"Meu Deus, como o mundo sempre foi vasto e eu vou morrer um dia. E até morrer vou viver apenas momentos? não porque momentos sejam poucos, mas porque momentos raras matam de amor pela raridade... será que vou ter que viver a vida inteira à espera de que o domingo passe? e ela, a faxineira, que mora na raiz da serra e acorda as 4 da madrugada para começar o trabalho de manhã na Zona sul, de onde volta tarde para raiz da Serra, a tempo de acordar as 4 da manhã e começar o trabalho na zona sul, de onde. - Eu vou te contar o meu segredo mortal: viver não é uma arte. Mentiram os que disseram isto"
(Clarice Lispector: A descoberta do mundo, Ed. Rocco, rio 1999, pg 232).
Introdução:
A palavra-chave em Eclesiastes é
"vaidade" (Hebhel), e parece ser o leitmotiv da obra (35 vezes). A vaidade não se refere ao uso de
adereços e de roupas frisadas, antes refere-se ao vazio, a insustentável leveza
da existência humana. A vida não tem nada concreto que a sustente. A palavra
"hebhel" significa literalmente "bolha de sabão"
(algo que brilha, mas é efêmero), ou vapor, brisa. "Vaidade de vaidades"
e a forma como o superlativo hebraico se expressa. A vida torna-se desta forma
"desproposital", um "correr
atrás do vento" (9 vezes). A
expressão "debaixo do sol"
é outra frase recorrente (28 vezes). Para o pregador, a morte tem mais sentido
que a vida (Ec 7.1). Vaidade refere-se ao vazio (nihilismo) da
existência humana. Por ser assim, a única saída lúcida seria o hedonismo
(2.23,24), que desemboca por sua vez no vazio que o epicurismo inexoravelmente
aponta (2.3,12 e 9.7). A existência torna-se um peso, cheia de dores (2.23),
aflições e calamidades.
Apenas em Ec 1.2, a palavra "hebhel"
se repete 5 vezes, dando a entender o seu valor no texto. "Vapor",
"alento", "bolha de sabão", não fala de supérfluo e sim do
vazio da existência humana. Tudo é vazio. Haroldo de Campos o traduz para o
português como "névoa-nada".
O autor de Eclesiastes aponta para
alguns tipos de vaidades:
3.
A vaidade das riquezas – Ec 5.1-11
De l.1-11 o texto nos mostra o vazio das
coisas. As coisas acontecem, mas tudo é
sem sentido, sem nenhum proveito (yitron);
tudo se move, mas nenhuma mudança ocorre. A única oposição a esta tensão encontra-se
em Ec 12.13, no qual revela que Elohim não está sobre estas limitações.
Hengstenberg afirma que no princípio tudo era muito bom, glorioso é esta
síntese do koheleth pode expressar apenas um ponto de transição.
Nesta perícope vemos:
- A
Ausência de propósitos – “Bolha de sabão”.
ü História
cíclica, sem objetividade – Pensamento de Hegel: “Se a história nos ensina
alguma coisa nos ensina que não nos ensina nada”. (Ec 1.9; Ec 3.15).
ü O princípio do
eterno retorno de Nieztsche – Citado por Milan Kundera em “a insustentável leveza do ser”.
ü “Tudo o que é
sólido se desmancha no ar”. Falta “sustância” na vida....
ü O mito de Sísifo
– (Albert Camus escritor argelino).
- A
Rotina - Ec 1.4-8
A vida é uma
mera repetição de ideias e atitudes. Nada há novo. “O que foi é o que há de
ser, e o que se fez, isto se tornará a fazer. Nada há, pois, novo, debaixo do
sol”.
Veja a
semelhança desta sua afirmação com o poema monotonia de Chico Buarque:
“Todo o dia ela faz tudo sempre igual,
Me sacode as 6 hs da manhã
Me sorri com sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã”
a.
Percebe
que dinheiro nunca satisfaz a alma – “Quem
ama o dinheiro, jamais dele se farta”. O homem mais rico da história, Rockefeller,
ao ser indagado quanto dinheiro a mais ele queria, respondeu cinicamente: Só um
pouquinho a mais”.
§ Percebe que quem
ama o ganho aumenta os consumidores – Ec 5.11 Às vezes os consumidores
aproveitam mais que os donos. “é melhor ser amigo do rei que ser rei”, amigo do
dono da chácara, do dono da lancha.
i.
Percebe
que o ato de possuir, muitas vezes é apenas para ver com seus olhos, sem poder
desfrutar (Ec 5.11). Nada mais. O conquistador muçulmano Saladino fez o mesmo,
ao conquistar Jerusalém, e quando alguém lhe perguntou qual o significado de
Jerusalém, respondeu: Tudo! Parece, em seguida, falar com ironia: Nada!
b.
Percebe
que a ambição pode ser sua destruição – “A
fartura não o deixa dormir” (Ec 5.12). Veja como esta ideia tem
similaridades com Pv 1.19 “Tal é a sorte
de todo ganancioso, e o espírito de ganância tira a vida de quem o possui”
3.
A vaidade das conquistas – Ec 2.4-11
Salomão teve muitas conquistas,
registradas pormenorizadamente aqui neste texto, mas a conclusão dele é que “Ele
se alegrava com sua fadigas, e tudo era correr atrás do vento”, assim como o
famoso personagem de Ibsen, Peer Gynt, que depois de tantas conquistas e
aventuras, retorna à casa de sua origem par constatar que sua vida fora como uma
cebola, só tinha casca.
Salomão desenvolve uma visão bem
pessimista do trabalho. O trabalho se torna rotina, fadiga e punição de Deus.
a.
Associa trabalho à fadiga – (Ec 2.19) Não vê no trabalho realização
b. Associa
trabalho à punição de Deus – (Ec 2.26) Trabalho é aflição, não benção.
c. Não
vê sentido no que faz: Resultado: Automatismo e desgosto. Sua A vida e
todas as suas formas de realização se perdem se não estão identificadas com
Deus –(Ec 2.25).
Conclusão:
O que dá consistência à vida? (Ec 2.25;
12.13)
Não são conquistas, riquezas, trabalho.
Todas estas coisas podem ser boas, mas “separado de Deus, quem pode
alegrar-se?”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário