimentos e tentações, denunciando o racionalismo que separa o cristo da fé, o Messias, O Filho de Deus que faz milagres, do Jesus da história, negando os milagres e as intervenções sobrenaturais, fazendo-as parecer mitológicas. Para ele, racionalistas e liberais, negam a essência do Jesus da Bíblia.
A questão cristológica, sem dúvida alguma, foi o ponto mais discutido da teologia cristã, que surgiu desde os dias apostólicos, até o Sec. IV, através dos movimentos docéticos e gnósticos, com Apolinário, Márcion e Ário, e consumiram muitas horas de discussões e debates de Concílios da Igreja, até que finalmente, através de dois concílios universais, em Nicéia (325) e Calcedônia, colocaram um ponto final afirmando Jesus como totalmente humano e divino .
Jesus tem todo interesse em clarificar sua natureza, e para saber o que os discípulos pensavam dele, faz uma pergunta direta em Mc 8.27: “Quem dizem os homens que sou eu?” e posteriormente volta-se para os discípulos e pergunta: “Mas vós, quem dizeis que sou eu?” (Mc 8.29)
Pela resposta dada por Pedro, torna-se claro que existem dois tipos de resposta: A popular e a resposta de fé.

A resposta Popular
O que marca a resposta popular é que elas negam a essência de Jesus, ou seja, sua divindade, e o identificam como místico, alguém com características especiais de profeta.
Regina Casé, no inicio de 2012 humorista e apresentadora da Globo fez isto no seu programa (01/Jan/2012), convidando pai santo, babalorixá, videntes e uma pastora evangélica. A idéia por detrás da atitude de tolerância era mostrar que era tudo igual, apesar das interpretações diferentes. Jesus é uma entidade, um guru, um espírito de luz.
Esta foi a mesma visão que as pessoas dos dias de Jesus tinha a seu respeito: João Batista, Elias, alguns dos profetas.

A resposta popular, geralmente desemboca em três pontos de vista:

A. Místico – Um modelo a ser imitado. Nenhuma religião, nem mesmo o islamismo com seu reducionismo teológico, tem qualquer dificuldade em reconhecer Jesus como profeta. O problema está sobre a pessoa de Jesus esbarra em duas controvérsias:
i) Sua singularidade – Quando se afirma que ele é distinto e único na sua natureza. A ideia popular é que ele é mais um, mas a visão da Bíblia é que ele é único. Jesus deixou claro ao afirmar: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”(Jo 14.6)
ii) Sua Divindade – Ele foi acusado de blasfemar por afirmar sua identificação com o Pai- “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18). A acusação contra Jesus era de Blasfêmia: fazer-se ou considerar-se Deus.

2. Filósofo – Idéias a serem discutidas - Este segundo ponto de vista tem sido também uma ideia muito difundida, Jesus é um pensador. No entanto, os evangelhos nos mostram que Jesus não apenas trazia uma nova mensagem: Ele era a mensagem! Jesus não apenas pregava o Evangelho, ele era o Evangelho a ser pregado. Resumir Jesus a uma corrente de pensamento filosófico é destituir a própria essência daquilo que ele é.
Se Jesus não era Deus, temos apenas outras duas opções: Ou ele era mistificador ou louco. O primeiro é alguém que deseja enganar intencionalmente, e atrai pessoas simples para o seu ponto de vista; louco é alguém que perde a noção do real e vive no mundo do imaginário. Jesus exigia que seus discípulos o adorassem e não rejeitava tal atitude quando vinda deles. Se não era Deus, era louco, já que trazia sobre si a prerrogativa de um ser divino .

3. Profeta – Ensinamentos a serem considerados - Profeta é alguém que tem uma mensagem para dar, vinda da parte de Deus. Ele é o canal de Deus. A figura de profeta tem sido muito esvaziada hoje em dia quando tantos se auto intitulam profetas e profetisas, mas o profeta do Antigo Testamento era tido como “boca de Deus”, e quando proferia uma afirmação em nome de Deus, e tal afirmação era falsa, era apedrejado (se esta regra valer para os nossos dias...)

Jesus então, pede aos seus discípulos que lhe digam o ponto de vista popular. Mas em seguida, faz outra pergunta de caráter particular: “Mas vós, quem dizeis que sou eu?” (Mc 8.29).
Por que é importante esta resposta particular?

Jesus e Você Duas coisas importantes acontecem sobre a nossa compreensão da natureza de Jesus.
1. Resultado de Revelação - A resposta de Pedro foi: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). Logo após sua declaração, Jesus afirma o seguinte: “Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus”(Mt 16.17). (O evangelista Marcos não a registra, mas Mateus a descreve cuidadosamente).
Pedro afirma duas coisas sobre Jesus: (a)- Que Ele é o Cristo (tradução da Palavra Messias que vem do hebraico). Alguém que fora prometido por Deus, através de seus profetas no Antigo Testamento. Sendo assim, Jesus seria o cumprimento profético de Deus para a nação judaica e para todo mundo; (b)- Que Ele é o Filho do Deus vivo – Alguém que possui identidade com o Pai. Jesus mesmo se identificou desta forma ao afirmar: “Eu e o Pai somos um”(Jo 10.30). Esta afirmação foi tão agressiva que os judeus apanharam pedras para lhe atirar, e quando Jesus pergunta porque eles queriam tomar tal atitude, os judeus responderam: “Por causa da blasfêmia, pois sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo “(Jo 10.33).
Quando Pedro afirma que Jesus é o Cristo (Messias), o Filho do Deus vivo, ele afirma: “Bem aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne nem sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus”(Mt 16.23). Jesus afirma para Pedro que isto era resultado de uma revelação. Jesus demonstra que para se ter a visão essencial da natureza de Cristo, só é possível se o Pai se revelar a nós. Por isto Jesus chama Pedro de Bem aventurado.
Tomé, chamado Dídimo, foi um dos apóstolos de Jesus e andou com ele durante os três anos de seu ministério. Certamente gostava de Jesus, e o admirava pelos seus poderes, pela visão da vida, e por isto andava ao seu lado e o servia, mas logo após a ressurreição demonstra que ainda não sabe quem realmente é Jesus. Por isto achou absurda a idéia da sua ressurreição e colocou em dúvida a noticia que seus colegas lhe deram, até que Jesus se coloca diante dele. Em seguida Tomé faz uma estupenda declaração de fé, caindo de joelhos, adorando-o e dizendo: “Senhor meu e Deus meu” (Jo 20.28). O texto diz que agora Tomé o adora.
Só entendemos quem realmente é Jesus quando a revelação do Pai vem para o nosso coração. Deus precisa abrir nossos olhos.
Certo rapaz me afirmou que tinha dificuldade para crer em Jesus como Deus. Eu então lhe falei: “Quando o Pai celestial lhe revelar esta verdade, você fará a correta declaração de fé a respeito do Filho de Deus”. Isto o chocou profundamente e ele ficou algumas semanas pensando a este respeito.

2. A compreensão que temos de Jesus define a forma como nos relacionamentos com Ele – Por isto é tão importante uma correta afirmação sobre sua natureza. O que acontece se você o considera apenas como um místico? Você não verá nenhuma diferença entre ele, Dalai Lama, Buda, o guru que orienta a jornalista Elizabeth Gilbert, em comer, rezar e amar , que oferece “ao universo uma fervorosa oração de agradecimento”. Por acaso alguém sabe quem é o Universo a quem ela dirige suas preces?
Tomé caminhou com Jesus durante todo o seu ministério, mas agora sua visão o leva a se tornar um adorador.
No episódio da cura do cego de nascença registrado em Jo 9, vemos como nossa visão acerca de Cristo determina nosso relacionamento com ele. Sua visão de Jesus passa por três níveis:
A. Jesus é visto como um homem especial – Quando os judeus indagaram quem o tinha curado, ele afirma: “O homem chamado Jesus, fez lodo, untou-me os olhos e disse-me: vai ao tanque de Siloé e lava-te: então fui, lavei-me e estou vendo” (Jo 9.11). Ele percebe que Jesus era especial, mas isto não o aproxima de Jesus.
B. Jesus é visto como um profeta –“Que dizes a respeito dele, visto que te abriu os olhos? Que é profeta, respondeu ele”(Jo 9.17).
C. Por último, Jesus é visto como alguém a ser adorado - “Ouvindo Jesus que o tinham expulsado do templo, encontrando-o lhe perguntou: Crês tu no Filho do Homem? Ele respondeu: Quem é, Senhor, para que eu nele creia? E Jesus lhe disse: Já o tem visto, e é o que fala contigo, então, afirmou ele: creio, Senhor, e o adorou”(Jo 9.38).

Conclusão:E você, o que diz acerca de Jesus? Você já compreendeu quem é Jesus?
Que relacionamento você tem tido com ele?
Como alguém que é um homem especial, um místico, ou um profeta?
Você já sentiu o toque dele como o cego de nascença?
Você já viu as suas mãos perfuradas como Tomé?
Você o tem adorado? Reconhecido sua divindade? Aquilo que ele realmente é?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

DEUS, SURPREENDA-ME NOVAMENTE! MC. 8:22-26

Existe uma frase num casaco fabricado em Londres que diz: “Nós temos estado neste serviço por 103 anos. Temos sobrevivido a depressões, guerras, recessões e tempos de prosperidade. Já fomos assaltados, saqueados, quebrado por vandalismo, queimado e muitas vezes nos sentimos frustrados. Já vivemos em tempo de prosperidade e de falta, nós já entramos em concordata, e também tivemos excelentes lucros. Nós permanecemos abertos porque não queremos perder o que vai acontecer aí pela frente”.
Certo homem ao ler esta frase escreveu abaixo dela: “Senhor, surpreenda-me novamente. Não me deixe perder o próximo capítulo”.

