quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Is 43.14-25 Feliz Ano Novo?




Introdução:


Várias coisas já foram ditas sobre o ano novo:
è O escritor Inglês Charles Lamb afirmou que ninguém observa o primeiro dia de janeiro com indiferença.
èNo final do ano é fácil reconhecer a diferença entre o otimista e o negativista. O otimista fica acordado até meia-noite para ver a entrada do ano novo, o negativista fica acordado para ter a certeza de que o ano velho se foi (Bill Vaughn).
èMuita gente fica ansiosa e apreensiva com a chegada do ano, como no conhecido caso da velhinha de Siracusa, que no dia da morte do tirano que governava seu país por muitos, andava chorando enquanto o povo estava em festa. Indagado porque chorava ela respondeu: “Este que estava aí, pelo menos a gente conhecia, mas o que virá ninguém sabe como é”.
èHá também muita gente ansiosa e apreensiva, porque um ano novo representa uma expectativa de insegurança.
èMuitos soltam fogos nesta época do ano para abafar o barulho do seu próprio coração, cheio de ansiedade, preocupações e medos.
èOs seres humanos gostam de encontrar um futuro previsível, por isto andam atrás dos futurólogos, videntes, xamãs, adivinhadores, mas se existe uma coisa que a vida não dá é previsibilidade. “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor”.

No texto que lemos, Deus está tentando dizer algo ao povo sobre o uso do tempo. Como lidar com o passado e futuro.
Sobre o passado: Ele exorta seu povo para que esta página seja virada: “Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas” (Is 43.18). Passado pode servir como experiência, mas apegar-se ao passado, em geral é dramático.
Sobre o futuro: Ele nos convida para que fiquemos atentos às oportunidades que oferecidas: “Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz, porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios no ermo” (Is 43.19).

Um conselho em relação ao passado: Deixe o passado no passado.
Uma promessa em relação ao futuro: Considere as possibilidades do futuro.

1.     Deixe o passado no passado - Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas” (Is 43.18). O passado pode ser bom para a vida, quando ele se torna a experiência que nos orienta para o próximo passo a ser dado, mas pode ser um empecilho quando nos apegamos a ele.
É muito fácil se prender ao passado de fracasso, culpa, dor, ressentimento, ou até mesmo desenvolvermos atitudes saudosistas: “bons tempos foram aqueles...” A verdade, porém, é que na maioria das vezes aquele tempo também foi pesado, difícil e duro. Se o trouxermos conosco, ele virá cheirando a mofo, e alimentando amarguras.

A Bíblia fala de algumas pessoas que insistirem em viver de memórias, apegadas ao seu passado. Por isto é importante:

A.     Deixar Sodoma para trás – A mulher de Ló é um clássico exemplo. A ordem dos anjos era para que saíssem imediatamente da cidade e não olhassem para trás. Mas a história daquela mulher estava em Sodoma, suas memórias e seu coração, nas coisas que possuía. Ela não queria deixar o passado. Por isto os anjos os pegaram pela mão para os livrar da morte. Mas a mulher de Ló, resolveu “olhar para trás”, e virou uma estátua de sal (Gn 19.26). Sua vida paralisou, não conseguiu mais avançar. Ela saiu de Sodoma, mas Sodoma não saiu dela, apesar da ordem direta de Deus para sairem sem olhar para trás. Strong afirma que a palavra “olhar para trás”  no hebraico, é nabat, que significa “mostrar consideração, contemplar, prestar atenção”. Não se tratava de mera curiosidade, mas de alguém cujo coração estava preso a algo que precisava abandonar.

B.     Deixe o Egito no Egito – Outro grupo que encontramos na Bíblia e que causou muito problema para si mesmo pela dificuldade de deixar o passado foi o povo que saiu do deserto. O livro de Números registra: “E o populacho que estava no meio deles veio a ter grande desejo das comidas dos egípcios; pelo que os filhos de Israel tornaram a chorar e também disseram: quem nos dará carne a comer? Lembramo-nos dos peixes que, no Egito, comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos” (Nm 11.4-5).

Eles tinham saudade do Egito!
O Egito na bíblia é o maior símbolo da escravidão e cativeiro, mas eles estavam sentindo saudade de lá. Isto mostra como a memória é capaz de esquecer as dificuldades enfrentadas, os açoites recebidos e desejar voltar ao passado.
Saudade do Egito é qualquer coisa que no passado tenha feito mal, e agora, pela falta de sentido ou pela dureza da realidade presente, nos leva a querer voltar atrás, até mesmo em eventuais pecados que tanto nos fustigaram e nos fizeram sofrer ou relacionamentos tóxicos que nos mantiveram cativos.

