sábado, 31 de dezembro de 2016

Tg 4.13 A Falibilidade dos projetos humanos




Introdução:

Estamos na virada do ano, data esta sempre carregada de expectativas.
Boa parte da mídia voltada para as retrospectivas e outras tanto querendo desvendar o futuro. São astrólogos, futuristas, futurólogos, mágicos e profetas, todos tentando predizer o próximo ano. Acho desonesto mostrarem apenas as previsões, para ser integro, deveriam mostrar as “profetadas” do ano passado e as previsões, para saber o que de fato aconteceu. Naturalmente ninguém quer fazer este tipo de avaliação, por uma razão simples: Isto vai revelar o fracasso das predições, e assim se perderia o público que se deseja alcançar.
Toquinho estava certo: 

...E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar

Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença

Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...

Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos
Numa linda passarela
De uma aquarela
Que um dia enfim
Descolorirá...

Jesus ensinou aos discípulos a absoluta realidade de que não se pode controlar os eventos: “Qual de vós, por ansioso que esteja; pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida?”

Neste texto das Escrituras Sagradas, o apóstolo Tiago vai demonstrar a falibilidade dos projetos humanos. Como os prognósticos são falhos, como os planos são falíveis, e como a vida é frágil.
Três lições podemos aprender sobre a falibilidade humana:

Primeiro,
Todo prognóstico é arriscado – “Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante, e logo se dissipa” (Tg 4.13,14). Tiago procura demonstrar como nossos planos são frágil e a vida é imprevisível.
Não há segurança.
Procuramos nos organizar, fazer seguros, fazemos planejamentos, mas  alguém aqui pode fazer seguro de vida? Bem... isto é o que achamos que temos, mas a realidade é que fazemos seguro de morte... se morrermos, nossos familiares estarão protegidos. Não há seguro contra o infortúnio, o inesperado, o imprevisível. Nós não sabemos o dia de amanhã. A vida é como uma neblina da madrugada.
Diante destas situações algumas coisas engraçadas acontecem:
Minha cunhada estava conversando com seu marido e disse, sem perceber a tolice: “Quando um de nós dois morrer, eu vou comprar um apartamento pequeno, e vou morar sozinha...”, então, ele se voltou para ela e disse: “Quem te disse que eu vou morrer primeiro?”

Porque o prognóstico é arriscado, por causa de duas coisas:
A.     O futuro é imprevisível – Quem pode dizer: “iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã”.
B.     A vida é frágil – “Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante, e logo se dissipa”.

A Bíblia usa várias figuras para demonstrar a fragilidade da vida:
...Breve pensamento...
...Conto ligeiro...
...Como a erva... de madrugada viceja e floresce, à tarde murcha e seca...

Somos uma bomba relógio, em contagem regressiva. Corpo frágil, estrutura frágil, pó.

Segundo,
A falta de controle sobre o futuro, não exclui planejamento – “Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15).
Muitos dizem: “Planejamento é tolice. Se não sabemos o que virá, então porque nos preocupar”. Preocupar não, mas planejar, sim.

Três razões:
A.     A sabedoria judaica nos ensina isto – Basta ler com atenção o livro de Provérbios para ver quantas vezes ele nos fala sobre a necessidade de planejamento, provisão, prudência. Em Pv 20.18 lemos: “Os planos mediante os conselhos tem bom êxito. Faze a guerra com prudência”. Não dá para ir a luta sem planos, sem análises, sem estudar as reais condições. Em Pv 6 há uma exortação para considerar como vivem os insetos. “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; considera os seus caminhos e sê sábio” (Pv 6.6), a lição mais importante que aprendemos delas é a seguinte: “Na colheita ajunta seu mantimento e na época da seca prepara o seu pão” (Pv 6.8). Sem estudar logística, planejamento, liderança, elas sabem instintivamente que é necessário ter planos, fazer provisões.

