domingo, 23 de abril de 2017

Gl 3.6-14 Deus imputou



Introdução

Um dos conceitos bíblicos mais utilizados para se referir à obra de Cristo a nosso favor é a “imputação”. Neste texto, lemos inicialmente: “É o caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gl 3.6).

Qual é o significado desta afirmação?
Em Rm 4 Paulo fala deste mesmo assunto, referindo-se a Abraão. “Que, pois,  diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Pois se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus.. Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim com dívida. Mas, ao que não trabalha, porem crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim também que Davi declara, ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras”  (Rm 3.1-6).
Abraão não foi justificado porque fez algo. Sua justificação foi dada gratuitamente, e ele a recebeu pela fé.
A tradução viva afirma: “Abraão creu, e isto lhe foi creditado para justiça”.
Imputar é atribuir a alguém aquilo que ele não tem.
Isto aconteceu a Abraão, e é isto que nos acontece quando cremos na obra de Cristo. Deus coloca em nós sua justiça. Não a conquistamos, mas a recebemos como presente.

Tentando ilustrar:
Imagine que você esteja falido financeiramente, e procura o banco para negociar sua impagável dívida. Você sabe que geralmente o banco é inflexível quando alguém procura misericórdia. Banco não é agência de socorro, mas uma entidade financeira. Ao chegar ao gerente, ele observa que sua situação é realmente trágica e você está completamente falido.
Apesar de seu choro e súplica, você sabe que o gerente nada pode fazer, por mais que ele seja seu amigo. Você deve e precisa pagar!
Suponhamos então que o inusitado aconteça. Que o gerente se compadeça de você e use um fundo perdido do banco para zerar sua conta. E ele lhe entrega sua dívida completamente quitada. Você não deve mais nada. Não há registro no banco desta dívida, nem do Serasa. Seu nome está limpo.
Esta seria uma notícia maravilhosa, não é mesmo? Não dever mais nada!!!
Suponhamos então, uma coisa ainda mais magnífica. Quando você vai saindo de sua mesa, ele o convida para voltar. Você então imagina que de fato a história estava boa demais para ser verdade, mas ao retornar, o gerente coça a cabeça e lhe diz: “Vou fazer algo ainda maior por você. Vou colocar um crédito na sua conta”. E lança de outro fundo, o inusitado valor de R$ 20 mil reais. O que você acha?
Isto é o que Deus faz por  você.
Sua conta é impagável.
Você está condenado.
Deus não apenas zera sua conta. “Tudo está pago!”, mas ele credita algo positivo na sua conta. “Ele atribuiu justiça”, não a sua, mas a de Cristo, já que a sua tem saldo devedor. Por isto Paulo afirma que não gostaria de se apresentar diante de Deus com justiça própria, senão a que procede de Deus, a justiça de Cristo (Fp 3.10).

Outra ilustração:
Paulo afirma em Rm 4, que “ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim com dívida”. Não é assim mesmo?
Se você se dedicou à sua empresa o mês inteiro, e no final o seu contracheque lhe é entregue e a empresa afirma que está dando o seu salário como favor, sua reação não seria de surpresa e indignação? Óbvio: “você trabalhou, você não está recebendo favor, mas seu salário é justo. Você mereceu pelo seu tempo e dedicação”.
Mas imagine que seu patrão chegue com um cheque dez vezes maior e resolva lhe dar. Ainda assim, poderia ser em reconhecimento ao seu trabalho ou algo especial que você tenha feito. Ainda assim seria, de alguma forma, algo relacionado ao mérito. Você fez algo. Mas e se nada especial houvesse e a pessoa simplesmente lhe desse este valor, isto seria graça.
O que Deus fez com Abraão. Quando ele creu, apesar de não ter feito nada, Deus lhe imputou justiça. 

