Introdução:
Estamos
vivendo dias de profundas expectativas.
Dia 4 de Junho 2017, realizamos o primeiro culto na valiosíssima propriedade
que nos foi doada pelo Grupo Lírios do Campo, onde queremos construir nossa
igreja e desenvolver projetos comunitários na cidade de Anápolis. É um clube extinto, numa área periférica de Anápolis, com 120 mil M2. Uma graça maravilhosa recebida de Deus.
Deus
viu possibilidades onde sequer sonhávamos...
Deus
está nos surpreendendo com aquilo que sequer esperávamos.
Os
sonhos de Deus são muito maiores que nossa fé.
O
texto de Juízes 6 nos fala disto também. Fala de Deus dando esperança e vocação
para Gideão, um homem com a auto estima baixa, que se julgava incapaz, mas Deus
o chama e o designa para ser juiz sobre Israel.
A
situação de Israel era caótica:
O povo de Deus sofria
uma espoliação e saques periódicos dos midianitas, amalequitas, e povos do
oriente. Se você pensa que a ideia do arrastão no Rio de Janeiro, é uma ideia
nova, basta ler este texto para descobrir que os saqueadores dos dias de Gideão
já fizeram isto há muito tempo atrás.
Acuado,
o povo se escondia como podia. Fazia covas nos montes para esconder a colheita.
Quando os riscos aumentam, é necessário se tornar precavido. Veja o que Gideão
fazia. Onde ele está malhando trigo? No lagar (Jz 6.11). Mas o lagar não é lugar
certo para se separar o grão da palha, antes um lugar de se espremer uvas. Ele
fazia isto para se esconder da eminente ameaça de que algum bandido da região
viesse roubar sua produção, conseguida com muito labor. Os bandidos não
plantavam, mas na época da colheita subiam para roubar de quem havia plantado.
A realidade era cruel.
Quando
Deus chama Gideão ele estava trabalhando, e apesar do aspecto sobrenatural do
seu chamado, feito pela mediação de um anjo do Senhor, ele resiste ao chamado
de Deus. Isto prova que quando estamos desesperançados, nem quando Deus se
manifesta de forma tão evidente temos capacidade de crer.
Suas
dúvidas, como todas as dúvidas pessoais, geralmente possuem uma história. As
condições de vida do povo naqueles dias apontam para isto:
1.
O
sofrimento excessivo – Quando
a situação está difícil demais, temos dificuldade de crer. Lembra de Pedro no
barco prestes a afundar? Quando Jesus veio ter com eles, andando sobre as
águas, ele ficou mais apavorado ainda: “É um fantasma!”. Além da conturbada
situação tinham ainda que lidar com assombrações?
2.
A
sensação de um Deus distante.
Gideão não tem dificuldade em crer em Deus, mas que ele pudesse intervir na sua
história particular. “Ai Senhor meu! Se o
Senhor é conosco, porque nos sobreveio tudo isto?” (Jz 6.13). Ele conhecia
a história do seu povo e como Deus os havia livrado tantas vezes, já ouvira
falar do livramento do Egito, mas tais histórias pareciam ter se perdido num
passado longínquo, e a experiência dos seus pais não servia para ele. Deus
parecia alguém muito distante. “...não
nos fez o senhor subir do Egito? Porém, agora, o Senhor nos desamparou e nos
entregou nas mãos dos midianitas” (Jz 6.13). Diante do sofrimento questiona
a solidariedade de Deus para com o sofredor: “Se o Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto?” Sente-se
abandonado por Deus. Falta-lhe a experiência concreta com Deus, como Jó afirmou:
“Eu te conhecia só de ouvir, as agora os meus olhos te veem”. Não nos sentimos
muitas vezes assim?
3.
Síndrome
do oprimido – Gideão
subestima sua capacidade pessoal, mesmo quando Deus afirma seu valor. “O Senhor é contigo, homem valente” (Jz
6.11). Gideão vê limites, quando Deus vê possibilidades.
Gideão
não se vê com os potenciais que tem. Nega até as radicais afirmações que Deus
tem sobre ele (Jz 6.140.
Gideão
não vê os recursos. Ele não tem esperança alguma e nem projeto algum. Ele nunca
pensou nisto. “Ai Senhor meu! Com que
livrarei Israel?” (Jz 6.15). Vê sua família de forma insignificante. Vê sua
família como menor, e se sente o menor dentre sua família.
4.
Excesso
de realismo. Tenho aprendido
que meu realismo sempre torna-se um obstáculo à minha fé. Isto também aconteceu
com Gideão. Quando começamos a fazer contas, a ver se temos condições de
determinado projeto, a realidade é que nunca achamos que teremos o suficiente.
A anti-fé é sempre realista. “Não incomodes o mestre, a menina já está morta”.
A realidade leva à perda da fé. Mas a fé vê o invisível, ela transcende a
esfera do possível. A fé para Gideão é algo tão abstrato que não lhe dá suporte
para nada. Ele não crê que é possível, os fatos dizem que é impossível. Mas
Deus zomba das condições e dos fatos. Por isto a definição de fé na Bíblia é
assim definida: “Fé é a certeza de coisas
que se esperam, convicção de fatos que se não vêem” (Hb11.1).
5.
Gideão
pede sinais porque lhe falta
fé. Seu raciocínio é o seguinte: “preciso ter algo nas mãos para crer”. Mas a
lógica de Deus é a seguinte: “Bem aventurado os que não viram e creram”. Gideão
pede uma prova e Deus lhe dá (Jz 6.17). Tenho visto muitas pessoas colocando
Deus à prova, e achando que este texto nos ensina a fazer isto. A verdade,
porém, é outra: Deus não quer que lhe coloquemos à prova. Quem está sendo
provado somos nós. Portanto, obedeça e se submeta à Deus.
