Introdução:
Na
teologia cristã existe uma clássica discussão sobre graças e obras. Este texto
que fala do papel das boas, surge logo após uma exposição firme e clara sobre o
papel da graça, talvez o texto mais claro e direto de toda bíblia sobre este
assunto. Entretanto, em seguida, Paulo descreve a importância das obras na vida
cristã.
A
ênfase na graça pode gerar distorções como:
a.
A graça barata – Muitas pessoas dizem: “Já que é
de graça, posso fazer o que quero”, ignorando que a graça que nos foi dada,
nada nos custou, mas custou muito ao próprio Deus que deu seu Filho para morrer
em nosso lugar. Só quem nunca entendeu o amor de Deus pode desenvolver
pensamento tão pobre.
b.
Antinomismo – São pessoas que resolvem ignorar o
papel e a importância da lei, ignorando que “o criador da lei se tornou o
cumpridor da lei e morreu por nós, os descumpridores da lei”(W. G. T.
Tchividjian). Não podemos diminuir o significado da lei nem da graça. Quem faz
isto, deliberadamente, quase sempre desemboca numa ética relativista.
c.
Justificativa para indolência – Outro perigo
comum. Se Deus fez tudo por nós, através da graça, porque precisamos fazer?
Esquecem que nossa resposta é gesto de adoração. Quem compreendeu a obra de
Deus sempre terá atitude e disposição para servir a Deus sacrificialmente, não
para comprar favor, mas para expressar louvor.
A
verdade é que a graça tem um poder propulsor. Ela nos impulsiona à ação. Na
carta a Tito, Paulo afirma que a graça tem um papel fundamental na vida cristã,
pois ela nos educa “para que, renegada a impiedade e as paixões mundanas,
vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente”(Tt 2.12). A graça é
pedagógica e didática, ela nos capacita a uma vida de santidade.
Vamos
considerar alguns princípios importantes sobre graça e boas obras que podem ser
extraídos deste texto:
1.
Não somos
salvos pelas obras, mas para boas obras – As obras não são o
meio da salvação, mas o resultado.
Depois
de falar sobre temas complexos como predestinação e eleição, no capítulo 1, o
texto bíblico nos ensina sobre a graça e as obras: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é
dom de Deus; não de obras para que ninguém se glorie”. Salvação é obra
exclusiva de Deus, por meio do sacrifício redentor de seu filho.
Quando
não entendemos o papel da graça, ficamos cheios de justiça pessoal. No entanto,
algo que precisamos entender de forma clara é que “não sou pecador porque peco;
mas peco porque sou pecador”. Ao contrário do que afirma os existencialistas, a
essência sempre precede a existência.
O
fato maravilhoso, porém, é que a graça nos leva às boas obras. “Assim, também a fé, sem obras, por si só
está morta” (Tg 2.17). porque simplesmente não pode, da mesma fonte, jorrar
água doce e amarga (Tg 3.11). Quando alguém afirma que Deus vive em seu
coração, precisa demonstrar isto através de atos e boas obras. As boas obras
evidenciam a salvação, afinal, fomos salvos para boas obras. Obras são o
resultado e não o meio para a salvação. Se não há boas obras, não há obra de
Deus em nós.
Salvação
pelas obras, ignora a obra de Cristo na cruz – é impossível olhar para a cruz,
entender o sacrifício de Cristo, e ainda assim, de alguma forma, continuar
achando que somos salvos pelas obras.
Salvação
pelas obras nos torna orgulhosos – quem pensa que pode ser salvo através da sua
performance espiritual vai sempre achar que possui crédito e mérito diante de
Deus. Paulo tenta desmascarar este pressuposto na carta aos Romanos, quando
indaga: “Onde pois a jactância? Foi de todo excluída” (Rm 3.27). Não há espaço
para orgulho ou vaidade espiritual se a salvação vem pela graça, mas se a
salvação depende de eficiência, então os que forem salvos, terão motivos de
muita vaidade.
2.
Boas
obras evidenciam nossa relação com Cristo – Jesus deixou isto muito claro.
