quinta-feira, 4 de maio de 2017

Lc 24.13-35 Restaure seu projeto de vida


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Introdução:

É muito comum encontrarmos pessoas cansadas, desanimadas, quase a ponto de entregar os pontos. Alguns anos trás li com interesse a trajetória de um motorista de ônibus, trabalhando pela mesma empresa por mais de 20 anos, sem nunca ter sido advertido, que inesperadamente mudou sua rota e fugiu com o ônibus sendo encontrado a 700 Kms do local de trabalho. Quando foi “apanhado”, exames revelaram que ele encontrava-se num acentuado quadro de stress e fadiga. Ao perguntarem porque fizera isto ele respondeu: “Estava cansado de fazer sempre a mesma coisa, e resolvi fugir”. Ao invés de receber punição da empresa, recebeu inúmeros e-mails e mensagens de solidariedade de pessoas que se sentiam da mesma forma.

Este texto nos fala de dois homens desolados, cansados, desanimados, sem perspectiva. Representa um grande contingente de pessoas que se entregam a um projeto de vida e de repente veem seus investimentos: tempo, energia, dinheiro, talento aparentemente sem sentido.

Estes dois homens no caminho de Emaús largaram seus projetos particulares para seguir Jesus de Nazaré, uma pessoa que os inspirava, que lhes deu propósito e sentido, e que eles criam ser o “Messiah”, prometido de Israel, que havia sido anunciado pelos profetas. Investiram suas vidas, colocaram seus sonhos, desejos, que redundaram em nada.

O Projeto aguardado do Messias acabou numa cruz, morto de forma cruel. O sonho e utopia, enfim, acabaram...

O que fazer quando os sonhos mais profundos e acalentados ruem?

Alguns discípulos como Pedro resolutamente disseram: “Vamos pescar” (Lc 21.3). A expectativa falhara e precisavam voltar à antiga profissão. Outros disseram como estes discípulos: “vamos para casa!”.  Esta atitude deles reflete o desalento existencial de todos discípulos, e é carregada de pessimismo:

Nós esperávamos”... (Não esperamos mais...)  Uma esperança despedaçada, fé desmoronada, gente desacreditada...

Eles enfrentam aqui cinco fatores D:
i.               Desilusão – 24.13  - Retorno à terra;
ii.              Desesperança – 24.21  x esperança
iii.            Desânimo – A vocação/vida, perdeu a razão. Coração desanimado.
iv.            Descrença – 24.22-24 , coração desanimado. O que fazer, se o coração não consegue mais crer o que sabe ser verdade?
v.              Desamparo – 24.29

O texto nos revela alguns problemas que gente assim experimenta:

  1. Gente desesperançada, não enxerga bem – “os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer” (Lc 24:16)  No meio das aflições é fácil ter uma distorção da realidade, a ter uma miopia dos fatos. Determinadas análises que fazemos no meio da dor, são tolas, absolutamente sem sentido...

Tenho aprendido isto em aconselhamento.
Encontro muitas pessoas entristecidas, ou iradas, blasfemando e reclamando na vida, porque as leituras que fazem acerca dos eventos são deturpadas. Emoções distorcem a realidade. Uma pergunta que sempre faço no meio de tais situações é: “Você acredita que tem condições de, no momento, julgar corretamente o que está acontecendo?”
Uma mulher com TPM, facilmente se tornará irritadiça e considera a situação de forma bem mais pesada do que na verdade é. Um homem aflito, tornar-se reativo, ríspido, cínico, porque sua leitura dos fatos encontra-se confusa.

Certo casal jovem percebeu que qualquer discussão que acontecia antes do almoço se tornava um grave problema. Não podia conversar com fome, porque se tornava mais agressivo...

O Salmo 77 revela bem esta tensão: O salmista está visivelmente contrariado com Deus, em dúvidas sobre seu caráter e o que estava fazendo.
Rejeita o Senhor para sempre? Acaso, não torna a ser propicio? Cessou perpetuamente a sua graça? Caducou a sua promessa para todas as gerações? Esqueceu-se Deus de ser benigno? Ou, na sua ira, terá ele reprimido as suas misericórdias? Então disse eu: Isto é a minha aflição; mudou-se a destra do Altíssimo”(Sl 77.7-10).

O salmista reconhece que a dor afetou sua percepção. Sua aflição o levou a fazer uma leitura equivocada sobre Deus e seus motivos.

Não é exatamente assim que acontece conosco?

Os discípulos não conseguiam reconhecer o próprio Senhor Jesus ressurreto que caminhava com eles. Andaram 12 kms sem o reconhecerem. Deus pode estar ao nosso lado, falando conosco, mas se estivermos alterados emocionalmente é provável que não reconheçamos sua presença conosco.

  1. Gente desesperançada não enxerga além da dor. “Então lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração em crer tudo o que os profetas disseram!” (Lc 24.25).

A leitura dos fatos para aqueles discípulos se reduzia àquele momento. 

Uma das coisas mais salutares e que pode nos libertar de grandes angúé simplesmente dizermos a nós mesmos no meio da crise:  “Isto também vai passar”.

Não é isto que percebemos nestes confusos discípulos. Eles ficam girando no meio da sua dor, a gravitação emocional não permite que eles vejam além da dor e sofrimento.

Que diferença entre o sofrimento de Jesus e o destes discípulos.

Quando Jesus toma o pão e o vinho, que representavam seu sacrifício na cruz, ele ora a Deus e agradece. Como agradecer no meio do sofrimento? Jesus não via a dor como mera dor. A dor estava permeada de sentido, ainda que não possamos entende-lo quando estamos no olho do furacão. A perspectiva de Deus nos ajuda no meio da dor, mas temos que caminhar para além da dor, e ver a soberania de Deus no meio de toda confusão. Os discípulos não conseguiam colocar o sofrimento de Cristo na perspectiva certa, e equivocadamente ficam repetindo a visão da injustiça, e a dor termina na dor em si mesma. Este é um grande desafio. A dor como mera dor retroalimenta o sofrimento.

D. Martin Loydd Jones afirma que “auto análise é boa, mas a introspecção é mórbida”. Isto é, temos que parar, avaliar os fatos da vida, colocando-os na visão correta, mas quando ficamos remoendo indefinidamente os dramas, corremos o risco de não irmos adiante.

  1. Gente desesperançada tem dificuldade de lembrar as promessas de Deus – “Ó néscios e tardos em crer” (Lc 24.25).   

Os discípulos se apegaram às trágicas circunstâncias, e não se recordavam das promessas de Deus concernentes àquelas circunstâncias. Pessoas com incapacidade de enxergar as coisas com fé, não são capazes de olhar as promessas de Deus.

Se no meio de nossas ansiedades olhássemos as promessas de Deus com relação ao futuro...

Se no meio de nossa depressão, olhássemos o perdão de Deus por nós, e fôssemos capazes de recordar o incondicional amor de Deus por nós.

Se no meio de nossa culpa, olhássemos para o sangue de Jesus e o perdão que encontramos na cruz...

Se no meio de nossos temores lembrássemos do cuidado de Deus...

Se nos meios de nossas tragédias nos lembrássemos da soberania de Deus: “nada acontece por acaso, Deus tem um propósito nesta experiência dolorida que estou experimentando”.  Não estou vendo agora, mas sei que tem...

O profeta Jeremias, olhando para os trágicos eventos acontecidos no meio do seu povo afirma: “Quero trazer à memória, o que me pode dar esperança: As misericórdias do Senhor não tem fim, renovam-se cada manhã” (Lm 3.23,24).

Onde Jesus procura colocar os olhos destes desolados discípulos? Nas promessas de Deus contidas nas Sagradas Escrituras. É na Palavra de Deus que encontraremos respostas e venceremos a dor pela qual estamos atravessando.

  1. Gente dolorida tem dificuldade em enxergar os novos fatos que estão surgindo. A pergunta do texto anterior nos fala destes novos fatos. “Por que buscais entre os mortos ao que vive?” (Lc 24.5).

As mulheres anunciaram ter visto os anjos... Os discípulos não acreditaram...

Os discípulos verificaram a autenticidade da informação, mas continuaram duvidando... A informação era correta, mas eles se apegaram ao pior lado dos fatos...

Esta é a dura tarefa de um conselheiro cristão, que procura mostrar as verdades de Deus, para pessoas que tem dificuldade em ver que o novo de Deus está surgindo.

Não vos lembreis das coisas passadas, nem considereis as antigas. Eis que faço coisa nova, que está saindo à luz; porventura, não o percebeis? Eis que porei um caminho no deserto e rios, no ermo, para dar de beber ao meu povo, ao meu escolhido” (Is 43.18,19). Como dar perspectivas corretas torna-se tantas vezes uma tarefa árdua. É necessário entender que nem tudo está perdido, quando há um Deus que ressuscita os mortos. Existe muita coisa ainda para acontecer, a vida continua. Deus está lá na frente de todo processo.

O piedoso rei Josafá conseguiu, num momento muito ameaçador de sua vida, estabelecer a perspectiva certa. Ao ver as ameaças dos inimigos, e sua própria impotência, declarou a Deus: “Não sabemos o que fazer, porém, nossos olhos estão postos em ti, Senhor” (2 Cr 20.12). Esta é a correta afirmação. Tudo está pesado, mas temos um Deus que cuida de nós. Podemos confiar e ainda descansar nele.

O que fazer para restaurar  os projetos?

  1. Caminhar com Jesus – Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles” (Lc 24.15).

As coisas mudam quando Jesus anda conosco.
Esta é a melhor definição de discipulado.

Jesus chega e caminha com estes desolados discípulos.
Esta doce presença reacende a esperança, coloca fogo no peito destes discípulos. “Porventura, não nos ardia o coração?” (Lc 24.32).

Sem Jesus somos consumidos pelo desalento e pela dor, mas com ele, uma nova realidade de vida brota como fogo em nossa alma.

É preciso caminhar com Jesus.
Isto não é institucional, mas algo pessoal e intimo. Não estamos falando de outro coisa senão, andar com Cristo, comer com ele, ouvi-lo, deixar que sua companhia nos invada todo o ser.

  1. Releitura  da Palavra  - “E começando por Moisés , discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc 24.25).

O que Jesus faz?
Simplesmente começa a ensinar-lhes a Bíblia.

Muita crise espiritual do povo de Deus é resultado da ignorância ou de uma leitura equivocada das Escrituras.

Qual era o problema básico deles? 
Dificuldade em crer. Incapacidade de lembrar o que a Palavra diz. Tardios de coração para crer. Jesus percebe isto...Qual a solução que Jesus lhes apresenta?  Começa a relatar o que Deus prometeu...

No meio da crise, desesperança, falta de sentido, comece a ler a Bíblia dizendo a Deus: “O Senhor promete vida abundante para mim, então porque estou vivendo em tanto medo e ansiedade? O que está acontecendo?” Tome as promessas de Deus para sua vida, reflita sobre elas, ore através da Bíblia.  No meio da desesperança, abra a Bíblia com fé e diga: “Senhor, ajude-me a lembrar das tuas promessas, mantenha minha mente encharcada delas, para que eu possa nutrir minha alma de suas verdades”.

No meio da dor diga: “Senhor, fale comigo por meio da tua palavra, preciso de tua consolação”.  A Palavra de Deus é viva e eficaz...Aprenda a desfrutar da eficácia desta palavra que é viva, e do Deus desta palavra que tem interesse em falar contigo no meio de todos os seus descaminhos e sofrimentos.

Volte para a Bíblia! Devocionalmente... Leia e releia os Salmos, ore com os homens crentes do passado que também tiveram dúvidas, conflitos e medos.

Jesus expôs a palavra. Literalmente Jesus “expunha-lhes a palavra”(no grego, dihermeneuo) (Lc 24.27). O original grego usa a mesma palavra para hermenêutica. Jesus fez a “hermenêutica” de Moisés, dos profetas e dos salmos. Ele interpretou a Bíblia para seus discípulos, ele estudou a palavra de Deus com eles.

Quando se estuda a Palavra de Deus esperando encontrar resposta, esta palavra gera o mesmo efeito que provocou no coração dos discípulos. Fogo no peito!


  1.   Retomada da comunhão - Reparta o pãoE aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando eles o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles” (Lc 24.30,31).

Muitas das nossas descrenças são geradas por causa do nosso isolamento, da solidão que a sociedade moderna coloca em nós, à recusa da entrega, do partilhar. Não é possível perceber Jesus na solidão.

A experiência relatada no texto nos mostra o poder da comunhão. A Igreja, ao repartir o pão, ato este tão simples pela sua própria natureza, gera despertamento e graça, compreensão dos fatos divinos. Partir o pão tem a ver com amizade, solidariedade, onde se vivencia o próprio coração. Partir o pão tem a ver com deixar que pessoas penetrem seu universo, e andam contigo na sua história.
Esta figura nos lembra a ceia: Os discípulos assentados com o Senhor, participando da vida que ele decidiu entregar, fala de cura, restauração, graça...