Contexto:Este texto relata uma cura de Jesus, feita de forma parcial, incompleta. Diferente de tudo quanto usualmente fazia. Jesus faz uma cura por etapas. No primeiro momento a cura parece não ser efetiva, já que a percepção do cego revela-se profundamente obnubilada e só então, Jesus toca novamente no cego e ele passa a ver claramente.
Hermeneuticamente este texto provoca uma pergunta imediata no leitor: “O que este texto nos quer ensinar?”. Sabemos que parábolas, sinais e milagres, são didáticos; visam não apenas trazer cura e alivio ao que sofre, mas contém ensinamentos que visam ensinar os discípulos sobre a forma como o Mestre agia.
Portanto, este texto sugere como ser o encontro de um homem com Deus. Revela a dura realidade de gente tocada pelas mãos divinas mas que ainda continua com atitudes imperfeitas e visões parciais e obscuras da vida. Este texto nos diz que o encontro parcial com Deus não é suficiente, que é necessário mais; mostra que a cura de nossas angústias pode não ser curada em um contacto único com Deus. É necessário mais.
Agostinho (396-430) se converteu a Cristo numa experiência maravilhosa, mas ainda assim as lutas e tentações continuavam. Por várias vezes sentiu-se muito fragilizado e atraído pelas coisas que praticara na sua vida pregressa. No livro de confissões declara o seguinte: “Oh amor que arde em chamas, incendeia-me! Tu ordenas a moderação. Concede o que ordenas e ordena o que queres!”. Ele sabia que precisava que Deus continuasse operando em sua vida.
Este texto aponta para gente assim, que apesar de ter sido tocada por Deus, ainda continua caminhando com uma visão obscura e uma percepção limitada do que acontece ao redor. Quando as coisas estão desta forma, o resultado reflete numa ética distorcida, em relação à necessidade de amor às pessoas, de agir nos seus negócios, de cuidar de sua família e de tratar sua sexualidade.
O texto diz que aquele homem recobrou sua visão, pois é esta a declaração do texto: “Este, recobrando a vista…” (Mc 8.24). Não se pode dizer que ele é ainda um cego. No entanto, quando fala do que vê, percebemos imediatamente que sua visão é totalmente confusa, já que afirma: “Vejo os homens, como árvores os vejo andando” Não podemos dizer que ele é cego, porque não é, já que possui rasgos da luz e consegue perceber movimentos e interpretar parcialmente as coisas que encontram-se ao redor; não podemos porém, dizer que vê, porque sua visão é completamente fragmentada. Vê com limitações, tem percepções parciais, faz julgamentos errados: “Como árvores os vejo andando”. Esta é uma visão confusa, porque nem árvores andam, nem homens se parecem com árvores.
Certo membro de uma igreja local no Pernambuco procurou o Rev. Walmir Soares, de Recife-PE para conversar. Ele tinha uma ética muito frouxo e era muito relaxado com sua fé, e disse o seguinte ao pastor: “Ore por mim, porque sou um crente muito sem vergonha...” E o Rev. Walmir lhe respondeu: “Não existe crente sem vergonha, mas sim alguns sem vergonhas que se dizem crentes”.
Jesus vai nos ensinar neste texto, como muitos podem ter sinais de luz, frestas de visão, e ainda assim, viverem de forma incompleta, imperfeita, enxergando e julgando tudo que acontece de forma equivocada e confusa. Enxergam a luz, mas tal luz ainda não é suficiente para trazer clareza às suas mentes, ainda o fazem de forma limitada e confusa.

Este texto nos revela como Jesus vai lidar com pessoas que ainda vêem pela metade.

1. Jesus faz uma pergunta: Esta pergunta deve ser respondida sinceramente. Este homem podia dizer: “Tá tudo ok, obrigado Senhor!” E voltar para casa com uma percepção nublada. Imagine como seria confusa sua vida daí para a frente. As pessoas perceberiam que ele não estava enxergando bem, ele ficaria também confuso com as coisas que via. Mas a cura continua neste homem quando sem nenhuma crise diz: “Estou vendo de forma confusa”.
Uma outra tradução traduz da seguinte forma: “começando a ver ou levantando os olhos”(BJ). O que cura este homem é a confissão, a percepção crítica de que sua visão estava ruim. A cura se inicia aí neste ponto: “Eu te vejo oh Pai, mas percebo as coisas ainda de forma confusa”. Jesus pergunta: “vês alguma coisa?” e o homem expõe toda sua deficiência.
Precisamos estar atentos quando isto acontece conosco. Ao ser confrontado por Jesus responda honestamente: “Estou vendo Senhor, já vejo luz, já vejo sol, já vejo árvores, mas sei que algo ainda está confuso em minha alma, não estou vendo claramente. Eu não sei Senhor, mas estou desejando algo novo na minha vida, eu preciso disto”. Quando agimos assim, estamos nos abrindo para que o processo da restauração continue em nossas vidas. Muitas pessoas se contentam com uma visão parcial. Não é sem razão que existem tantas pessoas envolvidas em comunidades cristãs enfrentando dilemas éticos profundos.

