(Ec 7.29)
“Eis o que tão
somente achei, que Deus fez o homem reto,
mas ele se meteu
em muitas astúcias”.
Introdução:
Você acha a
vida complicada? As pessoas complicadas demais?
Uma das
perguntas que sempre fazemos é como a raça humana chegou a este ponto? Chico
Buarque chegou a afirmar: “Quem estava na direção deste continente quando ele
capotou?”. Há na alma humana uma indagação sobre a vida em si mesmo. A vida é
isto? Realmente nascemos para vier num universo desequilibrado e torto como
este?
Francis Schaeffer tem este sentimento
quando escreveu o livro: “O que aconteceu com a raça humana?”
A verdade é que vivemos num mundo caído.
Confusão
social
De fato há algo errado com o nosso
universo moral. Definitivamente, a vida que vivemos não é aquilo que Deus
queria para nós. Apenas no Século XX, tivemos duas grandes guerras mundiais.
Estima-se que 5 a 6 milhões de judeus foram exterminados num genocídio sem
precedentes em termos de crueldade e barbaridade. Embora mais desconhecido,
estima-se também que cerca de 18
a 25 milhões de jovens russos perderam sua vidas em
batalhas, entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Isto é, uma geração
inteira de jovens de um país.
Estamos recordando (e não celebrando,
porque não há o que comemorar), os 150 anos da Batalha do Riachuelo, quando os
países aliados: Brasil, Argentina e Uruguai, massacraram o Paraguai, governado
por Francisco Solano Lopes, um general megalomaníaco que queria dominar o
Uruguai, Argentina e Rio Grande do Sul, anexando-o ao seu país. Ele invadiu
primeiramente o Mato Grosso, e vendo que não houve resistência, resolveu
ampliar seus domínios pelo Rio Grande do Sul, mas para isto tinha que passar
pela Argentina, que pediu ajuda ao Brasil, e com o Uruguai formaram a tríplice aliança
(1864). A Batalha do Riachuelo foi em 1865, quando aconteceu também praticamente
o fim da guerra. A carnificina e o massacre foram tão grandes, que 60% da
população do Paraguai foi exterminada em 6 anos. Quando o General Lopes viu que
iria perder a batalha, porque não tinha mais soldados, resolveu colocar
crianças de 10-12 anos no fronte, que foram exterminadas completamente. A
arrogância deste militar, associada à atitude dos países aliados de queriam
extirpar o mal pela raiz, deixou um rastro de sangue e dores inimagináveis. Até
hoje o Paraguai não se recuperou desta atitude insana de seu general e da reação
sanguinolenta de seus países vizinhos.
Estas histórias mostram um pouco o nível
de desequilíbrio e disfuncionalidade presentes na raça humana. E ficamos
realmente com a pergunta: “O que aconteceu à raça humana?” Este mundo foi
criado para ser um campo de batalhas?
Confusão
nas famílias
A história das famílias demonstra bem a
tragédia humana.
São traições, desenganos, ódios, abusos
de toda espécie, fatos inenarráveis. Felizmente não existe um big brother para
tornar público a caminhada de mentiras, farsas e dores. Toda história familiar
é permeada de abusos, absurdos e contradições. Família é uma fonte de
contradição. Felizmente preferimos contar histórias de pessoas bem sucedidas e
não dos descompassos que nossa etiologia familiar construiu.
Confusão
no coração
Outro aspecto a ser considerado é o
nosso coração
O mesmo acontece quando olharmos para
dentro de nós mesmos: Confusão, medo, depressão, infidelidade, fantasias não
confessadas, doenças variadas e estranhas. Vivemos atormentados pelos fantasmas
da alma. Eventualmente eu e minha esposa conversamos sobre uma pessoa ou outra
e comentamos sobre quão complicada é a sua alma, e a Sara Maria sempre retorna
com um jargão: “E quem não é?”
Quando olhamos para fora, para as
pessoas, nos tornamos cínicos, vemos o desespero, ansiedade, ganância,
manipulação, controle, luta pelo poder, falta de fé, desânimo. Quando Jesus
olhou as multidões, a Bíblia diz que ele se compadeceu das pessoas porque eram
“como ovelhas sem pastor”. Sabe o que é uma ovelha sem pastor? Não tem
segurança, não tem norte, não tem alimento, é presa fácil de lobos vorazes.
Este é o retrato da raça humana caída e longe de Deus.
Se olhamos para fora nos tornamos
cínicos
Se olhamos para dentro, ficamos
desanimados
O que aconteceu com a raça humana?