A abrangência da justificação
Outro aspecto que este texto relata é que a obra de Cristo alcança “todos os povos”.
Não mais se um “Deus tribal” como era o conceito judaico, mas um Deus para todos os povos. Uma promessa e um pacto para todos os povos. Este era o objeto de Deus ao abençoar Abraão.
Os judeus se consideravam os únicos filhos de Abraão.
Paulo está dizendo que Deus queria abençoar todos os povos por meio do Pai Abraão.
Joao Batista já havia dito isto: “...e não comeceis a dizer entre vós mesmos: temos por pai a Abraão; porque eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mt 3.9)
Jesus já havia questionado esta superioridade racial: “Então lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão” (Jo 8.39)
Paulo agora afirma: “Sabei, pois, que os da fé são abençoados com o crente Abraão” (Gl 3.7).
A obra de Cristo é para todos os povos. Não se atém a uma geografia, genealogia, cultura, ou politica. “Em ti serão benditos todas as famílias da terra”.

O Modus operandi da salvação
Mais uma vez o texto bíblico realça a importância da obra de Cristo em detrimento das pobres obras humanas.
O homem é salvo pela fé, ao receber a promessa de Deus e crer na obra de Cristo. “todos quantos, pois são das obras da lei estão debaixo da maldição, porque está escrito: maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las” (Gl 3.10).
 Ao lermos a afirmação: “Cristo nos resgatou da maldição da lei” (Gl 3.13), podemos criar a impressão de que a lei de Cristo é maldita. Não é disto que a Bíblia fala. O problema não está na lei, que é perfeita, mas no homem, que é incapaz de praticá-la.
O princípio da lei está escrito: “Aquele que observar os seus preceitos, por eles viverá” (Gl 3.12). Em outras palavras, se alguém conseguisse viver perfeitamente pela lei, poderia ser salvo por ela. Mas a verdade é que “todos pecaram e destituídos estão da graça de Deus”. O homem é incapaz de satisfazer as exigências divinas.
Paulo radicaliza sua visão em Rm 3.19: “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo mundo seja culpável perante Deus. A lei foi dado para vida, mas o que aconteceu? Ela se transformou em denúncia. Diante de Deus, o justo juiz, todos estamos condenados. A Bíblia fala que a lei manda um recado, curto e grosso: “Cale a boca!”. Pare de se defender! Você não tem razão, você está falido! Todos somos culpados perante Deus. A lei é boa, mas é inoperante. Ela é santa, mas ao invés de me dar vida, me condena, por causa da minha incapacidade de cumpri-la.

Cristo nos resgatou da maldição da lei
O que fez Cristo? Em que consistiu sua obra?
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar, porque está escrito: maldito todo aquele que for pendurado em madeiro”  (Gl 3.13).
A lei do Antigo Testamento preconizava que todo aquele que fosse ao madeiro seria maldito. Cristo assumiu nossa culpa, condenação e acusação em seu próprio corpo, morrendo em nosso lugar.
Ele morreu nossa morte.
Ele tomou nossa vergonha.
Ele cumpriu perfeitamente a lei, que nenhum homem poderia cumprir e assumiu nosso lugar pelo seu sacrifício perfeito.

Como vive o “justo”?
Mediante a obra de Cristo somos considerados “justos” aos olhos de Deus. Ele nos “imputou”, ou “creditou” justiça.
“O justo viverá pela fé”
Assim vive o justo.
Não pela sua performance espiritual, nem pelos seus méritos, mas pela fé na obra do Filho de Deus.
Não a sua justiça, mas a justiça de Cristo.
Foi esta verdade transformadora que mudou radicalmente o coração do monge agostiniano Lutero, ao ler em Rm 1.17: “visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: o justo viverá por fé”. Ele relata que nesta hora, percebeu que não deveria olhar para si mesmo, mas para obra de Cristo, e esta verdade transformou radicalmente sua vida. Não mais pelas suas obras, mas pelas de Cristo; não mais pelas suas conquistas, mas as de Jesus.

Assim vive o justo.

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