2. Deus precisa tocar novamente em você - Muitos param no primeiro toque, se contentam em viver de forma limitada a vida que Deus tem prometido. Deus promete abundância mas as pessoas se contentam em viver com limites que não fazem parte do projeto de Deus para nossas vidas.
Há muita coisa equivocada na teologia pentecostal , mas há algo que gosto de pensar: Eles estão sempre aguardando uma segunda benção que chamam de “Batismo do Espírito Santo”. Quando você vive na expectativa de que Deus ainda tem algo novo para ministrar ao seu coração, a tendência natural é buscar mais de Deus, em não se conformar com seu status atual. Por esta razão, A. W. Tozer afirmou: “Estou perfeitamente consciente de que necessito de mais graça. Envergonho-me de não possuir uma fome maior... tendo sedo de tornar-me mais sedento ainda”. Toda atitude de adoração deve estar sempre voltado para a possibilidade de que Deus nos surpreenda mais uma vez, com o seu toque ou com sua operação em nossas vidas. Nossos cultos dominicais deveriam também gerar este sentimento de expectativa em nós. “O culto começa com santa expectativa e termina com santa obediência” (Karl Barth).
Embora devamos crer que alguém nascido de novo terá novas e subseqüentes experiências no Espírito, devemos entender que “encher-se do Espírito” deve ser a contínua busca da alma, não devemos parar a busca e consagração quando tivermos a primeira ou alguma profunda experiência. Devemos ter mais expectativa: buscar mais e aguardar mais do Senhor!
Acho que esta expectativa pentecostal, leva a uma busca mais profunda de Deus. Quando não aguardamos nada do Senhor, temos a tendência de cair numa atitude de rotina da fé cristã. Uma das atitudes da Igreja Primitiva, antes de serem visitadas pelo Espírito Santo em At 2, é que estavam buscando a Deus (At 1.14; 2.1).
Este texto nos aponta para o fato de que devemos buscar mais de Deus, desejando sempre que ele nos surpreenda novamente, como o óleo santo de sua graça e unção. Pessoas que discernem a confusão de sua visão e percebem o quanto ela ainda é parcial procuram o Senhor, desejando que ele as toque novamente!
Precisamos ver claramente. Precisamos distinguir de forma perfeita: Ter juízo de valores, julgamento e ética que reflitam a visão do Reino de Deus. “Se a luz que há em ti são trevas, quano grandes trevas serão”.
Nossas conversões são parciais e precisam aprofundar:
A. Devemos nos converter ao Deus vivo e verdadeiro – Isto se dá quando abandonamos os deuses falsos, paramos de orar para objetos, imagens e coisas, deixamos de invocar espírito de mortos e passamos a invocar o Espírito Santo, quando não mais oramos para outros intercessores além de Jesus Cristo, o único mediador, O Filho do Deus vivo, quando rejeitamos instruções demoníacas que recebemos de heranças paternas e maternas e buscamos o Deus verdadeiro. Esta etapa é fundamental…
B. Devemos também nos converter do nosso EGO para DEUS. Tiramos nosso ego do centro e colocarmos Deus. Isto implica na conversão de minhas vontades à vontade de Deus, quando Jesus passa a ser Senhor de minhas vontades, sonhos e desejos. (Jesus é o Senhor, eu sou o servo). Devemos converter nossos planos a Deus. Nossos sonhos devem estar submetidos aos sonhos de Deus para a minha vida.
C. Devemos converter nosso bolso – O Bispo Paulo Ayres de Recife afirma que “o bolso é o último a se converter e primeiro a esfriar”. Quando o povo de Deus estava saindo do Egito, Faraó fez a seguinte proposta ao povo de Deus: “adorem, mas não levem seus bens”. É assim que muitas pessoas ainda querem adorar a Deus. Sem trazer seus bens e seus tesouros. É bom lembrar que “fé que não custa nada não vale nada. Quando Davi queria construir uma altar para o Senhor, um homem que gostava dele ofereceu doar as coisas para que Davi fizesse a oferenda, mas ele respondeu: “Não vou me ofertar para Deus aquilo que não me custa nada”.

3. Volte para casa, distinguindo as coisas de forma perfeita – Esta é a terceira lição que este texto nos apresenta. É uma tragédia voltar para casa sem que a visão esteja correta. Jesus só ordenou que este homem retornasse à sua família, depois que ele passou a distinguir as coisas de forma clara (vs. 25). Pessoas que só tiveram uma experiência inicial, ao retornarem para suas casas, causam muita discussão na vida domestica. Volta enxergando sem clareza, já que não é mais cego, percebe-se que alguma coisa mudou; mas as coisas ainda estão sendo vistas de forma confusa, embaçada.
É o que acontece com maridos que voltam para casa, depois de um encontro com Jesus, vendo as coisas de forma parcial, quando chegam nas suas casas batem tropeçam na escada, pisam em cima de objetos pelo caminho, batem no portal e então sua esposa e filhos olham e perguntam: “O Senhor está vendo mesmo?”, e ele responde. Claro! E logo em seguida tropeça na mesa. Então os membros da família perguntam: Afinal, você está vendo ou não?
Experiências assim são parecidas com a do meu cunhado, quando ainda pequeno nas praias de Itanhaém-SP, que foi salvo de um afogamento. Quando as pessoas o trouxeram para fora, tão logo ele recuperou do acidente, sem perder a pose afirmou: “Estou afogando, mas tô nadando…”. Na verdade, sem o socorro ele estaria morto, mas não podia perder o controle da situação e dizer que estava tudo bem.
As pessoas trouxeram este cego a Jesus por que ele não conseguia ver. Agora, tocado por Jesus, precisa recuperar totalmente sua visão.