Como chegamos a este ponto?
Em Ec 7.29 lemos:
“Eis
o que tão somente achei: Deus fez o
homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”.
O que o texto
mostra é que a raça humana não foi feita, originalmente, para ser o que é. No
design da criação não era este o projeto de Deus. O homem não foi feito errado,
mas ele se complicou. Ele perdeu o propósito para o qual foi designado. A raça
humana se perdeu na sua trajetória. O homem foi feito reto, mas ele enfiou os
seus pés em laços e armadilhas, e se tornou presa de si mesmo, suas decisões e
atitudes equivocadas.
Larry Coy parece ter esta mesma
percepção quando afirma: “A vida é essencialmente simples, mas nós a
complicamos com os nossos pecados”. A vida não é complicada, a vida é simples,
mas o fato é que nós falhamos. Aliás, a palavra grega para pecado é hamartia, que significa, errar o alvo. O ser humano desviou-se do
projeto original, resolveu construir sua história fora da vontade de Deus.
Paulo diz que “...tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem
lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios,
obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm 1.21). Construíram uma vida fora
de Deus, esqueceram-se de Deus e fizeram suas rotas confusas. Erraram o alvo.
Gostei muito de uma afirmação de C. S.
Lewis quando falava sobre a possível existência de vida fora da terra, e faz um
comentário capcioso : “Rezemos para que a raça humana jamais escape da terra
para que não espalhe sua iniquidade em outros lugares”.
O
texto de Eclesiastes afirma que o homem se meteu em muitas astúcias. A situação
atual da raça humana decorre de escolhas morais erradas.
No
Princípio
A Bíblia afirma que ao criar o homem, o
fez para ser sua imagem e semelhança. No projeto original vemos o homem
interagindo com o seu criador. A Bíblia afirma que Deus vinha na viração do dia
para conversar com Adão. Não havia confusão em seu coração, vivia uma vida de
simplicidade. Ele e a mulher viviam no paraíso, e ali experimentaram a paz que
o ser humano desfruta ao viver ao lado de Deus.
No entanto, as sugestões da serpente os
atraíram. Seduzidos pelas tentadores propostas doa diabo, homem e mulher cedem
aos seus argumentos, e agora, outros elementos assustadores interpenetram seus
corações. Conheceram o mal, tocaram no mal, seus olhos foram abertos apenas
para compreender que havia algo errado em si mesmos, mas não podiam mais
escapar desta realidade. Medo de Deus, culpa, acusação, defesa, fazem parte
agora de suas vidas. O orgulho, a vaidade, a soberba, a ambição, a
desobediência trouxeram uma completa desarmonia na existência humana.
A situação ficou tão confusa que o
profeta Jeremias posteriormente analisa assim a condição da raça humana: “Enganoso é o coração mais que todas as
coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jr 9.27). Paulo
também argumenta: “Não há quem entenda,
quem busque a Deus.todos se extraviaram e a uma se fizeram inúteis” (Rm
3.9-12). A Bíblia afirma que mesmo as
boas intenções redundam no maior fracasso: “Porque
não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7.20).
“Mas vejo, nos meus membros, outra lei
que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do
pecado que está nos meus membros. Desventurado homem que sou! Quem me livrará o corpo desta morte?” (Rm
7.24). A alma, contraditória e ambígua, vive dilemas sem fim. Há uma batalha
civil dentro de nós. Descobrimos o inimigo e ele é um de nós.
“Eis o que tão
somente achei,
que Deus fez o
homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias”.
O
Segredo da vida
O problema da humanidade é sua a
incapacidade de escolher o bem. As intenções não são suficientes. “O bem que
eu quero fazer, não faço.. o mal reside em mim”. A fonte do ser está contaminada, é um problema na raiz humana, as
motivações estão contaminadas. Podemos fazer as coisas mais espirituais com a
motivação mais carnal. “O bem que eu
quero fazer não faço, mas o mal que não quero, este eu pratico”.
Jesus afirma para Nicodemos que o ser
humano precisa de algo que vai além de sua capacidade interior. Ele precisa de
um Novo nascimento, uma obra do Espírito na sua vida, caso contrário, vai
continuar fazendo escolhas erradas. Deus fez o homem reto, mas ele se
complicou. Esta tem sido a historia da raça humana. Suas escolhas equivocadas.
Seu desejo de ser igual a Deus, sua autonomia. Jesus afirma: “Se alguém não nascer de novo, não pode
entrar no reino de Deus”. Precisamos de um poder e capacitação, que apenas
o Espírito de Deus é capaz de dar.
Jesus tenta explicar isto para
Nicodemos, citando um evento enigmático do Antigo Testamento:“Porque assim
como Moisés levantou a serpente no deserto, importa que o Filho do homem seja
levantado” (Jo 3.14-15).
Vamos lembrar o que aconteceu neste
evento.
O povo de Israel havia pecado contra
Deus. Serpentes abrasadoras e venenosas vinham do deserto e picavam as pessoas.
O veneno era letal. Milhares de pessoas estavam sendo infectadas e não havia
remédio para uma peçonha de tal magnitude, não havia soro antiofídico que
resolvesse. Deus então ordena que Moisés faça uma serpente de bronze e a
coloque num mastro, e todos que fitassem aquela serpente, seriam curados.
Relato estranho, não é mesmo? O que este
texto quer dizer? Porque Jesus o menciona?
Este acontecimento no deserto,
simboliza, tipifica, aponta para outro evento igualmente marcante que se daria
na história muitos anos depois. O Filho de Deus é colocado numa cruz, e naquela
cruz, todos os que o contemplam, podem ser curados. O sangue de Jesus, o Filho
de Deus, tem poder para extirpar o dano que a serpente causaria em nossas
vidas. Ao olharmos e contemplarmos Jesus, somos curados.
Satanás inoculou na raça humana um
veneno letal. Precisamos de antídotos que quebrem a eficácia deste veneno que
passa pelas nossas veias, mas nada parece solucionar. As motivações, intenções,
moral, comportamento, tudo o que fazemos é insuficiente. À semelhança do filme matrix,
estamos com um vírus mortal, o corpo não consegue criar reagentes
suficientemente fortes para combater esta peçonha. Precisamos de um reagente,
um remédio eficaz, para quebrar o poder do veneno, e somente a cruz pode ser a
solução e providenciar esta cura.
Somente a obra de Cristo pode pode
realizar isto em nós.
Estamos presos nas próprias artimanhas e
astúcias que criamos. Precisamos olhar para a cruz, esta é a única opção. Só o
sangue de Cristo pode nos restaurar. Estamos letalmente contaminados e feridos,
apenas a obra de Jesus pode nos fazer voltar ao propósito original para o qual
fomos feitos.
Encontrando
o Segredo para uma vida de liberdade:
Como um pássaro preso pelo laço dos
passarinheiros, assim os laços de iniquidade, de escolhas morais erradas, da
vida que tentamos viver sem considerar Deus, nos complica cada vez mais. Muitos
imaginam que ser cristão é aderir a determinados comportamentos e fazer
determinadas afirmações do credo, ter convicções, códigos e rituais religiosos,
mas a Bíblia nos ensina que apenas um relacionamento vital de Jesus conosco,
pode nos resgatar. Precisamos comer de sua carne, e beber do seu sangue. Sua
vida em nossa vida. A vida de Jesus em nós.
Gosto muito de uma afirmação recorrente
no Antigo Testamento. Deus dizia constantemente ao povo: “Eu sou o Deus que vos
santifica”. No Novo Testamento, Jesus afirma que ele nos daria o seu Espírito,
que não nos deixaria órfão, e este Espírito nos guiaria a toda verdade, geraria
emulações interiores na alma, nos inclinaria a Deus. Este Espírito Santo gera
santidade, desejos de Deus. Jesus nos lava, nos purifica, nos torna novas
criaturas. Muda nosso DNA. Conversão é a esta maravilhosa obra da cruz sendo
aplicada ao ser humano, que se meteu em muitas astúcias, que perdeu a
referência de Deus, e está perdido nos seus delitos.
Certo jovem, de vida atrapalhada e
confusa, cometeu uma série de equívocos, e sua vida virou uma desordem, como
geralmente a raça humana faz. Vendo-se perdido, procurou a Deus e as pessoas da
igreja. Ao entrar no discipulado bíblico, foi desafiado a se render a Cristo.
Ele disse que iria consertar sua vida, antes de vir a Jesus. A pessoa que
estudava a Bíblia com ela disse o seguinte: “Você vai consertar sua vida para
depois vir a Jesus? Até hoje você tem tentado e não tem conseguido. Deixa Jesus
dirigir sua vida”.
Entendendo esta grande verdade
espiritual, os Puritanos afirmavam “Cada vez que você olhar para dentro de
você, olhe dez vezes para a cruz!”
Somente a cruz tem o remédio para
reparar o estrago do mal que fizemos. Deus fez o homem reto, mas ele se meteu
em muitas astúcias.
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