B.     O Povo de Deus praticou isto – Há muitos exemplos na Bíblia do povo de Deus se prepara para alguma atividade que exigia planos. Quando Davi decidiu construir o templo, ele reuniu homens experts em áreas distintas para ver o que seria necessário para a obra. Quando o povo de Deus entrou na terra prometida, precisavam dividir as terras para as diferentes tribos, e a instrução de Josué foi interessante: “Façam dela um gráfico relativamente à herança” (Js 18.4,6,9). A insistência em fazer um gráfico mostra como é importante fazer planejamento.

C.     Jesus demonstrou isto – Nos seus ensinamentos chamou a atenção dos discípulos para isto: “Pois, qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele dizendo: este homem começou a construir e não pode acabar” (Lc 14.28-31).

Aristóteles afirmou que “As pessoas dividem-se entre aquelas que poupam como se vivessem para sempre e aquelas que gastam como se fossem morrer amanhã”. Não custa nada fazer planos sábios e exequíveis.

Terceiro,
Considere Deus em todo tempo – Se a realidade humana é esta, como viver ainda com arrogância e tentando viver de forma alienada de Deus?
É uma grande tolice, tentar viver sem Deus, ou ignorando sua realidade.

Três princípios sobre isto pode ser extraído do texto:
A.     Deus é quem controla a vida – “Se o Senhor quiser... viveremos” (Tg 4.15). No Salmo 146, a Palavra de Deus nos exorta a não confiar em sistemas, pessoas ou autoridades, mas confiar no Senhor, pois os homens são frágeis e transitórios. “Sai-lhes o espírito, e eles tornam ao pó; nesse mesmo dia, perecem todos os seus desígnios” (Sl 146.4).

B.     Deus é quem controla a agenda dos homens – “em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15).

Algumas vezes em que fui sondado sobre outros campos para pastoreio, a resposta sempre foi: “Se o Departamento de recursos humanos, lá de cima, liberar... o chefe é quem manda, e ele é temperamental”... Na minha vida, jamais planejei com antecedência de anos que seria pastor nesta ou naquela igreja, mas de forma sobrenatural Deus ia conduzindo minha vida da forma como sempre quis fazer.
Você acham que na profissão de vocês é diferente?
Vocês acham que estão na posição que ocupam, fazendo o que fazem, por acaso? Ou creem que Deus os colocou onde ele mesmo quis colocar?

C.     Qualquer tentativa ou ideia de que “somos donos do nosso próprio destino é, não apenas utópica, mas pretenciosa”. “Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a esta é maligna” (Tg 4.16).

Conclusão:
A verdade direta deste texto é: Não caminhe sem Deus!
No seu livro “Do temor à fé”, Dr. M.L.Jones faz três afirmações fantásticas sobre Deus:
1.     A história está sob controle divino. Este é o tema da Bíblia. Este é o tema central de Apocalipse. A história caminha para um fim planejado por Deus, e nem as forcas históricas, politicas ou espirituais, podem impedir seu plano. “Porque os dons e vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.35). O Cordeiro é vitorioso desde o principio, o cavalo branco “saiu vencendo e para vencer” (Ap 6.2).

2.     A história segue um plano divino – Os eventos não acontecem por acaso. Deus vê o fim desde o principio.

A Bíblia possui uma estrutura orgânica e harmônica, fincada em quatro pilares:
Criação
Queda
Redenção
Consumação

Deus está no inicio da história, transita dentro dela e encontra-se no seu fim. Ele não apenas age na história, mas é Senhor da história.

3.     A história segue um horário divino – Muitas vezes achamos os processos de Deus demorados ou tardios, mas Deus está construindo seu plano dentro de uma agenda especifica. Quando badalar a hora de Deus, Jesus Cristo volta, em glória, para construir um novo tempo.
O ministério de Jesus mostra como ele entende isto.
O nascimento de Jesus não se deu num vácuo, mas dentro de um claro kairos divino: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu filho, nascido de mulher” (Gl 4.4). Seu nascimento segue um tempo de Deus.
Quando Maria pede a Jesus para intervir no casamento em Caná da Galileia ele responde: “Mulher, ainda não é chegada a minha hora”. Ele sabia o momento certo de agir, quais seriam as condições para isto acontecer.
Quando chegou sua hora de ir para a cruz e morrer pelos pecados dos homens, ele afirmou: “Pai, é chegada a hora. Glorifica a teu Filho, para que teu Filho te glorifique” (Jo 17.1).
Tudo revela a gloriosa verdade de que Jesus entendia sua vida dentro de um plano, uma agenda, um horário e um propósito divino.

