Nos capítulos 2 e 3 de
Apocalipse, encontramos as cartas de Jesus, que foram transmitidas a João na
Ilha de Patmos, e que foram escritas e enviadas às sete igrejas da Ásia Menor,
e ficaram conhecidas como as 7 cartas. Apesar de terem uma geografia
relativamente comum, já que todas as sete igrejas do Apocalipse encontravam-se
na mesma região, elas possuíam históricos e tentações completamente distintas.
Nas sete igrejas observamos como
as estratégias do diabo são diferentes quando se voltam para diferentes
igrejas. Cada igreja possui seus traços particulares e Satanás usa pelo menos
sete armas, que certamente se aplicam à realidade de diferentes igrejas, para
enfraquecer a obra do Senhor. Assim como as pessoas, igrejas possuem culturas,
temperamentos e personalidades diferentes, ou como disse certo amigo: “os
demônios da Zona sul são diferentes dos demônios da Zona norte”, referindo-se
ao Rio de Janeiro e as dificuldades que distintas que tais igrejas passavam. As
primeiras sendo de regiões ricas e elitizadas; as outras, de bairros populares
e graves problemas de urbanização e recursos.
Ao analisar as sete igrejas do
livro de Apocalipse, vemos como seus pecados e tentações são diferentes, e como
as armas do diabo, usadas de forma planejada, são eficientes em cada uma delas.
Primeiro, frieza e comodismo
É isto que vemos em Éfeso, a
primeira igreja a quem essas cartas foram endereçadas.
Jesus faz o seguinte diagnóstico:
“Conheço as tuas obras, tanto o teu labor
como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que pusestes à
prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste
mentirosos (... Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor”
(Ap 2.2,4).
É uma igreja operosa (Ap 2.2) e perseverante
na obra, termo este usado duas vezes ( Ap 2.2 e 2.6); tinha zelo doutrinário a
ponto de confrontar certos líderes que naqueles dias se auto intitulavam
apóstolos (qualquer semelhança é mera
coincidência), mas apesar de sua ortodoxia, enfrentava graves problemas nos
seus afetos. Ela havia abandonado o primeiro amor.
É possível sermos conservadores
teologicamente, considerar a Bíblia Palavra de Deus e ainda assim termos o
coração frio e distante de Deus. O problema de Éfeso estava nos seus afetos,
que estavam cauterizados em relação a Deus.
Segundo, oposição maligna direta
Isto é o que acontece com a
igreja em Esmirna.
Ela é descrita como uma igreja
pobre, sem recursos, mas apesar disto vivendo sob forte ataque de Satanás. Esta
igreja era difamada na cidade e vivia sob forte questionamento por causa de
alguns judeus que eram verdadeira “sinagoga de Satanás”.
Esta igreja estava debaixo de
opressão maligna, os poderes políticos se opunham veementemente a este grupo, e
Jesus não fala de livramento, antes a encoraja a continuar sendo fiel para
enfrentar a tribulação e tortura que em breve aconteceria e à qual seriam
submetidos por dez dias. Deus não intervém para proteger esta igreja, antes
permite que ela passe por tal situação.
Muitas vezes encontramos igrejas
assim. Fieis, perseverantes, em condições sub-humanas, mas honrando a Deus, debaixo de forte opressão
maligna, que é uma poderosa arma do diabo contra a igreja. Perseguição e
oposição malignas diretas. Mas a igreja de Esmirna continuava firme neste
contexto de privação e acusação.
Terceiro, heresia
A Igreja em Pérgamo estava também
debaixo de forte oposição do diabo. A geografia daquela cidade era
verdadeiramente maligna, a ponto de Jesus afirmar que Satanás habitava naquele
lugar e havia colocado ali o seu trono. Existem determinadas regiões onde o
diabo parece possuir um poder quase absoluto. Cidades como Salem, nos EUA,
considerada cidade das bruxas; ou de Abadiânia, GO, controlada por um poderoso
bruxo que atrai a atenção dos poderosos de Brasília, e já foi visitado por
pessoas como Oprah Winfrey e Paul Simon, além de numerosos artistas globais e
presidentes do Brasil.
Entretanto, Jesus não censura a
igreja por estar onde está, antes a censura pelo seu próprio pecado e desvio
teológico, ou, como afirmou Júlio Andrade Ferreira, “A igreja não é destruída
por obra do diabo, mas por causa de seus próprios pecados. O diabo não pode
destruir a igreja de Cristo, mas o pecado, sim”.
O que havia em Pérgamo que era
tão prejudicial?
Dentro daquela igreja surgiu um
grupo herético chamado de nicolaítas, que sustentavam a doutrina de Balaão.
Pouco sabemos deste grupo, mas a estratégia de Balaão é bem descrita na Bíblia.
Ele era um famoso macumbeiro, que não tendo como amaldiçoar o povo de Deus, sugeriu
a Balaque (rei dos moabitas), que contratassem garotas de programa e colocasse
no meio do Arraial israelita. Estas meninas, sem ética alguma, mantiveram
relações sexuais com os rapazes do povo de Deus e uma doença generalizada se
instalou dentro do povo trazendo a conhecida praga de Baal Peor, na qual 24 mil
jovens morreram.