C.     Deixar o velho homem no passado – “No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano”  (Ef 4.22). Não trazer conosco o antigo estilo de vida que tinhamos longe de Deus. É fácil se perder, regredir, titubear, como um cão que volta a comer seu próprio vômito.
A Bíblia diz que longe de Deus, andávamos na vaidade dos nossos próprios pensamentos (mente vazia), obscurecidos de entendimento (obnubilação de pensamento, dureza de coração (embrutecimento) alheios à vida de Deus e em impureza moral.
No texto de Isaías Deus mostra ao seu povo a necessidade de não ocupar a mente naquilo que pode distanciar de Deus. “Quem tem posto a mão no arado, não pode mais olhar para trás”. Muitas vezes queremos o novo, mas recursando a deixar o velho.
Em geral o “velho homem” vem com uma bagagem pesada:
i.                Culpa
ii.              Ressentimento, ira e raiva
iii.             Vida de pecado
Deixe o velho homem no passado. A linguagem bíblica é interessante: “quanto ao estilo de vida anterior, vos despojeis do velho homem que se corrompe segundo os enganos da concupiscência”. “Despojar” é um termo militar. Assim que um exército dominava uma cidade, desarmava seus habitantes e se apossavam de suas riquezas. Tirar as armas do velho homem, da velha natureza, é não dar alimento para a carne, não “empoderar” nossa tendência para o mal, esvaziar seu poder e influência. Mesmo já tendo sido derrotado se você o deixar armado e bem nutrido, ele é uma ameaça.

2.     Considere novas possibilidades, abra-se para o novo.  É isto que lemos neste texto de Isaias: ““Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz, porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios no ermo” (Is 43.19).
Considere a pergunta feita por Deus: “Porventura não o percebeis?” Deus está fazendo coisas novas, abrindo novos caminhos, dando novas direções, mas será que estamos vendo as possibilidades e caminhos que ele está abrindo, sinais que ele está dando?
Josué Rodrigues afirma: “Portas que se fecham são iguais as que se abrem, se abertas ou fechadas por Deus” . Quando as portas se fecham, a tendência é nos desesperarmos, quando deveríamos ficar na ponta dos pés perguntando: “Deus está fazendo coisa nova, dando novas perspectivas, eu preciso perceber por onde o Senhor quer que eu ande”.
É típico de gente agarrada ao passado, não conseguir ver novas portas se abrindo. Em geral, Deus manda um pacote todo, cheio de surpresas, para que  contemplemos. Portanto, pare de olhar para as dificuldades e olhe para as possibilidades; deixe de focar no problema e atente para a solução; de contemplar crises e perceber novos caminhos.
A promessa de Deus é magnífica: Abrir caminhos no deserto e fazer brotar rios no ermo. Pense nestas duas figuras.

Deserto é um lugar difícil de atravessar. A solidão, as pedras, os animais peçonhentos, o calor do dia e o frio da noite. Deserto na Bíblia é lugar de tentação, privação, escassez. Deus afirma que vai colocar veredas no deserto, vai construir trilhas, vai apontar rumos. Preste atenção: ele não diz que vai retirar o deserto, mas que vai fazer estradas no deserto para que você encontre orientação.
Ele afirma também que vai colocar rios no ermo. Ermo é lugar solitário, distante. Ali Deus vai colocar águas caudalosas, ninguém vai morrer de sede, apesar de estar neste lugar inóspito.
Lembra-se do episódio da travessia no deserto?
Quando o exército de Faraó ameaçou o povo de Deus, as coisas ficaram muito difíceis e o povo começou a se desesperar, e a clamar pelo socorro de Deus. E Deus lhes dá uma ordem estapafúrdia: “Disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem” (Ex 14.15).  Apesar da situação não apontar saída, Deus ordena que não paralisem sua história.

3.     Converta seus afetos a Deus – Depois de todas as maravilhosas promessas que consideramos neste texto, Deus faz um desabafo com seu povo: “Contudo, não me tens invocado, ó Jacó, e de mim te cansaste, ó Israel. Não me trouxeste o gado miúdo dos teus holocaustos, nem me honraste com os teus sacrifícios; não te dei trabalho com ofertas de manjares, nem te cansei com incenso. Não me compraste por dinheiro cana aromática, nem com a gordura dos seus sacríficos me satisfizeste, mas me deste trabalho com os teus pecados e me cansaste com as tuas iniquidades” (Is 43.22-24).

