Introdução:
Seguir a Cristo é o maior projeto de vida. Todos construímos projetos de vida, mas certamente este é o mais importante e que requer uma dose maior de compromisso se quisermos segui-lo. Prioritariamente não fomos chamados para ser religiosos, isto é, nos vincularmos a uma determinada denominação, apesar de que esta é uma necessidade se quisermos viver num corpo. Prioritariamente também não somos chamados para sermos membros de uma igreja, embora isto inevitavelmente aconteça quando você ama a Jesus. Mas, prioritariamente, nosso chamado é para sermos discípulos.
Neste texto Jesus estabelece alguns princípios básicos para o discipulado. Ele faz três exigências para seus seguidores:
1. Negue-se a si mesmo;
2. Tome a sua cruz;
3. Siga-me.
Antes de tudo, precisamos considerar que discipulado é opcional - “Se alguém quer vir após mim”.(Mc 8.34). Ninguém é forçado a ser discípulo de Cristo. Somos chamados a isto, podendo ou não atender o convite. Existe aqui um elemento volitivo, da vontade. Ao mesmo tempo sabemos pela Bíblia, que Deus chama, elege, vocaciona, e somos desafiados também pelas Escrituras a nos levantarmos em resposta a este chamado.
Agostinho faz a seguinte colocação: “Quando Deus se agita, o homem se levanta”. Deus inicia o processo, e o homem precisa responder a este chamado divino.
Infelizmente tenho visto muitas pessoas, amigas do Evangelho, que não querem o compromisso de seguir a Jesus. Não sentiram ainda vontade de seguir a Jesus. “Se alguém quer vir”. Sem esta decisão, sem este passo, sem este querer, você pode continuar o resto da vida sem se tornar um discípulo de Cristo, já que o discipulado é opcional. Deus não vai estuprar sua consciência, sua vontade, não vai forçá-lo a ser aquilo que você não quer ser. “Se alguém quer vir”.
Muitas vezes Jesus exigiu daqueles que o admiravam um compromisso. Em Jô 6.66-68 foi muito objetivo e claro, quando percebeu que seus seguidores titubeavam em relação a um compromisso radical: “quereis também v’os outros retirar-vos?”
"Devemos dizer "não" por decisão pessoal – devemos morrer para o ego – na época em que estamos em pleno viver ativo, quando temos capacidade de desejar as coisas e de desfrutá-las. Esta "morte" não deve ser nem adiada, nem recuada, e nem ainda deve ser considerada como pertencendo somente ao momento da morte física" Francis Schaeffer
1. “Negue-se a si mesmo”. Para seguir a Cristo, precisa haver uma luta contra a autonomia do meu Eu - Precisa haver renuncia àquilo que mais amo e tento preservar, o meu próprio Eu. É necessário que eu me descentralize do meu próprio eu. Tudo que estiver relacionado ao meu Eu: auto promoção, auto centralização, auto glorificação.
Pedro negou a Jesus dizendo: "Não o conheço". Negar a si mesmo é dizer: "Não me conheço". O grande mal nosso é acharmos que somos o centro do mundo e que tudo deve girar em torno de nós. Isto vai contra todo o sistema moderno de educação. Os livros de auto ajuda lotam nossas bibliotecas e livrarias, todos eles exigindo autenticação do eu, exaltação do eu, e Jesus agora pede para que eu negue a mim mesmo.
A submissão é algo desprezível para nossa mente egocêntrica: Chuck Swindol escreveu famoso livro cujo titulo era: "Eu um servo? Cé tá brincando?". No entanto, Jesus disse: "Todo aquele que dentre vós não renunciar a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo" (Lc 14.33). O homem que vive em torno de sua própria glória, fracassa como discípulo.
Negar a nós mesmos é viver em Cristo e para Cristo. Jesus passa a governar nossa mente, vontade, desejo e emoções, porque eu submeto minha vida, sonhos e desejos a Ele. Eu o convido, de forma espontânea e volitiva para que ele venha e assuma o lugar central de minha vida que hoje pertence a mim. Eu abro mão de meus direitos e desejo que os direitos de Cristo sejam os meus.Eu abro mão de minha autonomia. Trago minha mente em submissão a Jesus para que ele a governe.
Orgulho é o pecado básico da raça humana. Ele impede que a gente glorifique a Deus, preferindo colocar nosso próprio Eu no centro de toda a atitude. Quando eu me julgo melhor, mais correto, mais justo, não consigo ver a gravidade de meu mal. Em razão disto, passo a ser exigente e demandar mais e mais atenção das pessoas que estão ao meu redor.