Conclusão: Este texto nos fala das etapas necessárias nesta obra que deus precisa realizar em nós:

a. Recobrando a visão – O termo usado no grego é “anablepein” que nos ensina que este homem talvez tivesse apenas restaurado a função dos olhos, sem que a ação tivesse atingido seu cérebro.
b. Uma etapa posterior deveria agir no sistema Nervoso Central, dando capacidade ao cérebro para que tivesse uma percepção mental daquilo que os olhos captavam. Não apenas ver, mas decodificar. Isto aponta para o fato de que a possibilidade de enxergar as coisas de forma clara, só vem de Deus . Ele precisa operar em nossa mente, fazendo uma mudança interior profunda, que a Bíblia chama de novo nascimento. Uma operação do Espírito Santo em nossos corações.
Não pense que porque teve um toque não é necessário que Deus novamente intervenha. Pelo contrario, Deus precisa constantemente fazer novas mudanças, capacitando nossa visão. “Aquele que começou boa obra em vós, há de completá-la até o dia de nosso Senhor Jesus” (Fp 1.6). Deus já colocou suas mãos nos olhos (Mc 8.25), mas precisa agir novamente para que sua visão não seja parcial.
“Senhor, surpreenda-me novamente”.

Samuel Vieira
Boston- 1998/Jan.
Refeito e pregado em Anapolis- Nov 2011

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Como ter uma vida plena? Fp 3.12-16

Introdução:
Estudiosos do comportamento humano afirmaram que Paulo foi o homem mais feliz do mundo por sua declaração: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação”.
Não é fácil viver uma vida de contentamento. Com muita facilidade nos tornarmos amargos com as vida e com as pessoas, cínicos em relação ao mundo e descrentes em relação à Deus. O pregador afirma: “Eis o que tão somente achei, que Deus fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec 3.8). Por causa da natureza caída da raça humana, por causa das decisões erradas que assumimos, por sofrermos pela atitude de outras pessoas em relação à nossa própria vida, facilmente nos tornamos pessoas amarguras e ressentida. Perdemos nossa alegria e contentamento. Temos muito mais nos sentimos pobres, somos abençoados, mas ficamos procurando razões para tristeza, consumidos por sentimento de inadequação, incompletude, frustração, raiva e tristeza. Perdemos a simplicidade do evangelho e a da vida.
Neste texto, Paulo faz algumas declarações sobre sua própria experiência. Queremos entender como este homem que viveu tantas frustrações, perseguições, foi acoitado varias vezes, envolveu-se com atitudes nada licitas e algumas delas deploráveis, aprendeu a “viver contente em toda e qualquer situação”. Eis alguns dos princípios que norteavam sua vida:

1. Caminhe para conquistar, mas sinta-se conquistado – Fp 3.12 Eu já sou amado de Deus. Não preciso temer nada. Boa parte de nossa vida nos sentimos devedores. O texto, porém, nos afirma que já fomos conquistados... Devemos apenas prosseguir. Caminhando na compreensão da graça de Deus. Ele não nos convida para um relacionamento de cobrança, mas amor; medo, mas liberdade.
Esta é a propulsão da graça. O evangelho faz você entender o grande amor de Deus. Se coração tem sido tocado por isto?
O Evangelho nos comunica a mensagem de um Deus nos chamando para um relacionamento de amor. “...Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13.1). Este é o princípio do Evangelho: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19). Somos convidados para um relacionamento de afetividade. Este amor de Deus nos leva a responder a sua bondade a nós ministrada.
O que faz de minha vida significativa é a graça de Deus. Quando os discípulos retornaram de sua viagem missionária em Lc 10, eles estavam muito empolgados com os resultados. “Até os demônios se nos submetem pelo teu nome”. Haviam descoberto o potencial de poder e a autoridade que tinham no nome de Jesus, mas Jesus coloca seus corações no lugar certo ao afirmar: “Alegrai-vos não porque os demônios se vos submetem, e sim porque os vossos nomes estão arrolados no livro da vida” (Lc 10.17). A fonte da alegria é a compreensão do amor de Deus por nós.
Deus deseja que você aprecie a vida e não apenas a suporte. A verdadeira vida começa quando nos comprometemos inteiramente com Jesus Cristo.