Ele usou alguns critérios para que seus discípulos fossem reconhecidos diante
dos homens:
2.1.
O Critério
da Palavra
-“Disse, pois, Jesus aos
judeus que haviam crido nele: Se vós permanecerdes nas minhas palavras, sois
verdadeiramente meus discípulos” (Jo 8.31)
-“Quem é de Deus, ouve as
palavras de Deus” (Jo 8.47)
-“Aquele que tem os meus
mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama, será amado
por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo 14.21).
2.2.
O Critério
do Amor
-“Nisto conhecerão que
sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).
“Não fostes vós que me
escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei
para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo
quanto pedirdes ao pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Isto vos mando que vos
ameis uns aos outros”(Jo 15.16).
-“Aquele que diz estar na
luz e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas. Aquele que ama a seu irmão
permanece na luz, e nele não ha nenhum tropeço. Aquele , porem, que odeia a seu
irmão, está nas trevas e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as
trevas lhe cegaram os olhos” (1 Jo 2.9-11).
- “Ou fazei a arvore boa e seu
fruto bom ou a arvore má e seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a
árvore” (Mt 12.33).
3.
Boas
obras são o objetivo da salvação
- “Não
de obras, par que ninguém se glorie, pois somos feitura dele, criados em Cristo
Jesus para boas obras, as quais, Deus de antemão preparou para que andássemos
nelas” (Ef 2.10).
- “A
religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai é esta: visitar os
órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado
do mundo” (Tg 1.27)
4.
Boas
obras levam outras pessoas a glorificarem a Deus
Quando
servimos e abençoamos o mundo, as pessoas passam a identificar este Deus
através disto. O mundo olha para o povo de Deus. Tenho um sonho de ser
reconhecido como alguém que ama, e ter uma comunidade conhecida por amar as
pessoas.
Na
carta aos Coríntios, Paulo fala do resultado da atitude da igreja em abençoar a
região da Judeia que estava enfrentando grandes tragédias e fomes decorrentes
de uma seca na região. “Porque o serviço desta assistência não só supre a
necessidade dos santos, mas também redunda em muitas graças a Deus, visto como,
na prova desta ministração, glorificam a Deus pela liberalidade com que
contribuis para eles e par todos, enquanto eles oram a vosso favor, com grande
afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós. Graças a Deus
pelo seu dom inefável!” (2 Co 9.11-14)
5.
Boas
obras glorificam a Deus – Deus se alegria quando o seu povo se dispõe para
abençoar o mundo. Deus trabalha em nós, para sua glória. “Pois somos feituras dele, criados em Cristo Jesus, para boas obras”
. A palavra “feitura”, significa literalmente “poema”. Deus está construindo a
imagem de Cristo em nós. Fomos criados em Cristo, “para boas obras”. Este é o
objetivo de Cristo em nós.
- “Não
negligencieis, igualmente, a prática do bem, e a mútua cooperação; pois, com
tais sacrifícios, Deus se compraz” (Hb 13.16).
- “Recebi
tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos
o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e
aprazível a Deus. E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, ha de suprir,
em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades” (Pf 4.8
-
“Vós sois a luz do mundo. Assim brilhe a vossa
luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem ao pai
que está nos céus” (Mt 5.14-16).
Conclusão:
Diante
de tais evidências bíblicas gostaria de fazer quatro considerações:
a.
precisamos ser ricos em boas obras, tanto na
perspectiva individual, quanto comunitária;
b.
Precisamos descobrir caminhos para servir.
Existem inúmeras possibilidades missionarias. Ore para que Deus lhe mostre em
qual área você poderá servi-lo;
c.
Tome cuidado para que suas obras não se tornem
um fim em si mesmo: auto glorificação, auto promoção, auto exaltação. Faça tudo
para a glória de Deus.
d.
Deus tem um projeto de boas obras para sua vida.
Veja como o texto bíblico ensina: “...Deus, de antemão preparou, para que andássemos
nelas”. Antes de você pensar, Deus já havia pensado. Deus tem um propósito de
usar sua vida para ele. Estas boas obras foram antecipadamente planejadas por
ele mesmo.