Um dos textos mais lindos que já li, foi escrito no ano de 1555. Preste atenção no seu conteúdo:
Uma carta de Jesus àqueles que o amam
John of Landsberg
Uma coisa que da qual eu gostaria de adverti-lo de forma especial é sua constante tendência ao desencorajamento e frustração, pois você se desespera ao perceber ao perceber o peso de suas faltas e que suas firmes resoluções em fazer as coisas de forma diferente redundaram em nada. Eu conheço o seu humor quando você se assenta sozinho, ou se levanta infeliz, em um puro estado de tristeza. Você não se move em minha direção, mas desenvolve um sentimento de que tudo o que você fez, todo o seu esforço redundou em perda e esquecimento. Este sentimento que se confunde com o desespero e com a auto piedade na verdade é uma forma de orgulho. Você fundamentou-se numa forma de segurança que o levou a queda, por você confiou na sua força e habilidade. Profunda depressão e perplexidade de mente freqüentemente seguem a perda da esperança, e isto decorre do fato pelo fato de você se firmou em coisas que não aconteceram como você esperava e queria. Na verdade, eu não quero que você ponha sua confiança nas suas forças, habilidades e planos, pelo contrário, quero que você desconfie destas coisas e de você mesmo, e ponha a sua confiança em mim, e nada mais. Quanto mais você confiar em você, mais você se tornará escravizado entristecido. Você ainda tem uma lição mais importante para aprender: Sua confiança própria não o ajudará a se manter firme. Você está se firmando num pé quebrado. Você não deve perder a esperança em mim. Você precisa esperar e confiar em mim, absolutamente. Minha misericórdia é infinita.
Jesus afirma que "se o grão de trigo não morrer, fica ele só". Morte é esmagamento, trituração. É parto, é dor, é grito. Mas, "se não morrer", não pode produzir frutos (Jo 12.24). No entanto, nossa vida é uma tentativa constante de afirmar o nosso Eu, de lutar pela sobrevivência do nosso Eu, de nos afirmarmos. Jesus nos convida a crucificar o nosso Eu. Na verdade, a única forma de sobrevivência, é a nossa desistência. O único caminho para nossa glorificação é a morte, e único jeito de viver é morrer com Cristo. "Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena"" (Cl 3.5).
2. Tome a sua cruz - Muitos interpretam erroneamente a expressão que vem a seguir: “tome a sua cruz”. Quando se deparam com o sofrimento, dificuldades e tribulações afirmam que esta é a sua cruz. No entanto acredito que a cruz a ser tomada, é a negação do eu: A renúncia dos meus direitos por causa de Cristo.
Os místicos cristãos da Idade Média costumavam orar diariamente: “Senhor, livra-me de mim mesmo”. Quão difícil nos é dizer de fato como João Batista: “Convém que ele cresça e eu diminua”. Em geral queremos afirmar nosso eu, mostrar nossa capacidade e competência. Por isto uma tradução correlata deste texto diz o seguinte: “Se alguém quer vir após mim, a se mesmo se negue, dia a dia”. Esta nossa luta será diária. Diariamente teremos que colocar nosso EU em rendição ao Senhor.
Não é uma tarefa fácil. A Bíblia nos ensina a apresentar os nossos corpos como sacrifício vivo. O problema do sacrifício vivo, é que quando ele é colocado no altar, muitas vezes sai correndo, não querendo estar naquele lugar.
3. “Siga-me” - Ser discípulo de Cristo envolve um caminhar na sua filosofia de ser e viver. Uma tradução diz: "Se alguém quiser andar nos meus passos". Isto significa identificar-se com Jesus. Ser discípulo é seguir o seu Mestre, andar nos seus passos.
Alguns anos atrás, um estudante muito relaxado ficava se exaltando por ter sido aluno de um professor muito famoso e exigente. Quando este professor o soube, afirmou em tom de severidade: "Freqüentou as salas de aula, mas nunca foi meu discípulo". A Igreja na verdade tem muitos seguidores, mas poucos discípulos.
Jesus afirmou de forma clara: “vós sois meus discípulos se fazeis o que vos mando”.Este negócio de construir uma vida ao seu próprio estilo, esquecendo-se do estilo de vida que Jesus exige de nós revela que não somos discípulos. O discípulo quer pisar nos passos de Jesus, quer seguir seus ensinamentos, quer pagar o preço da obediência e do sacrifício, mas sua filosofia de vida é a filosofia de vida do mestre.