2. Não fique amarrado ao passado – gente amarga não cresce na vida – “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam, prossigo para o alvo”. (Fp 3.13). O perdão de Deus não leva em conta quem você era. Paulo sabia disto, ele mesmo afirma que noutros tempos havia sido “blasfemo e insolente”, mas afirma que havia recebido misericórdia e chamado (1 Tm 1.12,13). O perdão de Deus não leva em conta o que você fez (At 17.30); O perdão de Deus nos é concedido pelos méritos de Jesus. “Conquistar aquilo para o que também já fui conquistado”. Esqueça as ofensas: perdoe como Deus perdoou. Deus não faz um registro de nossos pecados. Ao nos perdoar ele rasga o escrito de dividas que era contra nós.
O ano que passou pode ter deixado um rastro de boas razões para você desenvolver uma atitude de raiva, ressentimento e amargura pelo resto de sua vida. Traições, acusações, infidelidade, podem nos transformar em pessoas amargas.
Certa pessoa sempre comprava seu jornal diário numa banca de revista próxima de sua casa, mas o dono daquela banca era uma pessoa muito grossa e deselegante no trato. Um dia, ao fazer a compra, recebeu um destrato tendo um amigo do seu lado. Quando estavam indo embora ele disse:
-“Por que você não deu uma resposta à altura para aquele jornaleiro?”
Ele respondeu: - “Não me preocupo, ele sempre trata as pessoas desta forma”.
- “Por que você ainda continua comprando seu jornal aqui?”
Ele novamente respondeu: “Porque não quero que sua atitude determine minha resposta”.
Muitos são dirigidos pela culpa, vivendo de remorso e ocultando a vergonha. Permitem que o passado controle seu futuro. Muitos são dirigidos pelo ressentimento e pela raiva. Precisamos lembrar que aqueles que o magoaram no passado não poderão continuar a feri-lo, a menos que você se agarre à dor através do ressentimento.

3. Não perca o foco de sua vida: prossiga para o alvo. Só existe uma coisa realmente significativa: Deus. Gente sem foco vê muitos ângulos, mas não chega a lugar algum. Seu alvo não é ser rico, bem sucedido, mas santo. Não é ter significado ou ser bem sucedido? Mas andar com Deus. Afinal, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
Paulo diz: “Prossigo para o alvo”. Rick Warren afirma: “Você está tão perto de Deus quanto escolhe estar” (Vida com propósito, pg 79).
Qual é o foco de sua vida. Sua vida é construída como você a enxerga. A perspectiva que você tem determinará a maneira como investirá seu tempo, gastará seu dinheiro, usará seus talentos e valorizará seus relacionamentos. Como você vê a vida? Qual é seu alvo?
Henry David Thoreau observou que as pessoas vivem num “desespero silencioso”, ou numa “distração sem objetivos”. Sem um propósito claro para fundamentar as decisões, usar o tempo e empregar os recursos, ficamos sem alicerce.
Nada é mais importante que conhecer os propósitos de Deus para nossa vida. Sem um propósito, a vida não passa de um movimento sem sentido, uma série de acontecimentos sem sentido, por isto, edifique sua vida através de verdades eternas. Deus não é apenas o ponto de partida de nossa vida, mas é a fonte dela.

4. Não seja severo nem indulgente com você – Fp 3.16 “Andemos de acordo com o que já alcançamos” não sou nem mais nem menos, apenas aquilo que Deus me deu. Não preciso me comparar a ninguém.
a. Talentos? Não os enterre. A quem muito se dá muito se exige.
b. Recursos? Use-os de forma adequada. Aprenda a ser generoso (Ef 4.28). Invista na obra, no reino, na sua igreja. Por que você insiste em não cooperar?
c. Oração? Aprenda interceder pelos outros.
d. Evangelização? Testemunhe! Fale do amor de Deus às outras pessoas.

Conclusão:
Olívia trabalhava num emprego nos Estados Unidos, limpando sempre várias casas no mesmo dia. Ao terminar o serviço em uma, pegava o carro e ia para a outra casa. Durante 5 anos fazia o mesmo roteiro, voltando à auto-estrada, andando 2 milhas e virando à direita até o próximo domicilio. Um dia, porém, estavam reformando a estrada, e ela teve que descobrir outro caminho fazendo uma rota alternativa por dentro. Para sua surpresa, descobriu que as casas estavam muito perto uma das outra, cerca de 400 metros. Por não conhecer esta rota alternativa ela sempre dava uma grande volta.
O exemplo da Olívia mostra como podemos gastar tanto tempo andando em círculos, sem objetivo e sem descobrir o caminho mais simples. Esta rota alternativa já foi construída por Jesus, quando ele assumiu minha culpa e vergonha, morrendo em meu lugar. Ali descobri que o caminho de Jesus é mais simples, que seu jugo é suave e seu fardo é leve.