Comunhão implica em hospitalidade, em trazer pessoas para sua casa, reparta com elas o seu lar. Tem a  ver com doação, rompimento da solidão, do distanciamento, da recusa em existirmos para nós mesmos. Eventualmente nosso coração encontra graça no gesto simples de encontrar com o irmão, tomar sopa, comer pão de queijo com café com leite, fazer pamonha e feijoada juntos...

Curiosamente, o Senhor só sé reconhecido quando se parte o pão.

  1. Retorno da vida comunitária- “E, na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém, onde acharam reunidos os onze e os outros com eles” (Lc 24.33)

Eu imagino que esta viagem de volta, deve ter sido a viagem mais rápida que aqueles discípulos jamais fizeram entre Emaús, que ficava a 12 kms, até Jerusalém. Certamente passaram muitas vezes pelo mesmo caminho, mas agora estavam possuídos por um desejo de compartilhar o que vivenciaram, queria estar com os irmãos. Eu imagino que, mesmo cansados, agora estavam renovados para voltar, de forma rápida, para compartilhar o que presenciaram.

Naquela mesma hora da noite, voltaram...

Esta viagem tinha seus riscos, estavam cansados, já tinham andado 12 kms, e agora fariam o trajeto de volta, 12 Kms até Jerusalém, mas não dava para ficar só...

Antigamente as pessoas encontravam sentido na comunidade, hoje evitamos ao máximo a companhia das pessoas. Participamos pouco dos programas comunitários, das atividades, protelamos ao máximo o encontro com o povo de Deus, estamos sempre arranjando desculpas para não estarmos juntos...

Lembro-me com saudade do início de nosso pastorado, nas poeirentas estradas de Minaçú-GO, visitando pessoas em lugares onde o carro não podia andar, andando por trilhas no meio do cerrado, subindo montanhas, sem estradas, mas todos estávamos alegres, e seguíamos cantando cânticos de adoração: “canta meu povo, alegra meu povo, que a festa não vai acabar, quando findar na terra no céu vai continuar”, ou alegremente cantando “caminhando vou à Canaã...”

Os discípulos voltavam para estar com aqueles que professavam a mesma fé.
Seu projeto de vida podia ser agora restaurado.

Quantas vezes encontro pessoas me dizendo: “Não sei se conseguiria passar aquela fase sem a comunhão da Igreja, sem a presença dos irmãos”.

Certa velhinha doente ouviu do seu médico que não poderia sair de casa por dois meses, e ela replicou: “Mas doutor, e a igreja?” E o médico respondeu: “Eles nem vão sentir falta de você”. Mas a velhinha respondeu: “A questão não é se eles vão sentir minha falta, eu é que vou sentir a falta deles”.

Conclusão:

O grande ponto a ser ressaltado aqui, é que os discípulos redescobrem o projeto que estava em questão. Na verdade, o ponto não era a restauração do projeto individual que tinham em mente, mas da missão que agora tinham diante de si, do mestre que até então estavam seguindo.

Quando aqueles discípulos chegam a Jerusalém, encontram os irmãos reunidos, Jesus se coloca no meio deles, olha para os discípulos e diz: “Por que estais perturbados? E por que sobem dúvidas ao vosso coração?” (Lc 24.38).

Em seguida, Tomé descobre isto em meio a grande incredulidade.
Durante muito tempo andaram com Jesus, mas só agora estão descobrindo sua verdadeira identidade. Quem é Jesus?

Tomé cai de joelhos e afirma: “Senhor meu, e Deus meu”.

Não se tratava apenas de um profeta, nem de um mestre, nem de um amigo.
Estavam diante do Deus encarnado.

O projeto da vida deles seria testemunhar, para sempre, quem era este Jesus ressurreto, que venceu a morte, que triunfou sobre a tragédia.

O grande projeto deles, já não era encontrar alegria ou satisfação em qualquer promessa, mas vivenciar a glória do Deus a quem estavam servindo.

O Deus que venceu a morte!
O Deus ressurreto.
Isto restauraria, por completo, o seu projeto de vida!

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Samuel Vieira
Medford, USA, 10 de Janeiro/98

Refeito Anápolis, 2017

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