Ser discípulo de Cristo envolve uma compreensão do significado e valor da vida eterna – Porque a seguir, Jesus entra na questão da vida eterna e suas implicações. Jesus faz no vs 36 e 37 duas perguntas fundamentais para a alma humana:
A. Que aproveitaria ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
B. Que daria um homem em troca de sua alma?
Estas duas perguntas são cruciais: Jesus afirma que quando o seguimos, entendemos a natureza e as implicações de seu chamado. Entendemos que estamos lidando com coisas eternas e não podemos procrastinar, adiar, ou atrasar uma decisão. Não podemos nos descuidar. Quem entende as implicações do chamado de Cristo, já considerou a benção que é seguir esta vida tendo conosco a segurança trazida por Jesus. A Bíblia nos afirma que fomos resgatados, não por coisas corruptíveis como prata ou ouro, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro, sem defeito e sem macula, o sangue de Cristo (1 Pe 1.18-19).
O que daria você em troca de sua alma? Nenhuma posse dura para sempre, e nenhum ganho é eterno.Uma pessoa em Brasília, possuidora de muitos bens, cujo ganho chega a fabulosa quantia de 170 mil dólares por mês, afirmou certa vez estar angustiada, por perceber que a morte vai um dia chegar. Isto é, ao chegar a hora de desfrutar suas conquistas financeiras, entra em crise por causa delas. Percebe a volatilidade dos seus bens, a fragilidade de seus pressupostos. Enfrenta a crise pontuada aqui por Jesus: “Que aproveitaria ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
Ser discípulo envolve uma entrega sem receios, e uma afirmação corajosa – “qualquer que se envergonhar de mim e de minhas palavras” (Mc 8.38). Discipulado tem que ser algo de que não podemos nos envergonhar, e Jesus estabelece duas linhas de ação: De mim e de minhas palavras.
A. Envergonhar-se de Cristo – Não ter vergonha em dizer que pertence a Jesus, assumir-se como servo de Cristo, sair da condição de seguidor oculto e tornar-se alguém publicamente reconhecido como discípulo de Jesus. A Bíblia fala de Nicodemos que “veio ter de noite, com Jesus”. Existem muitas pessoas que temem a explicitação da sua fé. Temem perder a popularidade, temem a critica publica. Existem pessoas que não vêem a igreja porque são de famílias tradicionais e não querem ser vistas ouvindo a Jesus. O compromisso com Jesus exige que você se exponha.O Batismo é um testemunho de fé, por isto deve ser feito publicamente e não num local escondido.
B. Envergonhar-se das palavras de Cristo – Não ficar intimidado com o conteúdo das mensagens de Jesus. Conta-se que certa feita perguntaram ao Rev Billy Graham, se ele realmente acreditava na seriedade do texto bíblico que afirmava que Jonas havia sido engolido por um grande peixe, ao que ele teria respondido: “Se a Bíblia me dissesse que foi Jonas quem engoliu um grande peixe, ainda assim acreditaria”. Num mundo plural e relativista como o nosso, os princípios da Palavra de Deus são muitas vezes tão criticados, a palavra de Cristo muitas vezes escandaliza. Paulo afirmava: “Não me envergonho do Evangelho, porque é o poder de Deus para salvação de todo aquele que nele crê”.
Ser discípulo de Cristo é viver sempre, na santa expectativa de que o poder do Reino de Deus caminha entre nós – (Mc 9.1) Discipulado envolve uma compreensão de que sua vida é sobrenaturalmente cercada pela presença de Deus. Isto implica em não levar a vida baseada em não em si mesmo, mas no poder que emana de Deus. Esta promessa de vida abundante, de experiências sobrenaturais, de experimentar o reino de Deus na sua dimensão mais profunda, não é só para a outra vida, mas é algo prometido para antes da morte. “Alguns há que, de maneira nenhuma, passarão pela morte até vejam ter chegado com poder o reino de Deus” (Mc 9.1). Discípulo é alguém que vive cercado pelas possibilidades da sobrenaturalidade, conta com a intervenção sobrenatural de Deus na história, se vê participando de um projeto no qual o reino de Deus faz todo o sentido.
Conclusão:Tudo isto se inicia com uma decisão. “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo”. Você gostaria de seguir a Jesus, na sua radicalidade mais profunda? Pagar o preço do discipulado renunciando sua vida para que a vida dele se revele na sua vida? Se você deseja tomar esta decisão ele está dizendo que, “Quem quer perder a vida por causa de mim e do Evangelho, salvá-la-á” (Mc 8.35).
Esse estudo é maravilhoso!
ResponderExcluirExcelente este estudo, Deus abençoe aos responsáveis
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