Culto de Vigilia
Dia 31.12.2011
Igreja Presbiteriana Central de Anapolis

1 Rs 13.11-26 O Aprendizado do Ministério

Introdução:
Hoje estamos aqui para a ordenação do irmão Giovanni Zardini, que recentemente completou todos os requisitos que nossa denominação exige para a ordenação de uma pessoa ao Sagrado Ministério. Giovanni teve que dar prova de chamado à sua igreja local, em Uruana-GO, sendo este chamado reconhecido pela liderança local ele foi encaminhado ao Presbitério de Ceres, aprovado seguiu para Goiânia onde cursou o Seminário Brasil Central dos anos 2007-2010, onde teve toda sua formação acadêmica, concluído o seu curso ficou um ano nesta igreja, sendo avaliado no seu chamado. Foi rigorosamente sabatinado pelo Presbitério de Anápolis ao qual apresentou uma tese de teologia, uma exegese demonstrando conhecimento básico das línguas originais em que foi escrito a Bíblia, submetido a perguntas em várias áreas pastorais: Vida cristã e testemunho, teologia bíblica e teologia sistemática, sacramentos, problemas relacionados à igreja e história da igreja (missiologia). Tendo sido aprovado, encontra-se agora, diante desta igreja do Senhor Jesus Cristo, Senhor desta igreja, para sua ordenação ministerial.
Escolhi este texto, porque o considero relevante para nossa reflexão sobre o chamado pastoral. É um texto sério, exortativo, e que nos leva a considerar quão importante é que aprendamos a viver dentro do chamado de Deus para nossa vida.

Este episódio se dá logo depois da divisão do reino do Sul e do Norte em Israel. Jeroboão insistiu para que os impostos diminuíssem. Roboão, porém, foi inflexível no seu reinado, e 10 tribos formaram um novo reino. Jeroboão, porém, não foi um rei piedoso, pelo contrario, fez bezerros de ouro, colocando-os um em Betel e outro em Dã, para que o povo viesse trazer suas oferendas. A Bíblia afirma que ele criou um sistema paralelo religioso: “A quem queria, consagrava para sacerdote dos lugares altos”. (1 Rs 13.33). Então Deus manda um profeta para confrontar seus pecados. Ao chegar ali, o profeta foi extremamente leal e zeloso, mas o final de seus dias não terminou bem, por sua desobediência.
Aprendemos com este profeta, que como homem de Deus, devemos discernir o falso do verdadeiro, e isto exige nossa atenção. Como viver de forma que glorifiquemos integralmente a Deus? Como não ser atraído por ofertas tentadoras que tiram o foco do chamado do nosso ministério?
Este texto nos fala de um profeta que exerceu até certo ponto, com fidelidade, o chamado do Senhor, mas se descuidou e por isto foi severamente punido. Pela vida deste homem, observamos que a vida pastoral precisa ser uma vida de aprendizado.

1. Aprender a não barganhar favores – (1 Rs 13.7).
Príncipes querem calar a voz dos profetas. Reis querem se aliar ao sagrado e controlá-lo. Jeroboão era um homem religioso, mas não tinha compromisso com a verdade, como temos tantos políticos por ai. Gente que gosta de trazer oferendas, dar ofertas, participar de quermesses, mas sem temor de Deus em seus corações. Fazem isto para satisfazer as entidades e aos deuses, e muitas vezes movidos por culpa por suas perversidades.
Alguns anos atrás, um diácono da minha igreja esteve envolvido numa campanha para levantar recursos para a construção de um hospital evangélico. Não demorou para que um bicheiro resolvesse trazer US$ 10 mil dólares para ajudar, e quando ele soube da fonte do dinheiro recusou.
Existem muitos reis e políticos, que assumem a atitude do “politicamente correto”, acendendo uma vela para Deus e para os demônios, mas querem domesticar os profetas.
Quando Jeroboao convidou o profeta para vir ao palácio, assentar-se á sua mesa, receber honras, isto provavelmente nos agradaria muito, ele recusou. Recebera ordens do senhor para não se aliar.
Podemos ser levados para zonas de conforto perigosas. E para aprender a discernir o falso do verdadeiro, precisamos tomar cuidado para não barganhar, não negociar o sagrado, não rifar Deus por ofertas e sugestões tentadoras. Não trocarmos nossa primogenitura e ministério por um mero prato de sopa de lentilhas.