A praga de Balaão não funcionou,
mas sua estratégia sim.
O diabo não pode destruir o povo
de Deus, mas o pecado da igreja pode. O maior inimigo da igreja não é o diabo,
mas sua própria infidelidade.
A ética licenciosa de Balaão deu
certo. O povo sucumbiu por causa de seu pecado.
Na igreja Pérgamo, este grupo
estava influenciando as novas gerações, e Jesus censura a igreja por permitir
esta situação pecaminosa dentro dela.
Quarto, imoralidade
A Igreja em Tiatira é solapada
pela estratégia da imoralidade.
Uma profetisa famosa, cujo
pseudônimo é Jezabel, uma referência à diabólica esposa de Acabe, que foi
rainha em Israel e que introduziu o culto a Baal-Zebube no Reino do Norte.
Esta protesia, influente e forte
na igreja de Tiatira, conseguiu mascarar a fé a tal ponto que se tornou líder
na igreja, ensinando e profetizando, e conseguiu seduzir os homens da igreja a
praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas a ídolos (Ap3.20)
A Igreja em Tiatira possuía uma
veia esotérica, e um grupo daquela igreja resolveu se especializar no diabo,
procurando conhecer “as coisas profundas
de Satanás” (Ap 3.24). Não sabemos exatamente o significado disto, mas
certamente tratava-se de um interesse demasiado em satanismo que estava
adoecendo espiritualmente a igreja. A obsessão exagerada por demônios, adoece a
igreja.
O misticismo naqueles dias e
hoje, possui uma característica em comum: Apesar de esotérico não livra as
pessoas da imoralidade. Esta é uma característica curiosa: aparência exagerada
de conhecimento espiritual, mas superficialidade na ética. Não é muito difícil
encontrar este quadro em muitas igrejas cristãs ainda hoje.
Quinto, hipocrisia
O pecado essencial desta esta
igreja era a falsa espiritualidade. “Tens
nome de quem vives e estás morto!” (Ap 3.1)
Esta é uma afirmação muito forte,
vinda do próprio Jesus.
Este é o perigo mortal pelo qual
passava a igreja em Sardes. Ela mantinha as aparências de igreja, mas era
apenas representação. As pessoas viviam de uma forma que as coisas “pareciam”
estar em ordem, mas Jesus percebia o grave sintoma de morte que estava presente
na sua igreja.
Uma igreja pode ter aparência de
seguir a Cristo, manter seus programas, sua instituição, seu culto, seus
programas, mas ainda assim estar longe de ser aquilo que Cristo quis para o seu
corpo. Vivendo apenas de nome, sendo cadáveres espirituais, verdadeiros walking deads.
A recomendação de Jesus contra
este grupo é de vigilância.
Esta
exortação aparece duas vezes (3.2,3). É necessário estar alerta. Paulo fez a
seguinte afirmação: “Examinai, portanto, a vós mesmos, a fim de
verificar se estais realmente na fé”(2 Co
13.5).
A vida de quebrantamento e
comunhão com Deus pode nos livrar desta pseudo espiritualidade.
Sexto, falsos crentes
Para a igreja em Filadélfia, a
maior ameaça vinha de dentro, tratava-se de um grupo de irmãos, que se diziam
judeus, mas eram da sinagoga de Satanás. Nesta igreja tornou-se evidente o
velho jargão: “descobrimos o inimigo e ele é um dos nossos”.
Esta é uma estratégia
poderosíssima do diabo. Pessoas que afirmam pertencer a uma comunidade, mas sem
compromisso com Jesus, com o reino de Deus e com sua igreja. Mark Dever, no
livro “Nove Marcas de uma Igreja saudável”, afirma: "Membros de igreja que não se envolvem confundem tanto os
verdadeiros cristãos como os não-cristãos a respeito do que significa ser um
cristão". Por
isto defende que não devem fazer parte do rol de membros da igreja aqueles que
não possuem uma vida de compromisso claro e nem se comprometem com ela, e que a
liderança da igreja deve excluir pessoas que se tornam membros mas que não
possuem condições e nem desejam se submeter à palavra, e ao estilo de vida que
se é exigido de pessoas que se comprometem publicamente com determinada igreja.
Sétimo, arrogância espiritual
A Igreja de Laodicéia tem um
quadro espiritual complicado. Ela possuía uma visão equivocada de si mesmo e
sua arrogância era resultante do fato de que, se achavam espiritualmente bem,
quando aos olhos de Deus sua situação espiritual era assustadora.
“Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e
nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Ap 3.17).
Satanás fez esta igreja sentir-se
falsamente bem e segura, quando sua realidade eram perigosa e assustadora. “Os néscios são mortos por seu desvio, e aos
loucos, a sua impressão de bem-estar os leva à perdição” (Pv 1.32).