Deus afirma que os afetos e o coração do povo não era dele.
Ele enumera uma série de atos litúrgicos que o povo de Deus costumava fazer no Antigo Testamento. Ele fala das ofertas, dos sacrifícios, dos manjares, da gordura queimada no altar, mas salienta que eles deixaram tais práticas. O culto se tornara frio, sem alegria e eles não pensavam em Deus. A falta de ofertas pacificas e sacrifícios revelava a distância do coração. Como uma triste música de Barbra Streissand: “You don’t bring me flowers, anymore”. (Voce não mais me manda flores).
Trazer flores na música reflete o coração. O amado esqueceu, não se importava, estava desatento. Deus afirma que o povo perdera a ternura, e não o cultuava de coração. E todas estas coisas eram perceptíveis na forma como as pessoas faziam seus cultos e traziam (ou não), suas ofertas.

Duas considerações precisam ser feitas:
A.     Quando ouço pregadores da teologia da prosperidade falando de que precisamos trazer ofertas para que Deus possa abençoar, uma forma de “pressionar” e “barganhar” com Deus, usando o dinheiro como moeda de troca para Deus abençoar, tenho a triste convicção de que perderam toda lógica da adoração e a centralidade do evangelho. Nós não damos dinheiro para pressionar Deus, nem oramos para convencê-lo a dar o que ele não quer dar, nem o cultuamos porque ele gosta mais de nós, mas fazemos estas coisas porque elas refletem o coração de quem ama.
Trazer ofertas e dízimos é uma forma de dizer o quanto o amamos e confiamos na sua provisão. É uma forma de expressar alegria nEle, assim como alguém que ama dá um presente ao amado. O presente não fará obrigatoriamente que uma pessoa goste do outro, ele não é instrumento de coerção, mas de afeto. Deus continuava demonstrando sua graça, fazendo promessas, cuidando do seu povo, apesar da atitude de distanciamento na adoração que lhe prestavam. Ele continua a apontar caminhos, a trazer surpresas, apesar de nosso fracasso em corresponder aos seus afetos.
Entretanto, a ausência ou a mesquinhez das ofertas no culto vétero-testamentário é vista como descaso. “Com tais ofertas de vossas mãos, aceitaria eu a vossa pessoa?” (Ml 1.9).

B.     Doação, ofertas e sacrifícios, ocupam lugar central na adoração porque tais coisas estão ligadas aos afetos. “Onde estiver o teu tesouro, ali estará o teu coração”. Doar revela o coração, por isto Deus reclama do povo não mais lhe queimar incenso, trazer canas aromáticas, é porque estas coisas mexem com finanças, coração, afetos. Deus fala neste texto até de “gado miúdo”, “ofertas de manjares”, coisas pequenas, mas que eram sacrifício de “aroma” suave ao Senhor.
Porque Deus está toca neste assunto? Ele precisa de dádivas? Depende dos recursos que lhe trazemos? Pelo contrário, algumas vezes Ele afirma que não estava interessado no sacrifício de seu povo, porque suas atitudes encobriam motivos. Por que, então, ele está falando destas coisas neste texto? Porque elas refletem o coração. O que Deus sente falta é do afeto, da gratidão, da expressão simples e genuíno de adoração. Não é o dinheiro que conta, é o que está por detrás do dinheiro, assim como o que conta não é o presente dado em si mesmo, mas o que tal presente representa: apreciação, carinho, gratidão, afeto, etc.

Conclusão:
Portanto, este texto aponta para três realidades:
ð Deixe o passado no passado. Não atravesse o ano com todo este lixo de  culpa, ressentimento, pecado, amargura que você carrega. Enterre este lixo, deixe-o para trás. Paulo afirma: “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus”

ð Preste atenção nas novas possibilidades de Deus. Você está no deserto? Ele pode fazer estradas no deserto, abrir rios no ermo. Nos lugares mais improváveis, sua presença estará ali;


ð Tome cuidado com seus afetos em relação a Deus – é fácil esfriar o coração, afastar do caminho de Deus, esquecer dele, distanciar-se. Renove seus compromissos com Deus, volte ao primeiro amor, seja afetivo para com Deus e com sua obra, seja generoso e gracioso, como ele tem sido.

Um comentário:

  1. ótimo sermão, muito bem esplanado, as situações, que Deus continue usando o irmão, tive o privilegio de conhece-lo pessoalmente num encontro de casais em 2015 se não me falha memoria, a convite do pastor batista de Rondonópolis, foi maravilhoso.

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