sábado, 1 de outubro de 2016

2 Rs 7.3-20 Hoje é dia de boas novas

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Neste texto encontramos o relato de quatro leprosos que estavam ao redor da cidade de Samaria quando esta encontrava-se sitiada pelos siros. A situação era dramática, já fazia algum tempo que a cidade estava sitiada, e faltava comida dentro dos muros. Há inclusive o relato dramático de pessoas comendo seus próprios filhos. Se as coisas iam mal na cidade, fora dos muros não era diferente. Os leprosos não tinham condições de trabalhar por causa de seu estado de saúde e morriam agora de fome.

Então, estes leprosos decidem arriscar suas vidas, indo até o acampamento do exército inimigo, ver se encontrariam alguma comida, ou alguém que tivesse misericórdia deles. A decisão é resultado de resignação destes homens que dizem: "Se dissermos: entremos na cidade, há fome na cidade, e morreremos lá; se ficarmos sentados aqui, também morreremos. vamos, pois, agora, e demos conosco no arraial dos siros; se nos deixarem viver, viveremos; se nos matarem, tão somente morreremos". (2 Rs 7.4)

Ao chegarem ao arraial, são surpreendidos pelo vazio e caos. Armas, tendas e comidas ainda estão no lugar, espalhadas de forma desorganizada por todo lado, mas não há sequer uma pessoa no acampamento. Eles entram, comem fartamente, e se dão conta de que, a cidade de onde vieram, está cheia de pessoas famintas. Então chegam à seguinte conclusão: "Não fazemos bem; este dia é dia de boas-novas, e nós nos calamos". (2 Rs 7.9)

Este relato é uma boa ilustração do Evangelho. 

Famintos de Deus, desolados e famigerados, nos aproximamos de sua graça e somos surpreendidos pela fartura que há em Deus e nossa alma encontra alimento. O encontro com a fartura da sua misericórdia e amor, contudo, deve nos impulsionar a ter compaixão daqueles que "como ovelhas sem pastor" ainda vagam na secura da alma e falta de sentido e significado para a vida. As boas-novas precisam ser proclamadas. 

Os leprosos famintos, agora fartos, anunciam aos fartos, agora famintos, que podem saciar sua fome, que existe provisão e riqueza na obra maravilhosa da cruz de Cristo, que nos resgatou para uma viva esperança.

Gostaria de refletir sobre quatro aspectos das boas novas a partir deste texto:


1. Quais instrumentos Deus usa para trazer livramento


Deus usa pessoas leprosas, marginalizadas, condenados à morte, ameaçadas, encurraladas e fracas.

A solução para este dramático caos dentro e fora de Samaria, não é encontrado na estratégia de guerra dos comandantes, nem no poderio bélico, antes a resposta vem, inesperadamente de quatro leprosos, que, resignadamente, decidem arriscar suas vidas, sair da situação de dependência humana e encontrar resposta ao dramático quadro que enfrentam.

Deus usa instrumentos estranhos.

Uma menina, escrava, numa terra distante, ouve falar da lepra de seu patrão. Ela não tem nome, nem voz; mas conhece um Deus que age. Seu fortuito comentário torna-se uma esperança naquela casa que vive atormentada e em estado de choque. Sua palavra gera fé, e este homem sai em busca do Deus de Israel e é curado.

Não é estranho esta conspiração divina?

Para começar, tudo começa numa manjedoura. “As boas-novas” parecem conspirar contra o status quo. Deus se utiliza de elementos frágeis, uma adolescente “que aparece grávida”, um curral e uma cocheira onde encontra-se a figura de um bebê completamente dependente de uma jovem e inexperiente mãe, cercado de animais. As notícias são proclamadas inicialmente não em ambientes nobres, mas para pastores deslocados da periferia da Judeia, vivendo na fronteira entre a cidade e o deserto. Deus surpreende.

Os respeitáveis magos, vindo do Oriente, entendem que um nascimento de tão grande nobreza só pode acontecer nos palácios, este menino que nasce deve ser filho de um rei e nascer numa rica estrutura, mas ali nada encontram. A ordem é ir a Belém, periferia. Ali encontrariam um bebê envolto em faixas, e nesta criança encontrava-se o logos eterno, aquele que era a expressão exata do ser de Deus.

Esta é a subversão do Evangelho:


“Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele” (NVI - 1 Co 1.26-29).


2. Qual a motivação destes leprosos para compartilhar as boas- novas?

Passado este choque de entender a “santa conspiração dos projetos divinos”, agora voltamos a atenção para estes quatro homens. Por que eles decidiram voltar a Samaria? Eles sempre viveram separados e distanciados da comunidade, tratados como lixo, por que deveriam voltar? Havia tantos bens dos quais poderiam usufruir, nunca viram tanta riqueza e abundância.