Apesar
de todos estes obstáculos, o Senhor vê possibilidades e quer fazer sua obra:
Gideão
é um homem vê tímido, dúbio e medroso, Deus contudo o chamou para grandes
feitos numa época de profunda crise histórica e social, Deus o levanta
poderosamente. Este texto quer nos mostrar que é Deus quem realiza a obra,
independente de nós mesmos.
Deus
capacita o medroso e incrédulo Gideão: “O
Senhor é contigo, homem valente”. (Jz 614). Quando Deus lhe diz isto ele
deve ter olhado para os lados para ter certeza de que Deus falava realmente com
ele. Ele se vê despreparado. Ou seja, o que nós pensamos de nós mesmos, nem
sempre corresponde aquilo que Deus vê e felizmente a obra é ele mesmo quem
realiza. O resultado é um número muito grande de frágeis líderes, levantados e
capacitados por Deus para abençoar outros. “Não
que por nós mesmos sejamos capazes de pensar alguma coisa, como se partisse de
nós, pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus” (2 Co 3.5). “Temos, porém, este tesouro em vasos de
barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”(2 Co 4.7).
Tem
sempre sido assim. Deus vê possibilidades em Moisés, que se acha dúbio e gago; Deus
vê possibilidades em Jonas, que se recusa a cumprir sua ordem; Deus vê
possibilidades em Jeremias, que se julga menino. Assim Deus faz conosco. Ele
nos dá tarefas que honestamente consideramos incapazes de realizá-la.
Quando
Deus chama a um projeto é porque isto faz parte dos seus planos e ele deseja
realizá-los. Através de nós, em nós, e, a despeito de nós.
O frágil, pusilânime
e dúbio Gideão, capacitado pelo poder de Deus, começa a fazer o impensado:
Derriba o altar de Baal, do próprio pai à noite, com 10 homens, desafiando as
normas sociais e religiosas, afrontando a idolatria que era a causa da
decadência do povo de Deus.
Sua atitude poderia
ser fatal, mas quando Deus quer fazer algo ele move as pessoas, ele impulsiona
o coração dos homens a fazerem coisas surpreendente. A cidade toda adorava um
ídolo chamado Baal, a estrutura era pesada, porque Gideão precisou utilizar 10
homens para jogar por terra aquele altar.
Quando os homens da
cidade acordam e veem o altar cortado e derribado, logo descobrem o autor, e
por isto procuram seu pai, um respeitável cidadão para pedir dele uma posição.
A resposta que ele dá aos anciãos é tremenda:
“Contendereis vós por Baal? Livrá-lo-eis
vós?... Se é deus, que por si mesmo contenda; pois derribaram o seu altar”(Jz
6:31).
Conclusão:
Este é sempre a
realidade bíblica.
O poder é de Deus.
Nós somos vasos, instrumentos.
Esta realidade aponta
para o sacrifício de Cristo. Sua salvação, gratuita, substitutiva. Deus não nos
salva pela nossa bondade, habilidade, espiritualidade. Ele nos salva
gratuitamente. “Mas Deus prova o seu
próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nos, sendo nós
ainda pecadores” (Rm 5.8). Nada de excepcional em nós. Isto é esperança para
muitos que se acham moralmente incapazes, que pensam que Deus não pode aceitá-los,
mas isto também é um alerta para muitos, que acham que Deus os ama com base no
fabuloso currículo espiritual que possuem. A graça de Deus dá oportunidade aos desesperançados,
mas a graça de Deus desmascara os orgulhosos.
Gideão, o homem mais
improvável, pelo seu temperamento e baixa auto estima, é chamado e capacitado
por Deus para tirar o povo de Israel deste ciclo de agrura e opressão. Foram sete anos de opressão com
saques sistemáticos. O povo ajuntava o trigo, os saqueadores levavam. Mas Deus
faz o impensável através de um homem tímido. Gideão é o seu instrumento, para
que Israel entendesse que a glória era de Deus, e não de grandes estratégias,
sofisticados planos e mentes brilhantes.
Antes da libertação definitiva, Gideão ainda
vai experimentar outra recaída. Desta vez pedindo sinais ainda mais complexos.
Deus o atende. Numa noite ele coloca uma porção de lã no terraço, e pediu que o
orvalho só caísse sobre a lã, e a terra ficasse seca e Deus atendeu. Não
satisfeito, pede o contrário: que só caísse orvalho na terra, e não na lã. Deus
novamente o atendeu.
Ali estava um homem
fraco e descrente. Mas Deus resolveu usá-lo para sua graça.
Depois da doação
desta área tão fantástica que recebemos, muitos colegas vieram expressar seu
contentamento pela notícia. Um deles, mais entusiasmado me disse: “Samuel, você
é o cara!”. E eu, com cara de espanto lhe respondi: “Rapaz, eu nada fiz para
merecer nem para receber isto. Não conversei com ninguém, não articulei nada.
Se isto está acontecendo, só existe uma explicação: Deus quis
fazer isto!"
eu nao quero abrir mão deste sonho. preciso crer que tudo é possível quando Deus quer.
eu nao quero abrir mão deste sonho. preciso crer que tudo é possível quando Deus quer.
Portanto, a glória é
de Deus.
Soli Deo Glory
Rio de Janeiro,
Gávea, Março de 1994
Refeito em Junho 2017