2. Aprender a discernir vozes – Se num primeiro momento, vemos o profeta assumindo uma atitude corajosa, recusando benesses e gratificações reais, noutro momento, vemos o profeta envolvendo-se numa enrascada imensa porque confundiu as vozes que lhe falavam. Como isto é perigoso nos dias de hoje.
Um velho profeta o engana. O texto é auto-explicativo. Deus dera uma palavra bem clara, mas aquele homem titubeia no que ouviu do Senhor e segue o ancião, travestido de sacralidade, dando ouvido a sereias. “Também eu sou profeta e um anjo me falou” (1 Rs 13.18). Tome cuidado com “velhos profetas” que ouvem vozes de anjo e falam em nome de Deus. Tenha cuidado para discernir a voz de Deus.
Paulo afirma: “Ainda que venha um anjo do céu e traga outra mensagem diferente da que vos tenho entregue, seja anátema!” (Gl 1.8). Vivemos dias em que a Palavra de Deus tem sido profundamente relativizada e homens tem dado profecias da carne dizendo terem ouvido tais vozes do Senhor. Precisamos interpretar corretamente a Palavra de Deus e sermos leais ao seu conteúdo para não sermos enganados por homens que dizem ouvir vozes de anjo e que se auto intitulam de profetas. Nosso critério seguro é a Palavra de Deus, de tal forma que ao nos levantarmos do púlpito devemos dizer: “Esta é a palavra de Deus – Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz à igreja”. Sabemos que nem todos ouvirão a Palavra, e que muitos a rejeitarão e até mesmo sentirão “como que coceiras no ouvido”, diante de suas verdades, mas somos chamados para sermos ministros da Palavra, e assim devemos viver dizendo: “Esta é a voz do Senhor! Assim diz a Palavra de Deus!”
O Imperador Carlos V inaugurou a Deita de Worms em 1521. Lutero foi chamado ao temido interrogatorio no qual poderia ser condenado à morte se fosse considerado heretico. Ali foi pressionado a renunciar ou confirmar seus escritos. No dia 16 de Abril, apresentou-se diante da Dieta quando Johann Eck, mostrou a Lutero cópias de seus escritos e lhe perguntou-lhe se eram seus e se ele acreditava naquelas afirmações. Quando Eck disse: "Lutero, repele seus livros e os erros que eles contêm?", sua resposta foi:
"Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão - porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos - pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável. Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude!”.

3. Aprender a focar no seu chamado – Não se distrair.
Um dos pecados deste profeta foi distrair-se com propostas e perder o foco. A Palavra de Deus lhe fora clara, nada poderia desviá-lo, no entanto ele não se manteve firme naquilo que sabia ser a verdade.
Profetas eram conhecidos no Antigo Testamento por serem “Bocas de Deus”. Tinham o chamado para transmitir os oráculos divinos. Paulo afirma que somos “despenseiros dos mistérios de Deus” (2 Co 4.1). Cuidamos da despensa, onde ficam os tesouros inesgotáveis da revelação dada por Deus.
Muitas vezes somos incitados a condenar pessoas e julgar os outros. Esta é uma grande tentação do ministério. Mas a verdade é que não trabalhamos no Ministério da Justiça, que fica no 2º. Andar. Nossas atividades encontram-se no andar de baixo, no ministério da comunicação. Somos chamados para traduzir o pensamento de Deus na cultura e geração que Deus nos chamou para viver. O que se espera dos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel. Então, precisamos ser leais àquilo que Deus nos chamou a fazer.
O problema pastoral é uma questão de foco.
Vemos pastores estressados com muitos compromissos que não atendem à agenda divina. São distrações. Pastores que se perdem em entretenimento mas não sabem muito bem seu chamado no ministério. É possível passar o dia inteiro envolvido com atividades e ainda assim não estar cuidando do rebanho e daquilo que Deus nos chamou para fazer. São programações, eventos, internet, atividades não ligadas ao chamado de Deus que é de orar e pregar o Evangelho, a exercer o Ministério da oração e da Palavra. Perdemos o foco, nos distraímos e gastamos energia em coisas para as quais Deus não nos mandou realizar. Nos tornamos burocráticos em nossas atividades e nos tornamos executivos de almoxarifado.
Ao ser chamado para se encontrar com representantes do rei, gente que queria distrair Neemias de suas funções, ele disse: “Estou fazendo uma grande obra. Não posso parar”. Não dá para gastar energia em atividades que não estejam colaborando e edificando a igreja de Cristo. Este é um grande desafio para pastores, ter foco concentrado. Saber o que foi chamado a fazer e cosntruir sua agenda em torno deste chamado.
Foco significa, atenção concentrada, não dividida.
Paulo tinha esta idéia em mente, e chegou a sugerir que obreiros não se casassem para dar mais tempo ao ministério: “O que realmente eu quero é que estejais livres de preocupações. Quem não é casado, cuida das coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor” (1 Co 7.32). Soube recentemente, que um dos maiores líderes cristaos do Sec. XX, Dr. John Stott, decidiu não se casar para ter mais tempo para a obra de Deus.

Conclusão:Para quem está começando o ministério, é bom lembrar que não conta como começamos, mas como terminamos. Estou fazendo 31 anos de ministério, por onde tenho passado Deus tem cuidado de minha vida e de meu testemunho, mas eu ainda não cheguei ao final da minha vida. Preciso continuar firme. “Aquele que perserverar até o fim, este será salvo”. Nossa carreira cristã e nosso ministério não se encerra na ordenação, bodas de prata ou jubilação, mas quando chegarmos ao trono de Deus e pudermos declarar: “Combati o bom combate, completei a carreira e guardei a fé”, e depois ouvirmos o Senhor disser: “Foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei, entra no gozo de teu Senhor”


Que Deus nos abençoe!

Ordenação Giovanni Zardinni
Dia 01 Janeiro 2011 – 19.30 – Igreja Presbiteriana Central de Anápolis.