Vários motivos podem ser observados: 

Primeiro, sentiam responsáveis pelos outros. “Não fazemos bem; este dia é dia de boas novas, e nós nos calamos” (2 Rs 7.9). 

Este é o motivo pessoal para anunciar as boas novas.

Como podemos ficar calados, quando temos em nossas mãos uma mensagem tão libertadora. Como ocultar isto que veio até nós, de forma amorosa e livre, que graciosamente nos foi dada por Deus.
Pregar o Evangelho, para aqueles que foram libertados das trevas, torna-se um grande privilégio. Não podemos nos omitir. Antes de mais nada é uma forma de gratidão. Comunicar aquilo que nos foi gratuitamente entregue.

Em segundo lugar, tinham senso de urgência. “Se esperarmos até a luz da manhã, seremos tidos por culpados” (2 Rs 7.9). 
Não podiam esperar. Esta era a hora.
Este mesmo senso de urgência 

Jesus Cristo nos deixou um exemplo de como é urgente a necessidade de falar das coisas de Deus. Em Joao 4 temos o relato do encontro de Cristo com a mulher samaritana. Ele está conversando com ela quando os discípulos voltam da cidade trazendo comida. “Os seus discípulos lhe rogaram, dizendo: Rabi, come. Ele, porém, lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. Então os discípulos diziam uns aos outros: Trouxe-lhe, porventura, alguém algo de comer? Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra. Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa”(Jo 4.31-35). 

Jesus demonstra sua prioridade era evangelizar. A comida poderia vir, o momento, a prioridade de Cristo era mostrar a salvação. Jesus queira ensinar seus discípulos a ter este senso de urgência. A colheita de trigo ainda demoraria quatro meses, mas muitas pessoas estavam morrendo sem ouvir da esperança da salvação. Jesus que olhassem as pessoas para verem como estavam na hora de serem evangelizados. Esta era a hora. Amanhã poderia ser muito tarde. Esta é a mensagem de Cristo. Deus quer que seus servos priorizem as pessoas aproveitando todas as oportunidades para falar do amor de Jesus .

Era assim que os leprosos se viam. “Se esperarmos até a luz da manhã, seremos tidos por culpados” (2 Rs 7.9). A fome era tão grave em Samaria que pessoas poderiam morrer ainda aquela noite.

Em terceiro lugar, temor. “Se esperarmos até a luz da manhã, seremos tidos por culpados” (2 Rs 7.9).

Os leprosos sabiam que seriam julgados pela indiferença, egoísmo e apatia. Tinham tanto mas não se preocuparam com ninguém, sabiam da resposta mas esconderam as informações. Tornavam-se assim responsáveis pelo descaso.

Este é um motivo também para se falar do amor de Deus.

Veja como Paulo se expressa em 1 Co 9.16-19

Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! E por isso, se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada. Logo, que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho.

Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais”. Certamente este é um motivo para evangelizarmos. Deus vai nos julgar por termos os mistérios de sua salvação dado a nós, sem que compartilhemos sua maravilhosa graça. “Ai de mim se não pregar o evangelho”. 


3. Que barreiras encontraremos para anunciar as boas novas?

Os leprosos correm a anunciar as boas-novas, no entanto, apesar da notícia ser muito boa, isto não significa que ela será recebida sem reações de cautela e estranheza. 

A primeira desconfiança vem do rei: “Agora eu vos direi o que é que os siros nos fizeram. Bem sabem eles que estamos esfaimados; por isso, saíram do arraial, a esconder-se pelo campo, dizendo: Quando saírem da cidade, então, os tomaremos vivos e entraremos nela” (2 Rs 7.12). O rei recebe a notícia com desconfiança, questionamento e incredulidade.

Não é assim que as pessoas agem em relação ao evangelho?


Seu Josias Afonso, foi diácono da Igreja Presbiteriana Central de Anápolis por muitos anos. veio do interior de Minas Gerais para assumir a gerência das antigas Casas Buri. Ao chegar à cidade, alugou um pequeno quarto e no domingo à tarde, puxava seu tamborete e assentava-se à porta da casa para ver as pessoas passando. Como estava morando ao lado da Igreja Presbiteriana, esperava que alguém o convidasse para ir ao culto, mas apesar da simpatia do povo, ninguém o convidava. Até que, finalmente, o aguardado convite chegou.

A igreja tinha um belíssimo coral e isto tocou profundamente a sua vida. O pregador era entusiasmado e no final fez um apelo perguntando às pessoas presentes se alguém gostaria de entregar sua vida a Cristo. Ficou assustado, porque não entendendo a linguagem “crentês”, não conseguia fazer ideia da razão de ninguém entregar sua vida a Jesus, afinal, não seria esta a mais importante decisão da vida? Que povo tolo era aquele, que não queria se render a Cristo?

