quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Ex 15.22-27 Águas Amargas



Introdução

A primeira frase do no seu best-seller “The road less traveled” de Scott Peck, é: “A vida é difícil”. De fato, viver é uma aventura. Jim Carrey sarcasticamente afirmou: "Sabe qual o problema da vida real? Ela não tem trilha sonora de ação". 

A vida é marcada por desapontamento. 

Se existe um lugar onde as frustrações e traições estão presentes é na vida. Warren Wiersbe, popular comentarista bíblico, na sua exposição de Filipenses “Be happy” afirma que quatro coisas podem tirar de nós a alegria: 

a) Circunstâncias – nem sempre os acontecimentos são favoráveis; 

b) Coisas – Aquilo que possuímos ou não possuímos e aquilo que nos possui; 

c) Pessoas – Até mesmo os amigos, porque quebram promessas intencional/ ou não; ferem, mentem, enganam, traem; 

d) Pré-ocupação – Isto é, ocupar-se antecipadamente de um problema.

Por isto vale a máxima: Se quiser ficar desanimado olhe para si, se quiser ficar decepcionado olhe para os homens, mas se quiser ter esperança, olhe para Jesus.

No texto lido, o povo de Israel está lidando com uma situação aflitiva. Três dias antes experimentaram um dos maiores livramentos da história do povo de Deus, ao atravessarem, a pé enxuto, o mar vermelho, mas agora estão diante de um novo desafio. Estão no deserto, e falta-lhes água. É bom lembrar que provavelmente, nenhum daqueles homens jamais tivesse atravessado o mar vermelho antes e não conhecia a geografia da região, onde estavam as fontes de água, oásis e poços. A situação deles se torna desesperadora.

Nunca vivi situação como a de Moisés, sendo pressionado agressivamente por um grupo de pessoas. Deve ser uma situação angustiante. Embora ele não fosse “o responsável”, ele era o líder e deveria ter o controle da situação e saber para onde estavam indo. Ele está igualmente perdido, e provavelmente também angustiado, apesar de terem tido uma enorme experiência de livramento poucos dias atrás, o fato é que a vitória de ontem não dava resposta à crise de hoje. Faltava água para o povo e estavam no deserto. 

Desta angustiante narrativa, podemos tirar algumas lições praticas para nossa vida diária:

1. Grandes sucessos podem ser seguidos de grandes lutasMuitas vezes passamos por experiências abençoadas, mas tais experiências não nos livram de novos embates. Muitas vezes sequer somos capazes de evocar fatos que poderiam nos dar esperança, como afirmou Jeremias: “Quero trazer à memória, o que me pode dar esperança”, ou lembramos dela como se fosse um arquivo morto na nossa breve história de vida, já que pouca diferença ela faz no problema que enfrentamos hoje.

Assim foi com Elias. A Bíblia registra que ele desafiou 800 profetas de Baal, e todos vieram para o Monte Carmelo. O povo de Israel havia se desviado, e estava em dúvida quem era o Deus verdadeiro, e Elias os confronta: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos: Se Baal é Deus, segui-o; se Yawé é Deus, segui-o”. O teste era desafiador. Aquele que dos céus colocar fogo no holocausto, sem intervenção humana, este é Deus. Sabemos o resultado da história. Se você não sabe, vale a pena ler a história (1 Rs 19).

Elias poderia se sentir um herói, afinal, o livramento foi maravilhoso. Mas o que vemos? Ele ouve a notícia de que a perversa rainha Jezabel o jurou de morte, e ele fugiu para o deserto, entrou numa caverna, num ambiente de profunda depressão e desejo de morrer. Onde está o herói? O homem de fé? Mergulhado numa crise existencial, sem projetos e sonhos. 

Ontem era um herói, hoje um perseguido. Ontem um homem intrépido, hoje sentindo-se fracassado. 

A vida não é muitas vezes assim?

Logo após a maravilhosa vitória do povo de Deus, quando as muralhas ruíram apenas “no grito” e o povo de Deus foi vitorioso numa batalha quase impossível, vemos o povo de Deus sendo derrotado de forma vergonhosa na cidade de Ai. Duas semanas antes: vitória, celebração, festa no arraial. Agora, desânimo, tristeza, morte e luto. 

Observe a vida de Jesus: ao lado de Pedro, Tiago e João, tiveram uma experiência celestial na transfiguração, experimentando um pouquinho do gostinho do céu aqui na terra. Os discípulos gostaram tanto da experiência que não queria sair do monte, queria construir tendas naquele lugar de glória e viverem eternamente em retiro espiritual. O êxtase chega ao fim e eles precisam descer o monte. Ainda inebriados pela experiência de glória, o que encontram ao sair daquele lugar? Um alvoroço de pessoas, e os discípulos emparedados por um jovem que estava endemoninhado, completamente dominado pelo maligno. Saíram de um retiro pentecostal, para entrar num culto de libertação. (Mc 9)

Logo após o derramamento do Espírito, a igreja estava ainda ruminando a maravilhosa manifestação que presenciaram. Devem ter voltado para a casa, envolvidos por esta santa atmosfera, sentindo-se poderosos e invencíveis, mas longo em seguida os problemas começam a se manifestar, e os religiosos e políticos fizeram uma aliança de perseguir a igreja. O derramamento do Espirito é seguido por perseguição política. 