O que interessa não é o que você
pensa acerca de si mesmo, mas o que Deus diz sobre isto. Já vi muita gente
tola, vivendo pecaminosamente e dizendo: “Não tem nada a ver”, quando a palavra
de Deus afirma que isto “tem tudo a ver”. O que interessa não é o que a pessoa
pensa sobre si mesma, mas o que Deus pensa. Isto se aplica tanto ao crente que
se sente deprimido e culpado, quando deveria estar grato a Deus pelo perdão;
quanto àquele que diz o oposto: “Estou bem, estou resolvido”, quando Deus está
dizendo que é errado.
Conclusão:
As estratégias de Satanás não
mudaram e os pecados da igreja são os mesmos. Curiosamente hoje (31.03.2017),
morreu o cantor Belchior, que cunhou a seguinte frase: “Nossos ídolos ainda são
os mesmos, e as aparências não enganam mais”. Satanás não é criativo, mas é
perseverante. Ele sempre vai usar suas velhas e poderosas armas para atingir a
igreja.
Certamente alguns pecados
enumerados nos atinge frontalmente.
Por isto, precisamos de antídotos
contra as armadilhas do diabo, e é bom ouvir o que Jesus diz sobre cada um
destes pecados:
1. Contra frieza e comodismo – Ele diz: “Volta ao primeiro amor, lembra-te de onde caíste e arrepende-te” .
Precisamos desesperadamente nos preocupar com o coração apático e frio para as
coisas de Deus. Como está seu coração?
2. Contra a oposição maligna, que traz tribulação e pobreza –
Jesus diz: “Não retroceda, não temas!”.
Deus não promete livrar aquela igreja da tribulação, mas a encoraja a se manter
firme.
3. Contra as heresias – Jesus estimula a igreja a
lutar contra os falsos ensinamentos. Não é possível manter de forma saudável a
igreja, se pessoas dentro dela estão ensinando aquilo que contradiz o
pensamento de Deus.
4. Contra o pecado. O antidoto de Jesus é radical.
“Não tolerar” (Ap 2.20). Não se
negocia com aqueles que encorajam a imoralidade e desviam o povo da fidelidade
a Deus. Jezabel era profetisa e professora da Escola Dominical, portanto tinha
certa ascendência sobre a comunidade, mas deveria ser expulsa. Nenhuma
tolerância!
5. Contra a hipocrisia: Vigilância. A Igreja sempre
corre o risco de manter uma vida de aparência, dando a impressão de que as
coisas estão bem, quando há um estado de putrefação dentro dela “tem nome de que vive e estás morta” . O
que Jesus encoraja a igreja a fazer: “Sê vigilante!” Esta ideia aparece duas
vezes no texto (Ap 3.2,3). Precisamos estar atentos ao nosso próprio coração
enganoso.
6. Contra os falsos crentes: Jesus afirma que vai cuidar e
julgá-los (Ap 3.9). O texto não sugere uma ação específica da igreja, mas
revela que haverá uma ação de juízo do próprio Deus quanto a estes indivíduos.
Não diz que eles se prostrarão diante de Deus, mas afirma que “serão prostrados” (Ap 3.9).
7. Contra a arrogância espiritual – Precisamos de novas lentes. É
fácil criar uma falsa percepção equivocada sobre nossa real situação. Achar que
tudo está bem quando aos olhos de Deus as coisas estão sob julgamento. Fique
atento à pobreza de tua alma e volte para o Senhor que pode dar o que você até
então não achava que precisava (Ap 3.16).
Três observações finais:
A. Jesus conhece a sua igreja – A afirmação, “conheço”, aparece em todas as cartas
(2.2,9,13,19; 3.1,8,15). Jesus passeia no meio dela, vê suas mazelas e
virtudes, averigua as condições históricas e políticas, seus conflitos e
oposições. Não há nada na sua igreja que ele não saiba. Ele vê cada uma destas
condições. A igreja lhe pertence e ele a observa cuidadosamente.
B. Ele exorta e dá promessas
individuais a cada uma destas igrejas – A frase “ao vencedor” aparece em todas as cartas (2.7,11,17,26; 3.5,12,21).
Suas promessas são direcionadas a cada uma delas, observando suas lutas e
peculiaridades.
C. Ele exorta a todas as igrejas, a
não endurecer seus corações, mas atentar para sua palavra. A frase “ouça o que o Espírito diz às igrejas”, aparece
também em todas as cartas (2.7.11.17.29; 3.6,13,22).
Somos tardios em ouvir e crer.
Talvez tais observações se devam
ao fato de que é fácil se eximir e dizer: “Isto não é para mim”.
O Salmista Davi, pede a Deus para
que abra seus ouvidos para ouvir a Lei do Senhor. Nossa surdez espiritual
retira a sensibilidade. Estudiosos afirmam que os surdos-mudos são capazes de
entrar numa roda e dançar ao som de uma música, porque apesar de não ouvirem,
podem sentir as vibrações dos sons. Como
povo de Deus, infelizmente podemos nos tornar tão insensíveis a ponto de não
sentir mais as vibrações dos céus.
A exortação de Cristo é uma forma
crítica de dizer: “Quem tem ouvidos, ouça”,
afinal, todos temos ouvidos, mas será que todos temos capacidade auditiva?
A surdez espiritual pode ser
fatal.
Ignoramos as advertências de
Cristo e continuamos na nossa caminhada espiritual, ignorando o que Ele diz.
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