Nossos planos são frágeis.
Nossa vida é frágil.
Mas podemos confiar na ação de Deus.

“É um erro tentar ver muito longe no futuro. A corrente do destino somente pode ser puxada um elo por vez”.  Winston Churchill

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

1Jo 1.1-4 O Deus acessível



Wachman Nee no seu livro “o que deveriam fazer estes homens”, sugere que as tarefas de Joao, Pedro e Lucas no ministério apostólico podem ser distinguidas pelo que faziam quando receberam o chamado de Cristo.
Pedro era um  pescador e estava no Mar da Galiléia quando recebeu o chamado de Cristo, portanto, pescar é sua característica, e seu ministério se distinguiu desta forma. No dia do Pentecoste, pegou 3000 peixes com a rede do Evangelho.
Paulo era um fabricante de tendas. Seu negocio era estabelecer fundamentos e construir coisas. Esta foi sua obra ministerial, construindo a base doutrinária da fé cristã e seu alicerce.
Joao é diferente. Quando foi chamado ele estava consertando redes, portanto sua marca é fazer reparos. Nas suas cartas está sempre convidando o povo de Deus para retornar e renovar os princípios que tão facilmente se perdiam.

Neste texto João começa sua carta dizendo: 
“O que era deste o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam com respeito ao verbo da vida. E a vida se manifestou e nossas a temos visto”(1 Jo 1.1).
Ray Stedman afirma que existem pelo menos três relatos de “princípios” na Bíblia:

Gênesis 1.1: “No princípio criou Deus os céus e a terra”
Este é o começo da criação material, o inicio do mundo tal qual o conhecemos. Tanto a Bíblia como a ciência não são capazes de precisar o tempo da criação. A ciência sugere que isto se deu milhões de anos atrás. Alguns teólogos, igualmente admitem um intervalo de tempo entre Gn 1.1 e Gn 1.2. Se isto é verdade, a Bíblia e a ciência estão dizendo a mesma coisa.

João 1.1: “No principio era o verbo, o verbo estava com Deus e o verbo era Deus”.
Aqui temos novamente a mesma ideia do “principio”, só que neste caso ele precede a criação, sendo, portanto, um “principio antes do princípio”, referindo-se à eternidade. Como seres a-temporais, sempre pensamos num ponto de partida para todas as coisas, mas João afirma que antes de qualquer coisa existir, o Verbo de Deus estava presente. Ele estava com Deus e era Deus.

1 Jo 1.1: “O que era deste o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam”.
Aqui temos o terceiro “principio”. João não está se referindo ao principio da criação (Gn 1.1), nem ao princípio antes do princípio (Jo 1.1), mas a conceitos que ele usa regularmente em suas cartas.
1 Jo 2.7
1 Jo 2.14
1 Jo 2.24
1 Jo 3.8
1 Jo 3.11

Em todos estes versículos é difícil notar o princípio, não é?
Parece que tal conceito muda de tempo em tempo e de versículo para versículo.
Trata-se, então, de um principio existencial, isto é, “o principio que eu experimento neste exato momento”. João se refere à continua experiência de vida cristã, que é sempre atualizada e contemporânea. Um princípio continuo com aquilo que é eterno.
Em outras palavras, se alguém afirma ter uma revelação original, ou um pressuposto novo, diferente da mensagem simples do evangelho, sobre a palavra ou sobre Jesus, algo extra ou adicional, não aceitem. Mantenha os fundamentos, aquilo “que era deste o princípio”. Back to the basics!!
Neste texto João está falando da pessoa de Cristo, o princípio de tudo, o Verbo de Deus encarnado, com quem os apóstolos tiveram o privilegio de andar, sentir, ouvir, tocar. Isto nos ensina algumas verdades:

Primeiro, a fé cristã se sustenta sobre fatos e atos de um ser histórico- Jesus de Nazaré

Durante muito tempo, teólogos liberais defenderam que não interessa o Jesus da História, mas o Jesus da fé.
Poucos teólogos brigaram tanto contra isto quanto Francis Schaeffer, contrariando o principio liberal e existencialista que estava dominando os estudantes da Bíblia que dizia ser a fé “um salto no escuro”. Ele diz: “Não!” A fé cristã não é teórica, antes possui pressupostos da história, não se trata apenas de ideias ou doutrinas, mas está firmada na pessoa de Jesus, alguém que viveu na Judeia, nasceu nos dias do Rei Herodes, e foi crucificado “sob o poder de Poncio Pilatos”, governador preposto de Roma que governa aquela região da Palestina.
Este é um principio fundamental do cristianismo. A fé cristã é factual, firmada sobre a pessoa histórica de Jesus, que andou entre nós fazendo o bem, manifestando a graça de Deus sobre os homens, e morreu crucificado numa cruz.

Segundo, a fé cristã repousa num Deus acessível  

Todas as religiões possuem pressupostos sobre suas divindades e agem de acordo com a convicção que possuem elas, afinal, “os homens se parecem com seus deuses”.
Para algumas, Deus é misterioso, nebuloso, incompreensível, envolvido em mistérios, insondável. Trata-se de um ente diferente, distante, sublime, e muito difícil ser tocado. Animistas, religiões místicas e esotéricas, desenvolveram esta visão de Deus.
Para outras, Deus é enigmático, irreconhecível, inacessível, ainda que se comunique com os homens, não é possível elaborar qualquer concepção sobre ele, porque ele é o “numinoso” conforme Rudolf Otto em “The Idea of the Holy “(1917) e C. G. Jung que via o encontro com numinoso como uma característica de toda experiência religiosa. Bultmann falava do “inteiramente outro”.
Em outras religiões, Deus é uma extensão do eu. Nada mais que o interior absorvido e potencializado pela eternidade. Deus não é o “outro”, mas o “eu-estendido”, agindo na subjetividade. Assim afirma o budismo, uma religião com rituais mas sem uma concepção clara de Deus, nesta tradição não existe oração (dirigida ao Outro), mas contemplação (voltada para a interioridade), ainda que isto pareça estranho.
O islamismo desenvolve a ideia de um Deus forte, guerreiro, poderoso, conquistador e justo, que não suporta pecados e incoerências humanas, e pronto a punir os ímpios. “Allah é grande!” O “maktub”, pré-determinista e fatalista define um pouco desta divindade. O “jihad” é concebido como forma de julgamento dos fieis contra os ímpios, e a blasfêmia contra este deus é inaceitável e deve ser combatida com ira. Deus nunca é concebido como Pai, embora seja identificado como guerreiro.
Os judeus conceberam Deus como alguém assustador. Na entrega das tábuas da lei de Moisés, as pessoas precisaram ficar longe do Monte Sinai, pois quem se aproximasse, morreria. O templo e sua arquitetura revelam este distanciamento. Qualquer pessoa que não fosse judia e adentrasse o lugar dos santos, morreria; qualquer pessoa que fosse judia e decidisse entrar no santo dos santos, também morreria.
Quem poderia conceber um Deus acessível?
O Natal nos fala disto.
Jesus é Emanuel, que quer dizer “Deus conosco!”
O apóstolo João se maravilha ao descrevê-lo: “O que era deste o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam com respeito ao verbo da vida. E a vida se manifestou e nossas a temos visto”(1 Jo 1.1).
Deus assume forma humana, no rosto de uma criança indefesa e frágil, que precisa cuidados de mãe e pai, o Deus eterno se torna carne. Plena humanidade. Não tinha apenas a “semelhança” humana, como queriam os docéticos, mas tinha na sua essência a humanidade, era 100% homem, suscetível a todas as necessidades humanas, sentia fome e frio, e tinha necessidades emocionais e  fisiológicas.