Esta é a grande verdade: Grandes sucessos podem ser seguidos de grandes lutas. Depois de um culto abençoado, você pode encontrar com o diabo em sua casa. 

Por que Deus permite estas coisas? 

O texto lido afirma: “(Deus)... ali os provou” (Ex 15.25). Isto fazia parte da pedagogia e dos propósitos divinos. Ele estava usando estas coisas para ensinar determinadas coisas, avaliar a firmeza da fé do povo de Israel, ver a consistência de seus fundamentos espirituais. Parece que não foram aprovados nesta prova... Não é assim que acontece também conosco?

Gosto do provérbio: “As pessoas são como saquinhos de chá, ninguém sabe o que tem dentro, até que se derrame água quente”. A provação serve para nos dar experiência e nos fazer dependentes de Deus. Não devemos temer a pressão. É ela que transforma o carvão em diamante. 


2. Os maiores serviços são seguidos pelo esquecimentoComo afirmamos, este incidente acontece apenas três dias depois (Ex 15.22) da travessia do mar vermelho. Moisés, que naquela ocasião fora o herói, agora se torna vilão. Saiu de uma situação de exaltação para ameaça e medo. 

Situação semelhante ocorre com Jesus. Uma semana antes do seu julgamento, no domingo de ramos, foi ovacionado pela multidão, que cantava eufórica: “Hosana ao que vem em nome do Senhor!”. Na semana seguinte, a mesma multidão grita enlouquecida: “Crucifica-o! Crucifica-o!”. As pessoas não mais se lembravam dos seus milagres, curas, multiplicação dos pães. Ele era agora um bandido que precisava ser eliminado, persona non grata do povo judeu. 

Líderes, não raramente experimentam momentos de euforia e de acusação de seus liderados. Alguns são quase divinizados, para em seguida, serem acusados de torpezas, equívocos e incompetência. 

Algum tempo atrás conversei com um rapaz que trabalhava numa multinacional. Ele teve ascensão rápida no seu trabalho, executou criteriosamente sua função, foi promovido. Mas ao ser transferido para outro área da sua empresa, os resultados não mais apareciam, ele se desgastou rapidamente com seu chefe e oito meses depois foi demitido. Tudo o que ele fez pela empresa agora não mais o qualificava. Sequer pensaram em muda-lo de posição ou função. 

É mais ou menos assim que se dão todas relações funcionais: performances, resultados, promoções. Se estas coisas não mais aparecem, ou se as circunstancias históricas ou financeiras mudam, os maiores serviços são seguidos pelo esquecimento. Ninguém se lembra mais de quem ele foi, o que fez, os benefícios que trouxe. A humanidade é ingrata. Pastores que se deram pelo campo, se desgastaram física e emocionalmente pelas suas ovelhas, sofrem constantemente disto. Certo pastor desiludido me disse: “Ovelhas não amam seus pastores; pastores é que amam suas ovelhas”. Não sei se esta frase é certa, mas revela um pouco do sentimento deste colega.

3. Grandes aflições frequentemente são seguidas por grandes alegriasO povo se desorientou. Moisés estava acuado e sem capacidade de resolver a situação, mas Deus, novamente intervém e aponta uma solução que estava logo adiante de seus olhos. Moisés corta uma árvore e a joga na fonte, e as águas insalubres se tornaram saudáveis. 

Logo após o incidente, resolvido a questão da sede, os batedores começaram a caminhar pela região e encontraram Elim, um oásis que ficava a 8 km de distância. Para quem estava no deserto, o que encontraram parecia uma miragem celestial. Elim tinha 12 fontes e 70 palmeiras, e naquele lugar, o povo de Deus ficaria um tempo considerável. 

A grande lição é que com Deus, jamais uma desgraça será a última notícia.

Mesmo o sofrimento, pode ter uma dimensão e nos apresentar uma ótica absolutamente surpreendente. Considere, por exemplo, a maravilhosa frase de Isaias, referindo-se ao servo sofredor e ao sacrifício de Jesus: “Ele verá o fruto do seu penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito; o meu servo, o justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (Is 53.11).

Jesus suportou a cruz de forma tão ousada, porque não via o sofrimento como mero sofrimento. Ele sabia o que aquela cruz poderia fazer na vida daqueles que viessem a crer e entendessem o seu sacrifício. Ele sabia que o sangue que estava sendo derramado era a apólice da vida eterna que Deus concedeu a todos aqueles que viessem a crer em Jesus. Sua morte era o passaporte para vida eterna. O seu sofrimento haveria de trazer paz, reconciliação e vida para todo aquele colocasse inteiramente sua confiança na obra plena e suficiente que aquela cruz providenciaria. 