Finalmente, depois de perceber que ninguém queria entregar sua vida a Cristo, ele, sozinho, tomou a decisão e levantou suas mãos. Desde então, nunca mais se afastou da igreja, casou-se com D. Maria Auxiliadora que também se tornou uma abençoada companheira no ministério de diaconia, e só deixou de vir à igreja no final de sua vida, quando a sua saúde física e psicológica não mais permitiriam sua freqüência à comunidade que adotou na sua vida. Seu corpo foi gradualmente debilitando, até que não mais resistiu.

Sempre penso na decisão de seu Josias. Como alguém pode se recusar, deliberadamente, a não aceitar a maravilhosa graça de Deus oferecida em Cristo Jesus. Como afirma o autor da carta aos hebreus. "Como escaparemos nós, se rejeitarmos tão grande salvação?" Ainda hoje, muitos se recusam a receber a oferta amorosa e graciosa de Deus através de seu filho Jesus Cristo. seu Josias estava certo: Como alguém pode ser tão tolo a ponto de não aceitar a maravilhosa salvação oferecida por Cristo? Jim Elliot afirmou: "Não é tolo aquele que dá o que não pode guardar, para ganhar aquilo que não pode perder". 



4. Que efeitos estas boas novas provocam? 

Por último, vale ressaltar o que acontece no texto depois de que as pessoas reebem a notícia e vão até o acampamento averiguar as informações. O rei enviou seus mais valentes e experimentados homens em dois carros com cavalos, para fazer uma ronda, e quando retornaram anunciando que a informação era verdadeira e segura, as pessoas sairam em desvairada para pegar alimento.

Vemos aqui o resultado das boas-novas.

Elas trouxeram euforia. As pessoas esfaimadas podiam agora celebrar. Imagino que naquela noite houve muita dança e alegria como era próprio da cultura judaica celebrar. As boas-novas trazem júbilo, entusiasmo, alegria. 
As boas novas trouxeram solução ao problema. As pessoas estavam raquíticas, anêmicas, subnutridas por causa do cerco militar que os siros impuseram a Samaria. O problema acabou, não mais a tensão diária da guerra que vinha do lado de fora, nem a angustiante situação de escassez dentro dos muros. As boas-novas são transformadoras. 
Abençoaram a cidade. Uma das frases mais marcantes registradas no Livro de Atos dos Apóstolos é a chegada do Evangelho, curiosamente, à Samaria. A mesma Samaria que no tempo dos reis havia experimentado a mensagem maravilhosa das boas novas dadas pelos leprosos, agora ouve novamente as boas-novas de salvação através do ministério do diácono Filipe. “os espíritos imundos de muitos possessos saiam gritando em alta voz; e muitos paralíicos e coxos foram curados. E houve grande alegria naquela cidade” (At 8.7-8) 

Nunca podemos perder a perspectiva dos resultados da pregação das boas-novas.

A mensagem proclamada hoje ao teu vizinho, pode mudar a perspectiva de uma família, e impactar gerações.
O que o Evangelho pode fazer na cidade de Anápolis, no Brasil e no mundo?
Uma sociedade consumista, sem direção, faminta por sentido e valor, oprimida e angustiada pela carência espiritual e moral, perdida em seus pensamentos relativistas e secularizados, buscando prazeres para satisfazer seu universo. Famílias em busca de riquezas e bens, mas carentes de significado na alma. Gente presa nos seus preconceitos. 

O evangelho pode transformar histórias assim.
Para concluir, gostaria de citar um parágrafo do artigo Missão e Evangelização urbana publicado na revista Ultimato, autoria de Raimundo M. Montenegro Neto


“Essa convicção no poder eficiente do evangelho deve nos levar em direção aos milhares de pessoas que estão vivendo sem Deus neste mundo, escravizadas por toda sorte de práticas pecaminosas, sob o poder maligno das trevas, ainda que estejam sem consciência do terrível estado da sua alma imortal (Ef 2.1-3). Devemos ir ao encontro delas na plena certeza de que a misericórdia e o poder de Deus são capazes e suficientes para transformá-las positivamente (Ef 2.4-7), chamando-as para o louvor da sua glória, mediante o evangelho (2Ts 2.13,14), o qual produz gloriosas mudanças na vida dos incrédulos quando recebido com fé (1Ts 1.5,9; 2.13). Com base nessas convicções, não devemos nos acomodar ou até mesmo nos acovardar diante do desafio de resgatar para Deus aqueles que ele já preparou, ainda que estejam nos mais baixos níveis da escravidão maligna. A Palavra de Deus nos enche de ânimo aos nos afirmar: “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5.20), e também aos nos recordar que fomos libertos das trevas para nos tornarmos libertadores de outros que ainda estão escravizados (1Pe 2.9,10)”.
http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/missao-e-evangelizacao-urbanas/


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Paz.


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Pregado na Escola Dominical da
Igreja Presbiteriana de Boston
Domingo, 14 de fevereiro de 1999
Refeito e pregado em Anápolis- Setembro 2016.

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