Jesus chama a Deus de “Aba, Pai” no Getsêmani (Mc 14.36). “Aba” é uma expressão de ternura, usada afetivamente pelas crianças de colo ao chamarem o seu “paizinho” ou “papai”. Esta expressão segundo J. Jeremias não encontra analogia na literatura da época. Neste sentido, em nenhum texto do Antigo Testamento ou na literatura judaica, alguém se dirigiu a Deus como “Aba, Pai” (J. Jeremias, Teologia do Novo Testamento. São Paulo, Hagnos, 2008) p. 69
Aba, em sua origem é uma forma de balbucio de uma criança recém-desmamada e, para os judeus, certamente pareceria falta de respeito se dirigir a Deus como “Aba, Pai”.  
Leonardo Boff, tecendo considerações sobre a humanidade de Cristo, afirmou: “alguém assim tão humano, só poderia ser Deus”. Natal aponta para um Deus transcendente, mas imanente, alguém sublime e majestoso, mas tangível. O profeta Isaias descreve Deus como alguém que habita num alto e sublime trono, mas também com o humilde e abatido de espírito. Deus é grande, intransponível, misteriosos, mas absolutamente acessível.
Em Jesus, vemos este Deus que se aproxima da raça humana, se deixa tocar, caminha nas estradas poeirentas da Galiléia, absolutamente Deus, completamente humano. Cumpria-se assim a promessa do anjo Gabriel ao anunciar seu nascimento a Maria: “Ele será chamado Emanuel, que quer dizer: Deus conosco!”. 
É isto que os Evangelhos falam sobre o Natal!
Na sua pregação, o apóstolo Paulo fala da reação cultural à encarnação do Deus que ele pregava, “escândalo para os judeus e loucura para os gentios”(1 C0 1.21). esta concepção de um Deus acessível era escandalosa. Parecia delírio para os gentios, marcados pela cosmovisão dualista platônica que cria ser a matéria intrinsecamente má, e o espirito, bom.  Era um escândalo para os judeus que imaginavam Deus tão distante e agora este Deus assume um corpo humano, se materializa.
Jesus escandaliza os judeus ao chamar Deus de “paizinho”. A mensagem de Paulo escandaliza por falar de um Deus encarnado. Tudo soava quase como blasfêmia, afinal, Deus não pode ser assim, tão intimo...
Paulo desmistifica a visão do sagrado & profano, ao afirmar: Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai (Rm 8.15). Apenas no Evangelho, o Eterno e Soberano Deus é chamado de “nosso Aba, Pai”.
Afinal, “o inteiramente humano se tornou inteiramente nosso irmão”(Bultmann).

Terceiro, Deus decidiu se historicizar – Ele se manifestou na história.
O verbo “manifestar” vem do grego “epifaneia”, e ocorro duas vezes no vs. 2 “A vida se manifestou”, isto é, tornou-se visível, perceptível a olho nu.
O que significa isto?
Por que Deus decidiu se “manifestar” na história? O Eterno decidiu invadir o temporal?
Jesus afirma que ele veio revelar o Pai, demonstrar sua verdadeira natureza.
“Quem me vê a mim, vê o Pai, como dize-nos tu, mostra-nos o Pai?” Esta é a afirmação de Jesus a uma indagação de seu discípulo Filipe.
Jesus veio revelar a identidade e o coração de Deus.
Deus criou o homem para um vinculo de amor, mas este homem decidiu viver separado de Deus, quebrando sua aliança de amor. O pecado gera indiferença e distanciamento, e Jesus veio para restaurar a humanidade com Deus.
Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo” (Ef 2.13).
Ora, tudo provem de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação, a saber, que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2 Co 5.18-19).
Ele se manifestou na história para redimir a raça humana de sua grave consequência espiritual, que seria a morte eterna.