Sua dor não era mera dor. Como a mulher quando está para dar a luz sente tristeza por ter chegado a hora, mas logo se esquece da dor por ter trazido ao mundo uma vida, assim, grandes aflições são seguidas pela consolação de Deus, trazendo grandes e maravilhosas alegrias. Elim estava a apenas 8 km de distância. A resposta de Deus já deve estar chegando no meio da noite triste e pesada que estamos enfrentando. Deus não permite que seu povo fique parado e inerte diante das aguas amargas. Seus olhos, sempre atentos, permanecem em nós, mesmo quando ele permite que tenhamos que lidar com a secura da alma, porque ele deseja provar nosso caráter e a consistência de nossa fé. 

Conclusão: 

Este texto nos mostra como Moisés reage a esta angustiante situação? Suas atitudes podem se tornar nossas, quando encaramos com fé os problemas para os quais não temos soluções plausíveis: 

i. Moisés clamou ao Senhor – (Ex 15.25). Ele não entrou num quadro de depressão, nem se sentiu vítima das pessoas e das circunstancias, mas correu para seu lugar de refúgio, dirigindo-se ao seu Pai amoroso. Ele “clamou a Deus”. Todo clamor e súplica na bíblia, por definição, é algo intenso. Nós sempre oramos diante das tribulações, mas será que temos intensidade nas orações. A diferença das petições comuns que fazemos e das súplicas é apenas de intensidade. 

Quando nos sentimos incompreendidos e achamos que as pessoas são ingratas conosco, devemos buscar a Deus, de forma intensa, com clamor e súplica. Esta foi a única coisa que lhe veio à mente. O que fazer quando não sei o que fazer? Moisés convida o Senhor para mudar a situação. 

ii. Moisés estava atento à direção de Deus Se você está orando por alguma coisa, fique atento. Se está pedindo chuva, é melhor levar o guarda-chuva na mão. Não raramente oramos mas não temos expectativas do que pedimos. Como Deus respondeu a Moisés? “E o Senhor lhe mostrou uma árvore” (15.25). Deus não criou um fato novo, mas mostrou o já existia. Muitas vezes a resposta às dificuldades estão diante de nossos olhos, mas apenas a sabedoria de Deus poderá trazer discernimento para fazermos o que é necessário e tomar decisões diretas, simples e efetivas, que transformarão situações constrangedoras em bênçãos. 

iii. Moisés aproveitou a intervenção para reorientar o povo ao que realmente interessava. “Deu-lhes ali estatutos e uma ordenação” (Ex 15.25) O ponto não era a dificuldade, mas o poder de Deus. Novas experiências criam novas realidades. Em outras palavras, não saia o mesmo de uma tribulação. Aprenda novas verdades, cresça em maturidade e fé. Atribui-se à C. S. Lewis a seguinte afirmação: “Não desperdice suas lágrimas”. 

iv. Moisés não alimentou mágoa. Não transformou aquela experiência de provocação do povo em uma situação perene de dor e acusação. Não se transformou em vítima, nem ficou ferido pelo que fizeram com ele, e por toda pressão recebida. Muitos, ao passarem por oposição, tornam-se amargos, embrutecidos e críticos. A mágoa olha para trás, a preocupação olha em volta, a fé olha para cima.

Uma das maiores tragédias da humanidade ficou conhecida como “Os Sobreviventes dos Andes”, quando um avião caiu, nas cordilheiras dos Andes, no meio de uma grande tempestade e muitos miraculosamente sobreviveram, mas, à medida que o tempo passava, e não chegava ajuda, as pessoas, para sobreviver, começaram a comer a carne das pessoas que haviam morrido. Um dos aspectos mais lacônicos deste macabro incidente, é que a apenas 9 Km de distância fica um luxuoso parque Balneário. Estavam tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe do socorro e livramento, mas nem eles sabiam deste balneário, nem as pessoas que estavam no balneário sabiam que numa curta distância, seres humanos estavam passando por uma terrível provação. 

O relato bíblico nos mostra que Moisés gastou 40 anos pensando que era alguém, 40 anos aprendendo que não era ninguém e 40 anos descobrindo o que Deus pode fazer com um NINGUÉM. Mais uma vez, ele teve que aprender a depender de Deus e entender que “a fé ri das impossibilidades”.

Veja o que diz este verso:

A estrada para o sucesso não é uma reta.
Há uma curva chamado fracasso, um trevo chamado confusão,
Quebra-molas chamados amigos,
Faróis de advertência chamado família e 
pneus furados chamados empregos...

Mas... se você tiver um estepe chamado determinação,
Um motor chamado perseverança
Um seguro chamado fé e um motorista chamado Jesus,
você chegará ao seu porto Seguro.




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