Conclusão:
Certo jogador profissional de beisebol procurou o Pr. Ray Stedman com uma questão: “Eu sou jogador profissional e tenho sempre ouvido que preciso ter auto-confiança de desejo ter sucesso na vida, entretanto, você me diz que não devo confiar em mim, mas sim em Deus. Como isto pode acontecer?
O pregador respondeu:
“é Muito simples. Você precisa renunciar sua confiança em si mesmo e reconhecer que Deus trabalhando através de você, pode fazer mias do que quando você confia em si mesmo, pois sua obra em nós traz um efeito eterno. Quando você confia em si mesmo, tudo o que pode fazer alcança apenas o que é visível aos olhos, e você só terá sucesso no que vê; mas quando Deus trabalha, o efeito de Deus em sua vida vai muito além daquilo que sua visão alcança. Isto é tremendamente diferente”.

Qual é, então, o efeito prático destas verdades?
O vs 3 parece nos responder: Comunhão e relacionamento.
para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco, ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo”.

Comunhão possui duas vertentes:

A.   Parceria – Deus nos convida para uma vida compartilhada, tempo compartilhado, recursos e alvos compartilhados. Ele nos chama para trabalharmos juntos com um fim compartilhado. Isto é parceria. Qual é este alvo? Ser parecido com ele mesmo;

B.    Amizade – Não apenas parceria, mas amizade. Estas duas palavras juntas, geram relacionamento.

Von Groninken afirma que a palavra chave na Bíblia é pacto. Rick Warren prefere um termo menos teológico: relacionamento. Ambos dizem a mesma coisa, e é isto que Jesus veio fazer. Este é o propósito dele ao habitar entre nós.

O Filho do Homem se manifestou na história para que o relacionamento do homem com Deus fosse restaurado. Ele fez isto pelo seu sangue, ele reconciliou os homens com Deus “por intermédio da cruz, destruindo por ela a inimizade” (Ef 2.16). Paulo ainda afirma: “Assim, já não sois mais estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Ef. 2.19)

O apóstolo João conclui esta seção que vai de 1 Jo 1.1-4 afirmando o seguinte: "Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa" (1 Jo 1.4).
Somos uma geração obcecada por alegria e bem estar, queremos comodidades, conforto, acesso a bens de consumo, recursos. Apesar desta busca desenfreada pelo prazer e bem estar, estamos sempre fracassando neste projeto. Vivemos descontentes, amargurados, ressentidos, sem prazer na vida, ou como afirmou Luiz Filipe Pondé, estamos na "era do ressentimento". Casamos para sermos felizes, mas depois de muita pompa, luxo e glamour, nos divorciamos cansados e frustrados. 
Isto demonstra que a fórmula que temos usado para buscar alegria não está funcionando.
Somos pessoas com mais recursos, mas infelizes. Não encontramos prazer em viver e amar. O que aconteceu conosco?

João indiretamente responde isto:
"Estas coisas, pois, vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa".

Felicidade não pode ser o alvo - felicidade é consequência. 
O apóstolo João já era bem idoso quando escreveu esta carta. Ele viu muitas pessoas em busca da alegria e percebeu também o vazio de seus corações. Ele dá a fórmula da alegria.
Se você leu cuidadosamente o texto, verá que o segredo vem antes. A que ele se refere?
O Segredo encontra-se na comunhão que temos com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo (vs 3).
Felicidade é resultado. Ela chega ao nosso coração quando algumas coisas estão presentes. A comunhão com Deus gera em nós a tão almejada alegria.
Ela surge quando o coração encontra-se com o seu criador. Na caminhada com Deus, experimentaremos alegria. talvez seja isto que Jesus tenha dito ao declarar: "Aquele que crê em mim, nunca será confundido". Esta confusão interior é vencida, quando não confiamos em coisas, pessoas, recursos, situações ou condições favoráveis, mas colocamos nossa confiança em Deus.
Jesus nos dá vitória sobre nossa confusão mental e tolos pressupostos. Na comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo, "nossa alegria será completa".

Este é, em última instância, a essência do Natal.